Amy Tokisuru em Portland escrita por AJ


Capítulo 13
Capítulo 13 - Calor e Frio




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AMY

— Até que enfim voltou — disse Jau, assim que viu Amy vindo em direção a ele.

— Não seja chato. Eu vim o mais rápido que pude. — Ela socou o ombro dele de leve como sempre fazia quando ele falava algo bobo.

Amy e Jau ficaram do lado de fora da casa de Berto. O amigo contara a ela que havia comido alguns pães na casa do velho curandeiro, com Anny o acompanhando.

— E onde está ela afinal de contas? — Amy perguntou. Ainda não havia visto a garota muda em lugar algum.

— Está lá dentro ainda. Ficou fascinada com algumas das engenhocas do Berto. Além de curandeiro ele também é inventor.

— Me admira você não ter ficado fascinado também, já que adora essas coisas.

— Nem tanto. A tecnologia aqui é atrasada e... — Jau alterou seu tom de voz para um sussurro. — Expressamente proibida.

— Sei. — Amy não ficou surpresa. Aquele lugar parecia mesmo aquelas vilas medievais que estudava nos livros de história.

Eles ficaram se encarando por um momento, o que deixou Amy um pouco constrangida. Percebendo isso, Jau voltou a conversar.

— Amy, eu queria me desculpar. Sei que ficou brava porque não fui com você.

Ela não soube o que responder na hora. Queria protestar e dizer que não tinha ficado com raiva, mas não era possível mentir para o seu melhor amigo. Ele a conhecia bem demais.

— Jau, esquece isso, por favor.

— É que eu pensei que depois das coisas que nós passamos juntos a gente poderia...

— Então, já voltou? — Berto apareceu de súbito, com Anny ao lado dele.

Amy não respondeu até perceber que o velho estava falando dela.

— Sim. Eu procurei ser rápida.

— Melhor assim. — Berto tocou no ombro de Anny. — A garota vai recuperar a memória, como eu disse antes, se pegarem as folhas no bosque de Rubis. Mas eu peço que tomem certo cuidado ao chegar lá. Principalmente você, garota das chamas.

— Como sabe que controlo as chamas? — Amy perguntou, surpresa.

— Seu cabelo mudou de vermelho para castanho.

Amy pegou uma mecha do cabelo. Estava castanho. Berto tinha razão. Desde que ela viera ao mundo Portland, seu cabelo não parava de oscilar entre o castanho e o vermelho.

— Isso é o suficiente — Berto continuou — para qualquer um em Portland saber que você é dominadora de fogo, e existem certas pessoas que não gostam desse poder. Portanto, tome cuidado quando estiver lá.

Amy não disse nada, apenas assentiu. No entanto, não tinha certeza se poderia controlar que seu cabelo mudasse de cor, principalmente se suas emoções ficassem fortes de mais.

— Certo — Jau disse, sorridente. — Agora temos que começar nossa jornada. Para onde devemos ir?

Amy pegou o mapa que Sofia lhe entregara do bolso.

— Nós temos que ser rápidos. Sofia disse que temos que pegar tudo em dois dias. — Amy deu o mapa para que o amigo o estudasse.

— Bem. Não parece difícil. — Jau emprestou o papel à Berto. — Quanto tempo até chegar lá?

O velho pegou o pedaço de papel, estudou-o rapidamente e o devolveu para Jau.

— Algumas horas, mas só se não ocorrer nenhum imprevisto.

— Então não podemos perder tempo. — Amy olhou para a garota muda. — Anny, você vem com a gente, certo? Assim você pode recuperar sua memória.

A garota assentiu e se aproximou de Jau — se aproximou de mais para o gosto de Amy. Parecia estar mais animada com essa viagem do que todos.

— Certo. — Jau sorriu. — Próxima parada: Bosque dos Rubis.

Amy odiava ter que andar por entre aquelas árvores escuras de raízes expostas e perigosas, que a faziam tropeçar a cada dez segundos. Por sorte, Jau estava ali para segurá-la toda vez que ela ameaçava cair de vez.

— Mais cuidado aí, Amyzinha — ele dizia sempre quando a salvava de um tombo.

— Quer parar de me chamar assim, Jaden? — ela protestava.

— Meu nome inteiro? Aí é covardia.

Depois eles sorriam de forma brincalhona um para o outro e continuavam caminhando. Andaram por um tempo que pareceu ser duas horas, mas a dor e o cansaço que Amy estava sentindo nas pernas acusavam que estavam andando muito mais tempo que isso. Precisava descansar urgentemente. Apoiou-se numa árvore e tomou fôlego.

— Droga! Faz muito calor nesse lugar, ninguém merece! — Jau reclamou. Estava todo suado. Sua camisa cinza estava colada no seu tórax, e seus cabelos ficaram grudados na testa.

— Calor, é? Eu não notei. — Amy quase nunca sentia as mudanças do clima. Para ela a temperatura estava quase sempre moderada, exceto em algumas raras ocasiões, como quando Sofia convocava seus ventos gelados. Aquilo devia ser outro efeito colateral do seu poder de fogo.

— Fácil para você, garota fogaréu. Eu e Anny estamos quase morrendo aqui.

A garota muda estava sentada em uma pedra, respirando forte pela boca. Parecia estar mais cansada do que Amy ou Jau.

— Certo. Vamos descansar. — Amy sentou-se também. Ficou encarando o chão e observando as pequenas flores que dele brotavam.

— Tão parecido com a Terra mas ao mesmo tempo tão diferente, não acha? — Jau observou, enquanto sentava-se ao lado de Amy.

— O que quer dizer? — ela perguntou, sem entender.

— Na Terra é quase impossível ficar em contato com a natureza, por causa da intervenção do ser humano. No entanto, aqui em Portland... — Jau respirou fundo o ar puro da floresta. — Quase tudo é natural, porque o povo aqui não precisa interferir.

Amy não tinha parado para pensar desta forma. Claro, estava preocupada de mais tentando voltar para casa, mas, apesar de parecer um daqueles filósofos chatos das aulas de filosofia, Jau estava certo.

— Sorte dos Portenses então. — Foi apenas o que ela respondeu. — O Lucian da história de Sofia deve estar certo afinal.

Tudo estava bem calmo. Amy tentou aproveitar ao máximo essa sensação. Em dois dias sua vida iria se tornar um verdadeiro inferno. Estava se sentindo em um jogo RPG, daqueles que ela odiava, já que ela sempre acabava desistindo no meio do jogo.

— Nossa, começou a ficar frio de repente. — Jau abraçou o próprio corpo.

— Está frio ou está calor? Decida-se — Amy falou, achando que o amigo estava brincando, mas então notou que os pelos do corpo dele se arrepiavam.

— É sério. Anny, você está sentindo também, né?

A loira balançou a cabeça afirmativamente. Estava encolhida e tremendo. Amy percebeu que o amigo estava falando a verdade. Mas era estranho. Há um minuto estava calor e, ainda agora, o sol estava brilhando forte, então como poderia estar fazendo frio?

Amy sentiu algo atrás dela.

— O que foi isso? — Ela levantou-se de supetão. Não havia nada atrás dela, mas tinha certeza que sentira algo.

— Algum problema Amy? — Jau perguntou, tentando controlar o frio.

— Não tenho certeza.

Eles ficaram bem próximos, olhando desconfiados para os lados, tentando encontrar qualquer coisa estranha.

— Quem está aí? — Amy perguntou, cansada de procurar.

Então é daqui que vem esse calor estranho. A voz veio de lugar nenhum, como quando Sofia apareceu pela primeira vez. Amy ficou com vontade de aprender esse truque de falar sem estar presente.

— Quem está aí? — Amy repetiu a pergunta, esperando que algo respondesse.

Numa pequena tempestade de neve, uma pessoa surgiu. O vento gelado foi tão forte que até Amy sentiu um leve arrepio. Jau e Anny já estavam pálidos de tanto frio, pálidos como o garoto que acabara de aparecer naquela nevoada. Seus cabelos eram bagunçados e grisalhos. Estava usando uma jaqueta e calça moletom, ambos brancos, e além disso, um longo cachecol combinando com seu estilo.

O garoto era tão branco, não só a pele, mas também cabelo e roupas, que Amy sentiu como se estivesse encarando um boneco de neve, no entanto, o rapaz possuía olhos amarelos brilhantes, como um farol no meio de uma montanha.

— Olá — ele saudou. A voz dele não era gélida, como Amy esperava, mas calorosa e travessa, como Miller, um colega da classe dela.

— Você é o responsável por este frio? — Amy perguntou rapidamente, não respondendo a saudação do estranho.

— Frio? É, eu tenho esse efeito nas coisas. — Ele coçou a cabeça. — Mas há alguns minutos o rei sentiu um calor inquietante e pediu para eu procurar a fonte. — O garoto sumiu misteriosamente...

E rapidamente apareceu atrás de Amy, fazendo-a saltar de susto.

— Parece que eu encontrei.

— Quer parar com isso? — Amy reclamou.

— Amy, está fazendo muito frio... — A essa altura Jau estava ajoelhado no chão, tentando ao máximo se aquecer. Anny não estava muito diferente dele.

— Droga. — Amy aqueceu o próprio corpo, tentando exalar uma aura de calor, assim como o homem de neve estava fazendo.

— Que interessante. O rei vai querer conhecer você — ele disse, com um sorriso sinistro no rosto.

— Infelizmente ando um pouco ocupada. — Olhou de relance para os amigos. Ainda pareciam com frio, mas não desistiu de emitir calor. — Tenho... Coisas a resolver, então conheço o seu rei mais tarde.

— Se eu fosse você não faria isso. Não é nada legal deixar o rei de gelo esperando.

Rei de gelo? Amy lembrou que Sofia disse algo assim. Se não estivesse enganada, era com esse rei que ela encontraria o fragmento de gelo imortal.

Amy não imaginou que seria assim tão simples. Ali estava um cara de neve dizendo que o rei dele estava querendo vê-la. Isso não parecia difícil. Na verdade, estava era fácil demais.

Parou de pensar quando viu Jau e Anny se levantarem e recuperarem o tom de pele normal. Sua aura de calor havia funcionado. Ótimo. Seria um truque útil para se usar no futuro.

— Bem. Já que insiste, nós vamos ir ver esse rei com você — Amy concordou, afinal.

— Amy! Enlouqueceu? — Jau protestou.

— Calma, Jau. Se tudo der certo, nós vamos ganhar um tempo precioso.

— Ouça sua amiga — o garoto nevasca se intrometeu. — Não vão querer ver o rei Jake bravo.

— Para mim tanto faz. No entanto, esse tal de Jake pode ter algo que nós queremos.

— Ótimo. Todos ganhamos. — O rapaz colocou uma mão no ombro de Amy, e o outro no ombro de Jau. — Sugiro que segure bem a loirinha, garoto, ou ela vai ficar para trás.

— Para trás? Como assim? — Jau tocou no ombro de Anny apesar de estranhar.

— Preparem-se. Viajar no frio dá um pouco de... Frio na barriga.

Então, os quatro sumiram em uma tempestade de neve.


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