Behind Their Lives escrita por anonimo403998


Capítulo 2
Parte 2/3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/689580/chapter/2

As duas subiram pelo elevador até o 6 andar e então a mais alta guiou as duas até a segunda porta do lado direito que a loira abriu com uma das chaves que ela ainda tinha nas mãos. Entrando havia uma pequena sala com um sofá de dois lugares e uma televisão de 22 polegadas sobre uma estante onde haviam ainda alguns livros e outros objetos amontoados.

Ao entrar a morena disse para que elas tirassem os sapatos molhados e, enquanto a loira fazia isso, ela retirou também sua jaqueta preta pendurando-a num cabide ao lado da porta. Então as duas entraram; a sala seguinte era mais um escritório com uma mesa de madeira clara a frente de uma cadeira de encosto alto. Sobre a larga mesa estavam vários papéis, um notebook, algumas canetas e lápis além de algumas pastas. A morena andou até se sentar numa das duas cadeiras que ficavam de frente para a mesa e de costas para a porta.

— A porta a sua frente seguindo por esse corredor ai ao lado da na cozinha, no armário em cima da geladeira tem um quite de primeiros socorros – disse a morena e a mais baixa se virou sem dizer nada indo na direção apontada.

— Quem é você? – perguntou a loira se ajoelhando em frente à mais alta que estava sentada e colocando uma caixa branca sobre a mesa.

— Não importa – murmurou a outra desviando o olhar para a janela que mostrava a chuva grossa que caía do lado de fora.

— Gabrielle – disse a loira estendendo a mão e dando um pequeno sorriso.

A morena se virou com um meio sorriso divertido e elas se encararam, os sorrisos das duas foi sumindo devagar enquanto seus olhos focavam nos olhos da outra. O verde intenso nos olhos da loira fez a mente da morena ficar em branco e travar. Mas algo parecido acontecia com a loira que, ao encarar aqueles olhos azuis sentiu sua mente falhar e ficou sem palavras, o que era incrivelmente raro para ela.

Antes que seu desconforto fosse notado pela morena Gabrielle se ergueu um pouco, a mão tocando a testa da morena de onde escorria um filete de sangue misturado a água da chuva que ainda estava no cabelo dela.

— Acho que vamos precisar de uma toalha, elas ficam onde? – perguntou a loira se levantando, mas antes que ela saísse de perto da mais alta ela foi segurada pelo pulso.

— Kalrson – respondeu a morena puxando outra cadeira como a que estava sentada para perto e fazendo a loira sentar-se a sua frente.

— Isso não é seu nome, é seu sobrenome – resmungou Gabrielle rolando os olhos e então viu a morena pegar gaze e começar a limpar a mão esquerda dela que estava com vários arranhados.

— Minha mãe era aficionada por nomes estranhos – contou a morena com os olhos azuis concentrados na palma da mão de Gabrielle que a olhava de uma forma admirada – Convenceu meu pai a me chamar de Xena – contou a morena sorrindo um pouco – Mas eu não uso esse nome – completou ela pegando antisséptico e passando cuidadosamente sobre os arranhados.

Quando ela terminou Gabrielle a impediu de cuidar de seu joelho segurando as mãos dela o que fez os olhares das duas se encontrarem. A loira demorou a achar as palavras, mas finalmente conseguiu se concentrar em algo além daquele profundo mar azul.

— As toalhas agora, onde estão? – perguntou ela num tom gentil.

Elas estavam em um armário embaixo da pia do banheiro que era a primeira porta a direita da cozinha. Depois de pegar uma toalha de banho e uma de rosto a loira voltou e puxou a sua cadeira para bem perto da morena. Xena deixou que a menor enxugasse seu cabelo, o que Gabrielle fez com muito cuidado com medo de apertar algum local dolorido, mas em nenhum momento a mais alta reclamou ou pareceu sentir dor. Após isso ela pegou a toalha de rosto para limpar o sangue que tinha escorrido pelo rosto da morena.

Gabrielle segurou o rosto de Xena com uma mão na lateral direita enquanto limpava o sangue do outro lado com a toalha. Tão concentrada estava que não percebeu o olhar penetrante da morena sobre si. Xena a olhava com certa curiosidade; aquela estranha causava na morena uma paz que ela desconhecia existir, lhe provocava algo que ela não entendia. Mas não era só ela que se perdeu em pensamentos naqueles minutos, Gabrielle também estava com a mente ocupada com a sensação de confiança e segurança que tinha só por estar perto daquela mulher desconhecida. A loira não conseguia acreditar que estava se sentindo assim logo após quase ser assaltada e coisas piores, para ela não havia lógica para que sentisse aquela segurança, mesmo com a pessoa que havia lhe salvado.

Por longos minutos Gabrielle cuidou da morena, tratando os ferimentos que ela tinha na testa e nos braços, durante esse tempo todo Xena só fez olhar a loira. Era uma sensação estranha, como se a presença de Gabrielle fosse familiar, algo que parecia trazer saudades como se não se vissem a muito tempo, mas elas não se conheciam; então como era possível?

Quando a loira acabou e olhou para a janela ela soltou um suspiro cansado, mas antes que ela colocasse em palavras suas intenções de chamar um taxi para ir embora, Xena decidiu falar sobre aquela sensação estranha.

— Eu sinto como se te conhecesse de algum lugar – comentou a morena encarando aqueles olhos verdes que lhe transmitiam tanta calma – É possível isso?

— Não acho que possa ser – comentou Gabrielle dando um pequeno sorriso – Eu me lembraria de você – disse ela pensando em como aquela mulher tinha uma presença forte, mas antes que a outra entendesse errado suas palavras ela se completou – Seu nome não é muito comum para que alguém esqueça.

Xena deu um sorriso fraco e olhou para o chão. Passaram-se alguns segundos em que ela ficou daquele jeito até que Gabrielle decidiu se pronunciar.

— Vou chamar um taxi, com essa chuva ir de metro está fora de questão – disse ela rindo um pouco só de pensar em caminhar até a estação – Já estou molhada demais.

— Deveria tomar um banho quente, pode se resfriar assim – disse a morena antes que percebesse o que estava falando.

— Tomarei, quando chegar em casa – disse a loira com um sorriso gentil – Obrigada pela preocupação, e por me salvar também. Eu nem quero pensar no que aquele homem poderia fazer comigo se você não tivesse aparecido.

— Ainda bem mesmo que eu apareci – disse a morena olhando para a outra com uma intensidade que nem ela mesma sabia explicar, sem que ela pudesse se controlar uma de suas mãos foi até o rosto da loira, acariciando a bochecha dela com o polegar – Porque eu ainda continuo com essa sensação de que conheço você?? É como se eu estivesse reencontrando alguém muito importante....eu não....não sei explicar....só é o que eu sinto.

— Eu sei – disse a loira soltando um suspiro por admitir e fechando os olhos ao apreciar aquele carinho tão discreto e inocente.

— Como assim você sabe?? – perguntou a morena confusa, mas sem conseguir parar aquele contato tão singelo.

— Eu..achei que fosse só impressão minha...coisa da minha cabeça.... eu só não conseguiria definir – murmurou a loira olhando para suas mãos juntas sobre suas pernas – Eu não sei...só...sua presença...me traz uma sensação de familiaridade....Mas eu não te conheço – ela continuou encarando Xena novamente – Tenho certeza de que não, eu nunca esqueço alguém, um rosto, um nome muito menos. Tenho certeza absoluta de que não te conheço, mas mesmo assim tenho essa sensação.

Xena se sentou mais na ponta da cadeira e segurou as mãos de Gabrielle com uma das suas, ela se aproximou mais da garota e a mão que acariciava o rosto da loira foi para a parte de trás da cabeça da mesma trazendo-a para perto até que Xena a abraçou. Gabrielle soltou suas mãos e passou os braços em volta da morena deixando sua cabeça no ombro da maior e fechando os olhos sendo invadida por uma sensação de segurança que ela não sabia explicar. Enquanto isso Xena era preenchida por uma sensação de saudade e paz junto com uma necessidade de proteção que a deixou sem reação e até um pouco assustada.

Xena se levantou e puxou Gabrielle junto, mas mantendo o abraço. Daquele jeito elas puderam ficar mais próximas, seus braços circundando uma a outra num aperto mais forte do que um simples abraço. Xena tinha o rosto nos cabelos loiros da menor e Gabrielle estava com seu rosto próximo ao pescoço da mais alta. As roupas molhadas estavam coladas aos seus corpos e frias, mas o calor delas juntas trazia para ambas uma sensação de tranquilidade jamais experimentada por elas.

Ter aquela loira em seus braços fazia Xena se sentir importante, em paz e vinha também com um enorme desejo de protege-la de tudo e de todos. Para Gabrielle, ter os braços daquela desconhecida em volta de si era como estar cercada por toda a proteção do mundo, a fazia sentir como se nada pudesse alcança-la, a deixava com a sensação de paz, como se aquele fosse o único lugar no mundo em que ela quisesse realmente estar.

— Fica aqui – disse a morena – Eu te empresto roupas, você pode tomar um banho quente agora e dormir na minha cama. Eu fico no sofá da sala e assim você pode descansar e ir embora amanhã, quando a chuva passar.

Gabrielle hesitou, ela não sabia o que responder, seu sentido lógico lhe dizia que não era correto dormir na casa de uma total desconhecida. Apesar das sensações que Xena lhe transmitia a loira ficou em dúvida e demorou a responder. A morena notou e deu um sorriso triste que a outra não poderia ver.

— Desculpe – disse Xena respirando fundo e afrouxando o abraço em volta da loira – Eu fui intrometida agora. Você, com toda certeza, deve ter alguém te esperando. Eu vou achar um guarda-chuva e chamar um taxi pra você ir pra casa.

— Não – disse Gabrielle num impulso se agarrando à morena quando sentiu aqueles braços fortes começarem a soltá-la; ela não queria que Xena a soltasse – Não....eu...não tem ninguém me esperando – ela falou olhando para cima e encarando o azul dos olhos da morena que estavam curiosos e esperançosos – É só que....eu não te conheço...e...não sei se seria educado eu usar a sua cama e você dormir no sofá.

— Eu não me importo – disse a morena sorrindo, dessa vez com satisfação, e aquele sorriso quebrou toda a resistência que Gabrielle ainda tinha – Vem, vou te levar até o banheiro e pegar roupas secas pra você – disse Xena a arrastando para o banheiro, mas sem deixar que se afastassem demais.

Gabrielle foi ainda com aquele sorriso na mente. Enquanto seguia a morena ela acabou por pensar que, com aquele sorriso, Xena poderia conseguir o que quisesse dela. Elas pararam em frente ao banheiro e a morena praticamente empurrou a loira para dentro.

— Vou achar algo que sirva em você – disse Xena com um sorriso de canto – Já sabe onde estão as toalhas limpas, entra e toma um banho, eu deixo as roupas aqui do lado de fora pra você.

Tudo o que a mais nova pode fazer foi concordar com a cabeça e entrar. Parte de Gabrielle estava agradecida e feliz pelo banho quente, mas uma parte dela ficou triste por ter que se afastar da mais alta. O mesmo acontecia com Xena que estava feliz por ela ter aceitado ficar, mas já sentia uma espécie de falta por não ter ela ali.

Depois das duas tomarem banho Xena arrumou o sofá da sala para que ela dormisse nele, então foi com Gabrielle até o quarto para arrumar a cama para ela. Depois de tudo arrumado a mais alta fez menção de sair, mas a loira a chamou.

— Xena, espera – chamou a loira – Podemos conversar um pouco antes de irmos dormir??

— Claro – disse a mais alta, ela aceitaria qualquer coisa para ficar mais tempo com Gabrielle.

A loira sorriu e chamou Xena para se sentar na cama. Elas sentaram-se frente a frente e, por alguns instantes, apenas se encararam.

— Me fala de você – pediu Xena – Eu continuou com a sensação inexplicável de que te conheço. Talvez se me contar um pouco de você isso desapareça.

— Anh...certo – disse a loira rindo e abraçando os joelhos – Bem, eu trabalho numa editora; publicamos 5 revistas de diversos assuntos, eu sou responsável pela adição final, mas também tenho uma coluna em uma das revistas, a que fala sobre atualidades e notícias mundiais. Morei quase a vida toda numa cidadezinha pequena no interior do estado e vim pra cá fazer faculdade. Me formei em letras e comunicação a dois anos e comecei a trabalhar para essa editora faz pouco mais de 9 meses. Meus pais moram na minha cidade natal e eu tenho uma irmã mais nova que se casou a pouco e está esperando o primeiro filho.

— Quantos anos você tem?? – perguntou Xena surpresa com a ultima informação – Quando disse que acabou de se formar pensei que fosse ser nova, mas agora fala que sua irmã mais nova já está casada e vai ter filhos.

— Tenho 23 – disse Gabrielle rindo – E Lila tem 21. E sim, ela se casou cedo demais, eu também acho isso. Mas ela está feliz e é isso o que importa – completou a loira sorrindo e encarando Xena que ficou com um olhar meio perdido encarando-a de volta ocasionando um longo silêncio até que Gabrielle desistiu te esperar a morena começar – Agora me fala de você. Ainda não entendi o que você é, não sei dizer se seu apartamento é um escritório ou uma casa – falou ela rindo discretamente o que provocou um sorriso na mais alta.

— Eu nasci aqui, mas meus pais se separaram e minha mãe se mudou comigo para o outro lado do país – disse Xena olhando para o teto – Eu tinha um irmão mais novo também...Minha mãe comprou uma pequena pousada com o dinheiro do divórcio. Eu...me envolvi com certas pessoas de lá...que não eram boas pessoas, sabe – disse ela com um sorriso triste. Minha mãe ainda mora lá...eu me mudei a muito tempo... Voltei pra cá, mas meu pai tinha sumido também, eu acabei encontrando trabalho como secretária de um investigador particular a uns 5 anos atrás. Homenzinho desprezível que pagava muito mal e era folgado demais para o serviço que vendia. Então um dia brigamos por causa de um dos contratos onde ele não quis cumprir o correto com o cliente. O cara era mais rico do que meu ex-patrão imaginou e acabou levando o problema aos tribunais. Eu testemunhei a favor do cliente e depois que tudo acabou fui demitida, mas decidi então me tornar uma investigadora particular também e venho fazendo isso nos últimos 4 anos.

— Sua vida parece emocionante – disse Gabrielle rindo sem graça e evitando o assunto da família dela, pois tinha notado como Xena havia se esquivado disso ao contar.

—Na verdade não é – disse Xena encarando-a com um olhar gentil – A maioria dos clientes são maridos ou esposas traídas que querem provas. É tedioso, mas em alguns dias eu acabo em alguma confusão e me divirto um pouco – disse ela dando de ombros.

— O que estava fazendo para passar aquela hora naquela rua a tempo de me salvar? – perguntou Gabrielle não resistindo a curiosidade de saber.

— Voltando de um bar – contou Xena abaixando o olhar para as próprias mãos – A garrafa que quebrei na cabeça daquele cara....era o uísque que eu vinha bebendo – ela contou num tom envergonhado.

— Você não me parece alguém que bebeu uma garrafa inteira de uísque – disse a loira sem saber o que mais dizer por causa dessa revelação.

— Tenho uma resistência incrivelmente alta à álcool – contou Xena suspirando – Bem, agora é óbvio, não temos como nos conhecer – falou ela se levantando – Boa noite Gabrielle.

— Boa noite Xena – disse a loira acompanhando com o olhar a morena saindo do quarto.

Xena parou na porta, com uma mão na maçaneta, pronta para fechá-la, mas hesitou e então, depois de soltar um longo suspiro, ela resolveu dizer mais alguma coisa.

— Não tem como nos conhecermos – ela disse num tom baixo, mas Gabrielle conseguia ouvir perfeitamente por conta do silêncio que preenchia o ambiente acompanhado apenas do som da chuva que diminuíra consideravelmente – Mas eu ainda sinto como se conhecesse você....como se sentisse sua falta.....como se tivesse sentido sua falta a vida toda – disse a mais alta de costas e num tom baixo; antes que a loira conseguisse raciocinar sobre aquilo para responder Xena já tinha saído e fechado a porta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!