— SOCOOORROO!! – gritava a loira se debatendo na cama, os cobertores já estavam longe de seu corpo – ME LARGA!! NÃAOO!!

— Gabrielle!! – chamou Xena se sentando na cama ao lado da loira e a segurando pelos braços tentando acordá-la – Gabrielle acorda. É um pesadelo! Gabrielle!!

De repente ela abre os olhos e para de gritar, apesar de respirar de forma apressada e irregular. As duas se encaram, a loira ainda deitada e a morena sentada e inclinada sobre a menor. Os olhos de Xena transmitem calma, ela estava aliviada que Gabrielle tinha acordado e mais aliviada ainda de estar ali cuidando dela. Isso faz um carinho imenso transparecer naqueles olhos azuis. Xena faz um carinho discreto no rosto de Gabrielle e afasta uma mecha de cabelo da mesma secando a testa dela que estava úmida e a loira, ao notar aquela delicadeza e cuidado, desaba em lágrimas.

Xena imediatamente a puxa para um abraço e Gabrielle se senta na cama abraçando a morena com força e escondendo o rosto no pescoço da mais alta enquanto chorava. Xena a apertou entre seus braços com seu queixo sobre a cabeça da menor tentando acalmá-la.

— Já passou – murmurava a investigadora num tom ameno e tranquilo – Foi um pesadelo. Não tem ninguém que vá te fazer mal. Você está segura Gabrielle – ia dizendo ela enquanto acariciava os cabelos da loira que ainda estava com o rosto escondido contra seu peito – Por favor se acalma e para de chorar. Ninguém vai te machucar loirinha, eu não vou deixar, prometo isso.

— Eu_Eu estava_estava sonhando que ele – Gabrielle tenta dizer, mas os soluços impedem que ela termine a frase.

— Eu sei – disse Xena a apertando ainda mais forte e beijando os cabelos dela – Ele não vai te fazer mal; ninguém vai te machucar. Eu prometo Gabrielle, ninguém vai te fazer mal; eu não vou deixar isso acontecer.

Vários minutos depois a loira foi parando de chorar, sempre com Xena sussurrando coisas calmas e a abraçando carinhosamente. Quando o choro dela finalmente terminou a morena a segurou pelos ombros afastando-se um pouco e então segurando o rosto da loira entre as mãos. Os polegares de Xena secaram o caminho das lágrimas e a mais velha beijou a testa da loira antes de puxá-la para ficar com a cabeça em seu ombro.

— Pronto – disse Xena deixando sua mão esfregar as costas de Gabrielle – Já passou. Eu estou aqui agora, nada de mal vai te acontecer.

Gabrielle estava muito mais calma, a simples presença de Xena tinha acabado com todo o medo dela, mas as lembranças daquele homem atacando-a, as reais e as vindas do sonho, fizeram-na chorar. Ela se afastou um pouco da morena e as duas se encararam, seus rostos incrivelmente, perigosamente, próximos. Xena ficou hipnotizada com o verde dos olhos de Gabrielle e parecia não raciocinar; a morena ergueu a mão acariciando a bochecha da loira enquanto a olhava com um olhar próximo da admiração.

Gabrielle também estava hipnotizada, mas aquele toque da mão de Xena a acordou e a fez encarar aquilo de frente. A loira olhou para os olhos da morena e viu naquele mar azul mais certezas do que já teve durante sua vida toda: Ela não queria Xena longe nunca mais. Ela queria aquela mulher por perto. A loira fechou os olhos sentindo os dedos da morena lhe acariciarem o rosto e, quando a mão de Xena parou segurando o rosto de Gabrielle para cima, a loira abriu os olhos encarando a maior.

— Você está melhor? – perguntou Xena com um olhar preocupado; a loira apenas balançou a cabeça num gesto afirmativo que fez a morena sorrir aliviada com um olhar mais calmo e carinhoso.

Gabrielle não sabia mais o que sentir; na verdade ela não conseguia assimilar seus sentimentos. Era uma confusão imensa dentro dela, mas uma coisa era incrivelmente clara: ela gostava de Xena. E era um gostar tão profundo que a amedrontava e a confundia. Mas ali, encarando aqueles olhos azuis calmos e carinhosos que pareciam brilhar enquanto a dona deles agia tão cuidadosamente com ela, Gabrielle sentiu que sua mente não decifraria as respostas, mas seu coração já as estava gritando. Ela encarou os olhos e então a boca da morena por alguns segundos, até que se inclinou para frente beijando os lábios de Xena que já estavam muito próximos aos seus.

Xena foi pega de surpresa, mas no instante em que seus lábios sentiram os lábios de Gabrielle tudo sumiu e ela reagiu por impulso. A mão da morena deslizou para um pouco mais perto da nuca da loira enquanto que Gabrielle ergueu suas mãos para o pescoço de Xena. E naquele momento, enquanto se beijavam, foi como se elas sentissem o mundo voltar ao eixo.

Os lábios se moviam como se já soubessem o que fazer, era como se suas bocas já conhecessem uma a outra. Era calmo, mas ainda lhes tirava o fôlego. Quando o ar se fez necessário as bocas se abriram ao mesmo tempo, os lábios se descolaram alguns milímetros e elas inspiraram profundamente antes de voltarem aquele beijo que parecia ser interminável. A sincronia delas era perfeita, como se aquele não fosse o primeiro beijo entre elas, como se seus lábios já soubessem a forma correta de se encaixarem perfeitamente. Era tão perfeita essa sincronia que suas línguas se encontraram sem que fosse preciso uma iniciativa de alguém; como se apenas estivessem esperando a hora certa disso. Mas não parou por ai, elas beijaram-se por longos minutos, e nesse tempo suas línguas exploraram as bocas uma da outra como se já se conhecessem, como se já soubessem o que fazer, como fazer.

Pela terceira vez elas tiveram que respirar, mas dessa vez havia muito mais fôlego para ser recuperado. Encostaram as testas e ficaram com os olhos fechados, as mãos de Gabrielle ficaram paradas nas laterais do pescoço de Xena enquanto que uma das mãos da morena continuava a envolver um lado do rosto da loira enquanto que a outra se encontrava apoiada na cama de forma a permitir que Xena continuasse inclinada na direção da menor.

Ambas ficaram de olhos fechados até que suas respirações voltaram ao normal, mas depois disso, era como se tivessem receio de abrir os olhos e encararem-se. Foi Xena quem quebrou aquele momento tenso com um suspiro ao se afastar um pouco.

— Desculpe – disse ela dando um beijo na testa de Gabrielle e começando a se levantar.

A loira agarrou os braços de Xena com as duas mãos impedindo-a de sair daquele lugar e encarou a morena com um olhar confuso.

— Não tem que se desculpar – disse ela num sussurro – Quem....fui eu quem começou isso. Não é sua culpa.

— Mas eu podia ter parado – disse a morena mordendo o lábio – Eu devia ter parado – falou ela sussurrando como se fosse para si mesma.

— Porque? – perguntou a loira completamente perdida com aquilo que Xena falava – Porque deveria??

— Não é certo e não vale a pena – falou a mais alta encarando a loira com um olhar sério – Quando acordar amanhã você vai ter se arrependido, ou vai dizer desculpas para ter feito isso. De toda forma nem importa mesmo; você vai embora amanhã e é provável que eu nunca mais consiga encontrar você.

Aquele pensamento doía em Xena, mas Gabrielle sentiu mais dor ainda por ver a tristeza por trás daqueles olhos azuis. Era como se a loira pudesse ler a morena apenas com um olhar.

— Você não quer que eu vá embora – disse ela de forma calma.

— A questão não é essa; você vai embora, isso é um fato – falou Xena ficando ainda mais séria para tentar esconder a tristeza de pensar que amanhã estaria longe daquela loira.

— Não foi uma pergunta – falou Gabrielle de um jeito sério e decidido que fez Xena encará-la – Eu estou afirmando.

— Isso não importa – murmurou a maior desviando o olhar – Você irá, eu querendo ou não.

— Eu vou, porque tenho que ir – disse a loirinha com um sorriso discreto que Xena não viu por continuar de cabeça baixa, Gabrielle então segura a frente da camiseta da morena com uma mão e a puxa para frente fazendo Xena olhar para cima surpresa – Eu vou, mas também pretendo voltar – disse ela encarando a morena com um olhar que misturava carinho e desejo – Eu tenho que voltar, porque sinto que, agora que te encontrei, preciso te ter por perto – sussurrou ela.

Os olhos arregalados da morena só voltaram ao normal após ver o sorriso divertido da loira ao vê-la tão surpresa. Então Xena desistiu de se controlar para não ir além e beijou novamente Gabrielle. Elas deitaram na cama e, ainda aos beijos, a loira puxou Xena para debaixo dos cobertores.

Seus corpos estavam se reencontrando, assim como suas almas haviam acabado de se reencontrar mais uma vez em mais uma vida; como faziam sempre.

Porque elas eram almas gêmeas destinadas a se encontrarem e a ficarem juntas em todas as suas vidas; passadas e futuras. Não importa quando nem onde, mas elas sempre se encontrariam e se amariam como da primeira vez.

Fim