Quando acordei definitivamente pela ultima vez naquele dia, ainda estava ligeiramente preocupada, atordoada, com o pesadelo. Entendi a ausência de meus pais no quarto quando estiquei as pernas preguiçosamente e chutei algo, eu teria derrubado ou chutado para longe, se a coisa não fosse apenas Jacob.

         Ele sentiu meu ‘cutucão’ e se espreguiçou forçando minhas pernas a se encolherem novamente, ocupando grande parte da cama. Eu fiquei ali, deitada só olhando. Eu pensei como seria quando ele tivesse seu imprinting. Era uma coisa de lobos que parecia bem bacana, a maioria já havia tido e acompanhavam suas almas gêmeas. Jacob não saia para quase lugar nenhum pra poder encontrar uma. Ele tinha uma beleza singular, sua pele castanho-avermelhada encontrava o melhor contraste com seus olhos castanhos, e seus lábios carnudos, perfeitamente desenhados, adoravam escancarar um sorriso travesso, os dentes brancos e perfeitos expostos, os olhos apertados. Certamente seu imprinting teria muita sorte. Mas me incomodava um pouco a idéia de dividi-lo. Não que Jacob fosse meu, ou que de fato fosse existir uma divisão, afinal, ele viveria somente para ela. Eu sentiria falta da atenção que ele me dava.

         Jacob continuava deitado com os olhos fechados. Ou ele fingia que ainda dormia, ou estava sonhando. Seus lábios levemente curvados nos lados, um sorriso singelo. Eu começava a vê-lo como se estivesse se aproximando a partida. Como se na semana seguinte nós retornássemos a escola e lá estaria ela, prometida para Jacob, onde não haveria segredos, apenas eles e a eternidade que seguiria.

         Mas então pensei que eu não o perderia para todo o sempre, afinal ela morreria uma hora certo? Não era um pensamento totalmente egoísta, afinal os humanos envelhecem e morrem, este é o ciclo da vida. Mas Jacob viveria por muito tempo, a não ser que... Mas eu não queria acreditar que ele seria capaz de largar seus genes caninos para morrer ao lado de sua amada. Não que isso não fosse romântico, eu adoraria, se fosse comigo. Mas perder meu melhor amigo assim? Não me parecia agradável.

         Jacob gemia confortavelmente aos meus pés, o sorriso ainda estampado. Ah como eu queria poder ver o que ele sonhava, assim como meu pai era capaz de fazer. Ele abraçava um travesseiro de modo carinhoso, quase romântico, fiquei com vontade de rir. Então tive uma idéia que me pareceu muito adequada como uma forma de vingança leve. Eu não podia ver os sonhos de Jake, mas podia adicionar algumas coisas a ele.

         Na escola todas as garotas caem por ele, não que ele mostre algum interesse, praticamente não da bola, mas quando se trata de jogo sujo Jacob supera todas as expectativas. Ele consegue ser irritante a ponto de me fazer desejar ser venenosa e alcançar sua jugular com os dentes afiados em um piscar de olhos. A lembrança do pesadelo me atingiu como uma pedra grande, eu senti uma dor aguda no estomago. ‘Eu nunca vou te deixar’ suas palavras ecoaram em minha mente.

         Sentei devagar na cama e estiquei o braço pousando delicadamente sobre o rosto quente de Jacob, então resolvi pensar na garota mais insuportável da escola. Eu achava graça quando era ela que tentava flertar com Jake, e não aquelas adolescentes que se acham adultas, vão para a escola de salto alto e maquiadas como se acabassem de sair de uma festa, ou preparadas para ir a uma, almas perdidas, que Jacob insistia em ficar olhando só pra me irritar.