Equinócio escrita por karoreis


Capítulo 4
The Dream




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/68928/chapter/4

Parecia um filme antigo, pelo menos eu comecei vendo assim, como uma película. Era um grande campo, uma plantação de trigo, e eu não sabia dizer se o sol estava se pondo ou nascendo. O céu estava laranja mesclando com a terra, a plantação. Formando um só, um borrão laranja. Havia uma musica no fundo, exatamente como uma trilha sonora normal de uma cena de filme normal.

         Só que a visão mudou e agora eu fazia parte daquela cena, eu corria pela plantação, a principio sem ver para onde, eu apenas corria sem ver nada nem ninguém. Ouve um baque mudo, e eu usei toda a força possível para correr o mais rápido que eu podia meus pés mal tocavam o chão. A música não continuava tocando enquanto eu seguia em frente. Então eu vi o motivo de minha pressa, eu vi o rumo que as coisas tinham tomado. Encontrei com o par de olhos que me fitaram vazios milésimos de segundos antes de se fecharem, e seu corpo cair no chão. Eu o alcancei, e odiei ouvir nada mais do que a musica que tocava no fundo.

         Eu tentava inutilmente fazer uma massagem cardíaca, uma respiração boca- boca, eu não sabia o que fazer então eu fazia tudo. E então, três coisas pareceram acontecer simultaneamente. Meu coração atingiu um estado frenético, ensurdecedor, a música ao fundo aumentou repentinamente, abafando as batidas alucinadas do meu coração, e me fazendo prestar atenção na letra, ao mesmo tempo em que vi uma marca cintilar no pescoço sedoso a minha frente.

         “Este coração bate, bate apenas por você” dizia a musica, apertei seu peito entre lagrimas. “Este coração bate, bate apenas por você” sem respiração, sem pulsação, uma mordida de vampiro. Um grito saiu cortando minha garganta. “Este coração bate, bate apenas por você, meu coração é seu” dizia a musica silenciando meu choro abafado, tentando segurar o calor do corpo no chão, se esvaindo aos poucos. Ele não ia se transformar, eu não podia esperar por aquilo. Afinal o veneno de um vampiro era fatal em um lobisomem.

         A atmosfera ao meu redor se modificou, eu sabia da presença de meus pais, meu corpo se ergueu num reflexo, eu não abri os olhos sabendo que dois pares de braços frios me acolheriam de imediato. Minha mãe segurava minha mão e afagava meu rosto enquanto meu pai me acomodava em seu colo, segando minhas lagrimas. Não era necessário trocar nenhuma palavra, eles sempre acompanhavam meus sonhos e pesadelos em tempo real.

         - Você não precisa se preocupar. – dizia a voz doce e aveludada de minha mãe. Mas eu hesitei, chorando.

         - Ele nunca vai te deixar. – meu pai sussurrou em meu ouvido.

         - Agora não, mas um dia ele irá, quando eu estiver madura o suficiente aos olhos de vocês, a ponto de não precisar mais de babas.

         Só então abri meus olhos, e encontrei de imediato um par de olhos chocados e magoados me fitando. Depois alcançando certa histeria tentando parecer despreocupados. Os braços ao meu redor se afrouxaram e eu voei no pescoço de Jacob.

         - Eu nunca vou te deixar. – ele disse com o rosto escondido nos meus cabelos, reforçando as palavras de meu pai. Era tão bom ouvir sua voz, seu coração, todo o sangue que era bombeado, a respiração fraca. - A não ser que você queira!

         Um silvo surgiu, eu me afastei erguendo os lábios sobre os dentes rosnando ferozmente para ele. Ele riu.

         - O que é? Vai me morder?

         As palavras me cortaram como milhares de navalhas. Esmagaram-me ignorando a gravidade. Fiquei em choque e joguei os braços pelo pescoço de Jacob trazendo-o para mais perto de mim o possível, sufocando-o, enquanto chorava desesperadamente. Ouvi meu pai bufar, mas eu sabia que Jake não tinha culpa, então aproveitei o toque de nossas peles para repassar mentalmente o pesadelo. Senti seu corpo enrijecer, e suas mãos me envolveram calorosas, num abraço acolhedor.

         - Nunca! – ele sussurrou com a voz falhada, entendendo meu desespero. A sinceridade era plena em sua voz rouca. Sua pele era insuportavelmente quente na minha, mas eu não me importava, eu nunca mais me importaria com o calor da sua pele depois de senti-lo esvaindo-se. Eu não conseguia suportar a imagem de Jacob frio no chão na minha frente.

         Eu já estava quase voltando a dormir quando Jacob bocejou no seu jeito exagerado de ser, eu despertei o suficiente para sair de seu colo dar-lhe um beijo demorado na bochecha e voltar a me aninhar no colo de meu pai, alcançando a mão de minha mãe pousando-a sobre meus cabelos.

         Eu queria dizer que eu os amava que eles eram a melhor família que alguém poderia ter. Eu queria dizer que adorava dormir daquele jeito, com eles me ninando. Eu dizia isso, enquanto segurava a mão de minha mãe e afagava o rosto de meu pai, ignorando seus dons. Eu dizia a eles do meu jeito.

         - Te amamos. – eles responderam em uníssono.

         - Obrigada! – Eu respondi lisonjeada e sonolenta.

         Eu tinha muita sorte por tê-los assim, só para mim. Ouvi o leve ressonar de Jake aos pés da minha cama, então as vozes melodiosas, doces e embriagantes encheram o quarto na minha mais perfeita canção de ninar.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!