Equinócio escrita por karoreis


Capítulo 16
Regresso




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Eu fiquei imóvel durante alguns minutos, ainda deitado, inspirando o resto do cheiro dela que havia ficado para trás. “Cuide dela” claro Bella, eu achei que fosse capaz, mas agora ela estava correndo lá fora, sozinha. Não que fosse uma coisa que eu queria, mas talvez ela precisasse passar por algum sufoco, só para perceber que ela precisa sim de uma babá. Definitivamente não era o que eu queria, até porque eu não estava mais tão convencido de que ela ainda precisava de mim, e se ela provasse ao contrario? Se ela conseguisse realmente se defender sozinha, então eu não teria nem sequer uma desculpa para ficar perto dela, então ela convenceria Edward e Bella de que ela estaria madura o suficiente para não precisar mais de babás, e não haveria mais motivos para que eu permanecesse ali. E todo o resto sobre evitar mexer no destino dela ficaria para trás, assim como eu ficaria.

         Eu nem sempre achava certo a atitude de Bella e Edward em relação ao meu imprinting. Eu entendia que eles queriam apenas preservar Renesmee, fazê-la viver da maneira mais normal possível, já era bem difícil para eles, que ela tivesse tido um crescimento sobrenatural e não ter tido sequer uma infância descente.

         Mas como eles podiam tentar lutar contra o destino? Afinal, era certo, eu já tinha visto, nós sabíamos como era o poder de um imprinting. Edward viu junto comigo pelos meus olhos quando vi Renesmee. Eles se preocuparam, ela era só um bebê. Assim como havia sido com Quil e Claire. Bella havia tido a mesma reação de nojo e desprezo. Eu mesmo vendo como as coisas eram, ainda assim achava estranho. Mas depois eu entendi como o mundo conspira para que tudo dê certo. Pelo menos devia conspirar, mas não era o meu caso.

         Antes era como se o chão que Nessie pisava me puxasse. Mas depois de um tempo, aquilo se modificou, a força que me atraia não vinha mais do chão, dos lugares que Nessie estava, das coisas que ela tocava, a força vinha dela. De todo o seu corpo, ela e só ela me prendia ali. Eu nem sempre era como o sol para ela, eu às vezes me sentia como a lua, um satélite natural orbitando em volta do meu mundo, da minha vida. Mas nós nunca nos encontrávamos da maneira correta, embora estivéssemos sempre sintonizados, ligados um no outro. Nós éramos como uma peça só, que se encaixavam e se completavam perfeitamente. Não havia como negar.

         Eu desejava esse momento mais do que qualquer coisa. O momento em que nós nos encaixaríamos.

 

         As palavras de Nessie ainda ecoavam e minha cabeça, como suplicas, e eu não era acostumado a negar as coisas a ela. Nessie já havia me surpreendido o suficiente implorando para que eu ficasse perto, mas depois abriu mão com tanta facilidade. Embora sua atitude e suas palavras tenham me afetado, eu não podia interpretá-las da maneira que eu queria.

         “Mas é só você que eu quero.” A frase ecoava em meus ouvidos, na minha mente, em cada parte do meu corpo. Embora aquilo não significasse o que eu gostaria, eu era tolo o suficiente por me sentir feliz. Mas quanto mais alto, mais difícil descer! Eu não ia me permitir me iludir desse jeito.

         Primeiro eu achava que não teria imprinting nenhum, depois que ia ser mais fácil do que estava sendo. Eu definitivamente não queria ir embora, mas se aquilo fosse o melhor para Nessie, eu não negaria, como sempre. Mais do que querer tê-la para mim, eu queria vê-la feliz. Fosse do jeito que fosse, ou com quem fosse.

         No momento em que ela saiu pela janela, eu cheguei a acreditar que ela estivesse me dando a deixa de ir embora. Pensei incansavelmente se era certo ou não ir. Chovia muito lá fora, e eu me perguntava onde ela estaria. Se eu devia segui-la ou não. Mas eu tinha medo, medo de que as coisas pudessem piorar mais ainda. Eu precisava enfrentar a realidade, eu precisava lutar.

         Eu concertei a cama de Renesmee, e vaguei pela casa, a hora passava lentamente, eu estava preocupado com Nessie que não voltava. Durante todo esse tempo eu pensei em inúmeras coisas, e cheguei em uma conclusão. Eu não iria mais interferir no destino de Renesmee, eu iria embora. No entanto, eu não mentiria mais para ela. Eu lhe falaria antes de partir, ou eu lhe mandaria uma carta avisando. Eu contaria para ela toda a verdade, talvez ela entendesse que seria melhor, mais fácil, para mim se eu ficasse longe dela. Sem precisar ver o que lhe fazia feliz, sem precisar saber que não era eu o motivo de sua felicidade.

         Eu não tinha mais o que fazer, liguei a televisão na sala e deitei no sofá, quando acabei pegando no sono. Acordei assustado, eram três e meia da manhã, Nessie não havia voltado ainda, estava escuro e chovia, eu decidi ir atrás dela, mas ouvi a porta da frente se abrir, eu fui até ela devagar.

         Nessie estava sentada no chão, encostada na porta, suas roupas molhadas, ela estava mais pálida que o normal, sua dificuldade para respirar era notável. Eu me agachei longe dela. Eu me sentia muito mal em vê-la naquele estado. Ela abriu os olhos lentamente, eu olhos vazio, as pupilas dilatadas. Nós precisávamos caçar. Alias, alguém precisava levá-la para caçar. Onde ela esteve? No que ela andou pensando? Será que ela queria voltar e não me encontrar ali? Estava decepcionada? Como ela se sentia? Encharcada, mal respirava, será que ela podia ficar doente? Como eu explicaria isso para Edward e Bella? Eu tinha falhado, eu não havia cuidado dela.

         Se ela não tivesse interferido nos meus sonhos, nada disso teria acontecido. Talvez ela estivesse apenas tentando me alertar. Se ela realmente estiver interessada em Thomas, ela pode só estar me avisando, pedindo para que eu abra caminho. Que eu facilite as coisas. Ela podia estar me preparando para o fim. Às vezes eu sentia assim, como se fosse o fim. E era.

         Todo o tempo que ela esteve fora eu lutei para me convencer de que quando a visse novamente eu a olharia com os olhos amigáveis, olhos que eu nunca havia dirigido a ela antes. Eu tentaria ser o mais fraternal possível. Mas não tinha como ignorar o fato dela ser meu imprinting, toda vez que eu pensava a respeito, isso berrava na minha cabeça me lembrando. Ela se encolheu, encostando a cabeça nos joelhos, e chorando que nem criança pequena, sem tentar sequer evitar os soluços. Eu não podia vê-la chorando, eu me forcei a chorar de costas, eu precisava ser forte, eu não iria desmoronar agora, não destruiria toda a mascara que eu me preocupei em fazer durante as horas que fiquei sozinho.

         Eu percebi um movimento e voltei a olhá-la, ela tentava se levantar, tremia de frio, suas roupas pingavam e ela mal respirava. Antes que eu pudesse pensar ela caiu no chão. Eu fiquei em choque, sem saber o que fazer, ela apenas se encolheu no chão e fechou os olhos. Eu busquei algumas toalhas e enrolei nela, eu não suportei, aquilo doeria mais tarde, mas eu não evitei de pega-la em meu colo. Eu nunca havia sentido Nessie tão gelada antes. Ela ainda tremia de frio, mas parecia inconsciente. Seus lábios estavam roxos, seu corpo estava rígido. Eu subi as escadas e a levei para a cama, deitando-a e cobrindo-a. Sentei-me ao lado da cama. Ela já estava um pouco mais seca, mas ainda tremia de frio. Renesmee nunca tinha ficado doente antes, nós nem sabíamos sequer se era possível. Eu começava a acreditar que era.

         Fiquei de pé na beirada da cama, e hesitei um momento, mas foi só um momento muito breve. Deitei-me ao seu lado, embaixo das cobertas, e a puxei para o meu peito, a fim de esquentá-la. Tão pequena e frágil, e eu me sentia tão completo com ela ali em meus braços. Ela preenchia todos os espaços vazios que existiam em mim.

         Será que Thomas a trataria sempre com aquela cordialidade que eu tanto suspeitava? Será que ele realmente era capaz de fazê-la feliz? Eu tentava me convencer todos os dias que ela não gostava dele o suficiente, porque isso era muito claro. De fato Isso definitivamente era uma tortura, afinal ainda me sobravam esperanças, sabe eu tinha alguma chance.

         Eu passava as mãos delicadamente pelos cabelos de Nessie, ela mantinha os braços dobrados no peito, mas mãos fechadas encostavam-se ao queixo, ela começou a parar de tremer em pouco tempo, e então seu corpo relaxou aos poucos. Eu não conseguia desviar os olhos, e dormindo, ela simplesmente era indescritível. Agora que estava relaxada, o vinco em sua testa havia sumido, os olhos estavam suaves, seus lábios perfeitamente desenhados, naturalmente corados e volumosos.

         Eu suspirei, talvez alto demais. Nessie se mexeu ao meu lado, eu tive medo que ela acordasse, mas ela apenas se aconchegou mais, envolveu um dos braços em minha cintura e se aproximou mais de mim, afundando seu rosto em meu peito, completamente inconsciente.

         Eu estava quase parando de respirar, qualquer coisa que evitasse que ela se mexesse novamente. Fiquei apenas ali, vivenciando aquele momento. Sentindo sua respiração suave e lenta em meu peito, o calor, seu corpo tão junto ao meu. Não havia duvidas de que éramos mesmo um para o outro. Nada me fazia querer sair dali, nada me prendia tão firme quanto aqueles braços. Era loucura, todas as células do meu corpo pulsavam frenéticas, gritando por ela. Eu poderia parar de comer, beber, respirar, qualquer coisa, só para tornar aquele momento eterno.

         Ela revirou mais algumas vezes na cama, e sua respiração se alterou, então eu julguei que ela estava acordando, e achei melhor levantar. Puxei uma cadeira e sentei-me ao lado da cama, fitando-a enquanto ela ia se adaptando lentamente, o corpo se esticando, sua beleza surreal despertando.

 


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