Novamente Alice escrita por Sol


Capítulo 12
A magia como ela é


Notas iniciais do capítulo

Yoo sorry a demora eheh, espero que goste



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Alice

 

—Ouça o que há ao seu redor! – A suave voz de Ches invadiu a escuridão que me cegava. —A venda é apenas uma pequena adaptação, concentre-se Alice! - Tentei respirar fundo, sentia a grama da campina, ouvia alguns pássaros ao longe, segurava meu punhal com força, mas não podia ver nada.  —Até hoje esteve acostumada a conhecer o mundo pela visão, mas deve conhecê-lo totalmente. – Ele segurou a minha mão que estava livre. —Deve senti-lo, toca-lo, ouvi-lo. Não pense na luta ainda, pense em conhecer tudo novamente.

 

—C... Certo! – Eu ainda estava insegura, Ches retirou o punhal da minha mão e, provavelmente o guardou em algum lugar, pois depois segurou minha outra mão.

 

—Eu vou te guiar, quero que confie em mim e tente sentir o local, é apenas a campina, mas pode haver obstáculos, quero que conheça esse lugar passo a passo, é assim que vamos começar e se você conseguir dominar um ambiente totalmente novo significa que consegue se adaptar a qualquer lugar. - Resmunguei alguma coisa sobre não estar muito segura e ele riu baixinho. —Tudo bem Alice, temos bastante tempo por aqui.

 

—Só espero sobreviver a isso... – Segurei a mão dele com mais força. —Certo, vamos logo! Isso vai levar um longo tempo mesmo!

 

~ # ~

 

 Horas andando em uma campina próxima a uma floresta e ainda às escuras eu percebi três coisas muito importantes:

 

Primeiro: Nunca se sabe quando se pode ter uma poça de lama no meio do caminho!

 

Segundo: Se encontrar uma poça de lama, não se desespere!

 

Terceiro: Não seja eu!

 

—Céus! – Reclamei, retirando a venda e tentando não ficar cega com a luz, Ches estava jogado na grama e ria como se não houvesse amanhã, a nossa volta uma não tão pequena poça de lama fazia o favor de nos sujar completamente. —Francamente! – levantei minha mão, pingando de lama. —A Duquesa vai nos matar!

 

—Sem dúvidas! – Ches ainda ria, mas tinha se sentado a minha frente. —Pelos céus! Ela vai ficar furiosa!

 

—Não está ajudando Ches! – Balancei minha mão em frente ao rosto dele e os respingos de lama voar para cima do loiro.

 

—Não! – Ele estava tentando parar de rir. —Golpe baixo!  Quem se desesperou e me puxou quando caiu foi você!

 

—Só me ajuda!

 

Ele respirou fundo pelo menos três vezes e conseguiu se levantar, me ajudando logo em seguida.

 

—Demos sorte que a Duquesa foi levar seu pai para casa, vou te ensinar um truque. – Ele piscou e pegou algo em seu bolso, um broche de coração. —Não conte a ninguém que tenho isso, roubei da rainha!

 

—Você o que? – O encarei boquiaberta, mas ele apenas fez um sinal de tanto faz.

 

—Não importa ela tem tantos que não vai sentir falta, são todos idênticos. Agora olhe isso... – Ele colocou o objeto a nossa frente, o objeto começou a brilhar e ele foi abaixando aos poucos. —Agora a mágica acontece!

 

E dito isso ele o largou e no mesmo instante uma pequena ventania nos atingiu por alguns segundos, tive que tampar o rosto e me afastei um pouco, mas em seguida tudo parou e quando encarei Ches quase cai novamente: Ele estava intacto, limpo, como se tivesse acabado de se vestir. Olhei para mim mesma e percebi que também estava limpa.

 

—Fantástico!

 

—Nosso segredo em! – Ele sorriu e guardou o objeto no bolso. —Vamos tomar um chá?

 

Eu sorri cúmplice e assenti. Talvez a magia não fosse algo tão aterrorizante assim.

 

~ # ~

 

  Eu estava sentada na varanda e vi quando o Chapeleiro apareceu, ele usava um chapéu mais comum e menos chamativo e fiquei impressionada com como ele parecia bem, ainda tinha um olhar confuso, mas como eu já disse antes: Este parece ser seu olhar mais natural.

 

   Poderia apostar alto que a ideia de lutar contra a rainha lhe deu um novo ânimo, ele parecia até bem mais jovem e vivo do que antes, junto dele estava o pequeno Let, o menino não parecia um poço de animação, mas pelo menos parecia mais conformado.

 

— Ola! - O chapeleiro exclamou sorrindo quando me viu e retribui com um simples aceno, a duquesa apareceu na porta sorridente como sempre, ou quase sempre, ela havia chegado pouco depois de eu e Ches terminarmos de preparar o Chá.

 

Encarei o chapeleiro novamente e me surpreendi com o sorriso que havia aberto, seus olhos estavam fixos nos da duquesa e ele estava um pouco corado.

 

 Tentei não rir e atrapalhar o momento, mas foi em vão, pois Let correu até a duquesa, assustando os dois adultos, a mulher o recebeu com um delicado abraço, o pequeno resmungou algo que eu não compreendi e logo correu para dentro da casa, onde estavam White e Ches, por mais incrível que pareça e inacreditável e difícil de aceitar: Ele adorava White!

 


— É... Então Alice... Soube que precisa de umas ajudinhas com magia! - Ele disse desviando o olhar para mim, ainda um pouco sem jeito e tímido.


— Acho que sim! – Concordei, omitindo a pequena parte em que eu sabia exatamente nada sobre magia.

 

—Entendo, eu só preciso tratar alguns assuntos com a duquesa, pode esperar com os meninos enquanto isso? – Ele pediu docemente e eu assenti, me levantando e sentando no sofá ao lado de Let, Ches e White tinham ido até a escada e pareciam falar de algo sério.

 

—Qual o seu nome? – Let perguntou, o menino estava deitado no sofá e me encarava com o dedinho na boca.

 

—Alice! – Respondi e ele sorriu, se sentando e encarando os meninos.

 

 —Eles tão falando da Calime! – Let confidenciou inocentemente. —Ches gotava dela!

 

No mesmo instante encarei os dois, que pareciam estar quase brigando. —Gostava tipo?

 

Let deu de ombros e me encarou. —Tipu mutu! Tipo o Chapelelo gota da duquesa!

 

Sorri e baguncei o cabelo dele, sussurrando bem baixinho ao seu ouvido:

 

—Esse tipo de coisa a gente guarda segredo!

 

—Segledo?

 

—É!  Segredo!

 

—Tá! – Ele sorriu e se aproximou mais de mim, deitando a cabeça no meu colo e se esticando. —Eu te contei um segledo, me dá calinho?

 

Eu ri baixinho e comecei a fazer um cafuné nele, mas sem poder tirar da mente a ideia de que Ches gostava da Carime, ou seja...

 

Tudo certo! – O chapeleiro anunciou, me assustando e fazendo Let reclamar. —Alice, podemos ir até a varanda?

 

—Sim!  - Concordei e Let se levantou emburrado.

 

—Quelo calinho, quelo dumi! – Ele protestou revoltado, com um enorme bico e os braços cruzados.

 

—Ah! Queridinho! – A duquesa apareceu e o puxou para seu colo, fazendo o pequeno sorrir. —Eu cuido disso! – Ela sorriu para o chapeleiro e ele retribuiu docemente, apertando de modo bem fraco a bochecha do Let. —Boa aula Alice! Meninos me ajudem com os talheres bagunçados na cozinha!

 

 O Chapeleiro ainda permaneceu certo tempo a observando se afastar, até que finalmente se lembrou de seu objetivo e me puxou para a varanda.

 

  Nós nos sentamos e eu respirei fundo o ar puro e fresco do lugar, simplesmente maravilhoso.

 

 —Eu soube que seu poder surgiu no confronto com a rainha. - Ele comentou e eu voltei minha atenção ao que realmente importava.

 

— Sim... Mas eu não entendi direito o que aconteceu! - Admiti.

 

— Tudo bem, estamos aqui para isso! Aliás... - Ele parou e me encarou por um tempo.

 

— O que é? - Perguntei preocupada esperando algo realmente importante.

 

— Gostei do cabelo trançado, mas ainda acho que você devia cortar! - Ele disse de forma tão séria e fofa que nem tive como ficar com raiva. Era o chapeleiro afinal. 



— Vamos ao que realmente interessa? - Perguntei sorrindo, minha experiência neste mundo me ensinou a nunca prosseguir uma discussão inútil, ainda mais com o chapeleiro, ele sorriu e pareceu pensar um pouco. 

 

— Posso ver sua arma? - Perguntou apontando para o meu cinto. 

 

— Claro! - Eu entreguei em suas mãos e um segundo depois ele respirou fundo, fechando os olhos.

 

   Eu o observava com fascínio enquanto as brisas suaves aumentavam mais rapidamente e começaram a rodeá-lo sem parar, até que ele abriu novamente os olhos e o ar voltou ao normal.

 

— Parece que sua magia é mesmo forte. - Ele concluiu e no fundo me senti bem, pelo menos eu não era fraca, quer dizer, pelo menos na teoria.

 

  O chapeleiro permaneceu analisando os detalhes no punhal e voltou a comentar:

 

 — Mas não está toda concentrada aqui. - Ele estava pensativo e eu apenas o observava, depois de pensar bastante ele pegou minha mão e começou a analisar o anel — Oh! Está aqui! Como eu imaginei... Ficou evidente desde a primeira vez que vi vocês! - Ele exclamou ainda mais absorto em pensamentos e me encarou por um tempo. — Oh...

 

— O que é? 

 

— Você tem belos olhos! - Ele comentou admirado e eu respirei fundo, tentando contar até dez, por que ainda tinha fé nele?  — Parecem até esmeraldas, da vontade de pegar...

 

— O que descobriu sobre o anel? – Desviei rapidamente o assunto, ele soltou a minha mão e sorriu:

 

— Receio se tratar de magia compartilhada! O outro está com White, certo?

 

—Ah... É... Isso deveria significar algo?

 

Ele riu e me olhou nos olhos, mesmo com o chapéu escondendo-o um pouco, vi seus olhos de um novo jeito, não confusos e perdidos, mas emanavam sabedoria e paciência.

 

— Alice o que você precisa saber no momento de mais importante é que pelo menos 90% das pessoas deste país sabe usar a magia!

 

—Nossa! Mas eu... Nossa! Não pensei nem que ela existisse! E... Esse país é tão grande assim? Porque nem isso eu considerei possível de ser real! – Fui o mais sincera o possível e ele sorriu.

 

—As realidades às vezes se diferem... – E olhando para o horizonte concluiu. —Mas continuam sendo realidades!

 

— Mas como isso funciona? É só, sei lá, usar uma palavra mágica? 

 

—Existem tipos de magia... – Seu foco voltou a mim. — Sendo as principais: Magia das trevas, magia da terra e magia celeste. O mais comum de se encontrar é a magia da terra, que nada mais é que magia usada por pessoas comuns, quer dizer qualquer um pode aprender, o nome terra é apenas dado por causa dos fluxos de energia principais que vem da terra. Quando um mago desperta e perde o controle a sua tendência é causar explosões ou mover e paralisar objetos. Entende? 

 

— Acho que sim! É algo mais simples então?

 

— Isso mesmo! E em seguida temos as mais raras: A magia das trevas e a celestial, essas são raras pelo motivo de você ter que possuir um talento nato e saber escolher bem, do tipo que nasce com você. – Ele respirou fundo. —A magia das trevas infelizmente é um pouco mais exercida do que a celestial, geralmente por magos com vocações tanto para o bem quanto para o mal! Ela é extremamente perigosa por consumir cada vez mais a alma do mago para o mal, depois de certo tempo com ela você passa a ser um verdadeiro ser maligno, quando um mago desperta e perde o controle a sua tendência é trazer pesadelos e sensações de dores insuportáveis àqueles de bom coração, entende? 

 

— A... É... Não sei... Acho que sim! – Querendo ou não eu acabei pensando na rainha e na sensação maligna que ela passou...

 

— Ótimo! Ótimo... – Ele parecia empolgado com meu entendimento, porém o mérito era todo dele por ser um ótimo professor. —E a celestial é a mais bela de todas, ela também transforma a alma do mago com o decorrer do tempo, mas para um lado positivo e diferente das trevas, que consomem rapidamente, ela demora a terminar o serviço. Sabe ás vezes pode levar até anos e enquanto a das trevas transforma a sua natureza em maligna a cada evolução, a magia celeste é o oposto: Ela só evolui se sua natureza benigna evoluir naturalmente, ou seja, quanto mais justo, digno e fiel você for mais forte você se torna!

 

— Mas... E se você for corrompido pelo mal? 

 

— Nesses casos o seu poder do bem diminui e quando isso acontece a grande maioria dos magos acaba procurando as trevas! – Ele falou como se estivesse revelando uma desgraça impensável. —É um comportamento bem automático que ninguém até hoje conseguiu explicar, dizem até que todos nós nascemos com um dom tanto para a luz quanto para as trevas, mas é certo que são nossas escolhas que definem isso!

 

— Acho que compreendo! – Sinceramente eu não esperava que fosse algo tão complexo e que eu fosse me importar tanto com o assunto.

 

— Mas como eu dizia antes: A celeste é usada por poucos e quando desperta sua tendência é trazer a luz que afasta qualquer um com intenções malignas, assim como aconteceu com você!

 

— Espere... Está dizendo que eu ... Posso usar magia celeste? - Perguntei em choque.

 

— Sim! Assim como White, Ches e Loke... Conheceu Loke não conheceu? O menino do jardim!

 

— Sim... – E lá ia o chapeleiro desviar o assunto novamente.

 

— Ele é bem engraçado! Não... Espera! Esse é o Cinne! Acho que confundi azul com verde... Ah... E... E... - Ele encarou o chão por alguns segundos, parecia um pouco desfocado demais, porém lutava contra o que quer que fosse:

 

 — Lebre também podia!  - Ele completou triste e eu o encarei sem ter o que dizer. — A magia dela era muito parecida com a de White, acho que é por que dividem o mesmo sangue ou coisa assim! Ainda por cima este lugar possui um belo grupo de magos celestes alguns dizem que isso não é nada de mais, mas eu chamo isso de destino! Magos celestes são raros! São poucos e achar tantos em um único lugar só pode ser coisa do destino. - Ele murmurou sorrindo. — Sabe muitos dizem que acreditar em destino é loucura, mas loucura é acreditar que as coisas acontecem sem motivo, sabe e acredito em motivos, motivos e motivos, acho que nada vem do nada e nada acontece do nada, entende?

 

—Eu tento! – Admiti e ele riu, dando de ombros. —Você disse que não são todos que usam; quem sobra é o que? 

 

—Ah! Realmente, há algumas exceções, havia antes muitas pessoas comuns, que não tinha envolvimento mágico, mas cientifico... Mas depois de um tempo eles se cansaram de um mundo dependente da magia como o nosso... – Ele sorriu meio sem jeito. —E acho que se isolaram bem longe de nós... Também há outro caso muito mais fascinante e realmente raro: Sacerdotes!  - Os olhos dele brilharam.

 

—Sacerdotes? Vocês têm um Deus?

 

—Deuses! – Ele corrigiu e eu pedi desculpas. —Sem problemas, é que é algo complicado por aqui... Eu, particularmente, sou muito fiel...Mas há outros mais independentes, é algo normal de se ter... Mas o que importa é que existem sacerdotes que não usam magia algumas, mas que possuem maravilhosos dons divinos.

 

—Nossa! – Eu sorri. —Mas eles são raros mesmo?

 

—Um a cada geração, um no mundo... Nos tempos atuais temos três... Como eu disse as coisas estão estranhas... Como se os espíritos esperassem por algo que é breve! – Ele se calou por um momento.

 

—Breve? –Eu também me sentia estranha, esse assunto me deixou com um pouco de medo, como se eu soubesse que não seria algo agradável.

 

—Da ultima vez...

 

— O que?

 

Ele me encarou e suspirou:

 

—Da ultima vez que as coisas ficaram estranhas houve uma guerra desastrosa e injusta nesse mundo! – Ele deu de ombros. —Um dia te conto tudo! - E dizendo isso ele se levantou de súbito. —Vamos atrás dos meninos!

 

— Claro. - Eu concordei me levantando também, ainda muito impressionada.

 

— Será que tem algum chá na casa da duquesa? Eu gostaria de tomar chá! É Isso vamos tomar chá todos juntos! Será que a duquesa vai querer tomar chá conosco?

 

 Ele indagou e eu sorri de lado.

 


— Acho que sim, afinal você é encantador e os dois parecem já ter uma ótima afinidade, certamente ela deve gostar de você e você dela, mas pelo que sei de viver de aparências vocês já devem estar bem resolvidos até, vá por mim cresci na Inglaterra, aparência é algo que eu entendo! E amores frustrados também! Veja bem comigo, agradeça por não ter a má sorte que tive na vida!

 

—Não me diga que alguém a decepcionou? – Ele soou preocupado, mas não escondia o rosto corado e o sorriso bobo muito bem. —Se fosse meu filho estaria agora lhe implorando perdão de joelhos!

 

Eu comecei a rir e ele sorriu de lado.

 

—Não precisa se preocupar, já tem sua duquesa a sua espera e ela certamente não vai ser decepcionada, não é mesmo?

 

— Você é muito espertinha sabia? – Ele murmurou, rindo baixinho e eu fiz uma expressão indignada, o puxando para andar mais rápido:

 

 —Vamos logo, chapeleiro!  Senão o chá esfria!

 


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