Torna-te Minha Rainha escrita por kalliope


Capítulo 7
CAPÍTULO VI {Fantasma da Culpa}




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Depois daquela evasiva com a cozinheira. Aimee descobriu que precisaria ser mais cuidadosa, ou tudo poderia ruir. Seus planos de conquista, Edward, o Reino Unido, tudo. Cada vez mais, as coisas pareciam complicar. Até mesmo sua falsa identidade por trás da morte de Lizzie Harper estava fadada a poucas semanas, só até que alguém encontrasse o corpo no rio e descobrisse tudo. Mas apesar dessas contratempos, o trono parecia estar bem próximo.

Sem nenhuma grande obrigação naquela hora, ela tirou um tempo para ir até o corredor dos retratos. Lá haviam pinturas profissionais de quase todas as realezas da Inglaterra, desde William I "O Conquistador" até o recém falecido George V e o atual monarca Edward VIII. No quadro, ele se mostrava dominante, tinha uma pose imperiosa sentado em seu trono, seus olhos transmitiam um ar controlador enquanto seu rosto parecia calmo, muito natural para quem provavelmente passou horas parado para ser pintado; a coroa estava em sua cabeça, o cetro dourado em uma de suas mãos. Aimee observou cada um desses detalhes com meticulosidade. E, desgostosamente, lembrou-se do contato físico que tivera com o homem eternizado naquele quadro. Aquele momento aqueceu seu coração e lhe soprou uma ansiedade romântica nos pulmões.

Ela não resistiu e tocou com delicadeza a face fria daquela obra de arte. Fechou os olhos e imaginou estar tocando o próprio Edward. Foi mágico como pareceu tão real.

— Aimee — chamou uma voz repleta de feminilidade e doçura.

Sutilmente, Aimee virou-se para procurar pela voz e encontrou sua origem. Mas não deveria. Era Lizzie Harper, ou o que havia sobrado dela. Em suma, era apenas a figura de uma memória pálida. Lá estava ela, parada no meio do corredor à luz de velas, vestindo aquele seu último vestido, pingando água do rio no tapete. Havia sangue seco em suas narinas.

— Por que fez isso comigo Aimee? Por quê?

Sem demonstrar pavor, Aimee simplesmente tornou a fechar os olhos.

— Você não é real. É apenas minha mente pregando peças. É a minha culpa começando a aparecer — concluiu, mantendo-se calma.

— Eu perguntei — Lizzie persistiu — por que fez isso comigo? — dessa vez, gritou em um tom horrendo até que desapareceu por completo.

Abrindo os olhos, Aimee não viu mais nada se não o corredor vazio e escuro — as velas tinham se apagado por algum motivo. Suspirou de alívio e voltou a encarar o quadro de Edward novamente.

— É tudo sua culpa — julgou, como se estivesse frente a frente com ele.

E era mesmo culpa dele. Algo mudou desde que aquele honrado rei resolveu cruzar os caminhos da garota de Dartmoor. As mortes, antes, era tudo mais fácil de se lidar, era até divertido, mas depois, a culpa começou a tomar conta. E foi o que trouxe todas as preocupações e o remorso, coisas que não existem nos traços de um psicopata.

— Dane-se — Aimee entortou a boca para o quadro bonito e foi para o quarto tentar dormir.

Deitou-se em sua cama, subiu o cobertor até os ombros e fechou os olhos. O sono não veio nas primeiras duas horas, o que não foi novidade, porém depois disso, ela dormiu até a manhã do outro dia. Sem interrupções, perturbações ou pesadelos.

Revigorada pela boa noite de sono, Aimee se levantou disposta naquele dia. Arregaçou aquelas cortinas velhas da única janela do quarto e deixou um pouco de luz solar entrar. Olhou para o céu repleto de nuvens e lembrou de um detalhe. Havia sonhado com Edward naquela noite, e isto lhe trouxera uma coisa boa, era uma sensação inexplicável que a acompanhou durante o dia todo. Durante o almoço com os funcionários, na hora do chá ou ao sentir o perfume das rosas no jardim, eram as cenas do sonho que lhe vinham a mente. Na última vez que aconteceu ela já estava na cama novamente, pronta para mais uma noite de sono.

— Sinceramente, eu preferia as assombrações — disse a si mesma num suspiro, e riu sozinha. — Meu Deus o amor é tão ingênuo. Eu aposto que ele nem deve mais lembrar da minha existência; com todos aqueles compromissos importantes e as viagens luxuosas com champanhes e companhias ilustres...

E mais um dia se passou. Nenhuma aparição do tal rei.

Aimee sentia-se decepcionada enquanto cuidava do canteiro de lírios. A decepção era consigo mesma.

"Não acredito que você é capaz de matar pessoas mas não um simples sentimento. Que ridículo" — disse a si mesma mentalmente.

Antes que ela pudesse se injuriar mais. Numa das sacadas do Palácio, lá aparecera o rei. Estava longe, mas Aimee sabia que era ele. Era algo que ela podia sentir, mesmo àquela distância. Usava um terno marrom e sapatos pretos.

Assim que seus olhares se encontraram, o rei levantou uma de suas mãos e acenou de leve, quase que imperceptivelmente, mas Aimee retribuiu com outro aceno. Eles ficaram nessas troca de olhares por alguns minutos. O rei, de vez em quando, contemplava os arredores, mas sempre voltava para ela, que fazia praticamente o mesmo.

Quando Edward entrou no Palácio, sumindo de vista. Aimee levou as duas mãos ao rosto, com tanta raiva de si que poderia se atirar do último andar do edifício mais alto de Londres.

— Por que eu só não fiquei cuidando da porcaria dos lírios? Era tão simples! — resmungou.

Sua mente passou a ser inundada com tudo de Edward. Todas as palavras, as sensações, as fricções. Tudo. Mas ela havia tomado uma decisão dentro de si. Iria mata-lo na primeira oportunidade que tivesse. Já nem importava mais se não se torna-se uma rainha ou se tudo fosse por água a baixo — o sonho de uma vida inteira. Ela apenas não iria aceitar se rebaixar àquilo. A se apaixonar. A amar.

Com uma expressão focada e com fibra nos olhos, ela finalizou seu trabalho do dia e, antes de ir se deitar, foi até o corredor dos retratos com uma faca de cozinha decorativa. Havia um espírito de guerra dentro de si.

Utilizando cuidadosamente a faca, sem perder a frieza e o perfeccionismo doentio de um psicopata, ela cortou seu braço. Daquele filete de sangue perfeitamente reto, ela manchou o quadro bem onde fica o coração. E sorriu.

— Você já me fez perder o ar diversas vezes, querido Edward. Agora quem irá perder o ar é você.


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