Torna-te Minha Rainha escrita por kalliope


Capítulo 8
CAPÍTULO VII {Veio da Noruega}




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Edward, o grande rei, havia partido em uma viagem para os Estados Unidos, e isso para sua própria sorte e vida, pois Aimee Holder com certeza o teria assassinado caso ele ficasse por mais alguns dias. Aquilo foi, também, para o bem psicológico da moça de Dartmoor. Seriam quinze dias sem interrupções amorosas e essas outras trivialidades do coração.

Só para constar, uma reorganização de empregados havia sido feita um dia antes de o rei atravessar o Atlântico. Aimee agora era a mais nova costureira real, trabalho onde poderia colocar em ação um dos dotes domésticos de que mais se afeiçoava. Costurar, remendar, tricotar, criar, eram sua paixão da adolescência. Entretanto, agora seria algo bem mais desafiador. Ela seria responsável por consertar as roupas com que o rei se apresentaria em público. Tudo deveria estar impecável o tempo todo. 

O caminho de Aimee agora estava limpo. Ela agora tinha um cargo de confiança no Palácio; um rei possivelmente apaixonado e a maioria de seus potenciais problemas, todos mortos. Tudo que ela precisava fazer naquele instante era pôr a cabeça no lugar e inteiramente fingir o amor por Edward assim que ele voltasse de viagem. Respirar nova esperança. O plano "Ser Rainha" estava em curso novamente. 

Naquele momento de reflexão sobre todas essas coisas, ela estava em sua sala de costura — um local acolhedor pintado em marrom e dourado; com máquinas, peças e tecidos — segurando um sobretudo cor creme em mãos. Havia tanta coisa em sua mente. Era sua ambição pelo trono; a crise de 29 e sua família atingida; Dartmoor; Oliver e, acima de tudo, os sentimentos intensos em relação a Edward VIII. Todavia, naquele instante, seu foco fora filtrado em seu trabalho de costura. Aquela roupa era uma das favoritas do rei. Ela sentiu seus dedos tremerem um pouco quando firmou a agulha entre eles. Calmamente, ela costurou uma minúscula falha que existia na borda daquela peça, era tão pequena que nem valia a pena ligar a máquina de costurar. 

— Excelente! — exclamou, satisfeita com seu primeiro trabalho bem feito. 

O sorriso de satisfação logo se desmanchou quando seus olhos contemplaram a pilha de outras roupas ainda por fazer. Contudo, não se delongou e logo tomou em mãos seu próximo desafio — um cachecol bonito de uma cor voltada ao cabernet. Antes de enfiar o fio na agulha, Aimee notou de relance um perfume marcante vindo daquela peça. Não resistiu e tocou o cachecol no rosto para aspirar melhor aquela essência. Aquilo tinha um toque francês misturado ao calor de uma pele masculina, o que deixou Aimee maravilhada. Ela queria poder se sufocar naquilo. Morrer asfixiada.  

Afastando aquele cachecol do rosto, ela meneou a cabeça e sorriu. 

— E mesmo estando tão longe, você ainda tem essa influência sobre mim — lamuriou, de forma apaixonada.  

Dois dias depois, uma surpresa desagradável. Princesa Rakel Alexandra da Noruega. Ela havia chegado a Buckingham não fazia muito tempo, e pretendia ficar até a volta de Edward. Ela era uma pretendente; uma aspirante a Rainha. O sangue de Aimee ferveu ao conceber tal notícia nos burburinhos das cozinheiras do Palácio, mas foi somente ao fim daquela semana que ela teve a ilustre oportunidade de conhece-la pessoalmente. Era um sábado à tarde. Aimee estava em sua mesa de trabalho a costurar, mas conseguia ver por uma fresta de forma clara a silhueta marcada de Rakel se movendo no corredor. A porta é finalmente aberta. Pele suave, olhos azuis e madeixas ruivas muito bem organizadas em um penteado magnífico. Ela era perfeita. 

— Olá minha querida. É um prazer imenso conhecê-la — destacou a princesa, com uma delicadeza atenuada em seu tom de voz, além de um leve sotaque norueguês que era notável. 

O objetivo dela era parecer empenhada nos assuntos do Palácio e afins. Mas Aimee sabia que, no fundo, ela estava entediada de sua vida perfeita e resolveu fazer um tour pelas salas e corredores e fazer amizade com seus mais novos "escravos". 

Aimee de pronto se levantou e fez uma rápida mesura. Não teria feito aquilo se a princesa não estivesse acompanhada de guardas. 

— Vossa Alteza... — cumprimentou. 

Os olhos de Rakel correram pelo corpo de Aimee. E então, delicadamente, se aproximou. 

— Mas que trapos são estes? — perguntou, já não mais tão adocicada. Como reação imediata, houveram risadinhas abafadas vindas da governanta que acompanhava a princesa, assim como também dos guardas. Aquilo foi humilhante para a jovem Aimee. — Se trabalhas num Palácio, deves estar, no mínimo, vestida a altura — impôs, pedagogicamente. — Passe no meu quarto esta noite, vou ver como posso ajuda-la — propôs, e se foi. 

Aimee, de cabeça baixa e um tanto em choque, não proferiu sequer uma palavra em resposta. Não sabia mais como se sentir em relação a ela. De um lado, um abismo de ódio e inveja por ela ser a pessoa com quem Edward poderia se casar; de outro, uma admiração estranha. 

À noite, Aimee tentou vestir a melhor roupa que tinha e foi encontrar-se com a princesa, aceitando o convite que a mesma fizera. 

Parou no corredor em frente ao grandioso quarto. Ajeitou o cabelo e esticou a saia mais uma vez. Ela estava sem paciência para mais uma observação desgostosa da norueguesa sobre sua aparência. 

— Entre! — ordenou a princesa de dentro do quarto. 

Aimee assim o fez. Logo ao entrar, deparou-se com várias peças de roupa jogadas no sofá e na cama. O quarto, num todo, possuía uma temática harmoniosa de branco, turquesa e dourado. Tudo naquele local cheirava a rosas, inclusive a própria Rakel. 

— Estou separando essas roupas que não uso mais — disse a princesa, saindo de um closet. Ela tinha dois ou três cabides nas mãos. — Pode ficar com todas se quiser. São peças excelentes. Algumas podem ter pequenas falhas. Mas você é costureira, então isso não será um problema — tagarelou enquanto andava, irrequieta, arrumando a bagunça de roupas. 

— Eu agradeço muito, Alteza. 

— Ora, pode esquecer essas formalidades diplomáticas enquanto estivermos a sós — censurou ela, de um jeito carismático — Afinal de contas, embaixo desse vestido caro e dessa coroa bonita, eu sou apenas mais uma garota, assim como você. 

Rakel lembrou muito o rei Edward em toda essa questão de humildade. Aimee ficou se perguntando se todos os nobres seriam assim. O ato de valorizar o ser humano acima de seu título. Naquele dado momento, Aimee sentiu em seu peito pela eminente morte da ruiva a sua frente. Mas nada ficaria entre ela e a coroa. Nada. 

— Pobre donzela morta — Aimee pensou alto, com seus olhos fixos num ponto aleatório. 

— O que disse? 

— A senhorita é muito nobre, princesa — reiterou-se. 

Rakel achou a atitude de Aimee um pouco estranha, mas aquilo não lhe tomou muito a atenção. Ela logo a convidou para um chá, ali mesmo em seu quarto, aonde havia uma pequena extensão para uma sacada com uma mesa, cadeiras e plantas diversas.

E foi entre conversas de garotas, provas de roupa, troca de histórias e tragédias que o tempo voou. As garotas nem perceberam a madrugada chegar. Foi quando o relógio de parede badalou meia-noite que seus rostos assumiram uma expressão mais séria ao momento de descontração. 

— Já é tarde. Preciso ir dormir logo para que os ministros não se escandalizem com as rugas no meu rosto pela manhã — brincou Rakel. — Sua companhia foi de fato agradável. Prometo que assim que tornar rainha, te farei minha dama — falou, sorrindo para Aimee com seus lábios e seus olhos, que eram grandes e dóceis, como os de Lizzi Harper. 

— Ficaria honrada, senhorita. 

As duas se levantaram da mesa de chá onde estavam. Rakel deu a Aimee um abraço forte e a mesma a abraçou de volta, forçando um sentimentalismo feminino. Só conseguia pensar em como a morte aconteceria. No grau de tormento a que ela se submeteria. 

Com uma bolsa cheia de roupas selecionadas, Aimee se dirigiu ao seu quartinho de empregada no último andar do Palácio. Abriu seu armário pequeno com um leve rangido. Pendurou as roupas da princesa e tirou de uma gaveta o cachecol de Edward, o qual havia sorrateiramente furtado. Deitou-se de bruços em sua cama e apertou aquele tecido perfumado contra o peito. As essências que remetiam ao rei, então, a acompanharam até o sono chegar. 


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