Conte até 3 - Diga Sim! escrita por Bea


Capítulo 3
O Apartamento


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos comentários nos últimos capítulos!!



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Casar nunca foi um grande sonho meu, mas é, por cultura, para a maioria das mulheres. Entretanto, não hesitei em aceitar o pedido de Sheldon. Concordei com ele, uma cerimônia íntima seria apenas o necessário. Relembramos o casamento de Howard no terraço do prédio em que morávamos em Pasadena. Ele não recordava do que sentiu naquele dia, mas eu descrevi para ele a cerimônia do meu ponto de vista e acho que agora Sheldon percebeu como foi “só uma convenção”. Foi então que me surgiu uma dúvida.

— Sheldon, você está fazendo isso só por uma convenção?

— Não. – Ele respondeu em seguida. – Mas Penny, casamento é uma convenção. Não importa os motivos que tenhamos.

— E qual é o seu?

— Eu gosto da vida como está. Gosto do meu trabalho, gosto de você. Gosto até dessa casa alugada.

— Acho que vamos ter que ir para um lugar nosso dessa vez.

Ele assentiu uma vez, firme. Nunca conversamos sobre comprar algo nosso. Sabíamos que pagar aluguel era um desperdício e também tínhamos dinheiro para comprar um lugar só nosso. Mas comprar algo parecia fixo demais, por mais que todo o resto fosse bem estável. Engraçado, não? Estou com Sheldon já faz alguns anos, e não imagino o futuro sem ele. Acho muito difícil que ele pense o mesmo, mas o movimento de comprometer com um endereço que é realmente seu parece tão pesado que nem eu e nem ele queríamos levar nos ombros. E olhe nós aqui e agora! Estou orgulhosa.

Decisão feita, começamos com passos de bebê. Sheldon é paranóico como sempre e só podemos olhar em apenas determinados jornais da cidade. Perguntei sobre busca online e ele respirou fundo e fechou os olhos. Ele faz isso às vezes, acho que vai para seu mundinho, medita e volta com uma resposta mais cabível do que um surto. Esperar não é confortável como uma resposta imediata, mas é muito melhor do que um surto. E, sendo bem sincera, é um bom momento para olhar para ele. Sheldon não gosta que eu fique encarando ele, sabe, olhando os detalhes do rosto e expressões... Então esses momentos em que ele fecha os olhas e “medita” eu percebo seus detalhes. Sua barba perfeitamente aparada. Rugas se formando em volta dos seus olhos. Um sinalzinho no canto do olho direito...

Ah, ele disse tudo bem.

Não demorou muito para escolhermos alguns apartamentos potenciais. O pessoal do trabalho me indicou vários profissionais para me ajudar a achar o lugar certo, mas eu não queria chamar a atenção. E não queria explicar sobre o que eu não queria em uma casa, pois sempre estão tentando te empurrar “mais um quarto” ou “um quintal para as crianças”... Oh, não. Obrigada.

A primeira visita ao apartamento foi confusa. Estava caindo o mundo em Washington, DC e com toda a chuva demorei mais para conseguir pegar Sheldon na Universidade e ficamos presos no trânsito até o apartamento.

— Vai ser sempre assim. – Sheldon falou no carro, olhando no retrovisor.

— Do que está falando?

— Se nós escolhermos esse apartamento. Quando chover vai ter esse trânsito e você não vai conseguir me pegar no trabalho. Fica entre o estúdio e a universidade, não faz sentido você vir me pegar e voltar para casa.

Ele estava preparando um grande discurso. Não respondi, apenas deixei ele continuar.

— E eu não vou pegar táxi ou metrô, como você muito bem já sabe. O que tem de errado com a nossa casa Penny? Você não gosta de lá?

— Sheldon, - fiz uma pausa – o problema com a nossa casa é que ela não é nossa.

Agora foi a vez dele de ficar em silêncio.

— E se esse for um ótimo apartamento? Sheldon, pode ser tão melhor quanto o de Pasadena, o que acha?

— Não seja insana, mulher.

Eu ri. Gostava do modo que ele fala esse “mulher” no final da frase. Ele então apenas pegou o seu smartphone e ficou mexendo nele até chegarmos no edifício. Quem nos recepcionou foi a própria proprietária do imóvel, uma mulher alta que deveria ter por volta de 40 anos. Quando ela me viu, congelou.

— Penny? A Penny que veio ver o apartamento é a Penny de “RSVP”? Eu não acredito!

Ela visivelmente não sabia se apertava minha mão, sorria ou me abraçava. Apenas congelou. Atrás de mim senti Sheldon se aproximar. Ironicamente ele tem medo de fãs. Talvez ele finalmente tenha percebido que ele foi por muito tempo um fã muito chato para as celebridades.

Sorri e toquei o ombro dela com minha mão, o que pareceu fazer ela derreter. Sheldon chegou a ter um leve espasmo quando eu a toquei. Hoje a gente não ia dormir de conchinha. (Se você está se perguntando sobre o que acontece quando eu tenho cenas de beijo, olha, nem te conto agora...).

April, o nome da minha fã/dona do apê, nos guiou até o elevador e então até o 15º onde o apartamento fica. Ele era nos fundos do prédio, com uma enorme parede de vidro na sala que dava para uma praça, sem outros prédios atrapalhando a vista. A direita se via a cozinha, com uma meia parede, que funcionava também de mesa, dividia os dois cômodos. Era toda branca. Sheldon andou pela sala em silêncio e de repente parou em um ponto específico e olhou para os lados.

Eu continuei meu tour. Os quartos, banheiros, era tudo lindo. Me parecia perfeito. Quando voltamos para a sala, Sheldon ainda estava no mesmo lugar.

— Sheldon?

— Esse é vai ser o meu lugar.

E foi assim que decidimos que essa seria a nossa nova casa.


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