Os Segredos da Rua Baker escrita por Lany Rose


Capítulo 2
O Assassino Teatral




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Diana conseguiu convencer Irene a tirarem umas férias, as duas resolveram viajar para Liverpool. Iriam passar os poucos dias entre idas a pubs, a museus e visitando locais que foram frequentados pelos Beatles. Irene estava completamente entediada, ela nem imaginava quem eram esses tais Beatles. Preferiu passar os dias nos pubs, porém acabava sendo expulsa ao fazer deduções e com isso irritar todos por ali. Em uma dessas, ela acaba se batendo em Diana.

—Finalmente te encontrei irmã!

—Oh irmã minha isso aqui ‘tá’ um tédio! Voltarei pra Londres ainda hoje. Com certeza o Lestrade já deve está com algum...

—O que foi?! Irene?!

—Irmã minha! Dependendo do que for aquilo, mudo de ideia quanto a ir embora.

Diana olhou para o topo do prédio em sua frente, havia um tumulto acontecendo por lá e ao retornar seu olhar viu sua irmã já indo apressada em direção a ele. Logicamente, ela correu para acompanha-la. Afinal, além de curiosidade a respeito do que estaria acontecendo lá em cima, ela conhece Irene e tem medo dela acabar sendo presa por insubordinação.

A primeira visão que as duas tiveram foi de um corpo jazido no chão com várias pessoas em volta. Diana já sentiu uma grande raiva ao ver os peritos coletando as amostras de forma inapropriada. Virou-se para tecer um comentário a respeito, contudo sua adorada irmã já estava se intrometendo no trabalho do inspetor. Irene estava examinando o corpo, o inspetor falava com um dos peritos quando a viu.

—Quem é você?

—Devia manda-los parar de andar de um lado pro outro, estão acabando com a cena do crime. – Ela disse sem olhar pra ele.

—Estão fazendo o trabalho deles e Você não me respondeu.

—Meu nome é Diana Holmes e essa é minha irmã Irene, inspetor.

—Eles estão fazendo um péssimo trabalho. Diana está toda tensa, doida pra ir coletar as amostras de forma correta. Não é mesmo irmã? –Irene sorriu pra ela.

—Esse caso é meu, senhoras...

—Senhoritas! Se não percebe nem isso, tem verdadeira necessidade da nossa ajuda para desvendar esse caso.

—Irene, assim nós vamos acabar presas. Ele não é o Lestrade.

—Senhoritas! Esse caso é meu e não preciso de ajuda alguma. Está bem óbvio.

—Está?! – Irene levanta com um sorriso maroto no rosto. – Diga-nos o que ocorreu aqui, inspetor.

—Oh céus! Vou ligar pro Lestrade. – Diana se afasta para fazer a ligação.

—Se insiste senhorita. Esse homem deve ter vindo consertar alguma coisa em um dos apartamentos...

—Errado!

—O que?

—Ele não veio consertar nada.

—Como pode ter tanta certeza?

—Ele é um pintor. Um artista. Veja esses resquícios de tinta nas mãos e o forte cheiro de solvente impregnado nele. Quando se pinta quadros com tinta a óleo ele é utilizado para não deixar a tinta no pincel ressecar.  

—Ele está usando um macacão de mecânico.

—Sim, ele está. Mas não é dele. Continue! Isso está ficando cada vez melhor.

—Ele veio aqui em cima para fumar...

—Errado!

—Oh pelo amor de Deus! Há baganas de cigarro ali.

—Esse homem não fuma. Não há traços de nicotina nos dedos e esses tocos de cigarro, claramente, estão aí há mais dias. Fale da arma do crime, isso vai ser divertido.

—Escuta aqui! Eu não preciso te aguentar. Você é apenas uma civil e não pode ficar na cena do crime. Melhor sair daqui antes que mande prendê-la.

—Você tem uma equipe fraca e está indo por um caminho totalmente errado nesta investigação. Deveria estar implorando minha ajuda.

—A sua ajuda?! Você me ajudar? Você é apenas uma garota bêbada que se acha esperta.

—Bêbada ou não eu sou a única aqui que pode resolver esse caso. E você está sendo um completo idiota em rejeitar meu préstimo.

—Mais uma palavra e estará presa.

Antes de Irene falar qualquer coisa, Diana chega com o celular.  Lestrade e o inspetor conversam por um tempo, quando termina a ligação ele parece mais calmo e receptivo.

—Acredito que começamos com o pé errado, senhoritas. Meu nome é John Smith. Sou inspetor recente aqui...

—Sim, eu sei.

—Tenho autorização para recolher as amostrar e levar para um laboratório de minha confiança para trabalhar nelas? - Perguntou Diana.

—Ah! Sim, claro. Pode ficar a vontade.

Irene ia saindo:

—Espera! Aonde vai? Queria tanto esse trabalho e agora vai desistir?

—Essa foi uma das coisas mais estúpidas que ouvi hoje!

—Como é?

—Já sei o que preciso saber sobre a morte desse homem. Vou esperar a minha irmã terminar com as provas laboratoriais e enquanto isso eu vou fazer umas pesquisas.

—Certo, mas...

—Irene conte pra ele o que já descobriu. – Falou Diana.

—Agh! Ok. Esse homem foi de alguma forma, atraído até aqui pelo assassino, teve uma discussão, uma briga e ele foi morto com um salto alto.

—O que disse?

—Olhe a abertura no pescoço. Vê como ela é mais larga perto da superfície?! E veja o formato. – Irene olhou ao redor e chamou uma das policiais ali perto. – Preste atenção como é o formato exato da perfuração no corpo. Se fosse um pouco mais fino se encaixaria perfeitamente. Obrigada senhorita. E a forma como se encontra, foi com o pé esquerdo. Em seguida foi embora.

—Ok. Então, foi uma mulher quem fez isso?!

—Ah inspetor! Nunca tire conclusões precipitadas. Só porque foi usado um salto alto como arma do crime você deduz ter sido uma mulher?! Devia manter as opções em aberto.

—Não foi então?!

—Foi um homem. Vestido de mulher por alguma razão que ainda não entendo.

—Um travesti?

—Não creio. Isso não explica a mudança de roupa dele.

—Como sabe da troca de roupa?

—Muito grande. Veja o quanto sobra de cada lado. As mangas e as barras da calça estão todas dobradas.

—Pode não ter tido tempo de mandar arrumar.

—Essa roupa não é nova. Tem vários rasgos e desbotamento. A esposa dele já teria arrumado. Sim... Ele é casado. Veja a marca da aliança.

—Ainda não entendi o motivo de acreditar ter sido um homem.

—Isso porque você vê, mas não observa ou sente as coisas. Coloque a mão aqui. Com um soco o assassino quebrou o nariz desse homem de uma forma que demonstra uma grande força. Por mais que uma mulher saiba brigar com técnica, seu golpe não teria potência o suficiente para conseguir tal façanha.

—Hum... Existem mulheres fortes também.

—Equilíbrio de probabilidade, caro inspetor. Agora se me der licença, preciso fazer umas pesquisas.

—Espere! Ainda tenho algumas perguntas.

—Logo nos veremos novamente. Haverá outro assassinato em breve. Até mais, inspetor... Irmã.

Diana apenas faz um aceno de cabeça como despedida. Ela vê Irene saindo e o inspetor Smith a olhando. Ele estava completamente boquiaberto. Impressionado com o talento dela, mas parecia ter algo mais em seu olhar.

—Você não estaria interessado nela, não é?!

—Nunca conheci uma mulher assim.

—Você está interessado na Irene?! Na minha irmã?! Nessa que insultou você quase todo o tempo?!

Smith deu como resposta apenas um olhar. Diana terminou de pegar o material e antes de sair o olhou:

—Boa sorte, inspetor! E não estou falando a respeito do caso.

Todos estavam ocupados cuidando de seus deveres quando outro corpo foi encontrado. Diana e o inspetor já estavam no local, porém nada da Irene.

—Onde está sua irmã?

—Não sei. Não a vejo desde ontem na cena do crime. Passei todo o tempo no laboratório. Entretanto, já mandei mensagem. Deve estar a caminho.

Quando Irene chegou todos notaram que havia passado a noite acordada. Parecia cansada, de ressaca e com um humor ainda pior. Foi direto analisar o corpo, passando por todos sem dizer uma palavra.

—Então, o que temos aqui?! Hmm. Ah! Como imaginei. Diana, inspetor...

—John, por favor.

—Tanto faz. Precisamos conversar. Vejo vocês no seu laboratório.

Os dois se olharam, em seguida Diana foi coletar suas provas e o John foi fazer seu trabalho da melhor forma possível. Algumas horas depois foram para o laboratório da universidade de Liverpool, lá chegando encontraram Irene com aparência e humor bem melhores. Diana conhecia bem o significado dessa mudança repentina. Ela havia bebido e resolvido o caso, porém queria se divertir um pouco mais.

—Aqui estamos.

—Oh irmã minha! Eu agradeço muito por isso. Resolvi o caso, mas esse assassino só será capturado em flagrante. – Ela olha pro John.

—Como resolveu o caso?! Olhou por apenas dois minutos o corpo da última vítima.

—Ora inspetor Smith... Oh! Desculpe. John. Acontece que já estava tudo claro pra mim aquela altura. Apenas quis ter certeza.

—Pode nos contar?! – Diana já estava ficando impaciente.

—Certamente, querida irmã. O primeiro assassinato: Um pintor de telas, jovem, bonito, casado, porém com a aliança removida. Morto após ficar inconsciente durante um combate corpo a corpo. O segundo: Um poeta, jovem, bonito, casado e, também, com a aliança removida. Morto com uma pancada na cabeça, quando já tentava deixar o local. Os dois artistas, os dois em relacionamentos, os dois no ápice de um edifício. É tudo parte de uma peça! Não veem?! Não?! Oh a vida de vocês deve ser um tédio.

—Irene! Diga logo.

—Ok. Ontem eu andei por vários pubs...

—Conseguimos sentir o cheiro essa manhã! – Disse Diana, o que fez Irene olhar pra ela com cara de quem não entendeu de onde veio essa agressividade repentina.

—Então... Conversei com várias pessoas, vários artistas e descobri sobre uma peça inacabada que terminou virando piada. Um ator local resolveu escrever, produzir, dirigir e atuar sua própria obra. Porém, tudo foi um desastre. Nunca conseguiu terminar a última cena, pois recebeu vários tomates na cara e muita vaia.

—Ele quer finalizar.

—Exatamente querida irmã! Tentou fazer isso por duas vezes e precisamos de você, John, para ser o próximo... Quero dizer, o próximo interesse artístico dele.

—Por que eu?

—Porque você é músico. – Irene sorri triunfante, como uma criança após tirar a melhor nota da sala na pior matéria.

—Ele não precisa correr tanto risco assim.

—Apenas no último momento esse homem vai se mostrar como realmente é. O que me diz John?! Conhece o reduto dos artistas. Afinal, você costuma se apresentar lá. E eu gostaria muito de uma companhia pra beber.

—Qual o plano?

—Conto no caminho. Vamos.

Antes de sair do laboratório Irene sorri para a irmã. Pra ela a diversão só estava começando. Diana voltou a fazer seu trabalho com o material recolhido.  Se o assassino não acabar morto nessa emboscada, ela terá de ter todas as provas organizadas. Só assim ele será declarado culpado no futuro julgamento.

Os dois entram juntos no reduto dos artistas, vão para uma mesa. Ambos estão usando aliança.

—Seu plano, basicamente, é me colocar nas mãos do assassino?!

—Exatamente.

—Não é um bom plano pra mim... Pra minha vida.

—Você vai se sair bem.

—Existem algumas coisas que ainda não entendi.

—Claramente. Pode perguntar.

—Como resolveu o caso?

—A primeira morte me intrigou bastante, afinal por qual motivo um pintor de quadros estaria vestido como um mecânico?! Por que o assassino se vestiria como mulher?! O que faziam em cima de um prédio?!Por que ele?! E, por que removeu a aliança?! Só podia ser por alguma representação, me restava saber de qual tipo. Comecei a fazer amizades com artistas da região, então conheci esse cara. Ele me trouxe pra cá e no meio da conversa falou de certo inspetor que costuma tocar aqui. Havia visto no seu casaco pó de resina usado em violino. Quando tomei conhecimento da história da peça, tudo se encaixou perfeitamente. Iniciei a fofoca de que nós somos recém-casados, você já atuou e procura algum bico na área artística, pois pensa em sair da Scotland Yard.

—Você acha que isso vai fazer o assassino vir atrás de mim?

—Ele virá atrás de alguém desesperado para atuar. De acordo com sua esposa, você é esse alguém. E o Roger viu um cara procurando atores esses dois dias. Já o deixei avisado para manda-lo até nossa mesa.

—Quem é Roger?

—O barman!

—Como pensou em tudo isso tão rápido?

—É tudo bem óbvio, na verdade.

—Não pra mim.

—Isso porque você é um idiota. E não faça essa cara, todos são. Ou quase, mas estou sendo esperançosa.

—Você bebe bastante para uma mulher.

—Bebo o suficiente pra quem foi criada por Mycroft Holmes.

—Diana também bebe?

—Não, ela saiu cedo de casa.

—Como faz essa coisa?

—Não é uma coisa. É simples observação.

—O que pode dizer sobre mim?

—Você é de Brighton, filho do meio de três irmãos, sempre se sentiu menosprezado pelo seu pai, vivendo a sombra do seu irmão mais velho que é mais bem sucedido e o preferido. Você é adotado e descobriu recentemente, por isso resolveu se mudar pra Liverpool. Toca violino muito bem, tem um Stradivarius. Ganhou de sua mãe. Mora aqui há três meses, sozinho, não tem namorada ou esposa. Nem tem muitos amigos. Estou errada?

—Não, você está inteiramente certa. – Ele estava maravilhado. – Mas, como...?!

Antes de terminar a frase ela o Beija e um homem alto chega à mesa deles.

—Com licença!

—Oh! Desculpe, mas estamos no meio de um encontro. Recém-casados... Sabe como é?! – Disse ela.

—Estou procurando um ator pra participar da minha peça. Disseram que poderia se interessar.

—Maravilha! Olha isso amor. Já vai conseguir um emprego.

—Isso é ótimo. – Inspetor Smith ainda estava um pouco atordoado.

—Podemos discutir sobre a peça ainda hoje. Se quiser, pode vir comigo agora mesmo.

—Ele irá, com certeza. Só um minuto para nos despedirmos.

—Está bem.

O homem saiu, foi esperar perto da porta. Enquanto Irene ajeitava o casaco do inspetor.

—Muito bem, você vai com ele e vou seguir os dois.

—Ok... Quer sair comigo? Jantar?

—Não como enquanto trabalho.

—Depois de tudo acabado.

—Ok.

Ela nem prestou atenção, apenas tentava parecer uma esposa apaixonada. Trocaram um beijo e ele saiu. Irene esperou uns minutos, então foi atrás.

Andaram por várias ruas, entraram em um prédio, porém saíram rápido. O homem vestido como uma mulher e o inspetor com uma roupa de mecânico. Tudo estava caminhando de acordo com o esperado. Após algum tempo entraram em outro edifício, dessa vez foram para o topo.

O final da peça era uma discussão entre uma mulher e o seu amado. Ele havia traído a confiança dela que subia em uma construção para cometer suicídio. Depois de uma conversa e declaração de amor os dois se entendiam. O assassino teatral sempre culpou a atriz pelas críticas ruins recebidas. Ele decidiu fazer o papel da mulher e só precisaria encontrar um bom ator para o seu papel. Entretanto, sua mente já estava muito além da sanidade. No momento da discussão ele ficava agitado, exagerava e isso acabava assustando os possíveis colegas de palco que foram levados até ali com a desculpa de um ensaio bem elaborado.

Irene chegou lá em cima e foi abrindo devagar a porta, viu o criminoso explicando como seria a interpretação de seus papéis. Ela mandou mensagem para Diana com o local para que enviasse reforço. Quando começaram a encenar, o meliante já estava se excedendo no sentimento de traição, em pouco tempo já partiu pra cima do John que com toda sua experiência conseguiu desvencilhar-se perfeitamente, porém o outro era muito forte e ágil. Iniciou-se uma luta no chão com a arma do inspetor sendo jogada para o lado. Irene correu e a pegou.

—Melhor larga-lo.  

—Quem é essa? - Ele foi levantando devagar.

—Eu sou a esposa. Nada de reconciliação pra vocês.

John ficou de pé e foi algemar o ator que permanecia no personagem. Olhava-o como se, realmente, tivesse sido traído.

—Como pôde fazer isso comigo? Eu te amava. Sempre te amei.

—O teatro acabou. – Disse o inspetor. – Vamos pra delegacia.

Contudo, o indivíduo acabou se livrando das suas mãos e correu para a beirada do prédio.

—Se você não me ama mais, então prefiro a morte que viver com toda essa dor.

—Espera! – Gritou Irene, entretanto já era tarde.

Ele já havia pulado, finalizando seu espetáculo.

—Bem, pelo menos desvendei o caso. – Ela comentou devolvendo a arma para o John e saindo do local.


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