Os Segredos da Rua Baker escrita por Lany Rose


Capítulo 11
A volta de Irene Adler - Parte Final




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O espanto do Sherlock durou apenas alguns segundos, pois logo se lembrou das palavras da filha durante as alucinações febris.

—Você roubou os papéis do Mycroft. – Diz Diana.

—Sim.

—Você matou um homem.

—Não exatamente.

—Como assim?

—Em casa conversamos...

—Não, você vai contar agora.

—Diana, eu não quero mentir.

—Mas é só isso que você sabe fazer, Irene. Mentir e mentir.

—Em casa conversamos, agora saiam daqui. Esse lugar vai explodir.

Diana ri.

—Eu não acredito em você.

—Tudo bem.

Irene se vira pra sair.

—Não se mexa! – Grita Diana. – Se você der um passo eu atiro.

Irene a olhou.

—Atira. –Irene deixa o local.

Diana está paralisada, Sherlock coloca a mão na arma a forçando a baixa-la.

—Vamos, Diana.

Eles chegam na 221B, pouco depois escutam Irene subindo as escadas devagar. Ela ainda sentia os efeitos dos remédios e da doença. Quando entrou na sala, Diana andava de um lado para o outro e Sherlock apenas estava ali parado olhando pela janela.

—Então. – Começa Sherlock. – O que tem a nos dizer?

—Primeiro preciso sentar um pouco. – Ela vai até a poltrona.

—Já vai começar o teatro?

—Minha doença não é fingimento, Diana.

—É obra de quem? - questiona Sherlock.

—Irene Adler. – Ela olha direto pra o pai que fica pálido.

—Você vai ressuscitar uma morta para justificar seus atos ilícitos?! – Pergunta Diana.

—Sherlock.

—Ela não está morta, Diana. Eu a ajudei a se livrar de um grupo terrorista.

—O que?

—Sherlock foi um bom samaritano para “A Mulher”. Veja o que sua boa ação causou.

—Como ela fez isso com você? - Ele pergunta.

—Algumas semanas atrás ela me procurou por causa daquele pendrive que encontrei durante o resgate da Lilian. Acontece que ali tinha fotos, vídeos e áudios comprovando que ainda estava viva. Ela o queria de volta, neguei e quando entrei no carro senti uma picada. Irene Adler me infectou com um composto de doenças e eram necessárias cinco seringas para efetuar a cura.

—E ela te entregaria uma a uma, ao fim de cada tarefa... Brilhante! – Fala Sherlock.

—Não é?! – Irene sorri.

—Gente! – Exclama Diana. – Estamos perdendo o foco aqui.

—Conseguiu quantas injeções?

—Quatro. Contudo, tenho um plano para nos livrarmos dela e ainda conseguirmos tudo de volta.

—Do que precisa? - Diz Sherlock.

Irene levanta com dificuldade.

—De vocês dois.

—É só dizer. – Afirma Diana.

Ela vai até o quarto e volta com as quatro seringas, todas elas ainda continham alguma quantidade do remédio.

—Usei apenas parte do conteúdo para caso ela resolva cumprir a promessa de infectar a Lilian, o Mycroft e vocês. O último trabalho que a Srta. Adler me passou não foi feito por completo, acredito que não receberei a última dose.

—É por isso que ainda se sente tão mal. – Diana sentia-se preocupada.

—Enquanto vou com o Sherlock conseguir os papéis do Mycroft de volta, você vai para o laboratório...

—Irmã, eu concordo com tudo, menos com essa parte. Você não está bem, deve descansar e não sair por aí investigando.

—Eu não vou ficar aqui parada e a Lilian está no laboratório. É melhor ela não saber de nada disso ou ficará apavorada.

—Lilian vai reencontrar uma amiga hoje à tarde, nos outros dias conseguirei mantê-la longe de lá. – Falou Sherlock.

—Tudo bem. Vou com a Diana.

Enquanto Diana descia as escadas, Sherlock colocava o sobretudo e Irene aproveitou para dá um recado ao pai.

—O Morse não pode tocar no Mycroft e olha o que ele fez. – Ela sussurra. –Sherlock, ele pode e vai querer pegar a Lilian e a Diana. O que acha que ele fará com elas?

Irene não espera por qualquer resposta, desce e encontra a irmã na calçada, já com um táxi parado. As duas entram e vão para o laboratório, enquanto Sherlock vai em busca dos documentos perdidos.

Diana começa seu trabalho e Irene está mexendo nos frascos que encontra por ali no balcão.

—O que é isso?

—Amostras do remédio pra TDAH.

—Esses remédios têm doses de cocaína, não é?

—Sim, as doses desses estão muito altas. Terei de descartá-los.

—É engraçado como cocaína ajuda e não piora o problema.

—As substâncias e o corpo humano são bem interessantes, de fato. Agora, desde quando você se interessa por química?

—Apenas tentando me distrair.

—Claro, mas eu preciso me concentrar.

—Eu vou me calar.

Diana retorna toda sua atenção ao trabalho, enquanto a irmã senta num canto lendo um jornal. Passada algumas horas, Irene solta um grito de dor.

—Irene! O que houve?

—M-meu estômago... Aaai! – Ela estava com os dois braços ao redor da barriga.

—Oh céus! Ainda vai demorar um pouco, acho melhor levar você pra casa. – Diana vai pegar a bolsa.

Irene aproveita o momento e pega algumas das ampolas. Elas vão para a 221B, Lilian está em casa, ao vê a filha se contorcendo de dores corre para fazer chás na tentativa de amenizar os sintomas. Não tem como esconder, então Diana conta o tudo para a mãe.

—Quem aquela vadia pensa que é pra fazer algo assim com o meu bebê?! Ah! Se eu coloco as mãos nessa mulher não sabra nada dela.

—Mãe, calma. A Irene tem um plano, está tudo certo. O papai já está tentando reaver os documentos e estou fazendo a cura para a Irene. Fique aqui com ela, pode dá chá, mas evite outros tipos de medicação.

Lilian concordou; Diana retornou ao laboratório. Sherlock e John estavam de volta a campo, faziam a investigação com bastante discrição, pois para todos os efeitos os dois estavam mortos.

Após algumas xícaras de chá, Irene conseguiu dormir. No fim do dia, Sherlock chega já com os papéis em mãos, Lilian o deixa olhando a filha e vai ajudar Diana com a cura. Não demora muito para Irene aparecer ali na sala.

—Não deveria ter levantado. – Diz Sherlock sem parar de mexer no computador.

—Ficar naquele quarto faz com que eu me sinta inútil. – Ela deitou no sofá.

—Ficar doente deixa qualquer um inútil.

—De fato.

—Oh! Você concordando comigo? Realmente está doente.

Irene mostrou um leve sorriso.

—Sendo engraçado agora, Sherlock? Isso não combina com você.

—Eu preciso dizer que você está certa. – Ele parece meio embaraçado em falar isso.

—Normalmente eu estou; você precisa se mais específico.

—Vou viajar com Lilian.

Ela o fita imediatamente.

—Finalmente percebeu que é o melhor.

—Não, nunca será o melhor. Mas, no momento, é necessário.

—Sim... Por que o crocodilo persegue a borboleta?

Shelock a olha e franze o cenho.

—Irene?

—Ela não fez nada pra ele, apenas quer voar.

Ele vai até o sofá e checa a temperatura da filha, mais uma vez, estava bem alta. Sherlock decide colocar compressas frias no tronco e nos membros na tentativa de baixar a febre.

—Por que você me abandonou...? Eu te pedi...

Sherlock percebe que ela está falando sobre ter voltado para salvar o Dr. Watson após serem resgatados. Irene continua a falar sobre esse fatídico dia, então começa a chorar como a criança que era na época. Sherlock fica visivelmente incomodado com essa situação. Sabia que tinha feito o que era necessário na época, jamais abandonaria o amigo, porém ao ver a filha daquela forma. Tão vulnerável e tão internamente machucada o fazia visualizar o tamanho do erro cometido em deixa-las sozinhas por tanto tempo.

Ele manda mensagem para saber dos avanços de Diana e Lilian. Não pareciam muito promissores, contudo a senhora Holmes teve a ideia de fabricarem algo apenas para manter Irene bem, até conseguirem a cura verdadeira. E assim foi feito.

Algumas horas depois Diana entra na 221B com o remédio temporário. Sherlock havia tirado as compressas da filha, pois ela começou a tremer de frio. Ele fez um chá que conseguiu amenizar um pouco a situação, apesar dos delírios continuarem.

—Pesadelos são apenas sonhos, ter medo deles é estupidez.

—Mycroft costumava dizer isso. – Comentou Diana aplicando o conteúdo da seringa. – Pai, você está bem?

—Por que não estaria?

—Você não parece bem.

—Eu vou sair do MI6... Feliz agora, Mycroft?! – Irene continuava com seus momentos delirantes.

—Você parece sua mãe.

—E você está fazendo a mesma cara que Irene fazia, após os sonhos desagradáveis que costumava ter.

—Eu prometo... Vou proteger o John.

—O John? - Diana estranhou.

—Devaneios... Melhor coloca-la no quarto, ficará mais confortável. – Sherlock pega Irene no colo e vai em direção ao quarto.

—Não vou deixar que a matem... Você... Eu vou capturar...

Sherlock a colocou na cama e fechou a porta ao voltar para a sala. Diana retornou ao laboratório e ele a escrever seu livro. Já eram umas duas da tarde do dia seguinte quando Irene acordou, ela viu a mensagem da Senhorita Adler, então tomou um banho e chamou o pai para irem até o laboratório.

—Você fica aqui com a Lilian e vou com a Diana encontrar a Srta. Adler.

—Eu não vou ficar aqui.

—Você precisa ficar porque... – Irene para e olha pra todos. – Você sabe o porquê. Por favor, Sherlock, não discuta comigo apenas faça o que estou falando, já foi perdido tempo demais. Vamos Diana!

Irene sai com Diana logo atrás.

—Do que ela estava falando, Sherlock? Por que você precisa ficar aqui?

—Porque eu preciso conversar com você.

Irene entra no prédio em que foi marcado o encontro com ‘A Mulher’. Caminha com dificuldade e ao parar permanece meio curvada, como se fosse muito doloroso manter-se em pé. Escuta os passos da Srta. Adler.

—Acredito que não traga a última seringa consigo.

—Você se comportou muito mal, Srta. Holmes. – Ela para a uma curta distância.

—Você me disse para explodir o Clube Diógenes, porém não falou nada sobre ter pessoas lá dentro no momento da explosão.

—Não seja espertinha. Agora precisará fazer outra coisa pra mim.

—Não tenho condições físicas ou mentais pra isso.

—Se estiver tentando me enganar...

—Basta olhar pra mim, pareço alguém saudável?! Sinto muito, Srta. Adler, mas seu plano de arranhar o gelo ao redor do meu tio só será terminado quando eu me recuperar. Qual a razão de querer atingir o Mycroft?

—Alguém quer destruir a reputação do homem de gelo.

—Então, o plano não foi seu?

—Não inteiramente.

Irene arrumou a postura. Toda a dor e mal estar que era visível, simplesmente desapareceu.

—Isso será o suficiente. Podem entrar.

Diana entra com alguns agentes e com o chefe do MI6.

—Ele não está morto!

Irene sorri satisfeita com a reação da Srta. Adler.

—Eu só mato alguém quando é necessário, nesse caso não era. – Se aproxima da xará. –Esperei o Sr. Carter chegar ao apartamento e contei meu plano, a encenação foi bem fácil. Aliás, os documentos do Mycroft já estão de volta ao dono.

—Oh você é boa!

—Você não é tão ruim.

Elas sorriem e ficam se encarando. Diana olha de uma pra outra sem entender bem o que está rolando ali.

—Ahm... Acredito que é hora de levar a Srta. Adler. – Diz Diana.  

—Sim, é verdade. – Irene concorda, mas antes da Adler sair, ela tem mais um comentário a fazer. – Ah! Obrigada, Srta. Adler.

—Pelo que?

—Por provar pra mim que o amor é uma perigosa desvantagem.

—Você é igual ao seu pai.

—Espero que seja um elogio.

—Você deveria ir me visitar... Ás vezes.

—Talvez eu vá.

Irene Adler foi levada pelo agente, mas demonstrava total satisfação. Diana estava pasma com essa conversa final.

—Então, é isso? - Perguntou ela.

—Isso o que?

—É essa a sua... Predileção?

—Do que diabos você está falando, Diana?

—Deixa pra lá. A mamãe já deve ter terminado com a cura, temos de aplicar logo em você.

***

Semanas depois, Sherlock e Lilian estavam com tudo pronto para a viagem. Diana havia convencido Irene de estar em casa para se despedir dos pais. As duas desciam as escadas.

—Eu não entendo o motivo de tudo isso.

—Irene, não custa nada se despedir dos nossos pais. Por favor, comporte-se.

O táxi já estava na porta.

—Boa viagem, Lilian. – A Sra. Holmes abraçou a filha depois de anos; Irene não sabia bem o que fazer e, com uma das mãos, deu dois leves tapinhas nas costas da mãe.

Enquanto isso, uma cena parecida ocorria com Sherlock e Diana. Depois foi a vez de Diana se despedir da mãe, Irene apenas se encostou a parede e o pai foi perto dela.

—Desculpe. – Disse Sherlock.

—Pelo que?

—Você sabe o que.

—Não, eu não sei.

—Sim, você sabe. – Ele olhou para Lilian – Poderia começar a chama-la de mãe, ela iria gostar.

—Óbvio.

—Poderia me chamar de pai, também, afinal esse é meu título em relação a você e a Diana.

—O que tem de errado com você hoje?

—Eu não sei... Meia idade, talvez. - Lilian o chama para entrar no táxi. -Bem, cuide da sua irmã.

—Sempre. - Eles apertam as mãos. - Cuide da... - Ela respira fundo. - Mamãe. 

Sherlock confirma com um aceno de cabeça, então entra no táxi que logo parte; Diana fitava a irmã com um sorriso nos lábios, enquanto Irene não tirava os olhos do veículo que se afastava até sumir. Aquela poderia ser a última vez que veria os pais. Cada passo, de agora em diante, teria de ser pensado, pois qualquer deslize significaria não só a sua morte, mas, também, de toda a sua família.  


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