Continuo a flutuar, parece que estou a um metro e meio do chão. Não consigo ver nada, nem sentir. Somente essa sensação de flutuar. Em compensação, escuto vozes esparsas, ao longe, mas entendíveis.
" Costelas possivelmente fraturadas... cuidem, por favor... ela está sem comer, precisa de soro urgentemente... se ninguém irá acompanhá-la, irei junto..."
Deixo de sentir tudo...
As vozes se calam...
Escuto apenas um bip bip ao longe...
Agora, nada mais...
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Tem uma luz forte no meu olho. Sinto algo áspero e gelado percorrendo minha pele delicadamente, parece que estão me limpando. Mãos apertando levemente ao lado do meu pescoço, como que checando meus batimentos cardíacos, alguém colocando algo que parece ser uma coberta em cima de mim. Tem uma mão segurando minha mão esquerda, que pende do lugar que estou deitada, constato que é uma maca. As coisas balançam levemente, parece que estamos em movimento. Os barulhos que escuto indicam que estou em um carro em movimento.
Deixo minha cabeça pender para o lado, esforço-me para focalizar. Envolto em luz, um homem. Sentado, me olhando. O dono da mão que segura a minha ternamente. Cabelos bagunçados, castanhos acobreados, com uma franja na altura dos olhos desajeitadamente caída. Pele muito pálida, rosto quadrado e anguloso, covinha no queixo, olhos castanhos com olheiras leves, expressão suave e aliviada. Veste uma camisa branca, por cima dela um colete a prova de balas com FBI escrito no peito. Uma gravata vermelha completa o conjunto, enfiada atrás do colete. Estou simplesmente fascinada pelo cabelo dele. Tenho vontade de estender a mão e tocar, mas ele está longe, e o acesso venoso que está inserido no meu braço impede o esforço.
- O... o seu... cabelo... - minha voz falha - Ele é bonito.
Ele arregala os olhos e ri, uma risada suave e calma. Deve ser coisa da minha cabeça, mas ele parece estar me olhando com ternura.
- Leah, não faça esforço para falar. Só me escute. Agora está tudo bem. Estamos a caminho do hospital para tratar sua concussão e suas lesões. Se quiser dormir até chegarmos, tudo bem. É melhor que você descanse depois de tudo o que passou. Você está muito fraca, então nao se esforce para nada, nem pense muito. Quando você estiver melhor e mais forte, eu te conto tudo.
- Eu... Eu estou viva? - é muito difícil falar, mas não consigo ficar sem perguntar isso. Não consigo acreditar que eu esteja viva depois de tudo o que aconteceu. - Eu não morri?
Ele afaga a minha mão levemente.
- Não. Você nao morreu.