– Garota, você parece um pedaço de merda jogada aí no chão desse jeito... Me conta Ava, como você está?
Que ele me mate. Que ele me mate de uma vez e que acabe tudo isso. Prefiro estar morta do que lembrar de tudo o que está acontecendo comigo aqui nesse inferno. Estou cansada, com rinite e sinusite atacadas devido ao pó, com frio, toda machucada, com dor. Morrer seria uma bênção a essa altura do campeonato.
- Responde vadiazinha. Nossa, pelo jeito você tá querendo um pouco de castigo.
Mal respiro. Nem chego a olhar para ele. Não ligo mais para o que vai acontecer comigo, contanto que ele não me estupre. Sinto a dor. Uma dor lancinante no meu couro cabeludo. Ele está puxando os meus cabelos, puxando meu corpo pelos meus cabelos, e suspendendo minha cabeça. Fecho os olhos com força, e lágrimas escorrem dos meus olhos. Ele larga minha cabeça no chão bruscamente. Não... não dá pra pensar direito. A dor é atordoante. Ele grita todo tipo de obscenidades para mim. Repete o ato, e quando ele larga minha cabeça de volta no chão, solto um grito alto. Ele larga meus cabelos e se senta no chão de frente pra mim. Por mais que eu esteja atordoada, junto todas as minhas forças, me sento e cuspo no rosto dele.
- Cadela, você não fez isso. - Ele fala em um tom estranhamente calmo. Acaricia meu rosto, passa o dedo indicador no corte da minha bochecha e sorri. O sorriso se transforma em uma carranca, e Ai! O tapa que ele me dá me joga de volta no chão. Ele pega meus cabelos e bate minha cabeça no chão uma, duas, tres vezes. Parece que... que vai explodir. A dor é horrível.
Não tenho tempo de processar o que está acontecendo comigo, pois sinto algo bater nas minhas pernas, nas costas, no meu corpo. Algo pequeno e duro. Consigo ver. É um cinto. A dor é muito forte, e quando penso que vai parar, conttinua e dói dez vezes mais. Começo a chorar. Realmente não consigo entender o que eu fiz para merecer isso. Se, sei lá, pelo menos alguém me ajudasse... Mas eu sei que ninguém virá. Isso aqui é um lugar abandonado, empoeirado, parece que nao vem ninguém aqui há anos. É... aceito a morte. Sim, pelo jeito irei morrer. Não concluirei o curso, não me casarei, e minha lista de metas ficará lá, sem ninguém pra marcar o que foi e o que não foi realizado...
O "clack" das cintadas contra minha pele se mistura aos gritos de Rodrick e ao som de motores. Três ou quatro, acho. Não sei como consigo escutar algo ainda, pois o zumbido na minha cabeça é alto...
Espera...motores??? Será que alguém chegou? Alguém que irá se juntar a ele e terminar o serviço? Acho que nunca saberei, pois começo a sentir uma dormência no meu corpo inteiro. Uma dormência misturada com ardor. Deve ser assim a sensação de estar morrendo. Dói e não dói. Arde, formiga, sei lá. Meus nervos... consigo sentir eles se desligando um a um... Meus pensamentos estão ficando turvos e confusos. Tão confusos que escuto passos, gritos. Minha mente está fantasiando coisas, para tornar a transição mais tranquila, menos dolorosa... Estou flutuando. Finalmente. A paz.