“Tira-me do sério e ao mesmo tempo faz-me tão bem”  

—Castiel Miller  

(...na manhã seguinte...)  

Acabei por voltar para cima pois ainda não tinha acabado de jantar. Machine foi-se embora e eu também não fiquei ali para o ver partir. Quando entrei de novo em casa, os rapazes já tinham jantado, mas Rosalya ainda continuava na mesa com um ar pensativa. Perguntei se estava tudo bem e ela respondeu que sim, mas que estava sem fome. Acabei jantando sozinha na sala. Com toda esta confusão, esqueci-me totalmente de que a minha nova música “Heartless” tinha sido lançada. Acordo com o braço de Castiel por cima dos meus seios e sorrio negando com a cabeça. Retiro o seu braço e preparo-me para um bom banho matinal antes de começar o dia.  

—Vem para aqui, ainda é cedo -oiço um sussurro_ o meu braço estava tão confortável.  

—Estou sem sono, vou tomar um banho queres vir? -pergunto, mas ele não responde. Decidida a acorda-lo, gatinho pela cama e coloco-me em cima do seu quadril.  

Castiel abre um olho e fixa os olhos nos meus seios arrepiados que transpassam pela t-shirt velha de dormir.  

—Vai ser preciso bem mais que isso para me retirares da cama –sorri bocejando. Eu reviro os olhos.  

Saio de cima dele resmungando e entro no banheiro. 10 minutos depois, já estou no quarto pronta para me vestir. Visto uma camisola estilo vestido e junto uns calções por baixo. Embora a camisola seja comprida, não é comprida o suficiente para se vestir sem algo por baixo. Oiço a cama mexer por trás de mim, mas não ligo pois sei que é Castiel a remexer-se na cama.  

De repente, sinto uns lábios tocar na minha nuca e arrepio-me da cabeça aos pés. Mordo o lábio inferior e fecho os olhos quando a sua boca toca no meu pescoço e orelha. As suas mãos perversas pegam os meus seios e apertam os mesmos um pouco.  

—Amo-te –sussurra virando o meu rosto para que o encare.  

—Também te amo. 

Beijo-o com carinho e levanto-me para sair do quarto, deixando o ruivo se arranjar. Caminho pelo corredor e vejo Lysandre na sala vendo um programa qualquer.  

—Bom dia –anuncio-me.  

—Bom dia Lake –ele dá um sorriso amigável.  

Entro na cozinha e me deparo com Rosalya olhando com aquele mesmo ar pensativo/triste de ontem á noite ao jantar. 

—Está tudo bem? -pergunto abrindo o frigorifico pegando o leite.  

—Hum? Ah sim, desculpa estava nas nuvens -responde, retirando o olhar do mundo lá fora.  

Faço o meu pequeno-almoço e sento-me perto dela comendo os meus cereais Lion. Noto que algo não está bem. Eu já a conheço á demasiado tempo para saber quando algo a incomoda.  

—Rosalya... -chamo-a e ela me encara_ eu conheço-te, eu sei que algo está a matutar nessa tua cabecinha de ervilha.  

Ela ri, mas imediatamente o seu sorriso desaparece. Rosalya senta-se á minha frente e cruza as mãos entre si, remexendo-as vezes sem conta. Eu espero por uma resposta.  

—Eu acho que estou grávida -acaba por dizer.  

Eu quase que me engasgo com os cereais. Bato no meu peito vezes várias vezes seguidas e respiro desesperadamente com a impressão de que vou morrer a qualquer momento.  

—Grávida? -molho os lábios e aponto para Lysandre, perguntando sem palavras se é dele. Rosalya assente.  

—Eu não sei o que eu fazer Lake, ajuda-me. Eu não posso estar grávida, eu quero vir para aqui em Setembro!  

—Fazemos assim, depois de almoço vamos na farmácia e... -calo-me assim que vejo Castiel entrar na cozinha e continuo a comer os meus cereais fingindo demência.  

—O que vocês vão fazer na farmácia? -pergunta. Rosalya fica branca.  

—Vamos comprar viagra para ti –respondo tentando não rir. 

—Para mim é que não é de certeza –resmunga_ o negócio aqui sobe e desce mais vezes do que o elevador do prédio.  

Foi impossível segurar o riso. Castiel de vez em quando sai-se com as suas e por mais que tente, ninguém pode ficar indiferente com isso.  

(…)  

Aproveitamos que os rapazes tinham saído para comprar sushi para o almoço e fomos num instante á farmácia buscar o teste. Rosalya colocou-o na sua mala para que fosse mais discreto e caminhamos o mais depressa possível para casa. Rosalya roda a chave e a porta abre-se. Merda. Os rapazes nos olham da cozinha com um ponto de interrogação na testa.  

—Onde vocês estavam? -pergunta Lysandre.  

—Íamos começar a comer sem vocês -resmunga o ruivo_ o sashimi está aqui a olhar para mim faz tempo.  

—Desculpem mas a saia da Rosalya descoseu-se e fomos aos alfaiates aqui ao lado –digo. Lysandre parece convencido, mas Castiel tem um ar desconfiado.  

Rosalya caminha para o quarto dela e eu faço o mesmo. Oiço passos atrás de mim enquanto arrumo as minhas coisas. Não é preciso ser bruxa para adivinhar quem é.  

—Vá diz-me a verdade –exige_ eu sei que não aconteceu nada com a saia da Rosalya.  

—Não há verdade nenhuma para dizer Castiel -começo a arrumar alguma roupa que se encontra espalhada pelo quarto_ A saia preferida dela rasgou-se e fomos num instante aos alfaiates aqui perto.  

—Mostra-me o talão -pede e eu engulo em seco_ eles provavelmente deram-te um talão de pagamento.  

—Não Castiel, ninguém nos deu um talão de pagamento. Nós pagamos quando formos buscar a saia –respondo ainda de costas voltadas.  

Sento-me na cama e começo a retirar as minhas botas de Verão. Castiel coloca-se á minha frente e cruza os braços encarando-me. Eu olho-o nos olhos. Ele não diz nada durante uns segundos até que...  

—Estás grávida? -pergunta sério. Fito-o sem entender onde ele foi buscar isso.  

—O quê? Não! De onde é que tiraste isso? Não... -respondo.  

—Então é a minha irmã que está grávida -volta a deduzir. Eu levanto-me da cama suspirando. Ele é mais esperto do que eu pensei.  

—Não Castiel aqui ninguém está grávido, não sejas paranoico –caminho até ao banheiro e ele me segue.  

—Lake eu não sou estúpido. E ouvi vocês as duas a conversarem sobre irem na farmácia depois do almoço, não me tomes por parvo –diz á entrada do banheiro. Eu faço um pontail.  

—Ouviste mal –sussurro. Ele não diz nada.  

—Lake eu sei que se passa algo com uma de vocês -o ruivo aproxima-se_ eu sei que a tua menstruação está atrasada. Os teus... absorventes ainda estão por abrir –ele cora.  

Eu dei uma pequena risada. Eu não sei se esse foi a coisa mais fofa ou a coisa mais estranha que alguém me disse. Mas Castiel tem razão, a minha menstruação está atrasada de novo. Eu dou um pequeno sorriso e saio do banheiro indo em direção á saída do quarto.  

—Nós ainda não terminamos a nossa conversa! -grita_ Vem cá!  

Eu caminho para a sala, onde Lysadre e Rosalya já tinham começado a comer. Sento-me á frente da minha melhor amiga e ao lado de Lysandre que atacam o sushi com toda a fé.  

—Desculpa, mas vocês estavam a demorar –desculpa-se o platinado.  

—Não faz mal, comam á vontade –respondo sorrindo.  

Castiel entra na sala e senta-se num dos cantos da mesa. Eu pego nos pauzinhos e começo a tirar para o meu prato.  

—Eu vou ao banheiro, favor de deixar alguma coisa para eu comer –resmunga o ruivo levantando-se.  

Pisco o olho para Rosalya e dou-lhe um sorriso tranquilizador. Eu sei o quão ela está nervosa, eu também estava quando fiz o meu. Castiel volta uns minutos depois e bate com algo na mesa. Os meus olhos arregalam-se assim que vejo o teste de gravidez em cima da mesa.  

—Queres-me explicar o que é isso? -pergunta Castiel furioso.  

—É um teste de gravidez, não estás a ver? -responde Rosalya no mesmo tom. Eu tive a sensação de que Castiel ia ter um enfarte.  

—Rosalya estás... grávida? -pergunta Lysandre num meigo, mas surpreendido.  

—Eu não sei okay?! -ela chora descontroladamente_ Por isso é que fui comprar o teste com a Lake enquanto vocês foram buscar o almoço.  

Eu tive pena dela. É um pouco assustador pensar em estar grávida nesta idade. É uma responsabilidade muito grande que muito poucos jovens conseguem acartar a 100%. Menos ainda de ambas as partes. Ninguém disse mais nada durante o almoço. O único som que se ouvia era de Rosalya a soluçar.  

(…) 

Ela estava dentro do banheiro á alguns minutos. Castiel, de braços cruzados e cara carrancuda, parecia que rezava o pai nosso. Lysandre parecia mais calmo, mas notava-se perfeitamente o nervosismo que ele tentava esconder. A porta do banheiro abre-se e Rosalya aparece na sala. Nós levantamo-nos todos ao mesmo tempo. Se tivesse sido ensaiado, teria sido menos perfeito. Castiel vai a correr, mas eu puxo-o para trás para que seja Lysandre a ver primeiro. Eles fazem uma cara triste, mas com um leve sorriso nos lábios.  

—E então? -pergunto sem entender nada.  

Rosalya dá um leve sorriso e assente. Eu não sabia se havia de parabenizar a minha melhor amiga ou de chorar junto com ela. No final, acabei de lhe dar um abraço bem forte. Castiel aproxima-se e o lave sorriso da platinada desaparece.  

—A mãe vai-te matar –ele puxa-a para um abraço. Vejo lágrimas a escorrer do rosto dela.  

—Eu sei... -funga.  

—Bem, que tal irmos jantar fora para celebrar o meu novo título de “titia”? -pergunto e todos concordam.  

—É uma das nossas últimas noites aqui, eu estou nessa.  

(…)  

20:09 marcava a tela do meu celular acabadinho de carregar. Olhava para o armário sem saber ainda muito bem o que vestir. Acabo por escolher um vestido bordô e uns saltos altos pretos. Para maquilhagem, faço algo bem simples a tons naturais. Pega na minha bolsinha e saio do quarto caminhando até á sala onde todos já me esperam.  

—E então? -dou uma voltinha.  

—Mais sexy é impossível –elogia Castiel. Ele me pega pela cintura e me beija com carinho. Retribuo da mesma forma completamente derretida.  

Hoje é Castiel quem conduz o Alfa Romeo. Cololo a minha mão na sua coxa e acaricio levemente com os meus dedos. Oiço um pequeno ruido de infantilidade.  

—Owen tão fofinhos! -Rosalya descontrola-se_ Quando é que vocês casam?  

Eu olho em Castiel sem saber o que dizer. Nós nunca falamos sobre isso, eu não sei o que ele pensa em relação a isso.  

—Eu acho que é ainda um pouco cedo para isso –responde retirando os olhos da estrada e fitando a irmã por milésimos de segundo.  

—Talvez quando a nossa vida estiver mais calma –acrescento olhando pela janela.  

—Eu já estava a imaginar... -ela começa. Vem daí merda_ a Lake vestida de noiva, o meu irmão vestido num lindo terno, o nosso jardim todo decorado, o bolo, a comida....  

—O mais importante é a comida né? -brinca Lysandre. Ela dá-lhe a língua.   

Não demoramos muito para chegar ao restaurante. Castiel estacionou e saímos todos do carro em direção ao estabelecimento. Mal entramos, os olhares direcionaram-se a nós durante o resto da noite. Tentámos falar baixo e não levantar muitas suspeitas sobre a gravidez não planeada de Rosalya. Todos têm a sua fama aqui. Castiel e Lysandre têm a sua pequena fama devido á banda e aos covers que fazem no Youtube, eu por ser artista e modelo e Rosalya por ser a minha melhor amiga.  

O ruivo perguntou á irmã como pretende pagar as coisas para o bébe. Rosalya respondeu que não tem poupanças, mas que Lysandre tem algum dinheiro de lado do dinheiro que ganha do Youtube junto com Castiel. Não chega a ser uma fortuna, mas para dois jovens de 20 e 21 anos sem despesas nenhumas chega e sobre a bastante. Eu ofereci-me para comprar algumas coisas, de presente, mas Rosalya disse logo que não, que não quer esmola de ninguém e que eles haviam de se arranjar sozinhos. Que se lixe, eu vou comprar na mesma e encher o meu sobrinho de brinquedos.  

As luzes se apagam e o palco perto de nós ilumina-se. Um homem vai até ao microfone e prepara-se para falar.  

—Your attencion please, our night it´s about to start –anuncia.  

Lysandre me olha. Sim, exatamente com o mesmo olhar que me olhou quando estávamos em Maiorca e acabámos cantando juntos “Despacito”. Já sei o que aí vem. A prata ambulante levanta-se e vai ter com homem que estava no palco. Os dois falam durante uns segundos e Lysandre aponta para a nossa mesa. O homem assenta. A bola de neve retorna e sorri para mim e para Castiel.  

—Vocês são a seguir –sorri.  

—O quê!? -pergunto_ Mas... Lysandre eu nunca cantei para tanta gente... 

—Há sempre uma primeira vez para tudo, não tem porque correr mal –tranquiliza.  

Esperamos o rapaz acabar de cantar. Cantou Shawn Mendes-” Mercy”. Castiel acariciou a minha perna por baixo do meu vestido e dou um pequeno salto com o seu gesto inesperado. A sua mão quente aquecia o meu coração junto com a música de tal forma que as lágrimas me começaram a vir aos olhos. Esta música faz-me de lembra de tanta coisa... 

Limpo as lágrimas e me recomponho-me porque graças a Lysandre, sou eu e Castiel a seguir. Levanto-me e as palmas já começam. Chego ao pequeno palco e aceno para todos com um sorriso nos lábios. Sento-me num banquinho e Castiel segue-me fazendo o mesmo. A música começa... 

Not tryna be indie 
Not tryna be cool 
Just tryna be in this 
Tell me how you choose 
Can you feel why you're in this 
Can you feel it through 
All of the windows 
Inside this room 

'Cause I wanna touch you, baby 
And I wanna feel you, too 
I wanna see the sunrise and your sins 
Just me and you 
Light it up, on the run 
Let's make love, tonight 
Make it up, fall in love, try 

But you'll never be alone 
I'll be with you from dusk till dawn 
I'll be with you from dusk till dawn 
Baby, I'm right here 
I'll hold you when things go wrong 
I'll be with you from dusk till dawn 
I'll be with you from dusk till dawn 
Baby, I'm right here 

Aqui estamos nós, a mostrar a toda a gente o quanto gostamos um do outro através da música. Haverá melhor maneira de nos expressarmos do que a compor e cantar algo para alguém? Eu acredito que não. Ele tem uma voz fantástica e quando se junta com a minha é algo que eu não consigo explicar. Quando terminamos, puxo-o para um beijo á frente de toda a gente. Eu quero que tudo o mundo saiba que estamos juntos e que apesar de todas as nossas discussões e problemas, nenhum de nós vai desistir um do outro.  

Descemos do palco, mas as pessoas começaram a implorar por “Heartless”. Chamei Lysandre e dei de ombros dizendo-lhe por telepatia que tão cedo não iriamos sair dali. Ele subiu e cantou junto comigo a minha mais recente música. Pelos vistos, as pessoas gostaram. Depois do pequeno Show, fui ao banheiro. Estava a precisar de um pouco de água fria para me refrescar e acalmar os meus nervos.  

Saio do banheiro, decidida a voltar para a minha mesa e terminar o meu jantar, mas alguém vem ter comigo. Lola, uma empregada do restaurante de 20 e poucos anos que me conhece desde que aqui cheguei vem ter comigo e me chama á parte ás escondidas do patrão.  

—Lake, falaste com o Machine hoje? -pergunta. Eu levanto o celho.  

—Não, eu não falo com o Machine. Porque é que eu deveria ter falado com o Machine hoje? -pergunto. Estou com um mau pressentimento.  

—Ohm.. Nada, esquece o que eu disse –ela prepara-se para se ir embora, mas eu prendo-a pelo braço impedindo.  

—Começaste, agora acabas Lola –digo um pouco rude_ O que é que tem o Machine Gun Kelly?  -ela engole em seco.  

—Ele deu uma entreviste hoje á tarde na rádio de New Iorque Times e quando perguntaram sobre ti... ele disse que vocês estão juntos.  

Uma raiva vem ao de cimo de mim. Um certo tipo de raiva que eu nem sabia que era possível de se sentir. Agradeço a Lola e saio que nem furacão até á minha mesa onde os meus amigos conversam.  

—Desculpem mas eu vou ter que sair por uns minutos, eu juro que é rápido -digo pegando nas minhas coisas e deixando dinheiro para eles pagarem o que comi.  

—Onde vais? -pergunta Castiel_ queres boleia?  

—Não é preciso obrigada –beijo-o_ eu volto num instante. Tenho que resolver um assunto de uma vez por todas.  

Saio do restaurante deixando-os para trás. Eu detesto ter que fazer isto a esta horas, nesta altura, mas amanhã eu vou estar meiga de mais. Pego um táxi e quando chego ao edifício de Machine, pago ao taxista e caminho pelo apartamento dentro. Subo ao seu andar e bato com força na porta. Oiço vozes lá dentro então é escusado dizer que está alguém lá dentro. 

A porta se abre e revela o tatuado do outro lado. Empurro-o com força á frente de toda a gente.  

—Come on! Say it to my face!

(...) If I Ask You Wi'll You Say It To My Face? (...)