“O meu tempo de bater cabeça com homem frustrado já acabou. Só não admito que me encostem. Fora isso, pode falar A, olhar B, jogar piada C, que eu só continuo a fingir demência. Palhaço só faz show quando tem maluco para aplaudir”.  

—Ladylake Storm 

Tell me, what's the situation? 
I've been rackin' on my brain 
Just want some answers if I ask you 
But I know you'll never say it to my face 
Say it to my face... 
 
 

A minha voz nunca esteve tão rouca. A minha raiva nunca esteve tão á flor da pele. Nunca estive tão desapontada com alguém. Bebo um pouco de água do copo que já vai a meio e volto a pousar o mesmo em cima da pequena mesinha do estúdio de Lysandre e Castiel. Foi difícil deixar Nova Iorque da maneira que deixei. Ainda tenho na cabeça a imagem de Machine sem conseguir me encarar nos olhos... 

Flashback On 

—Tell me! Why did you say that?! -quase que grito_I've been rackin' on my brain so... you’d better tell me otherwise.... 

—Okay chill out! Chill out!- ele começa a por as pessoas na rua.  

Todo a gente sai e eu inspiro fundo tentando me acalmar, olhando pela grande janela da sala para o mundo de noite lá fora. Oiço a porta bater e viro-me de novo para o tatuado que coça a nuca.  

—Queres algo para beber? -pergunta hesitante.  

—Vai-te fuder a ti mais á tua bebida! -grito_ ou vais-me dizer que não sabes porque é que eu estou aqui? 

Ele nega com a cabeça fazendo-se de desentendido.  

—Eu não sei o que te foram dizer Lake mas é mentira! -defende-se. Pego o meu celular nesse momento e viro a tela do mesmo para Machine com o vídeo da reportagem já circulando na Internet.  

—Diz-me na cara porque eu estive em negação este tempo todo! Ao menos sê sincero! Estás agarrado ao teu orgulho num beco sem saída Machine! Tens uma boa reputação, mas isso não te impediu de andares pela cidade fazendo de mim parva! 

—Porque é que estás tão chateada com isto tudo? -pergunta descaradamente colocando Uísque dentro de um copo.   

—Porque tu estás a mentir! -retiro-lhe o copo das mãos entornando tudo no chão. Ele me olha furioso, desviando o olhar para o lado de seguida_ Olha para ti! Nem me consegues olhar nos olhos! Tu sabes que eu não sou boa com confrontos Machine! Eu só te estou a pedir para que me digas isso na cara! 

—Sai –empurra-me para o lado.  

—Se eu sair pela aquela porta eu juro por tudo que nunca mais volto a olhar-te na cara –falo séria e ele finalmente consegue cruzar o seu olhar com o meu por mais de 1 segundo.  

—Sai Ladylake -volta a pedir. Os meus olhos enchem-se de lágrimas. 

—Eu morria por ti... eras como uma droga, mas infelizmente eu já não consigo ficar pedrada contigo. O efeito acabou Colson Baker...  

Flashback Off 

—Hey -alguém estala os dedos á frente dos meus olhos_ Queres parar por hoje? A tua voz está a começar a falhar.  

Eu assento olhando para o chão. Lysandre começa a arrumar o equipamento. Chegámos ontem antes da hora de jantar. Gwen ficou super contente de nos voltar a ver. Sabem quem está mais aqui? Christina e Nate. Sim, depois de tanto tempo sem os ver, voltaram para Vila Doce. Eles já estiveram aqui antes, mas nós estávamos em Maiorca contou Gwen.  

—Lysandre –chamo e ele olha por cima do ombro_ Sabes onde está a Rosalya?  

—Acho que está no quarto porquê? -pergunta.  

—Nada, obrigada.  

Saí do pequeno estúdio de garagem e entrei dentro de casa. Vejo que o chão está molhado e dou passos gigantes e silenciosos. Eu sei que Gwen detesta que pisemos o chão quando está molhado. Subo as escadas e vou ao meu quarto. Dispo a roupa que tenho no corpo e troco por uma de desporto. Hoje vou ao estúdio de dança no centro da cidade, há muito tempo que não danço.  

Saio do quarto e espreito no quarto de Castiel procurando por ele. Abro a porta e adentro dentro do quarto, mas não há sinal de um pontinho vermelho resmungão. Fecho a porta e atravesso o corredor. Bato no quarto de Rosalya e adentro dentro do mesmo. A platinada está deitada na cama a ver Tv a comer gelado diretamente do pote.  

—Vou ao estúdio de dança, queres vir? -pergunto recompondo a mala no meu ombro.  

—Eu? Dançar? Não obrigado –devolve_ Já tomei banho hoje, não o quero voltar a fazer.  

Eu dou de ombro e fecho a porta. Desço as escadas saio de casa dando início ao meu caminho até ao estúdio. Coloco os meus fones e carrego no play. Á minha espera já está Chris Brown-”Lights Out”. Engraçado como eu passei a ouvir mais pop do que Rock no último ano, mas ainda tenho as minhas velhas playlists de Halestorm e Nirvana guardadas com carinho. Empurro a porta e digo “Boas tarde” ao rececionista, seguindo imediatamente para uma sala. 

Oiço Rihanna- “Needed Me” e espreito. Alguns alunos estão a treinar alguns movimentos. Entro sem hesitações.  

—Posso me juntar a vocês? -pergunto. Eles viram-se e as suas caras iluminam-se assim que se apercebem quem está a falar com eles.  

—Claro –uma rapariga responde.  

—Juro que eu aprendo depressa.  

(…) 

1h e 30 minutos depois eles despedem-se e saem da sala deixando-me sozinha. Inspiro e expiro depressa cansada. Já são 19:30 da noite, eu devia de me ir embora. Pego na minha garrafa de água e no meu saco de desporto, pronta para ir para os vestiários tomar um bom banho, mas pelo canto do olho, através do vidro, vejo alguém encostado nos limites da porta de saída.  

Viro-me e debato-me com Castiel á minha frente com um sorriso malandro. Faço uma cara de espanto e aproximo-me. Ele faz o mesmo.  

—Castiel? O que fazes aqui? Á quanto tempo estás aqui? -pergunto querendo saber tudo no mesmo segundo. Puxo-o para um beijo.  

—Eu vi-te a passar na rua com o saco de desporto no ombro –responde beijando_ calculei que viesses para aqui.  

As suas mãos percorrem as minhas costas e param na minha bunda onde apertam com força. Dou um pequeno gemido de satisfação e ele sorri no meio do beijo.  

—Adorei o show –ele pisca para mim_ Não queres dançar para mim uma coisa mais sexy e privada? -sussurra no meu ouvido. Um longo arrepio percorre o meu corpo.  

—Isso é um desafio? -volto a perguntar e ele assente. Vou na direção da porta e fecho a mesma. 

Castiel pega numa cadeira e senta-se. Dirigi-me á coluna e coloquei Trey Songz- “Na Na” enquanto ele esperava. A música começa e eu preparo-me para o deixar louco. Danço bem perto dele, mas sem nunca o deixar tocar-me. Acabo a música sentada no colo dele e a sua boca vem direita á minha desesperadamente. As suas mãos preparam-se para retirar a minha t-shirt, mas paro-as imediatamente.  

—Aqui não, tarado –rio. Ele morde o lábio.  

Corremos para os vestiários o mais rápido possível. Pouso as minhas coisas num banco e corro para secções de banho. Castiel segue-me sem hesitar. Ligo a água e molho-me, dando espaço de seguida ao ruivo. Encosto-me á parede e ele aproxima-se pegando-me pela cintura beijando como um desejo louco. Eu tenho a impressão que este homem me vai comer de uma só dentada. As suas mãos bobas pegam os meus seios e os seus lábios mordem, chupam e beijam o meu pescoço. Sinto algo duro roçar no meio das minhas virilhas de tão perto que ele está.  

—Tu metes-me doido –sussurra olhando-me nos olhos. Eu mordo o lábio querendo mais.  

Castiel inclina-se um pouco e mordisca um dos meus seios, estimulando o outro com a outra mão. A sua mão desce e passa levemente pela minha intimidade, fazendo-me dar um gemido. Ele me olha e sorri com uma safadeza natural. 

A sua boca volta a encontrar-se com a minha, mas desta vez num beijo mais calmo. A sua língua pede passagem e eu cedo.  

—Abre as pernas –sussurra. Eu encaro-o sem perceber bem o que ele quer fazer, mas assim faço.  

De repente, Castiel pega em mim pelas pernas e me penetra com força prensada contra a parede. Eu tive a sensação de que dei um grito tão alto...mais alto do que devia ter dado. Coloco uma mão na boca para abafar os meus gemidos e a outra á volta do seu pescoço para me segurar. Castiel, entre o meu pescoço e os meus seios, estoca quase que violentamente. Uns minutos depois, ele faz-me descer. Os seus braços firmes e musculados envolvem-me com carinho e eu abraço-o com a água a cair-me no rosto.  

(…)  

Entramos em casa divertidos e animados e somos recebidos por Dragon implorando por carinho e atenção. Agacho-me e abraço o Pastor de Beauce fazendo caricias ao longo do seu pelo e focinho. Apesar do seu tamanho e aparência feroz, ele é um querido.  

—Já me estava a perguntar onde vocês estariam –diz Christina saindo da cozinha.  

—A Gwen não está? -pergunta o ruivo. Christina nega.  

—Não, dei-lhe folga o resto do dia –responde limpando as mãos a um pano_ o jantar está quase pronto, não se demorem muito.  

Eu e Castiel subimos juntos, mas seguimos em direções diferentes. Eu pouso as minhas coisas no meu quarto e troco a roupa de desporto para roupa para andar por casa. Os meus pés caminham pelo chão de madeira envernizado e param á frente do quarto de Rosalya. Bato antes de entrar.  

—Hey –anuncio-me_ posso?  

—Claro –ela fecha uma revista e coloca de lado, senta-se na cama e faz sinal para que eu me sente também.  

—Vim só ver como estás -sento-ma na cama.  

—Estou bem –ela sorri_ Lysandre amanhã vem cá, vamos discutir sobre algumas coisas e começar a escolher casa.  

—Casa? -arqueio uma sobrancelha_ Vocês não vão ficar aqui?  

—Não -ela nega_ Nós queremos a nossa privacidade. Por enquanto estávamos a pensar em ficarmos no apartamento dele até ao bebé nascer, mas depois queremos uma casa só para nós.  

Eu entendo que todo o mundo segue em frente e que toda a gente precisa do seu espaço, mas saber que a minha melhor amiga vai embora parte-me o coração. Agarro a sua perna esquerda com força e ela ri.  

—Não vás, nós estamos juntas á 2 anos. Como eu vou aguentar sem ti? -faço beicinho.  

—Eu prometo que venho de vez em quando e que te ligo todos os dias –brinca.  

—Estás entusiasmada? -pergunto passando a minha mão na sua barriga já com um pequeno alto.  

—Hm Hm -ela responde_ queres ver o que eu comprei hoje?  

Ela levanta-se e abre o seu armário pegando num pequeno saco de compras. Rosalya senta-se na cama e retira uns pequenos sapatinhos unisexo.  

—São tão giros... -pego observando.  

—Não resisti quando os vi –ela sorri. Eu dou um sorriso fraco_ Desculpa Lake, eu se calhar não devia de te ter mostrado...  

Eu suspiro e tento forçar um sorriso.  

—Eu estou bem asério. 

20 minutos depois, Christina chamou-nos para jantar e descemos. Eu e Castiel comemos um enorme prato de Bacalhau á Brás e gasosa. No final, estávamos cheios de tanto comer. A noite passou rápido, e quando dei por mim, Castiel já tinha adormecido ao meu lado. 03:04 marcava o relógio eletrónico na mesinha de cabeceira. Eu não conseguia dormir. O meu estômago está ás voltas. Começo a suar frio e percebo que o bacalhau de Christina não caiu bem no meu estômago. Levanto-me apressada e corro até ao banheiro e agacho-me na sanita e vomito até os meus interiores.  

Oiço passos a caminharem para o banheiro e fito Castiel atrás de mim preocupado.  

—Hey então? -ele agacha-se segurando no meu cabelo_ o que aconteceu?  

—Eu não sei... -a minha voz falha_ eu acho que comi demais... 

Ele dá descarga e eu aproveito para limpar e bochechar a minha boca com água no lavatório. Sento-me em seguida na sanita e agarro os joelhos.  

Ele dá-me aquele olhar. Eu desvio os olhos e foco o olhar noutra coisa qualquer que não seja ele. Já sei o que está a pensar.  

—Eu vou pedir á Gwen amanhã para te trazer um teste –diz sério.  

—Não é preciso Castiel, eu apenas comi de mais –sussurro. Ainda estou meio sem forças.  

—Á quanto tempo é que a tua menstruação está atrasada? -devolve firme.  

—Faz amanhã duas semanas... -acabo por responder.  

Ele suspira e senta-se no chão do banheiro á minha frente acariciando de leve a minha perna. Os meus olhos começam a ficar embaciados por contas das lágrimas que querem cair. Eu não acredito que voltámos a cometer o mesmo erro.  

—O que nós vamos fazer agora...? -pergunto.  

—Amanhã fazes o teste e depois a gente logo vê. 

(…na manhã seguinte...)  

Destapo-me com calor e empurro os lençóis para longe de mim. Abro os olhos já sem sono e olho em volta. Castiel não está. Levanto-me da cama e espreguiço-me, caminhando em direção ao banheiro. Depois de fazer a minha higiene matinal, desço as escadas até ao piso de baixo.  

—Bom dia Sr. Miller –digo assim que vejo Nate lendo o seu jornal e bebendo o seu café matinal.  

—Bom dia Ladylake –devolve com um sorriso_ O Castiel e a Rosalya estão na cozinha.  

Agradeço deixando a sala e caminho para a cozinha de onde oiço vozes. Entro e a luz bate-me de frente, obrigando-me a fechar os olhos.  

—Bom dia dorminhoca –brinca Rosalya.  

—Estava a ver que nunca mais –acrescenta Castiel.  

—O que a menina vai querer comer? -pergunta Gwen_ Tem pão, cereais e fruta.  

—Não estou com grande fome Gwen obrigado –sento-me junto com eles.  

Oiço a campainha tocar e Rosalya apressasse a correr para a mesma.  

—É para mim! –quase que grita_ É Lysandre.  

Rosalya sai e Gwen acompanha-a, saindo juntamente com ela deixando-me sozinha com Castiel. Pego uma maçã do cesto e numa faca e começo a comer sem grande apetite.  

—Mal disposta? -pergunta o ruivo quase num sussurro. Eu assento.  

Saímos da cozinha juntos, mas logo Castiel me faz parar perto das escadas. Nate já não esta na sala.  

—Eu e o Lysandre vamos ensaiar, porque não vais descansar um pouco antes do almoço? -diz, segurando no meu rosto gentilmente.  

—Acho que vou ficar aqui na sala a ver qualquer coisa –respondo. O ruivo sela os nossos lábios com um pequeno beijo e sobe.  

Preparo-me para sentar no sofá quando vejo Gwen prona para ir ao centro da Vila.  

—Vou ás compras menina, quer algo em especial? -pergunta com o seu carrinho.  

—Ahm... -aproximo-me dela_ Podia-me trazer um teste de gravidez?  

Gwen assente com um certo sorriso nos lábios. Eu mordo o lábio sem saber bem como reagir.  

—Por favor não comente nada com a Rosalya nem com o Sr e Sra Miller -peço_ não quero dar falsas esperanças a ninguém.  

—Pode contar comigo.  

(…) 

O teste piscava bem na frente dos meus olhos. Fechados no quarto de Castiel, o ruivo dava voltas e voltas enquanto eu peço pela milésima vez para que pare quieto. O teste para de piscar e o meu coração quase que sai pela boca quando vejo “grávida-2 semanas” estampado no mini ecrã. Castiel aproxima-se e vem ver, pega no teste e dá-me um leve sorriso assim que retira os olhos do mesmo.  

—Meu Deus eu vou ser pai? -pergunta me olhando com um sorriso de orelha a orelha.  

—Parece que sim –digo nervosa.  

Castiel me abraça e eu devolvo meio que hesitante. 

—O que se passa? -pergunta desfazendo o abraço e me olhando nos olhos.  

—Eu só não quero fazer já a festa –baixo o olhar_ eu não quero comentar nada por enquanto com ninguém.  

—Okay eu entendo, mas mais cedo ou mais tarde vai-se começar a notar e as pessoas vão começar a desconfiar –rebate.  

—Ai a gente conta.  

Decidimos manter segredo e não contar a ninguém por enquanto. Vou deixar passar um tempo até eu ter a certeza de que está tudo bem e que não corro o risco de sofrer mais nenhum aborto. 16:29 marca o meu celular e Dragon vem buscar o seu brinquedo á minha mão. Atiro para longe, longe de mais. A bola foi lá para fora.  

—Merda –sussurro.  

Abro o pequeno portão das traseiras e fecho o mesmo atrás de mim. Eu não devia de estar aqui, isto é propriedade privada. Procuro desesperadamente a bola do Pastor de Beauce quando oiço uns passos atrás de mim. Algo me tapa a boca, e eu apago. 

(...) Disseste que tinhas medo de me perder, e olha só, tu realmente me perdeste (...)