Tenho a cabeça a mil. Várias coisas passam-me pela mente e tento processar tudo. Engulo em seco, olhando para a frase “4 semanas” digitalizadas no pequeno ecrã do teste de gravidez. Ninguém diz nada. Não por não quererem ou por não terem nada para dizer, mas sim porque ninguém tem coragem. Nem eu própria sei o que dizer a mim mesma, quanto mais os meus amigos.

—O que é que eu vou fazer á minha vida…? -meio que sussurro com voz de choro.

—É fácil -Sarah começa_ Vais ter que lhe contar, ele tem o direito de saber que… que vai ser pai.

—Castiel não quer ser pai -Kentin rebate_ ele vai-lhe dar com pés na bunda mal ela diga que está á espera de um filho nele, e depois? Eu vou ter que estar lá de novo para abraça-la e colar de novo aos poucos o seu coração com um enorme desgosto.

—Ele não é assim -digo_ e falas como se fosse uma obrigação teres que estar lá quando preciso -respondo um pouco mais rude.

—Mas não é -devolve-me_ só não quero que ele te magoe… pela milésima vez.

—Ele não vai! -grito, levantando-me.

Alguém bate na porta. Olhamos todos uns nos outros e eu engulo em seco. Angel levanta-se e aproxima-se da porta abrindo um pequeno brecho apenas.

—O que vocês estão a fazer aí todos dentro? -Sophie pergunta, acompanhada de Kira ao seu lado_ Temos andado á vossa procura por todo o lado.

—Ahm… -Angel engasga-se.

—Elas que entrem -acabo por dizer. Angel me olha e eu assento com a cabeça.

A morena de olhos negros como a noite abre a porta na sua totalidade e Sophie e Kira entram um pouco confusas. Angel fecha a porta e senta-se ao meu lado.

—O que se passa? -pergunta Kira_ que caras de enterro são essas?

Faz-se um silêncio. Aquele típico silêncio…

—Queres que eu explique? -Angel me pergunta baixinho.

—Sim, por favor… -respondo.

—A Lake está grávida -ela vai direta ao assunto. Ambas fazem um “0” com a boca.

Sophie aponta para Kentin perguntando sem palavras se é do moreno. Angel nega com a cabeça.

—É do Castiel -acaba por dizer.

—Puta que pariu! Vocês estão de sacanagem comigo só pode -Sophie quase que grita.

—Não, não estamos! -exalto-me um pouco_ Nenhum de nós brincaria com uma situação destas.

—Castiel sabe? -Kira pergunta. Todos negam.

—Podem deixar-me sozinha? -pergunto olhando para o chão.

—Claro -Angel sussurra.

Todos saem. O único que não se levantou da pequena poltrona cor bege foi Kentin que permanece calado.

—Eu disse que queria ficar sozinha -digo para o moreno sem lhe fitar.

Ele suspira e levanta-se. Aproxima-se de mim e deposita um pequeno beijo na cabeça antes de sair.

—Qualquer coisa, sabes onde me encontrar -diz.

Oiço a porta sair e deixo as lágrimas caírem finalmente. Coloco as mãos no cabelo e desespero por uma resposta. Uma resposta para a minha vida. Algum sinal que me diga o que eu vou fazer. Faltam 2 meses para eu voltar para Nova Iorque e grávida eu não sou necessária lá. Muito pelo o contrário.

Penso também no que direi a Castiel. Sinceramente eu não sei qual será a sua reação. Talvez Kentin tenha uma ponta de razão, ele não parece ser o tipo de homem que quer ser pai com 21 anos de idade. Eu sempre quis ser mãe, mas não agora, não com 19 anos. Os meus pais vão-me matar.

P.O.V. Ladylake Off

P.O.V. Kentin On

Ouvia os seus soluços do outro lado da porta. Suspiro triste. Desço as escadas e vou até á cozinha onde me deparo com Rosalya fazendo chá.

—Bom dia -anuncio-me. Ela me olha com um sorriso fraco.

—Bom dia -retribui_ queres chá?

—Não obrigado -agradeço e pego numa caneca e no pacote de leite.

—Onde vocês estiveram? -pergunta mexendo o liquido alaranjado com uma pequena colher_ A casa estava vazia e vocês não estavam lá fora.

Fico em silêncio durante uns segundos, sem saber o que dizer.

—Estávamos no meu quarto -respondo e a platinada franze o sobrolho.

—As miúdas todas estavam no teu quarto? -ri.

—Yha.. -rio fraco.

—Porque é que eu tenho a sensação de que aconteceu algo com a Lake e ninguém me disse nada? -a floco de neve sorri fraco. Faço de novo silêncio_ Acertei não foi? Sabes que me podes contar, eu vou acabar por saber mais cedo ou mais tarde.

Suspiro.

—Okay…

(…)

P.O.V. Kentin Off

P.O.V. Ladylake On

Trabalhava novamente na minha nova música. Riscava, escrevia e riscava de novo. Hoje não estou com cabeça para pensar em músicas novas. Prefiro esperar por dias melhores do que escrever agora mágoas que mais tarde não vão ser verdade.

Fecho o caderno e guardo-o na gaveta. Levanto-me da cama e estico-me. A minha imagem reflectida no espelho chama-me á atenção antes de sair.  Coloco a mão por baixo da barriga e acaricio de leve.

—Escolheste uma má altura para vir hein…

Suspiro e saio do quarto fechando a porta atrás de mim. Desço as escadas e sigo para o pequeno estúdio. Oiço música. Abro a pequena porta e fito Castiel e Lysandre a ensaiarem. Sento-me no pequeno banco e mantenho a distância, esperando que acabem. 

Os rapazes finalizam o cover e Lysandre me dá um sorriso enquanto arruma o microfone. Olho no ruivo que me dá um leve sorriso também.

—Vocês são realmente muito bons -digo levantando-me do pequeno banco.

—Estás a dar graça para vires para aqui não é mesmo? -Lysandre brinca.

—Como é que adivinhaste? -brinco também_ eu preciso de espairecer um pouco e a música é a única saída.

—Força, nós já tínhamos acabado -responde o ruivo.

Os rapazes saem e eu ponho-me á vontade. Ligo o meu celular ao pc e escolho uma música. Selena Gomez & Marshmello – “Wolves”.

Alguém entra no pequeno estúdio improvisado. Abro os olhos e fito a porta onde Rosalya espera que eu acabe de cantar. Paro a música.

—Não pares por mim, estava a ficar super fixe -diz a platinada com um pequeno sorriso nos lábios.

—Eu prefiro parar -devolvo o sorriso. Reparo na expressão preocupada dela_ Está tudo bem?

—O Kentin contou-me -diz ela, sem rodeios. Eu fico sem saber o que dizer.

—Ele não devia ter dito nada -sussurro_ queria ter sido eu a contar.

—Ele não fez por mal, ele não teve escolha. Deu para perceber de que algo se passava contigo e o facto de todas as miúdas menos eu terem estado no vosso quarto tornou tudo logo muito suspeito -explica_ Não te zangues com ele.

Rosalya bate com a palma da mão num pequeno banco ao lado do dela, indicando-me para me sentar junto dela. Assim faço.

—Rapaz ou rapariga? -pergunta babada. Sorrio sem vontade.

—Nunca pensei nisso -respondo_ nem sei se o vou ter, veio numa altura péssima.

—Lake! É apenas um bébé, ele não tem culpa nenhuma -Rosalya pega na minha mão com força. Olho na minha melhor amiga.

—Achas que eu quero fazer isso? -choro_ mas tens que concordar comigo que não é uma altura boa. Eu vou para Nova Iorque daqui a 2 meses e o que é que eu vou dizer á agência? “Olha lamento a todos, mas eu vou ser mãe então não vou poder trabalhar durante quase 2 anos”.

—Entendo que não deve ser fácil -rebate.

—E não é, e ainda por cima eu não sei qual será a reação de Castiel -acrescento.

—Então vai lá dentro, chama-o á parte e diz-lhe! Ele precisa de saber! -ela olha-me nos olhos.

—Tenho medo -uma lágrima cai.

—Lake! O Castiel precisa de saber! -repete Rosalya.

—O que é que eu preciso de saber?

O meu coração para. Sinto o meu sangue gelar por dentro e um arrepio surge até á minha nuca. Engulo em seco e olho na porta onde Castiel nos olha á espera de uma resposta.

—Então? Estou á espera -diz impaciente.

Olho em Rosalya e ela sorri fraco.

—Vocês precisam de falar -ela acaricia-me o braço_ Conta-lhe…. -sussurra.

Rosalya aproxima-se do irmão, que lhe dá espaço para sair.

—Não te passes okay? Ela não sabe o que fazer e precisa de ti -Rosalya dá um selinho na bochecha do ruivo e desaparece. Castiel me olha.

Sento-me de novo no pequeno banco. Não consigo estar em pé. Coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha e fito o chão. Oiço-o suspirar.

—Hey… o que se passa? -aproxima-se_ Vais dizer que estás cheia de saudades minhas e que não consegues mais viver sem mim não é? -ele brinca, mas eu olho-o séria_ Estás a começar a assustar-me.

—Acredita, é assustador -respondo num sussurro. Ele acaba por puxar um banco e sentar-se á minha frente.

—Tu sabes que apesar de estarmos separados, podes sempre contar-me tudo -Castiel coloca a sua mão na minha perna. Sinto os seus dedos tocarem na minha pele com um fino toque. Sorrio fraco.

—Eu sei -fungo sem o fitar. Eu sinto que se olhar para ele vou-me inundar em lágrimas_ Mas este assunto é muito delicado e estou a tentar achar uma maneira na minha cabeça de te contar isto da melhor forma.

—Vai direta ao assunto, é sempre a melhor forma – aconselha.

Olho nos seus olhos. O reflexo do sol ilumina o seu rosto de uma forma delicada. Fungo com os olhos marejados de lágrimas.

—Estou grávida -engulo o choro e encaro-o_ É teu…

O seu rosto… a sua expressão… mudam assim que finalizo. Ele retira a mão da minha perna e levanta-se arrastando o banco. Castiel dá-me as costas e assim permanece uns segundos, com as mãos na cabeça.

—A minha mãe vai-me matar…. -ele finalmente diz algo.

—A sério? É a única coisa que tens para dizer? “A minha mãe vai-me matar?” -pergunto incrédula.

—O que queres que diga? Apanhaste-me de surpresa! -Castiel respira fundo_ O que pretendes fazer?

—Não sei -respiro fundo também_ estava á espera que me pudesses dar uma resposta.

—Eu não sei Lake -ele apoia-se com os braços na mesa de snooker encostada num dos cantos do estúdio_ É muita coisa para pensar.

—Então vê se pensas depressa e se te decides -respondo um pouco rude_ temos pouco tempo. Mais 5 semanas e vamos ter que levar com isto para frente quer queiramos quer não.

Limpo as lágrimas e coloco o meu longo cabelo escuro para o lado. Olho lá para fora.

—Tu queres tê-lo? -ele pergunta, ainda apoiado na mesa de snooker. Eu dou de ombros.

—Se tu não o quiseres que direito tenho eu de te obrigar? -devolvo a pergunta_ mas se o quiseres… eu deixo Nova Iorque e fico com vocês…fico contigo, pois serei a garota de 19 anos mais feliz do mundo.

Castiel não diz nada. Os seus olhos cinza olham diretamente nos meus dias de chuva e aproximam-se cada vez mais. Com o seu ar determinado, ele segura o meu rosto com as suas duas mãos antes de colar os seus lábios nos meus. A sua língua pede passagem e eu deixo sem qualquer hesitação.

Afastamo-nos por falta de ar. Mordo o lábio e deixo soltar um sorrisinho bobo.

­_Mais confiante em relação ao futuro? -pergunta.

—Sim -assento.

Castiel abaixa-se e fica com o seu rosto de frente para a minha barriga. Levanta a minha t-shirt de leve e acaricia de leve a mesma.

—Estamos á tua espera -os seus lábios depositam um pequeno beijo.

(…)

A brisa do mar faz-me bem. Aproveitava os últimos raios de sol do dia no alpendre da casa. O calor agradável das 18:30 fazia-se sentir levemente na minha pele, já morena. Ria ao ver Castiel ao longo na água a fazer as suas palhaçadas juntamente com Lysandre. Pego na tosta mista e parto-a aos pedaços como sempre fiz. Coloco um pedaço á boca e bebo uns golos de Ice Tea para ajudar a engolir.

Passo a mão na minha barriga de leve e imagino como será daqui para a frente. O que irá mudar, como será a minha rotina, se deixarei de fazer coisas que gosto por causa do bébé….

Prefiro não pensar muito nisso agora. Vou deixar as coisas acontecerem como tiverem que acontecer e sei que Castiel não vai embora de jeito nenhum. Estou nervosa, não nego. Morro de medo aliás, mas sei que este bébé vai crescer no meio das pessoas maravilhosas que são os meus amigos. E o pai? Oh este pai… uma criança a tomar conta de outra criança.

Sorrio ao ver Castiel e Lysandre a brincarem ás lutas.

—Vais crescer no meio de gente maluca -rio_ mas não os leves a mal, têm todos um bom coração e de certeza que vão gostar muito de ti.

(...) Quando um amor não cabe um duas pessoas, nasce um bébé (...)