Eu sempre adorava quando Bella precisava de um dos seus "momentos humanos", tempo para escovar os dentes, usar o banheiro etc. Eles me davam algum momento para pensar, mesmo que fossem alguns minutos. Agora eu sabia que havia alguma coisa errada comigo, ou, pelo menos, era o que parecia. Por mais que eu tentasse, e como eu tentei, eu não conseguia ver o que aconteceria com a gente. Eu procurava e procurava, conseguindo várias dores de cabeça no processo, mas continuava sem respostas para o meu dilema. No provador, eu fui pega com a guarda baixa, sem poder me controlar de encará-la tão intensamente. Eu estava juntando as razões por trás das minhas ações que eu havia ignorado até agora. As desculpas que eu dava só para tocá-la, para brincar com seu cabelo, para sentir seu calor... aquela necessidade inexplicável de tocar seu rosto e acaraciá-la delicadamente. Eu não tinha mais dúvida de que esses sentimentos já não eram mais maternais ou amigáveis. Eu conhecia Bella por anos, ou quase isso, e pensar que estive apaixonada por ela o tempo inteiro me deixava completamente louca.

Ela tinha terminado de tomar banho, saindo do banheiro enrolada na toalha e nada mais. Seu cabelo escuro descia molhando suas costas. Eu podia sentir seu calor da cama onde eu estava, lutando contra meu desejo de pegá-la e segurá-la perto de mim. Eu afastei os pensamentos que agora já me eram familiares, colocando um sorriso alegre no meu rosto. Ela não poderia desconfiar dos meus sentimentos ou eu a perderia para sempre.

- Primeiro a Torre de Pisa, depois almoço para você, um passeio de gôndola, talvez um pouco mais de comprar, e... alguma coisa que você queira fazer hoje? Nós pod-

Ela apanhou algumas roupas de sua bolsa, deixando a toalha cair no chão. seu corpo nú me fez hesitar por um segundo, me fazendo desviar o olhar.

- Nós podemos ver mais coisas amanhã... - Não olhe, não olhe, não se atreva a olhar. Eu olhei. Droga! Pernas estonteantes, pele decorada com pequenas pérolas de água. Suas costas se curvavam para frente enquanto ela deslizava colocando a calça. Depois suas mãos subiram por trás para abotoar o sutiã. Eu olhava fixamente - me odiando por isso - como seus seios o preenchiam muito bem, por sinal, suas curvas esculturais. Eu acho que meu queixo realmente caiu.

- Tirando a parte das compras, parece ótimo... - Ela colocou uma blusa que eu havia comprado para ela - cinza com uma estampa prateada - virando para sentar do meu lado na cama, completamente vestida. Eu sorri, sem saber o que mais poderia fazer.

- Tudo bem.

- O que? Você está me dizendo que não vai me levas às compras de novo?

Meus pensamentos voaram até nossa última experiência nas compras e balancei minha cabeça - Não se você não quiser ir.

- Essa é uma tática nova, não é? - ela disse, me olhando como se suspeitasse de alguma coisa. - Minha Alice não desiste sem lutar. - Eu fiquei confusa. Minha[ Alice? Como eu deveria interpretar isso? Por que me custou toda força que eu tinha para não agarrá-la e puxá-la para cima de mim? E por que diabos eu não conseguia ver nada? A frustação aumentava e eu precisava sair do quarto, voando até o banheiro. Eu sabia que estava na zona de risco agora.

- Alice? O que aconteceu? - Bella correu atrás de mim, mas eu fechei a porta, trancando-a.

- Eu preciso de um momento de vampiro, Bella. - Em qualquer outra ocasião eu teria rido disso.

- Tá tudo bem?

- Sim... Saio num segundo.

- Oh, okay. Eu estou aqui, se precisar de alguma coisa...

- Obrigada.

Fui sentar no assento, segurando minha cabeça nas mãos, rezando para que ela não tivesse ouvido a agitação na minha voz. Olhei pras minhas mão e entrei em pânico ao descobrir que elas estavam tremendo. Aquilo era novo. De fato, eu não lembro de ter ficado tão nervosa assim desde.. nunca. Eu fechei os olhos, tendo me acalmar. Pena que Jasper não tinha vindo também, ele teria conseguido me acalmar... Claro que ele perguntaria porque eu estava me sentindo daquele jeito em primeiro lugar... Eu preciso me controlar. Tudo que eu precisava era aguentar o dia, e depois pensar nisso tudo à noite, quando Bella estivesse dormindo. Mas agora eu ia me divertir. A coisa mais importante era fazer Bella feliz e sem saber dos meu sentimentos tortos por ela. Quem sabe, eles desapareceria em alguns dias... Eu suspirei antes de terminar esse pensamento, sabendo perfeitamente que eu não conseguiria esquecer daquilo tão facilmente

- Pronta pra ir? - eu disse, saindo do banheiro discretamente, com um grande sorriso onde deveria estar.

- Claro, e você? - ela me perguntou, alguma coisa cética no seu tom de voz

- Sim. Vamos antes que fique muito cheio.

- Mas você está bem?

Eu ri em resposta, vendo seu alívio quando eu a puxava pela porta.

O lugar estava cheio, mas eu felizmente vi algumas estratégias para passar pelas pessoas, levando Bella até uma vista perfeita da Torre de Pisa. Para isso foram necessários muitos momentos de mãos dadas, ou pelo menos foi eu que eu disse para mim mesma. E se nós nos separarmos e Bella se perdesse na multidão? Eu ri, sem acreditar naquela desculpa patética. Depois de quase uma hora tirando fotos e admirando a arquitetura, nós lutamos de volta pela massa de pessoas, andando pelas ruas até o restaurante que escolhemos, indo sempre pela sombra, assim eu não brilharia. O tempo todo eu desejei simplesmente segurar sua mão de novo, mesmo sabendo que seria muito estranho sem a multidão ao nosso redor para usar como desculpa. E ficou pior quando ela tropeçou na calçada, eu consegui segurá-la facilmente, mas tive mais problemas na parte de deixá-la ir.

Ela pediu uma lasanha e limonada. Eu brinquei com uma fatia de pão para não chamar muita atenção para mim. Havia música ao vivo e os cheiros de gourmet no ar. Nós conversamos e rimos enquanto ela comia. Quando terminou, ela afastou a cadeira e ofereceu sua mão para mim. Eu olhei para ela sem entender.

- Vamos lá, dance comigo.

- Desde quando você gosta de dançar? - Tentei convencê-la a sentar de novo. Ficar a alguns centímetros dela era a última coisa que eu precisava agora.

- Nunca. Eu não sei. Acho que é esse lugar. Como assim, como você pode recusar uma dança? Na Itália ainda mais? - eu tinha que dar o braço a torcer.

Sem ver outros problemas nisso, apenas sabendo que eu teria que ser cuidadosa, eu segurei sua mão, levantando e indo até o local onde outras pessoas já estavam dançando. O ritmo era leve e rápido, letras com um sotaque italiano. Ela pegou minha outra mão e começou a se mover comigo. Eu esperava ela tropeçar, mas isso não aconteceu, movendo-se com uma graça que eu nunca tinha visto antes nela. E não demorou muito até que eu mergulhasse na magia daquela música, deslizando com ela, deixando as coisas fluirem. Logo depois ela pôs uma mão na cintura e, sem notar, a segurei nas costas. Dançamos muitas outras músicas. Eu a girei levemente e seu sorriso era encantador, seu olhos mais feliz do que eu já havia visto desde que chegamos na Itália. Eu sorri de verdade em resposta. Seu cabelo girou pela última vez quando a música parou e ela me disse que também tinha que parar. Ela parecia cansada, mas feliz. Leve até. Eu não entendia, e nem precisava. Eu paguei pelo seu almoço e nós nos arrastamos até a saída do restaurante, ambas quase flutuando.

- Oh, Alice! Isso foi tão divertido. Eu nunca gostei de dançar, nem imaginava que era tão boa nisso! - ela apertou minha mão rapidamente, que certamente ficaria adormecida pelo resto do dia.

- Você não está cansada? - eu perguntei. Ela certamente não parecia, e riu.

- Vamos ao passei de gôndola agora. Esse era o plano, certo?

- Como você quiser, Bell. - ela sorriu paro o apelido, me dando um abraço breve. Eu retribuí o abraço, sentindo sua pelo quente através das roupas. Seu cheiro me lembrava o campo. Meu estômago deu um pulo.

A gôndola era menor do que o normal, mas o remador sorriu e nos cumprimentou.

- Bem vindas! Eu sou Emilio. Entrem! - Nós embarcamos na pequena gôndola e sentamos nos bancos de madeira que eram surpreendentemente confortáveis. Havia o cheiro do rio e a brisa morna. Eu peguei minha carteira e dei a gorjeta mais que merecida.

- Você poderia continuar pela sombra, Emilio? Minha amiga aqui não gosta do calor...

- Claro, claro! - ele pegou o dinheiro com um grande sorriso e nos empurrou do pier com seu remo. Nós partimos, passeando entre  entre os prédios altos. Bella sorria o tempo inteiro, apontando as estátuas e admirando o pôr-do-sol.

- Você está feliz? - perguntei, mesmo imaginando qual seria a resposta.

- Inacreditavelmente - ela disse, cruzando nossos braços. Emilio começou a cantar em italiano e eu me permiti deitar minha cabeça no ombro dela, fechando os olhos, relaxando. Nada mais importava além de sua felicidade. Ela correu seus dedos quentes pelo meu cabelo curto, parecendo bem melhor do que eu imaginava. Eu senti a proximidade que não tínhamos antes dali. Pela primeira vez, foi bom não saber o que iria acontecer depois. Pela primeira vez em muito tempo, eu podia ser espontânea.