Natureza Sombria escrita por N Caroll


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Eu: Uau...
Lis: O que foi?
Eu: Tá rápido ein? Tá escrevendo rápido...
Lis: Claro, quanto mais rápido, mais a curiosidade será apagada...
Eu: Isso não é...
Lis: Seguem aí embaixo queridos(as) mais um capítulo de "Natureza Sombria" :D
Eu: (-_-) *ignorada*



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— Se isso aconteceu, Monique, quero que venha imediatamente á minha casa... – falou o Dr. Will, estremeci em imaginar engolir novamente aquele H.Fágos. Acho terrível aquele sabor amargo, mas sem gosto nenhum, sem essência nenhuma pra deixar um cheiro bom na boca.

Uma gosma preta que faz meu estômago processar e entender que aquilo é suficiente pra me recuperar. Até então vivo dos blocos de comida. Só um pouco da saliva da boca e já se criava o nutriente necessário, é complexo demais explicar como eles fizeram isso, então... Vou deixar pra imaginação avivada de vocês.

— Sim, senhor... – respondi e antes de desligar, ele me xingou.

— Para de me chamar de “senhor”! Sinto que estou na casa dos 50’s se você me chamar assim! – gritou ressoando em meus ouvidos. Sorri e desliguei.

O CAS fica dentro de mim, ele é uma placa de titânio que pra retirar tem que ter alguém muito experiente, senão você pode acabar morrendo ou tendo que fazer outra cirurgia.

Normalmente, uma pessoa normal ou que tenha uma vida boa, pediria uma carona até a casa do Dr. Will, mas como não tenho nenhuma das duas, vou a pé.

— Sorte do doutor que ainda tenho minhas pernas, senão aquele maníaco teria que me levar até a casa dele pra fazer os exames. – murmurei andando como um morto-vivo andaria, estava exausta de todo aquele dia, não posso dizer que dormi ou acordei bem, tô fadigada.

Pensei em me distrair e observar a minha natureza envolta de mim: prédios escuros de visual contemporâneo e de arquitetura suspeita, bela e misteriosa, dando um estilo muito bonito aos prédios seguindo um padrão. Chão batido de terra seca, rachada estava debaixo de meus pés e enquanto os carros passavam só via a poeira levantando e depois voltando ao seu lugar. O gesso formando esculturas lindas que deveriam um dia já ter sido vistas e feitas, aquilo era apenas uma cópia. Passei perto de uma praça e lá tinha uma estátua pela metade de uma pessoa que um dia deve ter sido muito importante, encarei aquele lugar imaginando que um deve ter sido muito bonito de se ver com a vegetação. Nosso Prefeito, Gregório, deveria ter dado mais cor á nossa cidade, mas preferiu manter o simples e básico, porque era isso que estava na moda.

Encarei o vitral de uma loja em que passei pertinho e senti um perfume muito bom saindo do ambiente, encarei as vitrines e aqueles manequins se movimentando, animatrônicos são bem populares no nosso século, eles fazem poses como se fossem seres humanos, imitam seres humanos, mas o corpo não é de um. É uma camada fina mostrando os ligamentos que existem e a energia passada deles é muito bem exibida, diferenciando os Anima para os Biônicos, que são completamente parecidos conosco, mas não tem uma alma, portanto, não erram, não falham.

"Eu também negava, Elisa..." 

A voz de Donna veio em minha mente como num flashback, mas tinha de esquecer aquilo, diferente dela, eu sou 99% humana e 1% diferente, meu interior é diferente e... Odeio ser diferente.

"Porque você chama atenção..." — Por que eu chamo atenção?

Não mudo em nada, sou diferente na aparência, mas muitos são assim também, apesar de ninguém saber minhas origens e... nem mesmo eu sei.

...

Acho bom eu me apressar. Sinto como se minha placa do CAS fosse cair.

—---------------------------------------------------------------------- N$ ---

Encarei a porta em forma de 8 do doutor enquanto meus pensamentos só estavam em minha costela, na minha rápida recuperação... Queria que fosse verdade, minha cabeça estava até então na gosma que eu teria de engolir.

Apertei a campainha e apareceu o rosto de um mulher num holograma, ela me encarou e sorriu ao me ver.

— Monique! Querida...! - falou sorrindo de um jeito engraçado, ela era a Campainha.

— Cam! Amor, abre pra mim, por favor? - falei sem jeito e, parecendo até falsa dizendo aquilo. Eu não sou assim gente...

 - Claro, claro! Quero que ponha o papo em dia pra mim, viu? Já que não posso sair desse sistema terrível e, cai entre nós, de pouca qualidade. Você viu o mundo por mim, não é?

— Claro que sim... Pode acessar meu CAS quando você me deixar entrar... - falei ansiosa e nervosa com aquilo, Cam sempre dava um jeito de me enrolar.

— Ah, sim... - sorriu ela estralando os dedos, só os computadores entendem aquele sinal. - Ah! O Dr. Will está te esperando na cozinha, viu?

— Obrigada, Cam! - falei assim que entrei.

— De nada, querida... - ela abanava as mãos e cinco segundos depois, ela estava me acompanhando pela casa.

Eu encarei o lugar surpresa em ver tanta cor numa casa, diferente de lá de fora, tão preto e branco. Na parte principal, a minha esquerda tinha a sala com uma SAV gigante, que por sinal, estava passando aquele comercial que detesto. Já a minha direita estava a sala de jantar com um lustre grande e bonito. Esses dois ambientes eram grandes e espaçosos demais, posso dizer que o pessoal que ficava lá no bar caberia direitinho e ainda sobraria espaço suficiente pra caber mais 10 pessoas. 

Depois seguia-se um corredor longo, onde provavelmente de um lado teria outro corredor, e o da esquerda já seria o espaço gourmet. Eu vi bem as cores de creme e verde que entravam perfeitamente em contraste, o piso de madeira sentia vontade de ficar descalça neles ao invés de usar aquelas botas, que estranhamente tava sentido um pouco apertadas. Será que andei longe demais?

Segui o corredor e Cam veio atrás sorrindo e flutuante, como sempre, eu procurei pela cozinha, e como imaginei, lá estava o doutor preparando uma pasta — que seria uma espécie de comida sem-graça que nós comemos pra sobrevivermos, apesar de que poderíamos comprar uma cama que por meio dela seríamos brevemente nutridos. Por enquanto compramos injeções nos mercados e pó pra podermos usar pra beber misturado a água. Forma uma substância gelatinosa em que podemos comer á vontade, tem um gosto bom, mas não chega a ser maravilhoso e nem bom o bastante pra se comer todos os dias. É chamado de Par's por formar um par perfeito com o uso das injeções.

— Doutor! - exclamei sorridente. - O senhor deve ter feito muita pasta, não? Já que o senhor deve ser muito habilidoso por ter mãos tão experientes como as suas, certo? E deve ser também porque na sua época tinham que ser feitos á mãos né? Não existia o microondas atual.

— Sua peste! Deveria deixar você enfraquecer até pedir misericórdia pra mim! - falou fechando a cara. Eu comecei á rir, mas parei porque respirar já estava doendo demais. Will parou de cozinhar e amassar aquela coisa. Parecia contente em me ver inteira na sua frente e fez menção pra que eu retirasse a blusa pra poder me examinar.

Podem até pensar besteira, mas Will foi o único médico que não pediu meu CAS e nem nada pra poder ver meu histórico, ele furta do Hospital pra que eu possa comer aquele troço sem precisar pagar um tostão. Não, eu também não sei porque ele me ajuda e me ajudou tanto nesses últimos tempos. Talvez seja porque no começo foram atos de misericórdia, mas agora, está sendo atos de amigos e, também, porque no fim o Will é um dos raros seres humanos que encontro que oferece auxílio, ajuda e proteção.

— Já disse... - falou começando a avisar, ele passou a mão gelada em minha costela faturada e eu tremi de dor, ele não percebeu porque sou eu que estou sentindo aquela dor aguda. - Já disse que você deveria morar conosco, pra mim seria até mais fácil de te ajudar. 

— Não... - respondi e espero que pela última vez. - E Will, você já sabe porquê. Não preciso repetir... - Senti ele pressionar o local de propósito e dei um gritinho, ele sorriu ao dizer:

— Não. Não precisa... 

Eu havia corado pelo grito bobo de dor que não pude segurar como nas outras vezes. Sou infelizmente fácil de me irritar.

Ele pegou um banco e fez menção pra que eu seguisse com uma das mãos, ele me guiou até um dos quartos que era branco e onde havia uma maca, uma mesa com duas cadeiras tudo iluminado com uma luz branca tão forte que quase me cegou. Ele me deixou na porta esperando e colocou o banquinho pequeno na frente da maca.

— Suba na cama e deite com a cabeça virada na direção da luz... - pediu gentilmente enquanto pegava seus "ajudantes" para me analisar.

— Quer que eu morra? - perguntei, ele começou á rir e quando deitei e se aproximou de mim, tocou novamente na ferida.

— Ai! 

— Engraçadinha. - falou sendo sarcástico.

Will não checava muito o meu CAS pra ver minha Vitalidade, apenas antes de me dar a quantidade exata que devo tomar da gosma preta. De acordo com ele: "Prefiro ter mais cuidado em analisar você como os antigos faziam, do que analisar algo que pode ter sido corrompido." 

É uma das coisas que admiro muito no doutor, ele é jovem, mas tem muita experiência porque já fez parte da Guerra do Holocausto, que teve há 10 anos, ele ainda era um estudante de medicina, mas decidiu se arriscar e salvou mais de 2.500 vidas de uma quase-morte, e pôde recuperar mais 1000 CAS dos soldados. Ele só não foi reconhecido mundialmente como "O Mais Novo 'Pai da Medicina'", pela sua sorte em ter trocado de nome, ele consegue facilmente manipular seu CAS e fazer com que tudo e todos pensem que ele é Will Gorhnam. O Will chamou já muita a atenção das mulheres pelo seu sotaque estrangeiro, cabelos castanhos claros, olhos cor-de-ouro e lábios perfeitos, ele é o que chamam de "bela simetria".

— Tem deixado a barba crescer? - perguntei curiosa, era legal chamá-lo de velho tendo apenas 25 anos.

— Sim... - falou passando um gel no local e mais na minha bochecha esquerda, era gelado demais. - Por quê?

— Hm... - murmurei sorrindo. - Por nada, parece que posso te chamar coroa, mais cedo.

Ele pressionou de novo a ferida do meu corpo e eu gemi de dor, tive até que mudar de posição pra uma fetal, aquela dor fazia com que meu corpo inteiro sentisse calafrios e me fez até suar frio.

— Não brinque comigo... - se engraçou pegando uma tigela daquela gosma nojenta e mais uma agulha, pôs na seringa que parecia ter já o meu alimento diário, estendi meu braço esquerdo e ele injetou o líquido. Eu não senti nada quando ele retirou, mas senti o momento em que ele pressionou meu CAS, dei um tapa na mão dele e ele pareceu confuso, até pareceu entender, o que significa que... Ele não entendeu nada.

— Se vai agir assim por causa do H'Fágos então nem deveria ter vindo na minha casa.

— Não é por isso seu pervertido! - gritei me encolhendo ali mesmo, se ele queria ver o CAS então era só pedir, não pressionar como se eu fosse uma Bio.

Ele sorriu de forma sedutora e charmosa, eu queria morrer, mas matar ele primeiro quando ele disse:

— Não se preocupe, eu não tenho segundas intenções com crianças com um corpo incompleto....

— Ora seu... -  ele seguiu a mão para o meu centro e pressionou o meu CAS, o holograma se abriu e ele pôs os óculos pra que possa vê-lo mesmo. Isso foi ele mesmo que projetou.

— Meu Deus... - falou ele encarando a minha Taxa de Recuperação comparando com minha Perda de Energia. 

— É muito grave?

— Não se você for alguém querendo se matar! - disse alto pra mim ouvir mesmo aquilo. Ele retirou o óculos e me observou dentro dos meus olhos. - Estava tentando se matar por acaso?!

— Não... - respondi pra baixo.

— Se meteu em uma briga? - perguntou. Ele tava sendo quem ali, agora? Meu irmão ou pai por acaso?

— Sim... - mas não conseguia mentir olhando pros olhos dele. 

— Como é?! - ele se levantou com tudo na cadeira e me senti obrigada á sentar pra explicar.

— Não é como você pensa... - falei com as mãos indicando pra ele não ficar furioso. Ele suspirou fundo e se sentou novamente na cadeira.

— Explique-se...

E então expliquei, tudo e em detalhes, porque devo tanto para o Will que nem vocês devem ter noção do quanto ele já me salvou. De todas as vezes que quase morri... tanto de fome quanto de sangue que deixei sair de mim, por ter sido muitas vezes espancada quase até a morte por ser quem eu sou. Eu amo esse homem que me entende e me auxilia, mas eu o amo puramente como um irmão, já repensei várias vezes em morar com ele e com a Cam, mas não posso. Por dois motivos que são os principais por eu não viver uma vida feliz:

1. Estou sendo sempre caçada e...

2. Porque sou quem sou.

E tem uma terceira que vou deixar pra vocês imaginarem, é um medo meu grande também, mas se eu estiver no clima eu conto, senão, dane-se.

— Entendeu Will?

— Sim, eu entendi... - respondeu depois da longa explicação que eu dei. - Esse tal de "Eli" acho bom você ficar bem longe dele, soube que há formas novas no Merco de que pode se disfarçar de outra pessoa através do...

— Sim, eu sei... - respondi o interrompendo. - Através do Die Solis que sabem trocar seu CAS tranquilamente.

— Não, mas, como sabe disso? - perguntou curioso e pasmo pra mim. Como eu poderia saber de tanta coisa, afinal, estou sendo caçada por, pelo menos, 18 horas semanais. É basicamente o trabalho deles fazer algo assim, minha cabeça tá imposta por vários frenesis. Cada vez que não me encontram o valor sobe.

— Eu ouvi falar no bar, antes de me demitir... - menti. Não posso deixar Will saber que estou prestes á entrar no ramo do Merco também. Sim, vocês não leram errado, ele também faz parte.

— Ah, sim... - respondeu analisando uns papéis que apareceram dramaticamente em suas mãos. - Então? Vamos ao remédio?

Fiz uma cara de nojo e ele sorriu. - Realmente, você uma criança Elisa...

E é por esse sorriso que tenho medo que desabe, meu terceiro medo seria eu, um dia ter que vê-lo sofrer por minha causa.

Depois daquilo eu fiquei bem, passei pra Cam o meu relatório diário e ela prometeu deixar tudo em segredo sobre meus pensamentos e sonhos. Ela disse pra que eu traga mais novidades no mês que vem, eu disse que tudo bem, mas desde que até lá eu estivesse viva.

O que vem agora é que vai testar minhas palavras, estou caminhando com minhas pernas prontas pra correr pelo Merco se for necessário e com meus pensamentos na pele e que poderiam ser facilmente descobertos, mas eu não ligava, pois tinha que falar com o chefe deles... 

Disseram pra mim que eu tinha de encontrar com ele se eu levar uma CAS apesar de ter conseguido uma de um morto e... Não vão querer saber disso. Sim, meu plano era sempre sair do Green's pra vim pra cá, porque mesmo sabendo que vou me arriscar muito sei que vou ganhar muitos frenesis por um trabalho bem-feito. Entrei por uma porta que seguia por um corredor escuro e morto, o cheiro que vinha da porta não me era nenhum pouco agradável, encarei os quadros e percebi apenas uma coisa: Estava encrencada... 


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Notas finais do capítulo

*Sem comentários...*

Lis: Até o próximo pessoal!



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