Gato de Cheshire escrita por Aleksa


Capítulo 34
Capítulo 34




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/68864/chapter/34

A noite finalmente chega, Eliza Sonatha continua rindo, presa em uma das celas do alto da torre sul, mas a pergunta ainda não queria calar: Quem tinha tirado Eliza Sonatha do confinamento? Com certeza alguém que compartilhava de suas ideias... Seja elas quais fossem... Afinal, não faz nenhum sentido matar alguém que mantem o seu reinado vivo.

Cheshire não tinha certeza do que faria daqui pra frente, estava evitando o escuro, lutando contra uma criatura que não podia ver. Naquela  noite, ele lembrava do incidente de semanas atrás... Quando foi pregado ao tronco de Âmbar. Até hoje ele não sabia quem havia feito isso, se não já teria se encarregado de resolver, mesmo que de fato, não era a primeira vez que atentavam contra a sua vida.

Um momento de silêncio no ambiente, e então... BOOM!

Cai o portão sul, esperado, mas mesmo assim uma ameaça, se tirassem Eliza da torre seria quase impossível encontra-la novamente.

Mas é claro, quando eles chegaram já era tarde, Eliza Sonatha tinha sumido... Outra vez.

O que só prova a teoria: Ela teve ajuda. Mas agora resta saber... De quem?

Mais tempo, mais investigação, nesse momento os gêmeos Alcoran estão pela floresta da zona neutra procurando algo que faça sentido.

Cheshire está esperando algo que faça sentido. Revoltado de um lado ao outro da sala, daqui a pouco ele vai abrir um buraco no chão.

- MALDITOS! AQUELA MALUCA NÃO PODE FICAR SOLTA! ELA É LOUCA! ELA VAI MATAR DE NOVO! EU DISSE ISSO PARA AQUELE IDIOTAS DO CONCELHO DE DEFESA! MAS OLHA SÓ, NÃO ME OUVIRAM!

- Calma mestre. Isso não vai trazer nem Mary nem Eliza de volta. – Clístenes declarou.

Cheshire largou o peso do corpo na cadeira. Ele sabia que naquela noite mais alguém morreria... Droga... Ele não conseguiu evitar...

Pouco mais tarde naquela mesma noite, Cheshire estava no jardim, o ar frio quebrava  contra as janelas, fazendo-as bater contra as madeiras do batente.

- Droga...

As mãos dele estavam atadas, ele era só um, dois reis já estavam mortos...  Seu maior temor era: Quem seria o terceiro?

Passa-se um tempo, Cheshire sobe pra checar a rainha, seu sangue gela diante da cena.

Hímia caída no chão, a poça de sangue ao redor, ela ainda respirava... a carta de tarot ao lado.

“RODA DA FORTUNA”

- Não...

Ele dispara ao longo do aposento, um grito desesperado rasgando sua garganta como uma faca.

- SÓLON! DRÁCON! CLÍSTENES! A RAINHA ESTÁ NO CHÃO!

Rápidos como flechas, os trigêmeos adentraram o quarto, primeiro Clístenes, seguido por Sólon, e então Drácon.

A garganta de Sólon deu um nó, o sangue da rainha espalhado pelo tapete macio do quarto, a enorme mancha vermelho-groselha aquarelada numa poça melecada com um forte cheiro férreo, branca, pálida, batimentos ficando lentos, lentos...

Clístenes não ficou mais do que o suficiente, pra ver por si mesmo, disparou pelo corredor como um borrão de tinta, correndo, correndo, correndo sem parar, até que ele encontrasse Vladimir, o médico pessoal da rainha.

Drácon cedeu seus joelhos ao chão, e ao lado da rainha, ajudou Cheshire a fazer o máximo possível até o médico chegasse.

Sólon por sua vez,  dava passos largos e calculados pelo quarto, o cheiro de Eliza era evidente, mas havia algo mais... Algo conhecido, mas não familiar... Como se sua memória se recusasse a aceitar aquele cheiro amadeirado... O que era aquilo?

Mentalmente ele gritava para si mesmo  - “Vamos! Pense! Há vidas em jogo aqui!”

Os corvos Tsarynos voavam tempestuosos do lado de fora da janela, os sons revoltados deles ecoavam no ar, espalhando-se pelos seus eles gritavam: A RAINHA TASARYNA CAIU!

Pareciam eras geológicas, eternidades que se arrastavam com o peso de existências, mas, na verdade, poucos segundos haviam se passado, vinte segundos, mais especificamente.

Clístenes entrou no quarto, o médico em suas costas, ajoelhando-se com os três no carpete fofo e grudento, suas mãos trabalhando rápido para suturar, costurar e limpar tudo o que era necessário, nas costas da rainha, tatuado a faca: MEOW.

Horas se passam, a rainha é lavada de seu quarto e colocada na ala médica destinada a ela, a comitiva médica palaciana parou o mundo para ajudar, não havia no palácio um único médico, médica, enfermeiro ou enfermeira que não estivesse agora com suas atenções 100% voltadas a rainha.

- Isso foi pessoal. – Cheshire encontrava-se recostado a parede do ambulatório, coberto pelo sangue já seco da rainha, seus dedos fechados ao redor de seus braços, força suficiente para quase rasgar o tecido grosso.

- Não ocupe sua mente com isso Cheshire... – Charlotte sentia-se na obrigação de estar ali, estar ali e prestar o mínimo de conforto. – Foi uma fatalidade... Não é-

- Fatalidade?! – ele parecia quase ofendido. - Como isso pode ser categorizado como “fatalidade” nas atuais condições?! Você pode até estar conformada com isso Charlotte, mas eu não! Nada disso foi “fatalidade”! Foi VINGANÇA! E foi MINHA culpa! Não me venha agora querer ser amigável por que eu dispenso!

Frio, grosseiro, e aos berros, foi assim que ele se dirigiu a ela... Talvez ele precisasse curar suas próprias frustrações, havia demais ali para uma sociedade relativamente pacata como Âmbar... De uma hora a outra, Eliza foi colocada na equação e de repente, pessoas começaram a morrer, a sumir, coisas dando errado.

Charlotte silenciou-se, dirigindo seu olhar a qualquer outro ponto na paisagem que não fossem aqueles dois pontos completamente negros que eram os olhos de Cheshire naquele momento...

Ele jogou as costas na parede, descendo até acabar sentado, a cabeça apoiada nos joelhos. Era demais pra ele... Demais para qualquer um.

- Mestre! Foi Abel!  - Sólon.

A menção ao nome de Abel de repente fez tudo ficar nove vezes pior, se ele estivesse envolvido nisso também, Cheshire iriam mata-lo arrancar-lhe a pele, e fazer um tapete de porta.

- O que está dizendo? - os olhos de Cheshire eram dois pontos imutavelmente negros, tão escuros que sua íris se perdeu na escuridão que aquilo havia se tornado... Sólon se surpreendeu de vê-lo assim.

- Bem... – seu foco ficou levemente abalado, ele tinha certeza de que se dependesse da vontade se seu mestre, ele mataria cada  uma das pessoas da família Sonatha e então ficaria uma estaca através do coração de Eliza e qualquer um de seus aliados.  – Abel, ele... Ele é um dos culpados pela tentativa de assassinato da rainha, eu reconheço o cheiro dele no quarto real, próximo a janela.

- ... Tem certeza? – não importava realmente qual seria a resposta, ele morreria, a anos ele buscava uma desculpa para dilacerar Abel pelo que fez a sua espécie... Se ele tivesse feito o mesmo, mesmo que indiretamente à rainha, ele iria sem duvidas matá-lo.

- O máximo de certeza que eu posso ter, senhor. – Sólon determinou.

- Então Abel é um homem morto. – ponto.

Charlotte permanecia em silêncio, ela não compreendia aquilo ao certo, mas, ao ver Cheshire tão profundamente envolvido em vingar a alma da rainha, fez com que ela sentisse um leve desconforto em permanecer na sala, então deixou o aposento branco, afundar-se em indecisões a respeito de Mary.

Não que Cheshire sentisse algo mais do que respeito pela rainha, mesmo que suas idades fossem similares, era algo de outra ordem, no começo, quando ele ainda não havia sido determinado como o ministro da rainha, ele era um fiore, e vivia entre os outros de sua espécie... Até que veio Abel, e tudo veio por terra... Os sobreviventes migraram a cadeia de montanhas de Sátira, ele havia ficado entre os sete reinos, Hímia então o deu duas escolhas: Ser morto pelo caçador, ou tornar-se seu ministro... Não que de fato houvesse alguma escolha.

Ele então tornou-se ministro, e também o amigo mais próximo da rainha, ela era fria e distante, mas confiava nas decisões dele. E, com o tempo, ele quase, eu disse QUASE, esqueceu do incidente que se passou com o caçador...

E agora ele feriu (indiretamente) Hímia... Ele iria pagar... Ele vai pagar... Ele PRECISA pagar...

 Achar Abel foi a mais fácil das tarefas, e Cheshire queimava em meio de tanto ódio, que sua íris queimava vermelha em meio a escuridão que a rodeava.

Cheshire arremessou Abel contra o muro, ele desmoronou, abrindo um buraco na zona de impacto.

- Você...  – Cheshire começou. – Eu vou torturar você, até que você peça perdão pelo que você fez de joelhos...

A surpresa cruzou os olhos de Abel por um instante, mas logo sumiu, e aquela mascara impassível voltou a reinar.

- Finalmente mostrando a sua natureza real, não é? Sua criatura pecaminosa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Gato de Cheshire" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.