Capítulo 13 – Coisas Muito Mais... Curiosas

Charlotte estava entediada, ela ainda pensava na cena da floresta, e isso se misturava com suas lembranças do jardim. Tudo isso era estranho, ela não sabia se voltaria pra casa algum dia, mas não se importava tanto com isso como imaginou que se importaria.

Ela queria ir visitar Cheshire, ver se ele já tinha acordado, por alguma razão ela queria conversar com ele, não tinha realmente nada especifico em mente, só queria conversar.

Levantou-se, saiu do seu quarto, caminhou até o corredor, e, no caminho, começou a pensar sobre como tudo tinha acontecido rápido. Ela tinha a sensação de que isso não era importante, sentia um conflito de sua racionalidade com sua emoção, afinal, o lugar era mesmo muito agradável...

Já na porta ela pousou a mão sobre a maçaneta e girou, empurrando-a. Sem muito esforço a porta se abriu, ela encontrou Cheshire sentado na cama, lambendo uma das feridas de suas mãos.

- Cheshire! Que bom que acordou. – ela sorriu.

Cheshire cheirou levemente o ar, levantando-se e caminhando na direção de Charlotte.

- O que foi...?

Ele estava tão sério que causou uma impressão ruim em Charlotte. Ela foi caminhando pra trás involuntariamente até a porta barrar sua passagem.

Cheshire aproximou-se dela, aspirando profundamente o ar ao redor do pescoço de Charlotte. Ela sentiu um arrepio frio percorrer-lhe a espinha involuntariamente.

- Sinto o cheiro do meu sangue em você... – ele concluiu.

Charlotte gelou, a voz dele estava morna e preocupada. Ele se aproximou de seu rosto e olhou longamente dentro de seus olhos.

- Também sinto cheiro de lágrimas. Você está bem? – ele perguntou, inclinando a cabeça lentamente para a direita.

- Che-cheshire, pode me dar um pouco de espaço?

Ele não respondeu, só andou pra trás e se sentou na cama.

- Então? – ele reforçou.

- Estou sim, só que... – ela pausou.

- Que...? – ele pressionou.

- Eu e os outro... Encontramos você ontem. E você estava tão... Tão machucado, eu não sabia o que... Fazer. – ela disse, muito desconfortável, e com alguma dificuldade na escolha das palavras.

Cheshire sorriu, complacente, se levantou, caminhou novamente até Charlotte, aproximando muito o rosto dele com o dela, colocando a mão sobre sua cabeça e bagunçando seu cabelo.

- Não se preocupe comigo. – ele disse, num tom bastante tranqüilizante.

- Che-cheshire... – ela gaguejou.

Essas demonstrações felinas de afeto a deixavam confusa, além do que, ELE ESTAVA MUITO PERTO!

Ela o empurrou, se desvencilhando do olhar confortável de Cheshire.

- Tu-tudo bem, n-não se preocupe comigo... Eu vou... Vou avisar a Mary e os outros que você está bem. – ela comentou, achando uma razão pra sair de lá, e sair do encanto daqueles olhos, agora rosáceos, que a encaravam com complacência.

Charlotte saiu do quarto, ela estava confusa por não estar morrendo de raiva naquele momento. Mas ele foi tão gentil, e tinha olhos tão... Preocupados. Ela tinha que pensar, desceu as escadas correndo, e saiu até o jardim.

“Aquele maldito, o que ele quer afinal?!”, ela praguejava mentalmente. Depois caminhou até uma árvore, sentou-se embaixo dela, fechou os olhos, e começou a ouvir os sons externos. Ela não percebeu que tinha saído da propriedade de Tsary e ido até o bosque, mas de qualquer forma...

Com o tempo, Charlotte acabou dormindo, e dormiu até que o sol se apagasse. Quando acordou já era noite, as árvores azuis brilhavam no escuro, fazendo uma trilha brilhante e esparsa pelo bosque.

O problema era: ela não fazia mais a MENOR ideia de onde tinha vindo! Constatado esse fato, ela decidiu que caminharia, não se sentia assustada, nem ameaçada, na verdade, o bosque lhe passava uma agradável sensação de paz.

Mas agora vinha outra questão: o que ela faria agora?!