Juventude Transviada escrita por Isadora Nardes


Capítulo 14
Capítulo 14 - Jean


Notas iniciais do capítulo

Trilha: Pillowtalk (Zayn) https://www.youtube.com/watch?v=C_3d6GntKbk
Montagem do "casal" do capítulo: file:///C:/Users/user/Downloads/coisas/dreamcast%20juventude%20transviada/lucas%20and%20marcos.jpg



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Jean abriu seu Whats App. Levantou as sobrancelhas.

Lucas: eu preciso de ajuda cara

Lucas: eu n sei oq fazer

Jean: onde q tu ta?

Lucas: se vier vai ter q vir sozinho

Jean: n vou levar ngm parça

Jean: rlx

Lucas: to na pista de rolimã do parque

Jean: to indo ae

  Jean pegou o ônibus. Não sabia o que Lucas ia dizer, não sabia o que Lucas tinha feito. Jean precisava analisar a situação primeiro. Se fosse qualquer outra pessoa, em qualquer outro tempo e qualquer outro lugar, seria mais fácil.

  O parque estava quase vazio. Algumas pessoas fazendo exercício. Jean subiu em direção a pista de rolimã. Olhou para os lados.

  -- Lucas? – ele chamou. Nada. – Lucas, cara?

  Ouviu passos ao seu lado. Virou-se. Na ponta do morro, ao lado das árvores, Lucas estava sentado, de pernas cruzadas, fitando o nada. Jean foi até lá. O cabelo de Lucas estava bagunçado, ele parecia ter corrido muito por bastante tempo.

  -- E aí? – Jean perguntou, se sentando ao lado de Lucas. O garoto olhou pra ele.

  -- Eu fui na casa dele – Lucas disse.

  -- E...?

  -- O irmão dele tava lá – Lucas fungou. – Eles são parecidos pra caralho. Os dois são louros, os dois tem a mesma boca, as mesmas orelhas... A maior semelhança é que os dois gostam de me chamar de “viado” – Lucas riu.

  Jean pegou dois cigarros e acendeu. Colocou um na boca e deu o outro para Lucas, que puxou toda a nicotina para seus pulmões. Depois que a fumaça desapareceu pelo ar, Jean perguntou:

  -- Ele te disse mais alguma coisa?

  -- Perguntou se eu tava com o Gus – Lucas disse. Jean olhou pra ele.

  -- Você estava?

  Lucas fitou-o nos olhos.

  -- Foi só na festa, cara. A gente tava só se pegando – Lucas coçou a cabeça. – Eu não sei porque fiz isso, mas fiz e pronto. Só que não consegui puxar ele, e o merda do irmão dele jogou isso na minha cara.

  -- Qual o nome desse aí? – Jean disse.

  -- Marcos.

  -- Ele te xingou?

  -- “Você é a merda de um viadinho, e podia ter impedido, não podia?” – Lucas recitou. Fungou. – Talvez eu seja. Mas eu não sei o que fazer – a voz de Lucas falhou. – Que porra que eu vou fazer?

  -- Eu vou te dizer que porra que você vai fazer – Jean disse. – Você vai na casa desse tal de Mário e vai...

  -- Marcos.

  -- Que seja. Desse otário aí, e vai dizer tudo o que você pensa dele. Tudo o que você acha que ele é, tudo o que você acha que ele merece ouvir.

  Lucas fitou Jean.

  -- Eu não acho nada – Lucas disse.

  -- Acha sim – Jean disse.

  -- Não, não acho nada, Jean – Lucas lacrimejou. – Eu não sei o que pensar nem o que dizer, tá?

  Jean pegou o rosto de Lucas entre as mãos. Sem conotação romântica ou erótica. Queria apenas transmitir o que queria dizer para ele. Queria que ele entendesse realmente o que deveria fazer.

  -- Eu sei que você tem alguma coisa na cabeça – Jean disse, olhando nos olhos de Lucas.

  -- E como você sabe? – Lucas perguntou. Jean sorriu.

  -- Porque você é o Lucas, ué.

* * *

Na frente da casa de Marcos, Lucas tocou a campainha. Olhou para Jean, que disse:

  -- Eu vou ficar aqui fora.

    Lucas fez que sim com a cabeça. Marcos abriu a porta e bufou.

  -- O que você quer? – perguntou. Foi até o portão.

  -- Quero falar umas coisas na tua cara – Lucas disse, abrindo o portão. Nem sabia que estava destrancado, foi puro reflexo.

  -- Ótimo, um bichinha acha que vai me intimidar vindo aqui e abrindo o portão – Marcos disse.

  -- Eu não acho que vou te intimidar.

  -- Então o que você acha que vai fazer? Eu odeio você, tá certo? Só quero que você vaze daqui.

  -- Vou te dizer o que eu acho – Lucas fungou. Seus olhos ainda coçavam. Jean não se moveu. – Acho que você não me odeia porque me culpa porque o Gus morreu. Não me odeia porque eu te encho o saco. Não me odeia porque eu sou gay. Você me odeia porque você não consegue admitir que é também!

  Jean prendeu a respiração. Nunca tinha ouvido Lucas falar de modo tão intenso com alguém. Achou que Marcos ia levantar o punho e socar Lucas, que ia empurrá-lo e chutá-lo no estômago ou que ia esfregar a cara dele na parede. Jean entrou na defensiva.

  Mas, quando deu por si, Marcos fez algo ainda mais surpreendente.

  Pegou o rosto de Lucas entre as mãos e o beijou.

  Jean ficou paralisado. Lucas parecia paralisado também. Por um longo tempo, nada mais aconteceu. Jean não tinha certeza se ia acabar congelado naquele momento do tempo, mas, quando Marcos finalmente soltou o rosto de Lucas, Jean soltou a respiração.

  Lucas parecia estupefato. Marcos era uma mistura de frustração, raiva e algo do tipo “engula essa”. Os dois ficaram se fitando por um momento, até que Lucas levantou a mão para dar um soco na cara de Marcos. Nesse momento, Marcos fechou a porta na cara de Lucas. Jean limpou a garganta. Lucas apertou a campainha várias vezes novamente, mas ninguém atendeu.

  -- Deixa quieto – Jean disse.

  -- Não, não deixo – Lucas disse. – Que porra foi essa?

  -- Você descobriu que ele te acha gostoso, isso que aconteceu – Jean retrucou. – Deixa isso pra lá. Se ele quiser te pegar, ele vai te ligar.

  -- Mas... Mas ele... --- Lucas gaguejou. Jean pegou o pulso de Lucas e o puxou para fora do terreno de Marcos. Lucas não conseguia falar, não conseguia fazer nada.

  -- Vamos tomar um Nescau e esquecer isso, certo? – Jean sugeriu. Lucas olhou pra ele. Fez que sim com cabeça, devagar. Não sabia como reagir.

* * *

Na panificador, Lucas mexia seu achocolatado devagar. Jean suspirou.

  -- O que foi? – Jean perguntou. Lucas olhou pra ele.

  -- Minha mão tá latejando – Lucas disse. Jean olhou. Estava toda vermelha. Jean deu risada. – Qual é a graça?

  -- Beija um, leva um soco. O outro beija você, você bate nele. Entre tapas e beijos...

  -- Cala a boca – Lucas disse, dando risada. Quando parou, disse: -- Valeu, cara. Você foi a primeira pessoa pra quem eu pensei em ligar.

  -- É claro – Jean disse, se encostando na cadeira. – Eu sou demais, não sou?

  Lucas bufou. Bebeu um gole do seu achocolatado.

  -- O que acontece agora? – Lucas perguntou. Jean deu de ombros.

  -- Acho que a gente só continua, né? Quer dizer, o que mais a gente pode fazer?

  -- Prestar queixa?

  -- Contra quem? Contra o que?

  -- Homofobia, talvez?

  -- Ele te beijou, cara. Isso só vai deixar a polícia confusa.

  -- Mas...

  -- “Ele te bateu?”, “não”, “então o que?”, “ele me beijou”. Caramba, que crime, né?

  Lucas franziu o cenho.

  -- Eu tô falando sério – disse.

  -- Ser beijado te ofende? – Jean provocou.

  -- Ser chamado de viado me ofende – Lucas replicou.

  -- Pare de ser dramático. Vamos só continuar vivendo, sim? Acho que isso é a coisa certa pra fazer.


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Notas finais do capítulo

AI COMO EU AMO TRETA//YAOI



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