Daylight escrita por Boo


Capítulo 2
Chapter Two


Notas iniciais do capítulo

- Scorpius P.O.V



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We knew this day would come. We knew it all along. How did it come so fast?

 

A realidade era que eu não fazia a menor noção se ela percebia ou não, porém, mesmo quando ela caminhava à minha frente e parecia estar indo em uma direção completamente oposta, eu me via incapaz de tirar meus olhos dela. Eu havia memorizado todos os detalhes com o passar do tempo – e isso inclui todo o tempo em que não havíamos passado juntos também. Eu poderia dizer para quem quisesse saber como ela andava sempre nas pontas dos pés – mesmo quando ela corria desesperada para uma aula – e como os seus sapatos sempre ficavam mais gastos na lateral de fora, porque ela pisava errado com os sapatos, e, ao mesmo tempo em que eu sentia vontade de ensiná-la a andar corretamente, eu achava absolutamente adorável  e graciosa a forma como ela caminhava, me atrevendo a dizer, inclusive, que Rose Weasley intercalava entre voar e caminhar de um jeito bastante inusitado – como tudo nela. Eu também sabia que suas meias jamais seriam vistas na altura certa, e podia ouvi-la explicar com um tom aborrecido como sua panturrilha era muito grossa e a meia, além de fazer marcas, a incomodava e chegava em certos momentos a ser um pouco doloroso. Eu sabia como ela era extremamente inquieta e que ela se esforçava muito para conseguir se concentrar nas aulas, assim como sabia que uma mera mordida na ponta da pena poderia levá-la à uma viagem para outro planeta em questão de segundos. E por mais que no começo eu não gostasse de admitir, eu conhecia Rose Weasley como a palma da minha mão, eu conhecia cada curva – fosse ela da sua cintura ou de seu sorriso – e eu sabia o quanto aquilo estava nos matando aos poucos, apesar de ela insistir em acreditar que vivíamos em alguma espécie de conto de fadas.

Sempre que eu a via ir embora para a sala comunal, eu sentia um aperto ligeiro no peito e preferia repetir para mim mesmo que era somente mais um treino para as próximas idas até que chegássemos à definitiva, que, a meu ver, teria de acontecer com toda e máxima delicadeza. Porém, minha mente me perturbava, me lembrando de que ainda tínhamos alguns dias, talvez semanas? E que meu desespero não era necessário, ou sequer justificável, e que eu não precisava perder o chão ou o ar, que eu não precisava perder minha compostura. Lembrando-me ainda que sua partida – ou a minha – não era o fim do mundo. Era o final de mais uma etapa em nossas vidas.
E quando eu me sentia completamente convencido dessa realidade ela vinha – sabe Merlin de onde – correndo em minha direção, enlouquecida, e colocava os braços em volta do meu pescoço e me beijava sem que eu esperasse, fazendo com que eu me lembrasse de mais uma vez, e mais uma, e mais uma, porque eu havia me apaixonado por ela, como eu havia me apaixonado por ela.

Não, não foram os longos cabelos castanhos que caiam pelas costas como uma cascata, não foram seus olhos da cor de chocolate ao leite derretido, ou mesmo o toque de sua mão, ou a textura de sua pele contra a minha. Não foi pela forma como nossos lábios se encaixavam com perfeição, ou como ela fazia eu me sentir em meu maior e mais perfeito devaneio. Eu me apaixonei por ela sem perceber. Me apaixonei pelos seus gritos histéricos quando eu errava algum ingrediente na aula de poções em meio à algum dos nossos testes, eu me apaixonei por sua risada escandalosa – e maldosa – em momentos impróprios, me apaixonei pelo bico que ela sempre tinha a postos quando era contrariada e ainda consegui ser capaz de me apaixonar por ela mesmo enquanto a perseguia no campo de Quadribol tentando impedi-la de pegar o Pomo de Ouro. Eu havia me apaixonado pela sua espontaneidade, pela sua autenticidade e, acima de tudo, me apaixonei porque já não me restava outra opção... porque em uma dessas manhãs qualquer eu acordei e percebi que não a odiava mais, que de uma sabe tudo cheia de si ela havia se transformado na menina mais incrível que eu havia conhecido, e que eu queria pegá-la em meus braços o mais rápido possível e nunca a deixar ir.
Algumas pessoas levam meses, talvez dias. Eu levei sete anos.

— Quando vai contar a ela?
— Não faço ideia, e achei que já tínhamos discutido sobre isso. – revirei os olhos para meu melhor amigo.
— Você precisa mesmo esconder as coisas da sua namorada? – uma voz feminina se juntou, com certeza estavam esperando o momento certo para se unirem contra mim.
— Ela não é minha namorada. – resmunguei, e foi a vez dela de revirar os olhos – Só estamos nos vendo, ok? Eu não preciso de um rótulo. Nem ela.
— Especialmente com você indo embora logo depois das aulas, certo? – George puxou o assunto.
— Ainda não acredito que você vai embora sem se despedir de mim. – Georgina puxou meu braço colocando o dela para que eu segurasse – Não sei o que mudou nessas ultimas semanas que fez você simplesmente sossegar.
 - Você é uma das minhas melhores amigas Gina, não force a barra. – tirei o braço dela delicadamente do meu – Tivemos nossos momentos, mas é o que eles foram, momentos.
— E o que ela é? – George perguntou.

George e Georgina Parkinson não eram somente gêmeos, eram também os meus melhores amigos desde o primeiro dia de aula – para o desgosto de mamãe que precisava engolir a mãe deles em nossa casa se jogando em cima de papai com uma frequência desagradável. E, apesar de gêmeos, eram duas pontas, dois opostos. Enquanto George era contido, extremamente discreto e fiel, Georgina era bem... bem como sua mãe, de acordo com o que ouvi papai falar em uma das mil discussões que havia ocorrido depois de mais uma de suas visitas. Porém, eu havia aprendido a amá-los, eu havia aberto um lugar para eles em minha vida e não iria afastá-los por estarem fazendo o que qualquer amigo em sã consciência deveria fazer. Talvez tudo isso tivesse acontecido porque no início eles foram basicamente meus únicos amigos, os únicos a me estenderem uma mão sem esperar que eu fosse de alguma forma soltar uma maldição imperdoável, ou, sei lá, chamar Voldemort. Eu amava a companhia deles, porque enquanto Georgina me distraia sempre que necessário, George me trazia de volta à realidade, como neste exato momento.
Conhecendo Georgina, era claro que ela estava planejando o momento ideal para soltar a pergunta, e que George estava esperando para analisar minha resposta – eles funcionavam assim. E a verdade é que eu não soube responder, afinal de contas nem eu sabia o que ela era, o que ela significava ou porque ela mexia comigo dessa forma, ou mesmo nessa dimensão. Eu não sabia responder porque ela tinha todo esse controle quando estava comigo, e sabia menos ainda entender o que tinha mudado em mim depois dela. 

— Scorp? – Gina levantou meu queixo com a ponta dos dedos, se aproximando – Terra para Scorpius.
— Gina, não. – eu retirei sua mão e sorri – Você está finalmente levando algo a sério na sua vida, não vamos estragar isso.
— Eu, ou você? – ela gargalhou.
— Não importa. – dei de ombros, tentando encerrar o assunto.
— Você ainda não me respondeu, quando vai contar a ela?
— Não sei. – dei de ombros novamente, e ele me olhou com uma de suas caras mais feias, eu conhecia quase todas – Olha, tentem me entender, nós dois jogamos em uma mesma posição em times completamente opostos.
— A família de vocês basicamente se odeia também. – Gina acrescentou.
— Minha mãe não é a maior fã da sua se quer saber... – retruquei instantaneamente no instante em que meu mecanismo de defesa em relação a Rose pareceu piscar em alerta.
— FOCO, vocês dois. – George me parou, colocando a mão no meu ombro – Olha cara, eu entendo. Entendo que você não quer colocá-la nessa situação.
— Não, você não entende. Estamos competindo pela mesma bolsa. – resmunguei – Ela também quer ir embora.
— Você não sabe se ela ainda quer. – ele falou, chamando um pouco de razão.
— Ou para onde ela quer. – Georgina completou com uma piscadela – Talvez tenham interesse em ir para lugares diferentes.
— O que não facilita nenhum pouco a minha situação. Ou estou tomando sua vaga, ou estou voando para milhares de quilômetros de distância.
— Não seja tão exagerado.
— Não sabia que você conseguia ficar tão irreconhecível apaixonado. Estou quase torcendo para que os dois consigam posições para que você não conviva mais com a rainha da miséria, afinal de contas, você está parecendo um idiota. – ela revirou os olhos ao perceber a forma como eu a encarava – O que? Não estou falando nenhuma mentira. Você costumava ser mais divertido!

Ela não media as palavras, e eu sabia que ela realmente queria dizer cada uma das letras das frases de nossas conversas, assim como sabia que, se não fosse por Rose, talvez eu e ela ainda estivéssemos nos enroscando em qualquer lugar que fosse possível, em qualquer momento que conseguíssemos encontrar. Sempre tivemos um acordo de amizade com benefícios, acordo esse que favorecia todas as áreas de nossas vidas e que fazia com que tudo parecesse incrivelmente turbulento entre nós agora. Não que ela tivesse algum sentimento romântico por mim, eu tinha plena convicção que ela não tinha, e que eu nunca os tive por ela, mas aquele ar de possessão e de perda vinha se estampando com frequência em seu rosto pálido desde que a cara de Rosie parecia ter acabado de ser gravada com o maior sorriso que eu já havia visto em anos. Georgina tinha alguém, tinha vários deles, pessoas com quem ela gostava de perder tempo e se divertir, e eu sabia que algo havia mudado para ela já há algum tempo e que ela não assumia o relacionamento por status, por bobagens das quais eu não fazia a menor questão, portanto, não me envolvia quando o assunto aparecia. O que não vinha acontecendo já há algum tempo, desde que deixei claro para ela que sangue, casa ou família não eram motivos para não se permitir, e claro, logo em seguida, contei que havia beijado Rose Weasley.

— Você sabe que precisa contar a ela, antes que outra pessoa conte.
— George, eu já pensei nisso, eu sei disso. Mas o que você quer que eu faça?
— Encontre cinco minutos entre o tempo em que estão babando um no outro e jogue a verdade na cara dela, ela precisa de um toque de realidade. – Gina resmungou, e eu a olhei torto – O que é? E não é verdade? Você também precisa!
— Estou pensando em abrir mão da bolsa, tirar um ano de folga.
— VOCÊ PERDEU A CABEÇA? – George gritou – Você perdeu completamente o juízo, por Merlin, tem certeza que aquela Weasley não lhe deu nenhuma poção de amor, dizem que ela é muito boa, quer dizer... você diz né? Você não deve ser levado em consideração.
— Qual o problema? Não preciso da bolsa. Ou do dinheiro. – dei de ombros – Sempre quis jogar Quadribol profissionalmente, mas não é como se isso fosse fechar todas as minhas portas, afinal de contas, sou um dos melhores apanhadores que essa escola já viu...
— Quando você não deixa sua namorada pegar o pomo. – ela resmungou mais uma vez.
— Gina tem um ponto. – George se pronunciou – E eu não costumo concordar com ela, o que é bem assustador e pode te auxiliar a medir o quanto de juízo você já perdeu. Desde que essa garota entrou na sua vida você está irreconhecível, você jamais abriria mão do Quadribol!

Eu sabia que ele tinha razão, mas talvez ele não soubesse que algo havia mudado em mim de uma forma irreparável. Se soubesse, não teria dúvidas de que eu abriria mão de qualquer coisa por uma vida completa, por uma manhã de domingo preguiçosa como aquela que eu havia acabado de ter – só que por uma vida toda. Eu queria desistir, eu queria desistir e dizer para ela que na maior das minhas loucuras ela havia se tornado minha única certeza, e que eu não queria jogar, eu não queria ver o mundo se isso significava perder um segundo ao lado dela. Que eu abriria mão da vaga, da distância e compraria uma casa em algum lugar de Londres para que pudéssemos ficar mais perto um do outro, se ela também concordasse em abrir mão daquilo que, mesmo sem querer, estava nos separando.
Mas eu não o fazia. Eu permanecia na minha área de sanidade, escondido em minha zona de conforto, onde ela via somente o necessário para continuar permitindo que eu fizesse parte da sua vida, onde eu a passava a segurança necessária para mais um dia, e não para uma vida toda.

— Treine como um homem, porque acho que Rose Weasley cortou seu brinquedo e anda carregando ele com ela para a biblioteca. – Gina deu um beijo em meu rosto – Se o nosso time perder, eu farei questão de que você não tenha mais brinquedo algum para o divertimento do proletariado.
— Obrigada Gina. – respondi com um aceno, enquanto eu e George caminhávamos silenciosos para o vestiário – Você me entende, não entende?
— Não, não entendo. Tem quanto tempo isso, Scorpius? Um mês? Tem um mês que você está com a garota e vocês nem passam tanto tempo juntos assim, quer dizer... Ela está sempre cercada de pessoas, sempre cheia de coisas para fazer e você sempre com a gente. Vocês são tão diferentes, e eu não vejo como uma situação dessas pode funcionar e...
— Eu não preciso de tempo ou razão.
— Não me diga que precisa dela. – ele revirou os olhos – Onde está você e o que fizeram com o meu melhor amigo? Olha, eu sempre soube... Sempre soube que vocês dois iriam ceder um ao outro em algum ponto. Tinha algo ali, sim. Mas é isso. E os trouxas chamam isso de química, não amor.

Lutei contra o impulso de explicar para ele que a meu ver, química era apenas o combustível para o amor, mas não valia a pena. Não valia a pena tentar fazer com que meu melhor amigo entendesse que ele não estava me perdendo porque eu não gastava mais todo o meu tempo em nossos jogos, em nossas festas, ou mesmo fumando mandrágora na beira do lago negro. Não valia a pena porque ele me conhecia o suficiente para saber que o que ele dissesse não iria mudar nada para mim, e eu o conhecia o suficiente para saber que nenhuma das minhas explicações soaria plausível para ele para que eu tomasse tais decisões e, por Merlin, não pareciam plausíveis a mim!
É só que... Quando eu olhava para ela, quando eu olhava para ela, fosse na biblioteca ou na sala de aula, ou mesmo sentada na arquibancada com um rosto enfiado em um livro grosso – e provavelmente fedendo a mofo – eu sabia que era ela.

O que eu não sabia era se o meu futuro poderia esperar por ela, ou se ela teria que esperar pelo meu futuro, e isso, isso me matava todos os dias.


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