Daylight escrita por Boo


Capítulo 3
Chapter Three




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This is our last night, but it’s late and I’m trying not to sleep.
Cause I know when I wake, I will have to slip away.

 

Aquela sensação no meu peito parecia não passar nunca mais e eu não sabia se era alegria ou agonia, isso estava me tirando do sério – junto à todas as outras coisas que eu não conseguia controlar. De fato, finalmente havia acabado. E ao mesmo tempo, infelizmente havia acabado. Alguma coisa no meu peito parecia fora do lugar, um tanto quanto desconcertada, e mesmo que minha vontade fosse de me sentir completa e realizada aquela vozinha no fundo da minha cabeça continuava rindo maldosamente e me lembrando que era impossível. Era o último dia de aula, e mesmo que aquele quadro enorme já tivesse todos os “x” necessários marcando os dias faltantes para que estivéssemos finalmente nos formando, mesmo que seu brilho quase cego e pulsante me lembrasse que eu estava me formando após longos e cansativos sete anos de educação mágica, nada ali, nem mesmo o barulho ensurdecedor dos meus companheiros de ano, parecia capaz de me animar.
Eu realmente gostaria de conseguir ser uma das alunas que estariam na frente fazendo coral de “dez, nove...” em contagem regressiva, sorrindo como se aquele fosse de fato o dia mais feliz da minha vida, queria jogar meu cachecol para o alto e vê-lo mudar magicamente de cor para um negro com um “formada” em escrita dourada, porém algo ali parecia errado, incompleto, incômodo.
Foi mais por instinto que me peguei vasculhando o pátio e procurando por ele, com sua gravata em um nó mal feito e o cachecol solto no pescoço. Pude ver que ele parecia absurdamente sorridente e feliz – e porque não estaria? Parecia absolutamente empolgado, tagarelando sem parar sobre algo que já era automaticamente interessante para mim simplesmente por ter saído de sua boca. Meu coração deu um salto e minha barriga revirou, me lembrando que ultimamente haviam se tornado o habitat de várias borboletas mal-educadas. Sem perceber bati com o pé no chão e resmunguei. Por quê?

— Juro que eu queria entender, mas parece que você está caminhando para a forca. – Albus sussurrou no meu ouvido – A gente tá formando! Tchau castelo mofado, tchau biblioteca fedorenta, tchau masmorras...
— Tchau Scorpius... – suspirei, e, quando me dei por mim, minha mão já estava tapando a boca.
— Você fala como se fosse uma coisa ruim... – Alb deu de ombros – Pera. Você realmente falou como se fosse algo ruim. Rose?
— Não quero falar disso... – desviei os olhos dos olhos verdes dele e dei um passo para frente, tentando me afastar para evitar maiores constrangimentos.
— Como assim você não quer falar disso? Eu sou seu melhor amigo!
— E isso me obriga a falar desde quando? – olhei para ele desafiadora.
— Raciocine, estamos nos formando e você parece que está indo em direção à sua própria morte, parece devastada e eu quero muito acreditar que não é por deixar para trás a pessoa que você mais detesta na escola, o que está acontecendo?
— Detestava. – corrigi, mordendo o lábio e o procurando na multidão novamente, sem sucesso.
— Rose, você é esperta. Você não iria cair no papo dele, não você. Todo mundo sabe que ele e a Georgina...
— Tal pai, tal filho. – Hugo se aproximou já se intrometendo no assunto – Estamos falando de Scorpius Malfoy, certo? O cara é um babaca, mas aquela Georgina é a menina mais gostosa da escola...
— Cala a boca! – sem que eu percebesse dei um tapa na cara de Hugo e saí desgovernada no meio das pessoas.
— QUAL É O SEU PROBLEMA???

Como o bom irmão mais novo babaca que Hugo era, veio correndo e gritando comigo em meio à multidão de pessoas, tendo Albus em seus calcanhares parecendo tentar contê-lo. Enquanto ambos vinham atrás de mim como se eu fosse uma louca, tudo o que eu queria era sair dali, não queria fazer parte daquela comemoração – o que eu estava comemorando afinal de contas? Queria fazer parte daquilo na mesma proporção que queria manter tradições familiares milenares e sem sentido, e se pelo menos James estivesse aqui, bem, James me entenderia. James gostava dele. Albus também, afinal de contas os dois conversavam, eram da mesma casa, por Merlin! Não fazia sentido que ele falasse comigo daquela forma!

— Você está chorando? – a voz rouca e quase tranquilizante soou, ao mesmo tempo em que senti uma mão segurar o meu braço no meio das pessoas. – Rose?
— O QUE VOCÊ FEZ COM A MINHA IRMÃ? – Hugo chegou atrás de mim o empurrando para trás – Porque minha irmã está chorando??
— PORQUE VOCÊ É UM IMBECIL! – resmunguei entre dentes – Eu saí de perto de você, se você não conseguiu entender vou falar claramente: eu não quero ficar perto de você Hugo. Ou de você Albus. – Albus me encarava, olhando de mim para Scorpius
— Scorpius? – Albus o chamou, o tom de voz mais sério do que de costume.
— Eu gostaria que você calasse a boca, Albus. – retruquei, o encarando feio.
— Scorpius? – ele insistiu.
— Não era pra ser assim... – ele resmungou incapaz de me olhar nos olhos.
— Eu não sei o que está acontecendo entre vocês, ou desde quando Rose, mas sei que não é o mais ideal. E bem, não só por vocês serem quem são, mas por toda a situação em que vocês se encontram. – e então olhou nos olhos de Scorpius – E cara, por mais que eu goste de você e queira acreditar que essa não é só mais uma das suas atitudes irresponsáveis e inconsequentes para conseguir o que você quer, acho que já passou da hora de contar a ela.
— Contar o que? – resmunguei, tentando manter a calma para não socar Albus também.
— Ele está concorrendo à mesma vaga que você Rose. Vocês dois estão concorrendo para o American Red Sox.

As pessoas costumam dizer que alguns silêncios falam mais que palavras e foi exatamente o que aconteceu neste caso. Eu sabia que era verdade, mesmo que ele não afirmasse.  Mesmo vendo que ele estava paralisado e parecia incapaz de se pronunciar para me dar a certeza que eu tanto precisava naquele momento. Eu sentia as lágrimas inundando meus olhos e desesperadas para escorrer pelo meu rosto, ou a mão firme de Albus em meu ombro me desse apoio, mas algo ali dentro de mim justificava tudo aquilo, justificava porque eu ainda queria acreditar que não fora aquele o motivo. Não foi por uma vaga, uma maldita vaga que ele sequer precisava! Ele não era o tipo de pessoa que usava outra para conseguir o que queria, certo? Quer dizer, pelo menos não comigo. Minha mente acelerava, passando por vários pensamentos sem conexão alguma e eu podia ouvi-lo dizer que era um absurdo que tivéssemos que carregar essas visões distorcidas de família que aprendemos a aceitar... Não fazia sentido.

— No começo... – sua voz falhou – No começo, talvez. Mas... Rose, eu não te conheci por interesse e eu não gostaria que você pensasse isso de mim.
— Eu achei que fosse recíproco, achei que...
— E é. – ele retrucou – No começo, eu percebi que você não era a pessoa que eu imaginava, e de uma pessoa detestável você começou gradativamente a se tornar interessante, interessante ao ponto onde eu optei por fazer escolhas.
— Como escolher mentir pra mim por todo esse tempo?
— Não menti para você. – ele me olhou – Eu nunca menti para você.
— Ora por favor! – eu ri nervosa – Não venha com o clichê de que você simplesmente não quis falar sobre isso...
— Começamos a nos conhecer melhor e eu fiquei sabendo da bolsa. Que você era a pessoa contra quem eu estava concorrendo quando todos aqueles olheiros vieram ao campo. Eu também queria a bolsa. E não é o que parece, mas eu não queria que você ficasse sabendo assim. É por essas e outras que às vezes, muitas vezes, eu questionei até onde isso poderia ir, ou se realmente valia a pena. Sua família interfere demais.

E então ele me deu as costas. Desapareceu no mundo de pessoas caminhando, saltitando e comemorando sem sequer olhar para trás. Enquanto ele caminhava, um filme se passava em minha mente, um filme ilustrado com nossas gargalhadas, nossos sorrisos, nossos toques, todas as palavras e todos os silêncios. Tudo o que eu quis e tudo que eu nunca esperei querer, somados àquele aperto no peito de vê-lo ir embora, caminhar para longe de mim sem que eu pudesse fazer alguma coisa. E mesmo que naquele momento eu sentisse muita raiva, eu não podia evitar pensar que na verdade ele não estava de todo errado, afinal de contas eu não havia dito que eu estava concorrendo, ou mesmo que era uma das finalistas – na realidade eu não tinha sequer esperança de passar, então porque cobrar dele um retorno que não tinha vindo nem de mim? E o que éramos afinal para exigir uma coisa, ou outra, um do outro? A única coisa que eu queria exigir dele neste momento é que me pegasse nos braços, segurasse meu rosto com ambas às mãos e beijasse minha boca lentamente, para que eu pudesse sentir seus lábios contra os meus e a pressão dos nossos corpos se movendo lentamente um contra o outro.
Ao contrário disso, eu tinha que me contentar com o barulho de contagem regressiva ao fundo, enquanto reprimia minhas lágrimas e o via pular de alegria com os amigos – como se nada tivesse acontecido. Enquanto o via comemorar o final de uma etapa, onde me incluía, com esperanças de iniciar o mais rápido possível uma em que eu não teria como ser presente.


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