Rafael acabou adormecendo depois que o fiz tomar o remédio e um pouco de água. Desse jeito ele parece um anjo com a asa quebrada. Mas do que você está falando Catherine? É o Rafael.

Estou limpando a cozinha quando ouço o som de salto agulha ressoar pela casa em silêncio. Enxugo as mãos e vou para a sala onde se encontra uma menina jogando a bolsa de grife vermelha no sofá e se sentando no sofá cruzando as pernas.

—Oi? – estou confusa. Quem pensa que ela é?

—Ah, você deve ser a empregada nova dele – suspira – pode pegar pra mim um copo d’agua? Aqui pode até estar friozinho mas está um caos o tempo de São Paulo.

—Qual seu nome?

—Por que ousa falar comigo? As empregadas não podem falar com os seus patrões criança – revira os olhos. Sinceramente, estou percebendo que essa menina não é legal e se ela não parar de achar que é mais alguma coisa que uma merda, faço-a voltar pro seu lugar de origem.

—Desculpa, mas que eu saiba meu patrão é o Rafael e...

—Aliás, por que ele está dormindo? Ele que me chamou pra cá...

—Está indisponível no momento e preciso que você vá embora – tô tentando ser educada, ao possível – Por favor.

—Pode deixar, eu cuido dele. Sempre fiz isso em todas as maneiras que você imaginar. Aliás, você que tem que ir, ninguém te chamou aqui. – bate as unhas de cachorra no vidro – AI CREDO!

—O que foi?

—Ele está vomitando? – a guria faz cara de nojo.

—Você não imagina como... – acho que ela para pra pensar e depois me analisa dos pés a cabeça.

—Esse Rafael tem cada jeito peculiar hein... Cada vadia que ele arruma, ai, ai. Bom já vou indo, e cuidado pra você não ser denunciada por abuso de gente inconsciente.

—O que você falou? – ela está me provocando, já saquei, mas quero ouvi-la falar de novo.

—Ah sabe, ele está dormindo e você cuidando dele.... – chego mais perto do seu rosto – Como disse, esse Rafael arruma cada uma.

—Não sou uma vadia que ele arrumou, como você.

—Cuidado com a linguinha posso fazer você ser demitida, sabe ele me valoriza muito.

—Como você se valoriza? Acha que eu não sei que você veio fazer sexo com ele? Vê se cresce, se ele te valoriza como você valoriza sua própria pessoa eu sinto pena. – Ela tenta me bater mas seguro sua mão – nem tente, você sabe onde fica a porta.

A mesma pega a bolsa e sai desfilando. Sinceramente, com mais quantas eu vou ter que lidar? Olho para Rafael que continua dormindo imóvel, volto para o que estava fazendo, avisando para Chris e Vivian que ia chegar tarde em casa.

***

—Boa noite Bela Adormecida – sento ao seu lado no sofá, graças ele acordou e um pouco melhor – Então, sei que o jantar que planejávamos não era nessa situação, mas pra mim tudo bem. A sopa está pronta desde de tarde, mas você dormiu ela inteira e já vai dar 21:00. Me concede jantar com você? – sorrio, observando sua expressão logo após, sorrindo.

—Claro que pode, mas depois você tem que ir embora. Sabe, você tem uma vida além de mim e dessa casa.

—Ah, qual é Rafael! A minha outra vida além dessa é deitar no chão e ficar assistindo netflix com dois mortos-vivos.

—Mortos-vivos?

—Vivian e Christian – sorrio.

—Ok então, vamos ver o que se tem para o cardápio... – ele tenta se levantar mais faz uma careta.

—Não, você fica aqui. Tem que repousar, descansar, vou pegar os pratos e tal e trago pra cá, comemos no tapete.

Nem espero ele responder e saio andando, pego dois pratos fundos e coloco a refeição, dois copos com água, talheres e papel descartável, ponho em uma bandejo e volto para a sala. Coloco na mesa de centro e o ajudo a sentar no chão, já que está muito fraco, sentando ao seu lado.

—Quer ajuda com a comida?

—Eu ainda sei comer sozinho Catherine – ele é grosso, não gosta de ser ajudado. Ugh.

—Não está mais aqui quem falou. - levanto as mãos e começo a comer, ele faz o mesmo.

Terminamos e ele não deu uma palavra sequer, nem me olhou nos olhos, apenas quando eu não estava concentrada nele.

Qual o problema desse menino? É difícil ser educado e legal? Que saco. Me levanto recolhendo a louça e indo para a pia lava-las.

Começo a pensar nos meus pais, quando eram vivos. Eu e meu pai adorávamos arco e flecha. Ele dizia que eu era uma ótima arqueira e se vivêssemos em um livro ou filme de ficção, eu seria a menina que não errava um e salvava a vida de todos.

Estou rindo sozinha lembrando do dia que quase acertei a flecha no rosto da minha mãe quando sinto uma mão na minha cintura. Rapidamente com a faca que estava na minha mão, me viro apontando para quem quer que fosse.

—Calma, calma pelo amor de Deus abaixa essa faca Catherine – ele assustado se afasta sorrindo.

—Vai se ferrar, que susto você me deu menino. – Sorrio, depois de recuperar fôlego.

—Do que você estava rindo?

—Lembranças...

Rafael vem se aproximando mais de mim, que estou encostada na bancada da pia. Seu rosto está tão próximo do meu que me pergunto se ele não consegue ouvir as batidas do meu coração aceleradas na velocidade de um avião.

—O que você está fazendo? – pergunto baixinho.

—O que você acha? – ele morde os lábios e quando ia me beijar, desvio meu corpo andando rápido para a sala. Espera aí, como ele se levantou?

—Desculpa Cath...

—Não... Agora não Rafa, eu... eu preciso de ar. – me viro para sair da casa mas ele segura meu braço – Como diabos você melhora tão rápido?

—Tá tudo doendo e parece que meu corpo vai entrar em combustão, mas isso fica pra outra hora. Fica vai, por favor.

—Não me beije, não... não confunda as coisas Rafael! – ele tem que confirmar isso, se não vai ser impossível.

—Eu não vou.

—Promete?

—Não, eu nunca prometo algo que eu sei que posso desfazer, mas por hora não vou tentar nada. – olho nos seus olhos, eles suplicam.

—Tudo bem – relaxo mais – eu escolho filme que vamos assistir, e você vai ficar deitado no outro sofá.

—O que quiser madame. – mas esse menino é vagabundo.