Já estamos na sexta feira e estou terminando meu serviço. Na segunda-feira depois do ocorrido com Rafael, ele me fez jurar que não ia falar isso com ninguém, nem comentar nada. Mesmo que eu não concorde, ele mandou e eu tenho que fazer. Pela primeira vez, eu vi Rafael sem a máscara que eu digo que ele usa, sua verdadeira personalidade. Machucado e destruído, assim como eu.

Assim como o mesmo ficou estranho comigo, sem me olhar nos olhos e frases inteiras, não forcei a barra.

São 17:45 e estou pronta pra ir embora, como todos os dias vou me despedir dele, que está deitado no sofá assistindo televisão.

—Já estou indo embora, até segunda. – Pula rapidamente do sofá e puxa meu braço, me obrigando a me virar.

—Desculpa?!

—Você está me perguntando ou afirmando?

—Os dois, não sei. – Rafael Roche está sem jeito com uma menina? Mas que milagre! Sorrio de leve.

—Tudo bem, não tem que se desculpar.

—Janta amanhã comigo? – fico pasma. Uma das coisas que percebi nesses dias é que Rafael é tratado como uma celebridade. Além de bonito, charmoso e educado (quando quer), qualquer uma se arrastaria para vir na casa dele. Quando há festas, ele só deixa entrar quem convida, se tentar entrar de penetra fica mal falado. As meninas que ele acaba transando se acham as sortudas, e ele não fica com qualquer uma.  Então, como ficaria se ele sair com a empregada?

—Jantar com você?

—Sim, qual o problema?

—Seus amigos, as pessoas que vivem vindo aqui. Eles sabem que eu sou sua empregada.

—Que se foda eles. A gente pode jantar aqui, se você preferir, mas eu te busco. – ele é meu chefe ora bolas, por que não né? Até porque, duvido que ele queira alguma coisa comigo. Principalmente quando souber que sou virgem.

—Tudo bem, mas você tem que me prometer que não vai queimar a casa tentando cozinhar! – brinco, só pra ver se ele solta o ar que está prendendo.

—Eu sei cozinhar Catherine. – ele sorri, primeira vez nessa semana. Seu sorriso é tão lindo, olhos fecham formando pequenas dobradiças nas beiradas, dentes perfeitamente um do lado do outro alinhados. Bem branquinhos. E seu hálito de sempre, menta. Rafael tem dois piercings, um no lábio e na sobrancelha, alargador pequeno, nada extravagante, mas nele, original. Sobre tatuagens, ele tem uma fênix no lado do braço esquerdo, porém nas costas e um número em romano e um pouco acima do peito números romano XCIV.

—Até amanhã, me busca 19:00. – pisco pra ele brincando e saio da casa.

***

Apoiada com a cabeça na cama de Vivian, sorrindo que nem uma idiota.

—Boas notícias! – o médico responsável por ela entra com tudo no quarto, eu e Chris levantamos apreensivos.

—O que foi doutor? – começo.

—Durante essas duas semanas, Vivian tem sido uma guerreira! Acabei de receber os resultados dos exames e seu organismo está saudável novamente. Podemos tira-la do coma! – ele sorri, praticamente rindo.

Olho para Chris, na qual os olhos já brilham. Juro, se pudesse medir a minha felicidade seria infinita, meu sorriso não cabe no rosto. Pulo em Chris, o abraçando-o lagrimando.

—Qu-quando ela vai acordar? – Chris pergunta me deixando no chão.

—Começamos o processo hoje, no começo da tarde. Sei que Catherine vem todas as noites aqui e queríamos dar a notícia com vocês juntos. Até a manhã ela já está acordada. Ficará em observação por dois dias e se tudo ocorrer bem, voltará logo pra casa. E lembrando, ficará com a cicatriz da facada. Aliás, sabem o que aconteceu naquele dia? Fizeram um B.O?

—Na verdade não, queríamos esperar ela acordar para saber o que realmente aconteceu.

O médico ainda dá algumas informações que devemos saber sobre Vivian, e como precisamos pegar o idiota que a esfaqueou.

Já são 03:30 da manhã, Chris está deitado no sofá com metade do corpo pra fora, dormindo como uma pedra, eu estou encolhida na poltrona que fica ao lado de Vivian. Estou finalmente quase pegando no sono quando Vivian começa a se mexer e aperta minha mão. Me sobressalto e ela abre os olhos.

—E aí Londrina? – ela sorri se ajeitando na cama – O que aconteceu?

Estou sem palavras e chorando já, talvez eu seja muito sentimental e chore bastante, mas fiquei com muito medo de perde-la. Sem aguentar nem mais um segundo lhe abraço forte, ignorando os fios e o que for que esteja conectado a ela.

—Obrigado. – ela sussurra no meu ouvido.

—Sempre – sorrio – tenho que te contar tanta coisa Vivian.

—Deixa eu primeiro falar com aquele moleque ali. – ela aponta com a cabeça pra ele, e o chamo.

—Chris! – sacudo-o e ele pula de onde estava, seu olhar para Vivian.

—Vivian - ele corre indo abraça-la.

—Vou chamar a enfermeira. – aviso.

Mando mensagem para Rafael, sim eu peguei o número dele no terceiro dia de trabalho para emergências.

Catherine Earnshaw

Ela acordou Rafa!

Não demora 5 minutos e ele me responde de volta.

Rafael Roche

Que bom menina! Ainda está no hospital cm ela?

Agora pronto, ele quer me criticar porque estou no hospital enquanto ele sim deveria estar dormindo. Mas o que eu estou falando, Rafael é uma coruja.

Catherine Earnshaw

Não ia conseguir sair daqui nenhum momento, e você? Hoje não é dia de dar festa, por que ainda está acordado?

Rafael Roche

Um par de belas pernas não sai da minha cabeça sabe mina?

Reviro os olhos, deve ser mais uma menina que ele viu na rua e se encantou. Pelos peitos é claro.

Catherine Earnshaw

Tenho que ir, até depois.

Rafael Roche

Até.

A enfermeira chega e começa a fazer os procedimentos padrões. Agora que eu me dei conta do que fiz, peguei o celular e falei com Rafael, sobre minha vida pessoal. O quê que eu acabei de fazer meu Deus?

Ele

Com certeza eu não esperava que Catherine fizesse isso. Estava até tarde jogando GTA e perdi a hora. Mesmo que não esperasse gostei que ela me falasse.

Me referi a ela sobre o par de belas pernas, mas não estava pensando nisso. Umas das coisas que mais gosto em Catherine, mesmo que tenhamos vivido pouco tempo juntos, é a inocência, de certa forma, da parte dela. Aquele rosto meio rosado com aqueles olhos, combinado com cabelo excitaria qualquer um, especialmente a mim.

Mas desde do dia que ela me falou que não quer dizer que valho o chão que piso só porque tenho muita grana, percebi que essa garota é diferente. Ela não cede fácil. E com certeza é uma dessas que devo me manter longe, porém é difícil. Não posso demiti-la, nem nada do gênero. Tenho que aumentar a altura do meu muro, mas como irei fazer isso se a convidei para jantar?

E desde de quando chamo alguém para jantar? Geralmente é “Vira”, “Deita”, “De quatro” o “Vai embora”.

Não sou um cachorrinho para ela domar, se é o que pensa.