Uma bela coincidência escrita por irritabiliz0u


Capítulo 5
5 - Ele




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/688273/chapter/5

Com certeza eu não esperava voltar mais cedo do trabalho e encontrar com aquela loira. Ela era gostosa e meio bonitinha, mas gemia muito alto e era estranho, e antes que alguém me julgue, foi ela que pediu uma carona pra casa e tirou a blusa dentro do carro.

Agi normal com ela, assim como agiria com qualquer outra pessoa que eu acabei de fazer sexo, mandaria embora. Mas aí a minha nova empregada me enfrentou. Sim, fui bem paciente e não a demiti.

Catherine tem olhos exuberantes, ao mesmo tempo que você se encanta também sente medo, se perde, como se houvesse algo morto dentro da sua alma mas ela esconde em várias camadas. Seu corpo e seu rosto, cabelos, unhas, são todos perfeitamente feitos por Deus, ou o que seja que tenha feito tal plenitude.

Antes que você me pergunte, sim, eu a observei atentamente enquanto me pedia emprego, me repreendia e quando discutíamos o salário. O valor que estipulei é o mais alto entre as empregadas que tive, e não pense que foi pena, ela que tem belas pernas.

Agora vou ter que aguentar até quarta pra vê-la de novo. O que você está fazendo Rafael? Nada de se apegar, logo ela irá se demitir mesmo, não vai aguentar meu temperamento. Você não pode se apegar a ninguém, lembre-se disso, quando você se apega alguém meu caro, essa pessoa pode te destruir. E eu não posso ser destruído novamente. Pego o telefone e começo a combinar uma festa na terça à noite.

Ela

Já estamos na segunda semana desde de que Vivian foi dada em estado de coma induzido, mantendo o hábito de visita-la todos os dias. Chris está praticamente morando lá, e hoje é a última segunda feira do mês.

Sobre o trabalho, eu consigo ignorar os olhares de Rafael nos meus seios, na minha bunda, na minha pessoa em si. Ele é divertido e construímos meio que uma relação engraçada. Só é ruim mesmo quando ele dá festa, que é quase sempre, porque fica muita sujeira. Copos, vômitos, vidros quebrados, não sei como ele aguenta. Nem como o membro sexual dele suporta, uma mulher diferente por dia, toda hora. Mas acho que com o tempo você acaba se acostumando.

Nesse momento eu estou recolhendo os copos pela área da piscina, na grama e em todos os cantos que você imaginar, quando Rafael aparece só com uma calça de moletom na porta que dá acesso a cozinha.

—Bom dia bela adormecida – falo enquanto ele faz careta por causa do sol.

—Cath – agora deu de ficar me chamando assim – Que horas são?

—Quase 13:00 da tarde, acho que foi boa a noite não é?

—Você já almoçou? – me pergunta e paro ficando em dúvida.

—Não, mas o almoço está no fogão. Strogonoff de frango com azeitonas verdes e arroz. Espero que esteja bom. – amarro o saco preto de 5L e coloco na caçamba de lixo que fica na lateral da casa e volto, Rafael ainda está lá me observando.

—Vem comer comigo. Depois você continua isso.

—Não, não precisa.

—Eu tô mandando. – sorrio.

—E eu tô dizendo que não vou comer. Posso fazer companhia, mas não vou comer.

—Você não tem trabalho não?

—De folga, senta logo aqui comigo menina. – entra na cozinha e serve dois pratos, insistindo ele me dá e sou obrigada a começar a comer.

Algo que eu percebi nesse menino, é que quando há várias pessoas, importantes ou não, ele cria uma personalidade totalmente diferente. É mais duro, rígido e chato, se gaba com o dinheiro e a casa que possui. E muitos falam de seus pais, o que ele esbanja novamente. Já quando ele está sozinho é divertido e meio gentil (meio porque ele é muito temperamental) e ri. Com outras pessoas ele não ri.

Estou perdida, observando-o comer antenado com a mistura em seu prato, ele parece ser inofensivo. Seu cílios são grande e curvados de cor castanha que combinam de forma magnifica com as duas pedras verdes em seus olhos. Seu cabelo é um estilo Zayn Malik 2016 porem um pouco mais curto e negro com alguns fios castanhos, com o vento que dá na janela aberta eles balançam. Sou tirada do transe quando ele me questiona, pela primeira vez.

—Você tem família? Amigos? – não esperava que ele perguntasse algo pessoal.

—Só dois amigos, uma está em coma e o outro, o Chris, cuida dela quando venho trabalhar. – falo a verdade. Se tentar esconder quem eu sou ele vai acabar descobrindo.

—E sua família? – ele insiste. Não estou pronta ainda para falar nisso.

—Longa história... E os seus pais? Tem irmãos? – direciono o assunto para ele.

—Meus pais são donos de uma das grandes empresas de São Paulo. Tenho um irmão e uma irmã, Clara e Victor. Eles moram na Austrália com meus pais. – Agora eu entendi tudo, ele é o riquinho famoso por causa disso. Deve gastar dinheiro pra tudo, até no que é inútil.

—E como você se sente sobre isso? – termino de comer e começo a lavar a louça.

—Fútil. Não consigo ter amigos de verdade, eles estão mais interessados em dinheiro do que eu.

—Você nunca namorou? – eu nunca namorei, na verdade já mas nunca fui pra etapa seguinte, sexo.

—Já, uma vez. Eu tinha 17 anos, mas aí aconteceu uma coisa e ela não está mais na minha vida.

Ele joga o prato na pia e sobe para o quarto. Me assustei com o barulho, claro. Mas principalmente com a sua reação, ele estava bem e só foi tocar no assunto da ex-namorada que ficou irritado. O que foi que ela fez pra ele será?

Termino de lavar a louça e volto de onde eu estava. Seja o que for que tenha acontecido entre eles dois, ele não se sente bem parar falar assim como eu me sinto perante minha família.

Ele

Achei que já estivesse pronto para falar sobre Melanie sem surtar, mas não. Só foi tocar no assunto que envolvesse a única pessoa que realmente amei que não fosse minha irmã pra desmoronar.

Suas lembranças ainda correm na minha cabeça. No dia do acidente, o que aconteceu, como. Minha mente tinha bloqueado tudo mas elas estão voltando agora, por causa de Catherine.

Subo as escadas de forma dificultada e quando chego no meu quarto caio no chão. Deitado de peito pra cima, começo a me debater de olhos fechados e os flash vem sem pedir permissão.

“Não Rafa! Não faça isso”

“SOCORRO”

“Eu te amo Rafa”

“Eu também te amo”

Barulho de tiros e litros de sangue nas minhas mãos, choro desesperadamente até que a polícia chega e...

—Rafa! Rafa!

Meus olhos se abrem e na verdade é Catherine apoiando minha cabeça na sua perna e ofegante.

—Você está bem? O que aconteceu?

Ainda demora um tempo para eu me dar conta do que aconteceu. Em dois anos, depois de muitas terapias, psicólogos e psiquiatras, essa menina me fez lembrar da noite mais aterrorizante da minha vida. O que ela tem?

—E-estou bem, vou ficar. – ela sorri mais aliviada.

Não posso deixar por isso mesmo, ela me ajudou. Sabe-se lá o que poderia ter acontecido se eu soubesse ou lembrasse de tudo?

Duas horas depois, banho tomado e cabeça no lugar, reformulo o que aconteceu. Sempre construí um muro para ninguém visse as minhas feridas, o quanto estou arrebentado, e Catherine pulou esse muro. Era como se de um lado houvesse um reino perfeito mas além dessa muralha fosse só deserto. Seja o que for que tenhamos construído nesses 14 dias foi bom e verdadeiro. E já que ela foi a única pessoa que viu além desse muro, sinto que devo ajudar não só ela, pois como disse, aqueles seus olhos denunciam a alma, mas me ajudar também. Quem sabe não podemos ser até... amigos?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gente, se estiverem gostando e tal da histórias, apertem na estrelinha e comentem por favor, isso ajuda muito.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Uma bela coincidência" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.