Uma bela coincidência escrita por irritabiliz0u


Capítulo 33
32 - Ele




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—Rafa, me escuta. Catherine precisa de você. – A voz da minha irmã ressoa nos meus ouvidos, mas mal ouço. Estou tonto, tudo balança.

—Não.

—Ela precisa de você ao lado dela.

—A culpa foi minha.

—Não foi Rafael. Me escuta: Você está sujo, bêbado. Há meses que não toma um gole dessa merda. Agora, a menina que você ia pedir em casamento está no hospital e precisa de você!

—Eu perdi meu filho. A culpa foi minha. – Jogo a garrafa no chão, ouvindo o som do estraçalho do vidro e o piso ficando molhado de whisky.

—Mas o filho também era dela! A dor que vocês sentem são as mesmas. E caralho, meu piso! – Olho para minha irmã que suplica aos olhos que eu vá ao hospital mas ao mesmo tempo tenta me matar ao silencio por ter quebrado o álcool na sua casa. Devo ir? Catherine não vai querer me ver, eu sou um completa idiota.

—Vá para o banheiro, tome um bom banho, escove os dentes e vista uma das roupas que geralmente você deixa aqui no meu apartamento. Vou fazer algo para comer e assim depois vamos para o hospital. Faz quatro dias que ela foi resgatada e quer lhe ver Rafael.

Só consigo assentir com a cabeça e ir lentamente caminhando para o banheiro do apartamento de Alyssa. Sabe, ela nunca foi a menina comportada e direita, mas sempre foi a irmã e amiga radiante, leal e que nada deixava a abalar. Mas nos últimos dias pude perceber que não tem mais o brilho nos olhos por causa do idiota do meu pai que jogou na cara dela que somos adotados.

Ele estava tão bêbado no casamento que todos estavam perdendo a paciência, até a recém-casada do dia que tinha que colar as pontas soltas que Samuel deixava nos lugares que passava. E em determinado momento ele tentou assediar Alyssa que saía do banheiro, ela recusou é claro mas Samuel não deixou passar. A adrenalina e excitação corria nas veias e ele esbravejou na sua cara, alegando que eu e Alyssa fomos comprados, sim, tráfico, comércio ilegal, e se não tivessem se deliciado com nossa beleza tínhamos sido mandados para serial-killers, ainda que fossemos bebes inocentes.

Eu vi você crescer, cada ano ficando mais linda. Seu irmão desde pequeno me dava trabalho como se sempre soubesse que não fazia parte dessa família, mas você não. Alyssa se tornou uma criança de cabelos castanho mediano e olhos como se tivessem sido recheados de mel, a cor idêntica, distribuía sorrisos aonde passava. Vi você se tornar uma adolescente que adorava festas e garotos, mas era extremamente inteligente. Sua mãe envelhecia também, e toda noite se lamentava por não poder ter filhos sangue do seu sangue. Alyssa, vi você e suas amigas rebolarem de biquíni para lá e para cá, shortinhos e minissaias, você jamais percebeu como deixava cada homem excitado. Acho que seu irmão foi o único que nunca pensou em lhe jogar numa cama e fazer altas coisas. Olhe você agora, adulta, mas ainda inconsequente. Como pode querer desfilar com esse vestido por aí? — Alyssa gravou tudo com o celular escondido enquanto ele vomitava essas palavras nojentas.

—Eu soube que você jamais poderia ser realmente meu pai, sabe por que? Você é um velho nojento e asqueroso, feio e gordo. Suspeitei que minha mãe, Samuel, tivesse pulado a cerca e traído você, ah pobre homem, se você um dia encostar um dedo em mim ou em Catherine, acredite, eu te denuncio e faço você ser preso. Sádico sexual.

Ela termina. Dos quatro dias que Catherine esteve dormindo, todos eu passei aqui. Menos a noite passada. Eu perdi o controle e não conseguia mais escrever cartas para ela. Agora eu tenho que parar de ser um pouco filho da puta e ir ver minha futura mulher. Alyssa sempre foi apegada a Samuel mas ela me contou que sempre desconfiou. Ela me contou todos os detalhes daquele dia, que na hora do sequestro e os caras ficavam chamando a atenção das pessoas o ser humano que é minha irmã se escondeu no banheiro do quarto da faxineira.

Decido que é melhor parar de ficar relembrando coisas ruins desse jeito e ir me apressar par ver Catherine, sei que está impaciente.

Ela

—Me deixa um pouco sozinha. Por favor. – Peço novamente para Vivian, que insiste em dizer que deve ficar comigo.

—Coma, pelo menos.

—Eu... Eu não quero comer.

—Você tem que comer.

—Não tenho não.

—Tem sim, para se recuperar.

—Seguinte Vivian, minhas duas coxas estão enfaixadas. Perdi meu filho que eu nem sabia que carregava no ventre, e Rafael não aparece aqui. Como se não quisesse me ver. Então por favor, só me deixa um pouco sozinha.

Vivian assente com a cabeça entendendo e se retira.

Enfim, eu e a solidão estamos cara a cara. Dor e angustia estão disputando para quem quer acabar comigo primeiro. Pego o suporte do soro que se liga por um tubo transparente no meu braço, levanto e saio da cama. Meus pés batem no chão frio e meu corpo se arrepia, devagarinho vou até a janela e começo a observar as pessoas na rua agindo normalmente, como se fossem felizes da vida.

Não vou mais conseguir ser a mesma Catherine, a coisa que eu mais prezava proteger, mesmo que sem saber da sua existência, foi perdida. Talvez... Talvez se eu não tivesse provocado ninguém ele ainda estaria dentro de mim confortável, Rafael ainda ia querer me ver e eu não ia ficar tão desamparada e sem chão como estou agora.

As lágrimas silenciosamente rolam no meu rosto quando vejo um ponto preto no chão. Rafael. Reconheceria seus cabelos e roupa de longe. Alyssa para anormalmente ele, e como se fosse uma mãe, arruma mais o cabelo do irmão, ele voluntariamente empurra a mão dela para longe e ri nervoso, com as mãos nos bolsos, caminha até a entrada do hospital.

Não consigo ter uma reação até alguém bater na porta levemente, depois de eu concordar que pode entrar, a enfermeira simpaticamente aparece na porta:

—Tem alguém que quer lhe ver senhorita, posso deixar que entre? – Assinto com a cabeça desesperadamente e ela sai, murmúrios e murmúrios de pessoas na frente do quarto mas logo depois aparece Rafael Roche.

Ele

Estou cara a cara com ela. Catherine está com a típica roupa de hospital que parece um saco de batata, mas continua linda. Ela não está para lá de brilhante como no dia a dia, pois obviamente, hospital não é melhor ambiente nem o seu preferido. Mas ainda que menos atraente, para mim continua a mais deslumbrante do mundo. Consigo ver nitidamente as linhas curvilíneas do seu corpo, seus seios, os cabelos meio embaraçados mas sexy, os olhos pedindo para que eu chegue mais perto.

—Pode nos deixar sozinhos por favor? – Falo para Vivian, Chris, a enfermeira e Alyssa que apreensivos esperam por uma reação. Eles concordam e eu me meto dentro do quarto trancando-o na chave por dentro.

Assim que ficamos sozinhos no cubículo corro para seus braços, que me esperam abertos. Nunca tinha percebido o quão pequena fica quando desprotegida. Muitas vezes quando ela me ameaçava com a arma que guarda na bolsa eu me sentia inferior a ela, como se fosse totalmente submisso, porque eu sou. Ela começa a chorar no meu peito como se fosse seu mundo, sem forças e soluçando, derramo lagrimas silenciosas no topo da sua cabeça também. Não precisamos dizer do porquê de estarmos chorando. Nosso filho, a dor dela, como fui idiota de não salva-los.

—Desculpa por tudo.

—Não, não se desculpe por nada viu. – Seguro ela pelo rosto e com o dedão massageio suas têmporas observando o rosto inchado e vermelho.

—Vem, vamos para a cama.

—Você não pode deitar comigo Rafa.

—O quê? Quem disse? – Pego-a no colo mas ela se retrai com o toque dos meus dedos, logo com a bata erguida e as pernas a mostra vejo as duas cozas enfaixadas.

—Me põe no chão por favor. – Catherine não me olha nos olhos e vai para o canto do quarto.

—O que foi isso?

—Nada Rafa, você não vai querer ver.

—Eu quero.

—Eu fui esfaqueada lá ok? O cara deixou cicatriz nas minhas coxas, na parte interna.

—E você acha que eu não quero ver por que?

—Porque é nojento, feio, esquisito, nada sexy como você diz. – Então Catherine está insinuando que eu... eu não vou mais quere-la?

—Cath... – Toco no seu ombro, já que a mesma se encontra de costas para mim.

—Não Rafa, homem nenhum vai me querer desse jeito. Desencana.

—Eu vou Catherine. Eu iria te querer de qualquer jeito, para disso. – Beijo seu ombro, depois seu pescoço, e posso ver que ela gosta pois se arrepia de qualquer jeito, mas logo ela se vira pra mim com lágrimas nos olhos.

—Acho que devemos dar um tempo.

—O quê? – fico imóvel e seus olhos derramam duas lagrimas ao mesmo tempo.

—Até eu melhorar e decidir o que vou querer fazer da minha vida, vamos dar um tempo.

—Catherine não.

—Sim Rafa, um último beijo de despedida...

—Qual o seu problema Catherine? Qual?

—Eu fui sequestrada, não sou a doce e amável Catherine que você amava e ainda por cima nunca me disse eu te amo com todas as palavras.

—Então é esse o problema? EU TE AMO. Pronto. Cara a cara. Isso nunca foi um problema. Se quiser eu grito para o hospital inteiro ouvir. Eu te amo, pra caralho. E é sim, nunca vai deixar de ser aquela Catherine.

—Vamos conhecer pessoas novas, se divertir, se for pra ser será Rafa. – Sei mais nem menos ela sela nossos lábios chorando e eu também. Impossível isso. Ela não pode.

—Por favor não Cath.

—Vá embora Rafa. – Ela ainda pressiona os lábios contraídos para não chorar mais e eu sou obrigado a sair do quarto, mas não espero ninguém. Saio descontrolado do hospital.


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Notas finais do capítulo

HEEEY, comentem e favoritem please.



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