Uma bela coincidência escrita por irritabiliz0u


Capítulo 22
22 - Ela




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Já se passaram duas semanas desde que acordei do coma e Rafael não desgruda de mim querendo me manter toda hora na sua casa. Posso ver em seu olhar que ele tem medo que eu o culpe e vá embora, mas acho que até eu seria incapaz de fazer tal coisa e deixa-lo sozinho.

Quando entrei pela porta dessa casa nunca me imaginaria estar como estou agora com ele, não imaginava com ninguém pra falar real. Pensei que Rafael fosse o tipo de gente problemática e psicopata, mauricinho, mas estava enganada. Ele passou por poucas e boas mas continua com um bom coração, mesmo que ainda eu tenha medo que ele surte e deixe a mim.

—Tenho que ir pra casa Rafa. – Digo chegando ao seu quarto e o encontrando trocando de roupa. Ao tirar a antiga camisa vermelha noto os músculos de seu corpo se contraindo e é muito difícil não se distrair. Nesse mesmo momento me viro de costas e começo a gaguejar várias besteiras até ele pegar no meu ombro me deixando ao seu olhar.

—Tenho que sair, volto logo. – Seu maxilar está tenso e noto que algo não está normal pelo seu olhar.

—O que aconteceu Rafa?

—Nada Catherine, se quiser ir embora vá. Não fique aqui e não me ligue tentando me achar. – O quê? Estou confusa. Por que Rafael está falando essas coisas?

Depois de colocar uma camiseta branca e uma jaqueta preta, ele pega um capacete e desce as escadas eufórico, indo para a garagem. Quando vou atrás dele, saindo do susto e confusão, só consigo vê-lo partindo com a moto em alta velocidade em meio a escuridão.

Procuro meu celular pela casa e digito o número de Alyssa. Agradeço por nesse meio tempo que a conheci tenhamos nos tornado bem próximas. Na segunda chamada ela atende.

—Cath?

—Aly, Rafael acabou de sair com raiva, magoado, eu não sei defini-lo, de moto e foi muito estranho. O que aconteceu?

Ela xinga do outro lado da ligação e permanece em um longo silêncio, até que se proclama.

—Estou indo para aí. Não se mexe.

Ela desliga e eu, mesmo que esteja doida para sair perguntando a todos o que aconteceu e queira fazer alguma coisa, sento no sofá da sala e espero pacientemente tamborilando o pé, Alyssa.

***

—Melanie nunca esteve morta Cath. – Alyssa me olha com pena.

—Como não?

—Encontraram hoje pela manhã o covil dela revirado, quebrado, e bom, nada havia no caixão. Não era pra essa informação chegar a Rafael pois vi que ele voltou a sorrir com você.

Fico sem palavras e por parte, decepcionada. Não que eu queira ser uma vaca egoísta ou sei lá, mas eu me sentia feliz com Rafael mesmo que nada conosco tenha acontecido além de beijos ou pegações, e aí Melanie aparece. Alyssa me compreende, aperta meu ombro e depois me abraça e uma lágrima desce do meu rosto.

—Eu não sei o que dizer Alyssa. Eu e seu irmão não temos nada e não vou dizer que o amo pois é uma palavra muito forte. Mas o valorizo demais a ponto de levar um tiro para salva Rafael. – Soluço mas logo limpo as lágrimas e a olho.

"Ele disse um dia que usava drogas. Não sempre, mas usava. Antes do acidente da Melanie, Rafael procurava pra beber ou algo assim, depois pra aliviar a dor da morte também. Resumo de tudo é que ele nunca parou, mesmo que tenha diminuído a quantidade e frequência. E agora? E se ele for procurar ajuda no beco? E se o perdermos? Foi rápido que o vi antes de sair adoidado mas tive um mal pressentimento."

Ele

Não.

Não.

Não.

Ela está morta. Aquele telefonema não foi ela e ainda tem uma grande mulher esbelta me esperando em casa. Claro que ela está me esperando. Me esperaria para sempre. Ou não. Eu sou uma merda. Um pedaço de merda que não sabe o que fazer da vida e que é desprezado, acabado.

Preciso de um cigarro. Maconha. Isso mesmo. Esse bar no fim de mundo não vai adiantar de nada. Preciso ficar doidão para esquecer essas porras que chamam de mulher.

Catherine é mil vezes melhor que a Melanie, e é virgem. Ah, como eu quero tirar a virgindade dela e não deixar outro homem chegar perto. Minha imaculada. Minha.

Melanie é uma rodada, tem feição de prostituta. Mas ainda é meu primeiro amor e acho que o único. Ela ainda tem meu coração em suas mãos e durante anos ela brinca de jogar pro alto pegar no chão sem se preocupar se cair no chão irá quebrar.

—Me vê mais uma parça. – Levanto o copo de whisky e o cara me serve de relance.

—O bar vai fechar em dez minutos.

Dou de ombro e começo a olhar as pilhas de garrafas que guardam atrás do balcão. Catherine não sai dos meus pensamentos. Tem um quadril lardo e cintura fina, uma bela bunda e grandes seios, nada de forma demasiada mas como se estivesse tudo perfeitamente desenhado e separado. Mas além do corpo, olhos, lábios, sua personalidade é uma perdição. Quieta, inteligente, astuta, engraçada, sexy.

—Que horas são?

—Dez pras quatro da manhã.

Pego a carteira e deixo algumas notas para ele e saio do bar cambaleando sendo o último cliente. De repente o frio da calada noite invade minhas narinas e andando zigue-zague procuro a minha moto.

—Ora, ora, ora. Rafael Roche? Quanto tempo não o vemos.

Uma voz desequilibrada soa atrás de mim e quando me dou conta tem um homem e quatro mulheres (ou são oito, não sei) ao meu redor. O antigo traficante que me vendia as coisas sorri, mostrando os dentes sujos e podres.

—Desculpa, eu não uso mais. – A frase quase não sai por conta de eu estar bêbado. Têm alguém tentando tirar minha calça?

—O que foi? Virou um marica? Vamos lá, você é um dos nossos rapaz.

—Não sou mais desse círculo. – Me afasto de modo facultativo.

—O QUÊ? NÃO CONSEGUE DEIXAR ESSE PAU DURO NÃO? MOLENGA! QUE ADMIRÁVEL, SUA IRMÃ DEIXA QUALQUER UM DURO QUE ME ADMIRA VOCÊ AINDA NÃO TER COMIDO ELA FRANGUINHO.

Só consigo me lembrar do momento que ele estava no chão, depois eu, ele. Fiquei confuso. Acho que quebrei meu nariz, ele sangra. Ou é sangue dele. Estou sujo e bêbado. Mais bêbado porque agora tenho uma garrafa de Whisky ao meu lado e tropeço nos meus próprios sapatos. Por que eu não peguei umas ervas dele antes de chuta-lo para fora de onde eu estava? Cadê minha moto?


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Notas finais do capítulo

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BEIJOSSS



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