Uma bela coincidência escrita por irritabiliz0u


Capítulo 2
2 - ela




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—Vocês tem que me dar notícia! – bato na mesa da senhora que não queria me falar se ela já saiu da cirurgia.  Avisto o cirurgião que estava responsável por Vivian atravessando uma das salas e corro pelo salão para pedir mais notícias.

—Doutor, e-eu sou a Catherine e....

—Eu sei quem você é, sua amiga perdeu muito sangue e por enquanto está em coma induzido para o seu organismo se recuperar. Você sabe o que aconteceu com os outros parentes dela? – depois de ouvir que a segunda pessoa que possuo mais próxima de uma família está em coma, só não parei de ouvir e desabei porque aprendi com o tempo a controlar a dor e porque o Sr. Brooks mencionou a família de Vivian.

E é nessa hora que me vem à cabeça a Dona Cristal. Não faço ideia se ela estava na casa durante o.... assalto? Seja o que for, não avistei sinal de vida seu. Tenho que saber se ela está bem.

—Ela só tinha a mãe... Tenho que procura-la. – falo num tom tão baixo pois pensava em meu próximo passo que duvido que ele tenha ouvido.

—Mas na ficha da paciente diz que os pais entraram em óbito, um a uns 5 anos atrás, em 2009, e outro em uma data mais próxima... Faz um mês, eu digo outros parentes para saber se ela tem primos, tios ou tias.

—Não ela não tem, depois de seu pai morrer era só ela e a mãe. - E é nesse momento que começo a surtar - Impossível... A tia Cristal está viva! – me recuso a acreditar que ela faleceu.

—Mas aqui diz, foi câncer. - ele fala calmo, um dia talvez entenderei como as pessoas conseguem ficar calmas falando assim.

Sem condições de continuar naquele local, me viro com as lágrimas escorrendo pelo rosto. Talvez os outros achem que sou muito dramática mas na verdade a Tia Cristal foi como uma mãe para mim. Parece que tudo está em câmera lenta, há pessoas chorando e comemorando, uma retraída e outras correndo para seus parentes. Mal sabem eles que logo essa esperança vai embora, porém precisam obrigar a si mesmos a não deixa-la se partir.

Finalmente acho uma porta para fugir. Não necessariamente fugir, até porque nunca a deixaria sozinha. Desço alguns degraus que logo dá acesso para a calçada, conheço essa cidade como a palma da minha mão então se for para a avenida da direita encontro a cidade da cracolândia, esquerda e vou para onde os mauricinhos moram. Me decido e começo a atravessar a principal, onde do outro lado há uma enorme praça.

Desse outro lado há um quiosque de cachorro quente, minha barriga ronca e o cheiro dá agua na boca. Enxugo as lagrimas e tento me recompor, peço um que vem com queijo e milho. Comendo, penso que tenho que arranjar um emprego logo, até porque não tenho onde dormir.

Andando pela praça pensando em tudo o que aconteceu em menos de vinte e quatro horas, e o que aconteceu em 3 meses, ouço uma voz masculina gritando com uma menina de mais ou menos a minha idade.

—NÃO TÔ NEM AI, VOCÊ ESTÁ DEMITIDA! – ele passa as mãos pelo cabelo e logo depois pelo rosto bem modelado. Franzo a testa e paro para observar melhor.

—VOCÊ É UM IDIOTA RAPHAEL! – a menina cospe nele e depois sai batendo o pé. Ele limpa e logo depois entra em um Chevrolet Cruze, batendo a porta com raiva e arrancando com o carro.

Dou de ombros e dou meia volta, terminando o cachorro quente e jogando o papel no lixo. Mesmo que ache que ele me viu, não estou nem aí e eu não deixaria ele me tratar assim. Antes de fazer qualquer coisa preciso me informar melhor sobre Vivian.

***

—Ela corre risco de vida? – enquanto andava de volta para esse ambiente que não me traz nenhuma boa memória voltei a ter controle sobre as minhas emoções.

—Não exatamente, conseguimos parar a hemorragia porém ela perdeu muito sangue. O organismo dela precisa se recuperar e as primeiras 48 horas são as mais cruciais, você pode voltar para casa e descansar um pouco. Qualquer coisa que aconteça, uma mudança no batimento cardíaco dela e eu juro que ligo para você. – ele segura a minha mão. Mesmo que eu ache que o médico queira passar segurança ou seja lá o que for, não me sinto confortável. Tiro a minha mão da sua e falo.

—Tudo bem, qualquer coisa, independente do que seja, me liga. Só temos uma a outra. – sorrio triste. Ele concorda com a cabeça e eu me afasto indo para o estacionamento.

Decido que irei para sua casa, único lugar que tenho na verdade. Pelo caminho penso naquele homem novamente gritando com a menina, será que foi mesmo necessário fazer tanto drama?

Entro no carro e começo a dirigir em rumo a casa de Vivian. Não ter onde dormir é muito ruim, e tenho certeza que se ela estivesse acordada e bem mandaria (nem perguntaria) eu ficar em sua casa.

Uma das coisas que mais gosto daqui é o condomínio onde ela mora. Ele é enorme e repleto de casas uma mais linda que a outra, a sua não é diferente, por isso que digo que foi muito engraçado a primeira vez que tive que segura-la bêbada sem que muitos percebessem. Aqui, por mais que por fora você pense que todos são nariz empinado ou riquinhos, possuem bom coração, e são fofoqueiros.

O imóvel continua o mesmo, mas parece mais solitário sem a sua mãe, como se algo faltasse aqui e não soubéssemos. O que muda até onde percebi, é a grande televisão na sala com a netflix ainda rodando na séria The Walking Dead, o sofá cinza novo. Subindo a escada vejo que há fotografias nossas e da família por todo o corredor, no seu quarto ainda é como era, bagunçado.

A única parte vazia é o quarto da Dona Cristal, que tem apenas um colchão. O chão ainda é marcado por causa dos móveis antigos, mas o resto está impecável e minimalista, por assim dizer. Coloco minhas malas lá e vou tomar um banho. Até entendo que ela quis tirar as coisas, Vivian nunca foi boa com perdas.


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