— Vocês são os pais do Sasuke?!

~O~O~ 

— O CONHECE?! – Mikoto levantou-se da cadeira em que instantes antes se encontrava sentada, enquanto aproximava-se da mesa do Nanadaime Hokage e colocava suas mãos de maneira brusca na superfície de madeira, olhando fixamente para o loiro à sua frente, esperançosa. 

O Hokage claramente ficara surpreso diante da atitude repentina da Uchiha. Não era para menos; instantes antes, a mesma Uchiha que agora levantou sua voz estava aparentemente calma e serena – mesmo que no fundo gritasse por seu filho mais novo. 

A mulher recuperou sua típica compostura, juntamente com seu sorriso simpático, e desculpou-se, desta vez num tom ameno: 

— Desculpe, Hokage-sama. – Desculpou-se, fazendo uma breve reverência em sinal de respeito. – O senhor o conhece? 

— S-Sim... – coçou a garganta a fim de parar de gaguejar, e recuperou a compostura digna de um Hokage. 

Aparentemente. 

— O Sasuke é meu amigo. – respondeu, por fim. 

— Ah, sério?! Então pode me... Digo, nos dizer onde ele está? 

Naruto simplesmente estava demorando para processar tudo aquilo – novamente. Primeiro, foram seus pais; agora, os pais de seu melhor amigo viajaram ao futuro – e vale ressaltar que não esperava que a mãe do frio e antipático Sasuke Uchiha fosse tão simpática e animada, pelo que pôde ver. Com certeza o Uchiha do Presente não havia puxado à ela neste quesito... Na aparência, porém, a historia era outra. Mikoto era Sasuke de cabelo comprido – ou melhor dizendo, Sasuke era Mikoto de cabelo curto. 

— Er... Hokage-sama? – ouviu Itachi chamando-o. Percebeu que não falava nada há um tempo e apenas avaliava a Família Uchiha do passado à sua frente. 

— A-ah! Desculpe. Bom, antes de mais nada, como vocês vieram parar aqui, no futuro...? Vocês sabem que estão no futuro, certo? Devem ter visto o Monte Hokage. 

— Perdoe-me, mas não estamos no futuro. Tudo isso não passa de um genjutsu. Não há nenhuma outra explicação lógica para tudo isso. – pronunciou-se Fugaku, aparentemente indiferente quanto ao assunto. Naruto concluiu que o Uchiha mais velho preferia acreditar numa explicação mais lógica (mesmo que completamente ilógica para um Uchiha de tal nível, e o Hokage tinha 90% de certeza que Fugaku estava ciente desse fato) do que acreditar numa explicação tão abstrata e inconveniente  como “viagem no tempo”. Uma parte de Naruto suspeitava que ele estava ciente dos fatos, só não queria admitir. 

Agora estava claro de quem Sasuke Uchiha havia puxado sua personalidade. 

— Desculpe desapontá-lo, mas vocês realmente viajaram no tempo. 

— Eu disse...! – cantarolou Mikoto, com um sorriso vitorioso. 

— Por que eu acreditaria num genjutsu? – Fugaku persistia. 

— Talvez porque ele seja real? Com todo o respeito, pare de ser tão incrédulo, por favor... – resmungou a mulher. 

— Bom, respondendo à sua pergunta, Hokage-sama... – pronunciou-se Itachi, enquanto seus pais discutiam baixo. Era tão estranho ver Itachi tratando-o de forma tão formal, levando em conta os acontecimentos da adolescência do Uzumaki... – Uma luz simplesmente nos envolveu e nós aparecemos na nossa casa... 

— Toda acabada! – Acrescentou a Uchiha, num tom dramático – e com razão. 

— Entendo... Essa não é a primeira vez que ocorre uma viagem no tempo. – Os Uchihas o encararam, incrédulos. Continuou: – É a segunda, na verdade. A primeira foi semana passada, e acho que isso não é coincidência. Porém, não vamos nos preocupar com como vocês estão aqui, e sim o porquê. Anteriormente, havia um homem louco que digamos, queria mais “poder”. Um tipo de poder extremamente destrutivo. Vocês conhecem alguém assim? 

— Nós, do clã Uchiha, temos muitos inimigos. Quero dizer, muitos mesmo, pode ter sido qualquer um a nos colocar neste genjutsu. 

— Futuro. – corrigiu Mikoto, que recebeu um olhar aborrecido do Uchiha mais velho. 

— A-ham. – Naruto chamou sua atenção, limpando a garganta. – Isso é um problema para nós. Da outra vez, nós descobrimos tarde demais quem fora o responsável por tal acontecimento e isso quase nos levou à morte. Temos que ficar alertas até encontrarmos o suposto responsável por sua vinda e deixar claros seus objetivos com isso, antes que algo sério aconteça. – os Uchiha confirmaram com a cabeça. – Mandarei a ANBU para investigações assim que se instalarem em seus aposentos. 

— Que aposentos? 

— Bem... Vocês ficarão na casa de uns amigos meus. Eles são super gente boa, e tenho certeza que vão adorar conhecê-los. Vocês têm, hã... muito em comum. 

— Perdão, mas acho que não ficaríamos bem fora do Distrito Uchiha... – O Uchiha mais velho protestou. 

— Já estamos incomodando demais! Não estamos em posição de exigir nada, Fugaku. – alertou Mikoto. 

— Pensem naquele lugar como se fosse um mini Distrito Uchiha. Acreditem, entenderão quando chegarem lá. 

Mikoto e Fugaku apenas encaravam o Hokage, confusos, enquanto Itachi estava pensativo; de que maneira poderia ser um mini Distrito Uchiha? 

— Agradecemos pela gentileza, mas não queremos incomodar. – disse Itachi, de repente, o que fez com que as atenções fossem voltadas para ele. – Nós não podemos ficar. Se o que o Hokage-sama disse é verdade, se ficarmos podemos alterar o futuro; e aparentemente, todos vocês vivem em paz aqui... 

— Tem um bom argumento. Mas infelizmente só há um meio conhecido de alguém voltar no tempo; e ele não está conosco. – os Uchiha arregalaram os olhos – Porém, podemos encontrá-lo. De acordo com o pergaminho que foi utilizado anteriormente, existe uma cópia do tal pergaminho do tempo em algum lugar de Konoha; nós nem começamos a procurar pois sequer pensamos que aquele incidente se repetiria. Só preciso que me deem tempo, e vocês poderão voltar a seu tempo. 

“E além do mais, vocês esquecerão de tudo assim que voltarem a seu tempo”, acrescentou mentalmente. 

Os Uchiha mais velhos compreenderam, mas limitaram-se a assentir. Enquanto Itachi apenas pensava nas conseqüências desastrosas que tal estadia no futuro provavelmente acarretaria para seus habitantes. 

E no que isso poderia influenciar em suas decisões já tomadas para o futuro de seu clã. 

Itachi Uchiha pode já ter tomado a decisão mais difícil de sua vida; pode estar convicto de que não há outra saída. Mas a verdade, é que ele tem medo. Medo de desistir de sua decisão. Medo de encarar seu irmão mais novo num futuro em que provavelmente ele já fez o que planejava fazer, num futuro onde causara traumas em seu irmão, um futuro onde tirara completamente o resto de sua infância. 

Um futuro onde já estava morto. 

Todos têm medo; não há para onde fugir. A única coisa que se pode fazer quanto a isto, é escondê-lo nas profundezas da escuridão de seus sentimentos, onde ninguém irá noticiá-los. 

E foi isso que Itachi Uchiha fizera até o momento de sua morte. 

Ele não se arrependia de ter salvado seu irmão, não mesmo. Ele só tem medo de hesitar em sua decisão e ter o maior dos motivos para se arrepender depois.   

— Agora que dei a vocês todas as instruções necessárias, irei ligar para minha amiga, para mostrar o lugar onde vão ficar. 

— Espere! E nosso filho? Você não nos informou nada sobre ele. – manifestou-se Mikoto, colocando as duas mãos na cintura. 

— Bom, er... Sasuke não está na vila, sinto muito. Mas ele em breve voltará; ele, agora, tem assuntos a tratar aqui em Konoha. – sem ele é impossível que vocês voltem, pensou – Agora, podem esperar um pouco? Ligarei para minha amiga vir buscá-los. Seu nome é Sakura.

~O~O~ 

Depois de uma longa explicação sobre a definição e uso de celulares e computadores, Naruto ouviu o barulho da porta se abrindo. A bela mulher de cabelos róseos finalmente chegara aos aposentos do Nanadaime Hokage – sem bater na porta antes de entrar –  com uma expressão levemente irritada – o que não a tornava menos bela. 

— Naruto! O que é tão importante para me tirar de minha casa num domingo e sequer conseguir explicar por telefo...!  

E foi aí que a rosada noticiou os Uchiha no escritório do Hokage. 

Colocou sua mão esquerda por cima da boca para abafar o grito. Se segurasse algo, com certeza deixaria cair. Se fosse um daqueles filmes de comédia, estaria bebendo algo – um suco, por exemplo – e naquele momento cuspiria em algum figurante que passaria por ali, de acordo com o roteiro. 

Claro que Sakura Uchiha sabia quem aquelas pessoas eram. Aquela fotografia da antiga família Uchiha não estava naquele lugar de honra à toa. 

Por alguns instantes, a antiga Família Uchiha e a nova – comparada a eles – integrante da mesma apenas se encaravam; Sakura de maneira estupefata e eles confusos com a atitude da mulher. 

Até que o Hokage quebrou o silêncio. 

— Sakura-chan, que bom que veio. – Naruto sorriu, nervoso – Surpresa! Tenho certeza que já sabe quem são, mas não faz mal apresentar... Estes são Fugaku Uchiha, Mikoto Uchiha e... Itachi Uchiha. 

— É um prazer conhecê-la! – Mikoto estendeu a mão para a mulher de cabelos róseos que, ao se recuperar do choque, apertou-a. – Sakura, certo? 

— S-sim. I-igualmente. – cumprimentou os outros dois e, por fim, puxou Naruto para uma conversa particular, aos sussurros, em uma das extremidades do escritório – Naruto, o que significa isso? 

— Lembra que te contei que meus pais apareceram aqui semana passada? – a rosada assentiu – Então, aparentemente agora foi a vez da família do Sasuke. 

— E por que? 

— Não sei ainda. Vou fazer algumas investigações para descobrir, além de procurar o jutsu de reversão. E eles precisam de um lugar para ficar, Sakura-chan. Será que eles não podem ficar na sua casa? Não há outro lugar que eles possam ficar sem que desconfiem. 

— Naruto, já te ocorreu que, se eles descobrirem qualquer coisa sobre nosso presente e o futuro deles, pode alterar drasticamente toda a nossa linha temporal? – Sakura já havia lido vários livros científicos em suas pesquisas. Muitos deles continham informações sobre viagens no tempo, e o principal conselho para aqueles que se vissem frente a viajantes do tempo vindos do passado era, logicamente, mantê-los o mais longe possível de descobertas inconvenientes. – Se descobrirem sobre o Sasuke-kun e sobre o Incidente do Clã Uchiha... 

— Eu sei Sakura-chan, eu sei! Mas olhe: assim como meus pais, com o jutsu certo, eles esquecerão tudo o que viram e ouviram quando voltarem para seu tempo. Só precisamos achar. Não tem como dar errado! 

— Como sabe que vai achar? Como sabe que vai funcionar? Como- 

— Sakura-chan! É claro que vamos achar. E vai funcionar, assim como funcionou com meus pais. Afinal, ainda estamos aqui, não é? Além disso, por que está sendo tão hesitante? Eu sei que sempre quis conhecer a família do Sasuke! O que está acontecendo? 

Sakura fechou os olhos e suspirou em derrota. Disse, por fim: 

— Naruto, me escute. Sarada sempre quis conhecer os avós e o tio. Eu, realmente, seria incapaz de privá-la disso se eles estivessem aqui. Mas atente-se ao fato de que isto é apenas temporário; se Sarada se apegar a eles e depois, do nada, eles fossem embora. Como acha que ela se sentiria? – Ela percebeu Naruto ficar pensativo, e continuou: – Eu não quero que minha filha sinta tamanha tristeza. Nem agora, e nem nunca. 

Naruto mostrou um olhar companheiro para sua amiga. Ele havia passado por isso; Hinata sempre lhe falava o quão tristes Boruto e Himawari ficavam sempre que se lembravam de seus avós, que foram embora. Mas era necessário; não poderia deixar a Família Uchiha trancada em algum lugar até que encontrasse o jutsu de reversão, e a casa de Sasuke e Sakura era a única opção: não causaria tumulto na Vila outra vez e eles não estariam presos contra sua vontade. Infelizmente, tinha que ser feito. 

Naruto explicou seu raciocínio para a rosada. Ela assentiu, derrotada, pois não encontrava argumentos plausíveis contra aquilo. Até que algo veio em sua mente: 

— E como sabe que são realmente eles, Naruto? Podem ser três adolescentes rebeldes querendo te pregar uma peça! – Sakura era realista. Para ela, qualquer das explicações seria possível, mesmo uma piada de mau gosto. 

— Que incredulidade desnecessária! São eles mesmos, Sakura-chan. Este é o chakra do Itachi; reconheceria em qualquer lugar. 

A Uchiha ainda estava suficientemente desconfiada. Não podia haver tanta coincidência assim a ponto de, uma semana após a suposta vinda dos pais de Naruto, viajassem no tempo justamente os pais de Sasuke. 

E se fossem caçadores de Kekkei Genkai tentando pegar os olhos de sua preciosa filha? 

Apenas essa suspeita já bastava para que desconfiasse. Não poria em risco a segurança de sua filha em hipótese alguma. 

Mas decidira confiar em seu amigo. Naruto não cogitaria que fossem os verdadeiros se houvesse uma dúvida, mesmo que mínima. Apesar de não parecer, ele era cauteloso; exatamente como um Hokage deveria ser.

— Certo, acredito em você. Mas se forem impostores e tentarem roubar os olhos de Sarada, eu mesma os mato, entendido? 

— Não são impostores, Sakura-chan. Eu sei. 

~O~O~ 

— Ah, então você tem uma filha, Sakura-san? Deve ser uma fofa! Sempre adorei crianças. Tenho duas crianças, inclusive. – soltou um pequeno risinho – Quantos anos ela tem? 

— Ela fez 8 aninhos há uns meses. 

— Ownn, que coincidência! Meu filho, Sasuke, tem a mesma idade! Ah, pelo menos no nosso tempo... 

Sakura sorriu. Não sabia que a mãe de Sasuke-kun era tão simpática!, pensou. Claro, caso seja mesmo a mãe de seu amado, e não uma impostora. As duas foram conversando por todo o caminho até a casa da rosada, e devo dizer que se tornaram ótimas amigas, mesmo nesse pouco tempo que passaram juntas. 

Itachi era uma pessoinha muito fofa, constatou – caso fosse o verdadeiro. Trocaram algumas palavras no meio do caminho, e ela não acreditara que um garoto tão simpático – puxou à mãe – pudesse ser um assassino que exterminou todo o seu clã. A realidade dizia outra coisa, porém.  

Mas ele não era desalmado, ela sabia. Afinal, ela foi uma das poucas pessoas à quem Sasuke confiou o segredo de seu amado irmão. 

Já Fugaku, ela só pôde constatar que ele era calado e sério. Isso explica a personalidade de seu marido. 

(eles também tiveram a curiosidade em perguntar o porquê da rosada usar o símbolo do clã Uchiha nas costas, mas limitou-se a responder que era casada com um). 

~O~O~ 

Ao abrir a porta e pedir para que a antiga Família Uchiha entrasse em sua casa, a rosada encontrou sua filha, Sarada Uchiha, lendo seu livro favorito no sofá: Alladin. Aparentemente, a Uchiha menor estava tão concentrada em seu livro que não percebeu a chegada dos Uchiha mais velhos. 

Até que ouvira a porta sendo trancada. 

— Mamãe! Você voltou! – e correu, toda sorridente, em direção a sua mãe, quase fazendo seus óculos caírem de seu nariz. 

— Oi, filha! – se abraçaram forte. – Olha, trouxe visita. Eles vão ficar um tempo com a gente, e... 

— E quem é?! Não me diga que é o idiota do Boruto, já me estressei demais essa semana por causa dele! – Colocou as mãos na cintura e fez uma expressão irritada, que era absurdamente fofa. 

— Nossa, Sakura-san, sua casa é linda! Não é, Itachi? E... Oh! Essa é sua filha?? Que fofinha! – a voz de Mikoto foi ouvida, ficando mais alta e finalmente chegando à sala, onde viu sua neta pela primeira vez – apesar de não saber. 

Sarada substituiu a expressão fofamente irritada por um sorriso de orelha a orelha assim que reconheceu as três pessoas que acabaram de entrar na sala. A Uchiha menor apressou-se em correr e abraçar um deles, no caso o que estava mais perto. Ou seja, Itachi. 

Itachi simplesmente mudou a expressão encantada para uma surpresa com tal abraço. Era normal crianças abraçarem pessoas que sequer conheciam? Sasuke não fazia isso, e nem ele quando era menor... 

— Mamãe! Como trouxe eles de volta? – Sarada ainda sorria radiante. 

— Sarada, não é bem assim... Eles só... Como posso explicar? 

Enquanto Sakura pensava sobre uma maneira de explicar que não desanimasse muito a pequena (pois não podia dar à sua filha ilusões de que seus avós e tio ficariam para sempre), Sarada se soltava do abraço unilateral e se apresentou: 

— Meu nome é Sarada Uchiha! – fez uma reverência em sinal de respeito. Poderia ser uma criança, mas Sarada é muito educada. 

— Prazer em conhecê-la. – Cumprimentou Itachi, apertando a mão da pequena. Mikoto fez o mesmo, enquanto Fugaku apenas cumprimentou com a cabeça. – Nós somos... 

— Eu sei quem vocês são. Você é meu avô, você é minha avó, e você é meu tio Itachi!