As Namoradas - imaginárias - de Hayden Walsh escrita por Kim Jin Hee


Capítulo 3
Dois


Notas iniciais do capítulo

Vocês estão percebendo que eu só funciono de madrugada né? Pelo menos funciono kkkkk
Me cobraram capítulos maiores e ai está! Espero que gostem.



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Capítulo Dois

Hayden sabia que não deveria se concentrar tanto na aluna nova. Na verdade, ela nem parecia ser aluna nova, porque não precisou ser apresentada a turma, não conversou com ninguém o dia todo e nem recebeu olhares. Parecia invisível. Elliot não havia comentado sobre ela — a única coisa que ele falava era sobre o baile —, e Jefferson não tinha “caído em cima”, como fazia com a maioria das garotas.

Hayden tinha motivos de sobra para acreditar na sua inexistência.

— Terra chamando Hayden. — ele ouviu a voz de Elliot e viu os dedos de Jefferson estalarem na frente de seus olhos. — Estávamos pensando em quem levar pro baile. — Elliot continuou, deixando-o a par do assunto.

— Achei que vocês iriam juntos. — ele brincou fazendo Elliot revirar os olhos.

— Jefferson não faz mais o meu tipo. — disse de maneira superior. — Embora a boca dele ainda seja uma tentação. — acrescentou soltando uma risada.

Jefferson fez uma reverência enquanto ria e Hayden acompanhou os amigos na risada.

Não eram raros os momentos em que se pegavam assim, gargalhando de coisas que o outro disse. Hayden não podia pedir amigos melhores.

Ao final na aula, ele não tinha mais visto a garota nova. Parecia que, assim como suas namoradas, ela havia resolvido dar um tempo naquele dia. Talvez se não pensasse nela, ela não aparecesse.

Bem, ele sabia que não era assim que funcionava.

E isso se provou quando as três se materializaram ao lado dele enquanto lavava as mãos após sair do banheiro.

— Vocês ainda vão me matar. — sussurrou olhando debaixo das portas e certificando-se de que não havia ninguém com eles. — O que querem? Na verdade, que tipo de vida vocês tem dentro do meu cérebro, porque está ficando difícil de controlar!

— Queríamos dar um alô. E, respondendo a sua pergunta... Temos muita vida. — Charlie sorriu.

— Vocês não existem, sabiam disso? Meu Deus, como eu paro com isso?

— Acho que não dá mais. — Beth comentou. — Viu a garota nova?

Então era ai que elas queriam chegar, Hayden pensou.

Não adiantava não pensar em nenhuma das quatro. Elas simplesmente apareceriam, porque — pela experiência dele — elas tinham mais vida própria do que ele imaginava.

— Vocês quase enfiaram-na na minha cara, como queriam que eu não visse? — ele respondeu com um pouco de raiva. Não dava pra ele olhar pra alguém que existisse? Aquilo o deixava irritado. — Ela não existe, de que adianta? Já não basta vocês ocupando espaço no meu cérebro.

Não era aquilo que ele queria dizer. Claro que não. Ter amigas imaginárias foi o que o ensinou a ter amigos de verdade. Ter namoradas imaginárias era o que o estava treinando para quando finalmente se apaixonasse por alguém existente. Mas havia dito. E o revirar de olhos de Anne, o olhar magoado de Charlie e a expressão incrédula de Beth deixavam claro que ele não deveria ter dito.

— Não precisa ser um imbecil sempre, sabia? Sendo só de vez em quando já está de bom tamanho. — Anne se pronunciou pela primeira vez, ecoando os próprios pensamentos de Hayden.

Não era possível que conseguisse ser tão idiota ao ponto de magoar pessoas que nem sequer existiam. Mas ele era. Se Anne, Beth e Charlie eram uma parte dele, Hayden não estava nem um pouco satisfeito com o que estava fazendo a si mesmo.

Com raiva socou a parede, sentindo vontade de bater a cabeça ao invés da mão. Como podia ser tão idiota? Não falava com garota alguma que não fosse sua irmã, tinha apenas dois amigos que quem sabe até quando iriam durar e suas amigas imaginárias de dez anos atrás ainda não haviam desaparecido. Hayden já era quase um adulto e não sabia se algum dia iria crescer de verdade.

Talvez ele nem quisesse.

Talvez ele quisesse continuar tendo amigas-namoradas imaginárias porque sabia que sua imaginação nunca iria abandoná-lo. Talvez ele gostasse da sensação de ter alguém — ou “alguéns” — ajudando-o a tomar decisões. Mesmo que fossem apenas ecos das escolhas reais dele.

Como quando ele não sabia qual videogame escolher no seu aniversário e pediu uma votação entre as meninas. No fundo, ele sabia que gostava mais do x-box, mas o playstation lhe chamava tanta atenção que ele ficava um pouco na dúvida.

Ou em uma outra vez quando ele ficou em dúvida entre duas questões na prova múltipla-escolha de biologia e Beth apontou uma questão. No fim, era a certa. A única coisa que lhe diferenciava da outra era uma vírgula, e olhar pelos olhos de Beth o havia feito enxergar aquilo.

Hayden tinha dez anos de histórias para relembrar. E algumas mancadas também. Mas sempre se arrependia.

— Desculpa, tá? — ele disse para o nada, em voz baixa. Sabia que não precisava gritar. Não precisaria nem colocar em voz alta, mas ele se sentia menos idiota assim. — Não foi o que eu quis dizer. Nunca é.

— Nós sabemos. — Beth se pronunciou, atrás dele. — Estamos ai dentro, lembra? — ela apontou para o seu peito, sorrindo.

Hayden assentiu, sorrindo de volta.

Depois de se despedir de Elliot e Jefferson, Hayden entrou no ônibus amarelo que o levaria para casa. Elliot morava praticamente ao lado da escola, por isso ia andando todos os dias, e Jefferson tinha sua própria motocicleta — o que, para alguns era super legal, enquanto para Hayden era apenas mais uma forma de morrer com estilo.

Hayden já tinha idade para dirigir, já tinha a habilitação desde os dezesseis anos, mas detestava a sensação. Só o fazia em último e extremo caso. Achava motocicletas ainda piores. Eram totalmente inseguros e desprotegidos, e além do mais, todos os motoristas de carros odiavam os motociclistas. Sua mãe era um exemplo.

Na verdade, Erin era tão má motorista quanto cozinheira. Se não fosse por Maria — a empregada, babá, governanta, faz-tudo — e seu sotaque espanhol amoroso, Hayden e Cara já haviam morrido de fome. Não que a mãe não se esforçasse... Ela simplesmente não havia nascido para aquilo.

Como sempre, Hayden escolhei um dos últimos bancos do ônibus e se sentou, do mesmo lado de sempre, na janela. Aquele era quase seu lugar sagrado, ninguém se sentava ali antes dele e nem ao seu lado.

Não que tivessem medo dele. Apenas não queriam se socializar.

Sua vida geralmente era regrada, com tudo no lugar, do jeitinho de sempre e organizado da melhor maneira possível. Hayden odiava que mudassem sua rotina e o jeito de algo a qual ele estava acostumado. E exatamente naquele dia, alguém mudou.

Antes que o ônibus pudesse arrancar, a mesma menina que havia entrado pelo corredor roubando sua atenção pela manhã, entrou no veículo, andando desajeitadamente, olhando para baixo e roubando toda a atenção de Hayden para si. A garota de cabelos curtos, caminhou quase em câmera lenta, até o assento dele. E parou ali. Sentando-se ao seu lado.

Ela sorriu tímida quando ele a olhou. Seus olhos eram castanho-dourados, de um jeito que ele nunca havia visto antes, os cabelos eram loiro-escuros e estavam um pouco bagunçados, porém uma presilha o enfeitava de um lado. Ela tinha sardinhas no nariz delicado e nas bochechas redondas, seu rosto era arredondado e doce. Ela parecia tão inocente que Hayden se odiou por imaginar uma criatura tão fofa.

Naquele momento, ele quis se jogar debaixo do ônibus em que estava.

— Você está me encarando. — ela disse baixo, desviando o olhar para baixo e começando a brincar com uma pulseira de miçangas pretas que tinha no pulso direito.

— Desculpe. — ele sussurrou, sentindo o rosto esquentar. Não sabia se havia sussurrado alto o suficiente ou não, mas sabendo que ela era tão real quanto suas namoradas, não se importou.

Desviou o seu olhar para a janela, voltando a sua rotina de sempre: observar as casas do lado esquerdo da rua. A cidade era pequena, ele conhecia todos os moradores, sabia de quem eram todas as casas.

Sentiu o ônibus parar, mas não desviou os olhos da casa do Sr. Johnson. Nesse horário ele sempre estava lá, na varanda, sentado em sua cadeira de balanço, balançando-se levemente e acariciando seu pastor alemão — que era mais dócil que um gatinho —, que, nesse horário, ficava sempre deitado em uma outra cadeira de balanço, sentindo os raios do sol das 16h e o carinho de seu dono.

Alguns meses atrás, a Sra. Johnson também ficava ali, mas a vida havia acabado para ela.

O marido nunca quebrara a rotina desde então.

Ao que parecia, não era só Hayden que vivia de rotina.

Quando o ônibus saiu de sua inércia, Hayden olhou para o assento ao lado e a menina não estava mais ali.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?