As Namoradas - imaginárias - de Hayden Walsh escrita por Kim Jin Hee


Capítulo 2
Um


Notas iniciais do capítulo

Depois de bastante tempo (nao me matem), postei kkkk



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Capítulo Um

O relógio despertava alto, tirando um Hayden dez anos mais velho de seus sonhos. O rapaz abriu os olhos castanhos sonolentos e olhou o relógio. 06h30m. Se não tomasse banho antes da aula, talvez pudesse dormir por mais 15 minutos. Desistindo da ideia, desligou o despertador e se levantou.

Hayden olhou o quarto em volta. Se sentia sozinho. Fazia oito anos desde a primeira vez que vira Charlie, Annie e Beth, suas três namoradas e melhores amigas malucas. E agora — pela primeira vez em bastante tempo — estava sozinho.

Depois de pegar sua roupa, Hayden se dirigiu ao corredor. Sua mãe já havia acordado e o cheiro de café já subia para o segundo andar. Antes de entrar no banheiro, bateu na porta do quarto de Cara — sua irmã mais nova — e a ouviu resmungar algo como “só mais dez minutinhos”. Hayden riu, sabendo que a irmã era exatamente assim.

Entrou no banheiro para começar sua rotina de todas as manhãs. Lavou o rosto, passou seu sabonete para espinhas e escovou os dentes de um jeito que qualquer dentista ficaria orgulhoso. Enquanto tirava a camisa, ainda sonolento, uma figura se materializou sentada na privada fechada.

— Ai meu Deus! — seu grito de susto foi tão alto que sua mãe gritou de volta, perguntando o que havia acontecido. — Nada, mãe. Eu só pisei em um brinco no chão. — respondeu a fim de acalmar a mãe. Então, olhou feio para a figura irônica de Annie a sua frente. — Pelo amor de Dumbledore! Não pode simplesmente aparecer aqui... Eu podia estar sem roupa. — sussurrou irritado.

Annie revirou os olhos, como sempre.

— Reunião no seu quarto. Após o banho. — disse simplesmente e sumiu.

Elas ainda iam deixá-lo maluco.

Assim que Hayden pôde finalmente tomar seu banho, não o aproveitou tanto quanto queria. O relógio do banheiro já marcava 06h52m e ele ainda tinha que tomar café da manhã.

— Falem enquanto eu me arrumo. — disse assim que entrou no quarto, ignorando os protestos de “banheiro molhado” da irmã.

— Você precisa de uma namorada. — Beth disse como se fosse óbvio.

— Tenho três. Estou bem assim.

Annie revirou os olhos e Charlie apenas suspirou cansada.

— A gente ‘tá falando sério.

— Eu também! — exclamou enquanto amarrava os tênis. — É sério, gente. Eu ‘to bem assim. Agora já estou atrasado, tenho que ir.

Não era a primeira vez que as meninas insistiam que ele precisava de uma namorada. Ele não precisava, sabia disso.

Erin — sua mãe — estava na cozinha, o esperando com sua habitual roupa branca. Era dentista.

— Bom dia, querido.

O menino apenas deu um beijo na bochecha da mãe e pegou três torradas na mesa logo em seguida.

— Vou comendo pelo caminho, mas prometo que escovo os dentes assim que chegar na escola. — disse com a boca cheia.

— Não fale de boca cheia. — Erin repreendeu. — Boa aula.

xxx

Hayden desceu do ônibus escolar sendo puxado por um Elliot entusiasmado demais.

Elliot era um dos amigos que Hayden havia conquistado durante os anos. Tirando Charlie, Anne e Beth — que não existiam —, Elliot havia sido a primeira pessoa a falar com ele.

O menino havia entrado na escola dois anos depois da primeira aparição das meninas. Era pequeno, tímido e tinha uma paixão esquisita por sapatilhas de balé, o que gerava comentários maldosos da maior parte da turma. Exceto de Hayden que sabia o que era não ter ninguém pra ficar, e — embora nenhum dos dois tivesse coragem para se apresentar — Elliot se mostrou um amigo incrível após terem sido obrigados a socializar por causa de um trabalho escolar.

Alguns anos depois de se tornarem amigos, no primeiro ano do Colegial, Elliot tinha finalmente assumido o que todos já sabiam: hétero era a última coisa que ele era. Ao contrário do que as más línguas disseram, aquilo não abalou a amizade deles. Pelo contrário, sem a pressão de fingir ser algo que não era, Elliot era um amigo — e pessoa — ainda melhor.

— O que foi, Elly? — Hayden perguntou enquanto era puxado pelo amigo até o mural de avisos do corredor.

— Baile a fantasia. — o menino respondeu sonhador.

Hayden leu o cartaz, ouvindo Elliot suspirar ao seu lado. Sério, o garoto via festa como Hayden via uma maratona da sua série favorita: a melhor coisa do mundo.

— E ai, caras? — um garoto negro, de ombros largos e alguns centímetros mais baixo que Hayden os cumprimentou.

— Me recuso a falar com você enquanto não me devolver minha jaqueta. — Elliot fez pirraça, fazendo Jefferson soltar uma gargalhada ruidosa.

No primeiro ano do Colegial, após contar sobre sua sexualidade, Elliot se admitiu afim de alguém. Capitão do time de futebol, popular, “cor do pecado” — como ele mesmo dizia — e ao que parecia, muito legal. Esse alguém era Jefferson.

Não se sabe muito bem em que ponto da investida doida de Elliot — que gritou no meio do corredor que queria beijar a boca carnuda de Jefferson — e da recusa engraçada do jogador (“cara, juro que se eu fosse gay eu te beijava agora”), a amizade começou, mas ali estava ela. Firme e forte.

E juntos eles eram o cérebro (Hayden), os músculos (Jefferson) e aquele lado feminino que todo trio que se preze necessita (Elly). Inseparáveis desde então.

— Eu trouxe sua jaqueta, senhorita drama. — Jefferson respondeu recebendo um sorriso e um beijo na bochecha.

Nos outros dias, Hayden prestaria atenção na discussão dos amigos, pediria para eles pararem de brigar e os chamaria de “casal” de velhos. Mas hoje, ele estava ocupado encarando fixamente a garota que entrava pela porta principal.

Sendo seguida por suas três auto-denominadas namoradas, uma menina de cabelos loiros curtos, camiseta cinza e calça jeans seguia pelo corredor. Uma camisa xadrez estava amarrada em sua cintura. A menina não parecia ser notada pelos outros alunos e Hayden se xingou mentalmente.

Como as outras três, aquela provavelmente era apenas fruto da imaginação fértil — e idiota — dele.


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