Corações Partidos(Segredos e Mentiras) escrita por calivillas


Capítulo 24
Desiludida




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Quando voltaram a casa, a festa ainda prosseguia, no entanto, muitos dos convidados já tinham partidos, ficando, apenas, os familiares da noiva e alguns parentes, que estavam hospedados lá, reunidos em pequenos grupos dispersos pelo jardim e nas mesas. Depois de um tempo, Lucas havia desaparecido, mais uma vez, atraído pelos primos que não encontrava há muito tempo. Teresa se viu sozinha, se sentindo estranha, como uma intrusa ali, vagou pelo interior da casa, nos ambientes requintados e bem decorados, procurando algum lugar calmo para se isolar e descansar um pouco, assim chegou uma pequena saleta, mergulhada na penumbra, porém que deixava perceber a sua decoração no estilo art nouveau, enfeitada com peças e quadros originais da época. Poltronas revestidas de tecido adamascado de espaldares altos estavam voltadas, propositalmente, para a grande janela, de onde se podia assistir o belo entardecer.

Assim que entrou, Teresa notou que não estava sozinha, pois sentada em uma dessa poltronas avistou Evelyn de olhos fechados, rosto relaxado, parecendo adormecida. Sem querer perturbá-la, Teresa já ia se retirando, silenciosamente, quando a outra mulher abriu os olhos, percebendo sua presença.

— Desculpe-me, não queria incomodá-la. – Teresa admitiu, encabulada, já ameaçando a se retirar. – Vou deixá-la sozinha.

— Não, por favor, sente-se. – Evelyn apontou para a poltrona logo ao seu lado, Teresa atendeu o seu pedido. – Estou sendo uma péssima anfitriã, aqui descansando, em vez de estar recepcionando os meus convidados. – Ela se culpou.

— Não, você só está cansada, merece um pouco de descanso. – Teresa afirmou, observando, sob a tênue luz do entardecer, a pele muito fina e pálida e os círculos escuros abaixo dos olhos.

— Sim, talvez, eu precise. Todos esses últimos dias têm sido uma completa loucura. – Evelyn revelou, um tanto desanimada.

— Você deve estar muito feliz com o casamento? – Teresa quis saber, querendo animá-la, já que não tinha nenhum rancor contra Evelyn, apenas um sentimento de piedade, pois as duas estavam sendo enganadas pela mesma pessoa.

— Feliz? Acho que estou, é um sonho de toda menina ter um grande casamento com um bom homem e tenho certeza que será um bom marido. – Evelyn declarou, convicta.

— Esse não é meu sonho. – Teresa rebateu, com um leve sorriso, que não chegou aos seus olhos. – Eu sonho em me casar, só queria estar ao lado do homem que amo, não preciso de mais nada.

— Que bom para você, querer o que se pode ter. – Evelyn refletiu, com um ar sonhador. – Viver plenamente um grande amor, eu invejo isso.

— Como? – Teresa a interrogou, sobressaltada, imaginando se Evelyn desconfiasse de algo entre ela e Mathews.

— Você e Lucas não precisam se preocupar ou provar com nada, são só vocês dois. – Evelyn respondeu, melancólica.

— Eu e Lucas? – Teresa não entendeu a princípio. – Ah! Claro, eu e Lucas! – Lembrou-se da mentira que inventaram.

— Deve ser bom ter um amor assim intenso, como o próprio Lucas. – Evelyn refletiu, um tanto nostálgica.

— Por que você acha isso? – Teresa estava curiosa.

— Sua expressão naquele quadro, você parece uma mulher apaixonada nos braços do homem que ama, eu invejo isso. – Evelyn afirmou, com os olhos fixos na paisagem além da janela, que já perdia sua nitidez, devido a chegada da noite, depois percebeu que falou demais. - Preciso voltar para a minha festa. Até breve, Teresa. – Finalizou, já se levantando.

Teresa a acompanhou com o olhar, enquanto se afastava, na direção do jardim. Desiludida, pensando que aquela mulher não ama Mathews como ela, mas que mesmo assim, eles iriam se casar. Depois, levantou-se e seguiu o mesmo caminho de Evelyn.

— Minha jovem, poderia me ajudar a subir as escadas. – Rute, a matriarca da família Bauner, interpelou Teresa, no momento, que passava junto a ela, com a voz firme, parecia mais uma ordem do que um pedido.

— Claro. – Teresa consentiu, mesmo um tanto a contragosto, ofereceu seu braço a Rute e começaram a ascender os degraus, lenta e cuidadosamente.

— Infelizmente, a velhice nos torna dependente, até em um simples ato, como subir uma escada. – Rute se lamentou. - Então, minha querida, aproveite bem suas juventude e beleza porque elas são perenes, acabam muito rápido. – Falava, subindo degrau por degrau, Teresa lhe sorriu, amigável. – Tenho que agradecer a você, por ter vindo com Lucas a esse casamento. – A senhora continuou.

— Agradecer a mim? Mas, eu não fiz nada. – Teresa ficou surpresa com aquela fala.

— Você trouxe Lucas de volta para nós, ele estava afastado da família por causa da rivalidade com Mathews. Lucas sempre se achou preterido em relação ao irmão, mas tenho que admitir a culpa foi nossa, enquanto sobrecarregávamos Mathews de obrigações e deveres, subestimávamos Lucas, sempre passando a mão na cabeça dele, achando que ele não era capaz, talvez, por isso esteja sempre fugido, nessas viagens loucas. – Rute refletiu, com pesar. – Mas, levei muito tempo para perceber isso, essa é uma vantagem de envelhecer, passamos a dar menos importância a bobagens, enxergamos a vida de outro modo, pois podemos olhar para trás e ver o que o que fizemos de certo ou errado.

— Parece que Lucas se ressente disso, de ser subestimado, assim como Mathews por ser tão cobrado. – Teresa reiterou e Rute parou para encará-la.

— Parece que você entende muito bem os meus netos, minha jovem. Só espero, que um dia, Lucas supere esse casamento. – Rute desejou, com um suspiro e o olhar pensativo.

— Esse casamento? – Teresa questionou, intrigada.

— Ora, ele não contou para você? Evelyn era uma namoradinha de Lucas, quando Mathews a conheceu. Lucas nunca perdoou o irmão por lhe ter roubado seu amor da adolescência. Apesar de sempre achar que Lucas é um espírito livre, que precisa vagar pelo mundo, a procura de algo que sua alma não sabe o que seja, por isso acho difícil que ele se prenda à uma mulher. Claro que não quero desanimá-la, querida. – Rute concluiu ao chegar no alto da escada, avançando pelo corredor,

— Não está me desanimando, porque não quero prender Lucas. – Teresa retrucou, ainda chocada com aquela revelação, porque Lucas já havia lhe contado a história da namorada que o trocou por Mathews, mas omitiu o fato dela ser Evelyn

— Obrigada, pela companhia. Esse aqui é o meu quarto. – A velha senhora comunicou, parando na frente de umas das portas, a dispensando.

— Por nada. – Teresa respondeu, virando-se para procurar as respostas das perguntas que fervilhavam na sua cabeça, desceu correndo pelas escadas, a procura de Lucas, mas foi Mathews quem ela encontrou, primeiro. Os dois ficaram frente a frente, Teresa olhou bem nos seus olhos.


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