O Grande Inverno da Rússia escrita por BadWolf


Capítulo 8
Do Diário de Esther I


Notas iniciais do capítulo

Com fôlego para mais um capítulo? Espero que sim!!!

Ainda mais porque este será narrado pela Esther... Será bom para matar as saudades dela e também para tirar algumas dúvidas que ficaram na última fanfic, confiem em mim.

Boa leitura!



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Condado de Hampshire.

Inglaterra, 21 de Agosto de 1907.


            Jamais dei a importância devida a diários. Tentei começar com este hábito várias vezes, mas sempre agi de forma negligente. Começava arduamente, depois reduzindo a frequência aos poucos, até abandona-los. Fora que meu irmão David era um grande desestimulador a este tipo de coisa. Como irmão mais velho, gostava de mexer em minhas coisas, ler meus escritos pessoais para usá-los em benefício próprio mais tarde, em alguma chantagem. E eu boba, acatava, mesmo que tudo que havia escrito ali era tê-lo chamado de “boboca” ou “feio”.

            Hoje dou risada disso. David não está mais aqui para lê-lo e mesmo se estivesse, duvido que meu irmão teria imaturidade a ponto de ler o diário de uma mulher adulta e casada. Duvido mesmo. Para dizer a verdade, começo este hábito só agora, como uma forma de arrumar meus pensamentos, organizar minhas descobertas. Mantenho esse diário não como forma de manter viva as lembranças cada vez mais distantes de minha vida em Baker Street ao lado de Sherlock, mas como uma maneira de organizar minha investigação a respeito de Jonathan, nosso meu filho.

            Pouco me importa os conselhos do Grande Detetive Consultor, como tão exageradamente exaltara Watson em seus escritos. Parti de casa naquela manha, deixando por despedida apenas uma carta que escrevi no calor do momento – e que agora reconheço que exagerei – e peguei um trem de volta ao modesto e pacato condado de Hampshire, local de meu cativeiro e onde passei os meses mais conturbados de minha vida.

            Eu poderia chamar de “terrível” aquele tempo que fui mantida em cativeiro por Jenkins, mas não foi de todo. Eu estava grávida, afinal. Jenkins também sabia disso, para minha abismação. Pensei que seria questão de tempo até que eu estivesse morta, mas ele deixou bem claro que eu não morreria, que tudo que ele queria era que eu continuasse com a minha gravidez, e de modo sereno, tranquilo. Apesar dos grilhões que limitavam meu acesso apenas ao quarto daquela casa, comida, remédios e uma cama macia jamais me faltaram. Se eu me queixasse de dores ou desconforto, Jenkins logo providenciava alguma coisa para melhorar a minha situação. Muitas vezes, essa providência de tratava de um médico, chamado Dr. Oliver, como ele sempre o chamava. Um homem que estava sempre em silêncio. Não demorou até que eu notasse que o motivo de seu silêncio era uma limitação física: ele era surdo-mudo, e comunicava-se por gestos. Ignorava qualquer coisa que eu dissesse, qualquer uma de minhas súplicas. Brilhante, Daniel Jenkins, usar um médico surdo-mudo, sabe-se lá como, para cuidar de mim.

            Quando agora observo a casa que minha morada por quase oito meses de minha vida, noto que ela não era tão sombria ou triste quando em minhas lembranças. Claro, não há mais tábuas revestindo as janelas, mas uma família morando ali. Observo duas meninas brincando de boneca no pequeno jardim, que jamais tive acesso. Ver crianças ali suscita lembranças ruins, lembranças de meu Jonathan... [manchas de gotas d’água]


Condado de Hampshire.

Inglaterra, 26 de Agosto de 1907.


            Cinco dias hospedada em um hotel modesto da cidade, e nada de interessante encontrei. Ainda acredito firmemente que Daniel Jenkins levou meu filho para fora da Inglaterra, e que para fazer isso, ele precisou de uma ama-de-leite. Ele parecia mais preocupado com a criança do que comigo, e não acredito que ele desperdiçou meses de sua vida para provocar a morte do bebê por desnutrição. Um recém-nascido precisa de leite, e amas-de-leite que não façam perguntas em troca de um punhado de libras não faltam pela Inglaterra.

            Acho melhor estender minha busca.


Cidade de Fareham. Condado de Hampshire.

Inglaterra, 15 de Setembro de 1907.


            Graças A D’us fui presenteada pela virtude da paciência. Usando identidades falsas, comecei a buscar em vizinhanças modestas da cidade de Fareham por amas-de-leite que moravam por ali há um ano atrás. No início, fui recebida por desconfiança por certos moradores, mas após fazer as perguntas certas, da forma certa, as coisas começaram a fluir melhor.

            Minha felicidade mal cabe em mim quando escrevo este diário. Acredito que encontrei a mulher certa. Uma tal de Elizabeth Smith, que tivera um filho na mesma época que eu. “Quase uma vaca leiteira de tanto leite”, disse a mãe dela, orgulhosa. Fiquei surpresa ao notar que aquela idosa cuidava das quatro crianças filhas de Elizabeth sozinha, sem pouco se importar com o paradeiro da filha. A idosa desconversou, ofereceu-me chá e mostrou seus netos. Notei que todos ali tinham uma vida saudável. Duvido que não recebam uma quantia boa de vez em quando, o que só atesta minhas suspeitas.

            Perguntei aos vizinhos sobre Elizabeth, e todos afirmaram que a conhecida ama-de-leite havia desaparecido. Notei que ninguém sabia de seu paradeiro, fazendo apenas conjecturas. “Deve estar em Londres, mas a mãe jamais diz qualquer coisa. Só vai ao banco para receber o dinheiro das crianças”.

            Amanhã irei ao único banco de Fareham. Veremos o que vou descobrir.


Cidade de Fareham. Condado de Hampshire.

Inglaterra, 16 de Setembro de 1907.


            A visita ao Banco foi mais inesperada do que pensei.

            Precisei gastar uma boa quantia para subornar o gerente, mas tenho a sensação de que ele irá me denunciar às autoridades. Se isso cair nos ouvidos de meu chefe, eu estarei encrencada, mas foi necessário fazê-lo. Eu precisava saber quem mandava as remessas de dinheiro à Mrs. Smith, e para minha surpresa – ou não – os recursos cessaram há um ano. Tudo que resta à pobre Mrs. Smith e as crianças é uma raspa de uma poupança, que recebia generosos depósitos desde 1902, quase religiosamente. Fiquei penalizada pelas crianças. Estariam em má situação em questão de meses. Mas, apesar de meu pesar, eu enxerguei nessa súbita necessidade da família Smith uma possibilidade de conseguir a informação de que tanto preciso.

            Preciso fazer uma visita aos Smith amanhã. 


Cidade de Fareham. Condado de Hampshire.

Inglaterra, 17 de Setembro de 1907.


            Quando toquei no nome de Elizabeth outra vez, a pobre Mrs. Smith só faltou me enxotar com a vassoura da casa, mas quando contei a ela que também estava a par de sua situação miserável, a idosa se mostrou mais receptiva a uma conversa, facilitada pelo vislumbre de libras que poderia obter de mim.

            De acordo com o relato da idosa, dois dias antes do nascimento de Jonathan, quando eu começava a sentir as dores das contrações, Elizabeth chegou em casa dizendo que conseguiu ser ama-de-leite para um bebê “de boa família”. Sua mãe parecia contente com a oportunidade, mas quando soube que sua filha precisava ir para longe e que ficaria incomunicável, Mrs. Smith se mostrou temerosa. “Sempre mandarei dinheiro, mamãe. Sempre. Pode contar comigo, nada irá faltar aos meninos.” E Elizabeth não faltara com a palavra. Os depósitos aconteciam todo mês, mas no último ano, eles pararam de ocorrer. Mrs. Smith teme pelo pior. Tem certeza de que sua filha está morta, em país estrangeiro.

            Perguntei a ela da razão de não procurar a polícia, e a idosa disse que seria perigoso. Fiquei estarrecida quando ela revelou que conhecera o empregador de Elizabeth, um homem cuja característica combinava perfeitamente com Jenkins. Não posso culpa-la por seu temor, pois medo era sempre a impressão que Daniel Jenkins deixava nas pessoas.

            Agora, eu tenho um nome, não mais uma conjectura. Preciso rastrear esses depósitos.


Cidade de Fareham. Condado de Hampshire.

Inglaterra, 21 de Setembro de 1907.


            Rússia.

            Todos os depósitos vieram da Rússia.

            Telefonei para a Agência. Menti sobre meus propósitos, alegando uma investigação de agentes, e em questão de dias eles conseguiram tudo. O repasse era feito pelo Bank of England, mas provinham da Rússia, de um banco em São Petersburgo. Uma firma no nome dos Ivanov intermediava a conversão dos rubros para libras. Agora tenho mais certeza de que a ama-de-leite que cuidou de meu filho foi mesmo esta Elizabeth Smith.

            O problema é que minha busca acendeu um alerta para meu chefe.

            Tive uma discussão complicada com ele esta manha. Ele me deu um ultimato. Disse que minha situação na Agência estava se tornando insustentável e que se eu não parasse de usá-la para fins pessoais, eu seria expulsa. Fingi arrependimento, e acatei suas ordens. Ele me deu uma semana de suspensão. Mal sabendo ele que isso só me incentivaria a buscar o meu filho.

            Mas agora que reuni algumas peças, sinto-me preocupada. Os Ivanov estão por trás, de alguma forma. O Duque Ivanov está morto, isto é um fato, mas de certa forma eu ainda sinto sua presença por trás desse desenlace. Talvez ele não contasse com sua morte, talvez ele realmente tivesse planos para o meu filho. Mas que planos seriam estes?

            E se ele está morto agora, então quem está com Jonathan? O que ainda querem de meu menino? [manchas de gotas d’água]


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Notas finais do capítulo

Hum...


Bom galera, por hoje é só (??). É, eu sei, foram uns bons caps, mas acreditem em mim, ainda tem muita estrada a percorrer. Na semana que vem, finalmente estaremos em 1910, e finalmente as coisas ditas na Sinopse começarão a acontecer.

Mais uma vez, obrigada pela leitura, e deixem seus reviews!!! Eles são muito importantes para que a história permaneça viva!!!

Até o próximo FDS!
Badwolf



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