Déjà vu escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 28
Capítulo 28




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Olhei discretamente no relógio: três e meia. Hoje era mais um daqueles dias em que nada estava bom e o tempo não passava em dias assim.

Perdi a hora de manhã e acabei atrasando todas as minha consultas, para ajudar precisei fazer uma cirurgia simples de urgência um pouco antes do almoço, e com isso eu ainda não tinha conseguido atender ao último paciente, que já deveria ter sido liberado antes da uma da tarde.

Fui até a porta para chamar o próximo e último nome, mas antes mesmo de abrir a boca meu aparelho de comunicação interna vibrou com um chamado da emergência. Corri até lá com o ânimo renovado, esperando que fosse algo realmente complexo, que me prendesse aqui por pelo menos mais quinze horas, com alguma coisa bem complicada e empolgante que desse um fim digno à minha quarta-feira.

—Me chamaram? - Perguntei para a enfermeira no balcão.

—Sim. Fratura no trauma sete. - Ela respondeu, me entregando o prontuário.

—Obrigada. - Agradeci sem vontade. - Preciso que alguém atenda meu último paciente, por favor.

“Que grande merda!”, pensei, apanhando o prontuário e indo até lá. Alex Hendrix, fratura no antebraço, li nas primeiras páginas e fechei a pasta antes de dar duas batidinhas na porta.

—Olá, Sr. Hendrix, sou a Dra. Weasley e vou atendê-lo hoje. O que houve com seu braço? - Repeti a frase que já fazia parte do meu repertório diário.

Me esforcei ao máximo para ignorar o olhar cobiçoso que ele me lançou quando virei para apanhar as luvas, e só me respondeu quando me sentei à sua frente:

—Queda durante um jogo de futebol.

—Ok, me deixe ver. - Pedi estendendo a mão e apalpando com cuidado o local levemente inchado.

—Na verdade eu não acho que você tenha quebrado, me parece mais uma torção no pulso devido ao impacto. Mas vamos pedir um raio-X para ter certeza, ok? - Informei minha suspeita após uma breve avaliação.

Enquanto me levantava lancei a ele o mesmo sorriso tranquilizador que todos os meus pacientes recebiam, mas que esse entendeu como abertura para segurar minha mão ao agradecer. Puxei meu braço para longe e me virei de costas para escrever o pedido de exame que ele deveria levar à sala da radiografia.

Enquanto terminava as anotações, ele se encostou casualmente ao lado do carrinho de instrumentos onde eu estava apoiando a pasta e perguntou, tentando parecer charmoso:

—Me diga, Dra. Weasley, qual o seu primeiro nome?

A frase me fez olhar para cima na hora, mas certamente o meu motivo para isso, que era justamente a lembrança da pessoa infinitamente mais agradável que a falou para mim pela primeira vez exatamente neste mesmo lugar, não foi o que ele entendeu, ou então não teria levado a mão sadia até meu rosto para acariciar minha bochecha.

Senti a raiva crescer em ondas quase palpáveis dentro de mim. Nem Harry, a quem eu dei muito mais liberdade desde o começo, se atreveu a fazer isso, esse rapazinho também não faria. Afastei sua mão com um tapa rude e me levantei antes de dizer:

—Não te interessa o meu primeiro nome porque eu com certeza não responderei se você um dia me chamar por ele, e se encostar a mão em mim assim de novo o seu próximo passeio será com a segurança, e sob acusação de assédio. - Cuspi as palavras e entreguei os papéis a ele. - Vá fazer seu raio-X, e na volta peça outro médico no balcão da emergência, eu me recuso a continuar o atendimento.

—Nossa, como ela é brava. - Desdenhou com um sorriso de deboche. - Você pode fazer isso? - Perguntou desafiador.

—Não só posso, como estou fazendo. Saia. - Ordenei, apontando para a porta.

Assim que fiquei sozinha, um turbilhão de pensamentos me passou pela cabeça, mostrando que aquela não era a primeira investida de um paciente sobre mim, nem mesmo a mais direta delas e que talvez minha reação tenha sido um pouco exagerada.

Mas a quem eu queria enganar? Não foi o gesto que me irritou, foi a pergunta. E a pose. E o local. E o trauma sete. Porque na minha cabeça, apenas uma pessoa poderia compor aquela lembrança, e eu o tinha escorraçado três semanas atrás.

Apoiei os cotovelos na maca onde antes o paciente estava e afundei o rosto nas mãos, contando até dez para ver se meu impulso de correr para o colo dele passava passava. Nada tinha mudado nessas três semanas, além da falta dele crescer a cada dia, mas isso era mudança suficiente para nada ao meu redor parecer como antes. Se eu fechasse os olhos a qualquer momento, poderia imaginar com exatidão o sorriso que eu tanto gostava de ver naquele rosto bonito demais para ser esquecido, e que não enfeitava mais o meu dia.

Eu o estou deixando ir por algo que não escolhi, não foi culpa minha e não posso mudar. O que estou fazendo com a gente?

Quando cheguei no número seis me virei decidida e pensando claramente: “Foda-se que isso é um impulso, eu não quero que passe”. O relógio me dizia que eu ainda tinha quarenta minutos antes que ele saísse do trabalho e mais de uma hora de turno pela frente, mas, só hoje, foda-se isso também.

Corri até o vestiário, enfiei o jaleco no meu armário e tirei minha bolsa às pressas antes de me virar e sair dali a passos largos, porque se bem me conheço eu precisava aproveitar esse rompante ou o próximo poderia vir quando a possibilidade de já ser tarde demais fosse ainda maior.

—Onde é o incêndio? - Colin perguntou desconfiado, quando me avistou ao longe no corredor.

—Me diz, por favor, que você vê algum sentido no que eu vou fazer e que não estou fazendo merda. - Pedi quando parei em sua frente.

Ele sabia do que eu estava falando, prova disso foi o sorriso de incentivo que abriu.

—Gata, você já deveria ter feito. Vai lá e arrasa.

Não consegui me manter séria e ri, lancei um beijo para ele e continuei o caminho até meu carro. O trânsito ajudou, os semáforos ajudaram, e por incrível que pareça até os carros parados na rua fizeram sua parte, porque eu achei uma vaga livre para mim exatamente em frente à portaria do edifício comercial em que ele trabalha.

O que não ajudou muito foi meu coração batendo descompassado durante os quinze minutos que precisei esperar, dividido entre o aperto de trazer à tona coisas desagradáveis, a expectativa de vê-lo e o receio de que por algum motivo ele não estivesse ali hoje.

As pessoas começaram a sair em grupos pequenos, conversando, rindo e acenando ao se despedir de seus colegas de trabalho e cada um virar para um lado na calçada. Harry saiu apenas depois que uma grande quantidade de pessoas passou por mim, acompanhado de três pessoas com quem ele sorria de maneira bem contida, diferente do jeito descontraído que fazia comigo e eu tanto gostava, mas suficiente para me fazer sentir um frio gostoso na barriga.

Vi quando ele acenou para os dois rapazes e se abaixou para dar um beijo no rosto da moça que os acompanhava, depois falou mais alguma coisa que fez os três assentirem e se virou para o outro lado. Foi aí que ele me viu, e o olhar distante que me dirigiu me fez morder o lábio e pensar se tinha sido mesmo uma boa ideia.

Ele não esperou que eu chamasse, caminhou espontaneamente em minha direção e não pude evitar achar isso um bom sinal.

—Oi.- Falou simplesmente quando parou na minha frente.

—Oi. - Respondi tentando ganhar tempo. - Tudo bem?

—Comigo sim, e com você?

—Tudo bem também.

—Tem certeza que não aconteceu nada? Você está de tênis. - Comentou cruzando os braços, mas sem conseguir esconder completamente a preocupação.

—O que? - Questionei sem entender, olhando para os meus pés e não vendo nada errado com meu Nike branco e rosa.

—Você está de tênis, e você odeia. Nunca sai do hospital de tênis. - Explicou sem demonstrar muita paciência.

—Ah, isso. Nem percebi. - Respondi surpresa por ele prestar atenção em um detalhe tão insignificante.

A verdade é que eu não fazia ideia de como dizer o que eu queria, e ele me olhar assim no fundo dos olhos tentando entender o que diabos eu estava fazendo ali não ajudava. Eu já sabia que ele não me ajudaria a falar, apenas ficaria esperando, e suas ações comprovaram exatamente isso. Não bastasse o que estava em jogo ali, o assunto sobre o que eu trataria estava longe de ser meu preferido.

—Será que… - Comecei e parei por um segundo para respirar e conseguir encará-lo de volta. - Será que podemos conversar?

—Agora, Ginny? - Perguntou olhando para o lado por um momento, e eu tenho certeza que ele estava se referindo à situação atual, e não exatamente ao horário.

—Sim. Eu gostaria, se você quiser.

—Ok, me segue até lá em casa. - Aceitou e começou a se virar, mas eu o segurei pelo braço.

—Será que podia ser na minha casa? - Perguntei sem graça, mas se eu pudesse ter pelo menos um ambiente onde me sentisse mais confortável já ajudaria.

Ele me olhou de um jeito que dizia claramente que isso não estava em discussão e eu não consegui me segurar e revirei os olhos para ele.

—Facilita só isso Harry, vai. - Pedi impaciente, soando como eu mesma pela primeira vez desde que começamos a conversar.

Ele quis rir, mas dirfarçou com uma tosse e cedeu.

—Tudo bem, na sua casa então.

Entrei no carro atrás de mim e dirigi mais lentamente do que o normal até conseguir vê-lo me seguindo pelo espelho retrovisor, então seguimos em velocidade normal.

Deixei o carro na garagem e subi correndo o lance de escadas até o hall para esperá-lo entrar. O vi cumprimentar o porteiro e rir de alguma coisa que ele disse, mas quando parou ao meu lado já estava sério e em silêncio de novo e assim permaneceu durante todo o tempo dentro do elevador.

Harry deixou a mochila em cima da mesa enquanto eu fechava a porta e se encostou na lateral do móvel, me esperando começar a falar e não dando indícios de que diria alguma coisa. Sem saber como ou por onde começar o assunto, deixei minha bolsa do lado e fui até a cozinha pegar um copo de água, ele me seguiu e parou encostado no balcão em frente à pia, sustentando a mesma expressão.

—Quer comer alguma coisa? - Perguntei a primeira coisa que me veio à cabeça, e que o fez bufar.

—Olha Ginny, não está tudo bem e eu não vim aqui jantar com você como nos velhos tempos. - Falou calmo, sem uma palavra sequer fora do tom normal, mas o termo “velhos tempos” me deixou triste.

Eu tinha que falar, mas as palavras pareciam presas. Virei de costas para ele com a desculpa de colocar o copo na pia e aproveitei para respirar fundo e tomar coragem, porque se não fosse agora eu não conseguiria mais.

—Eu sei, só não sei por onde começar. - Assumi me virando.

Decidida a não adiar mais nem um segundo, escorreguei para o chão e me sentei com as costas apoiadas no armário.

—Ok, vamos conversar. - Determinei, cruzando os braços ao redor dos joelhos e apesar da cara de quem não entendia nada ele se sentou de frente para mim.

—Sobre o que vamos conversar mesmo? - Perguntou, vendo que eu demorei um segundo a mais do que o normal para começar.

—Você não disse que queria saber tudo? Vou te contar, aí depois você decide se sou mesmo a pessoa mais egoísta que você conhece. - A última parte saiu sem que eu planejasse e com mais sarcasmo do que eu pretendia usar nesse momento.

Harry não foi eficiente em disfarçar a cara de surpresa, mas se conteve em concordar monossilabicamente.

—Ok.

—Quando eu tinha dezesseis anos… - Interrompi a frase e olhei para cima, já sentindo meus olhos marejados. - Ai, droga, mas eu vou chorar. - Avisei, tentando adiar ao máximo a primeira lágrima, porque ela traria muitas outras mais.

—Tudo bem, eu não me importo. - Falou com muito mais simpatia do que momentos atrás.

—Quanto eu tinha dezesseis anos estava voltando de uma viagem de férias com meus pais e a gente sofreu um acidente. Um acidente bem grave, na verdade.

—Você se machucou? - Perguntou como um incentivo a que eu continuasse.

—Eu só quebrei o braço, mas meus pais foram para o hospital com ferimentos graves e... - Não consegui adiar mais e sequei a primeira lágrima. - E a minha mãe morreu algumas horas depois.

—O Ron não estava junto? - Quis saber, e eu quase o agradeci por me fazer falar de outra coisa, mesmo que só por uma frase.

—Não, ele já era casado nessa época e não viajou com a gente. - Contei antes de voltar ao assunto principal, porque eu queria acabar logo com isso. - Perder a mãe não é a época mais feliz da nossa vida, sabe, mas a gente aprende a conviver com a ausência.

Parei um pouco para ganhar tempo, o Harry não interrompeu meu momento de silêncio.

—Depois do acidente eu morava só com o meu pai, e por isso eu sabia que as coisas não estavam indo tão bem assim e que mesmo depois de alguns meses ele não aceitava o que tinha acontecido. Ele e minha mãe eram muito próximos e faziam tudo juntos, até trabalhavam juntos antes de se aposentarem, não saíam para lugar nenhum sem o outro, deitavam e levantavam na mesma hora, nunca estavam sozinhos. - Expliquei tentando contextualizar pelo menos um pouquinho a próxima coisa que eu diria. - Mas eu nunca esperaria chegar em casa num dia comum, depois de um passeio que mal durou três horas, e achar um monte de gente em frente ao portão me olhando com cara de pena e dentro de casa só a carta de despedida. - Contei de uma vez, olhando desafiadora para ele e esperando o olhar de pena que todo mundo me lançava.

Surpreendentemente, o Harry não alterou em nada sua expressão, e tudo o que ela me dizia é que eu tinha toda sua atenção e que estava absorvendo tudo o que eu contava. Não sustentei seu olhar por muito tempo sem me sentir exposta, abaixei a cabeça e apoiei o rosto nas mãos, esperando as lágrimas darem uma trégua. Ele esperou paciente até eu conseguir falar outra vez, até a respiração estava silenciosa.

—Isso foi um ano depois, eu estava no último ano da escola e precisava tanto dele. Era o meu pai, dizia que me amava acima de tudo e me abandonou.  - Assumi ressentida, passando mas mãos bochechas para secar. - Existe uma diferença enorme entre você perder a mãe e ser filha de um suicida, porque o último caso te faz virar quase uma atração. Todo mundo quer saber o que aconteceu, e quem não tem coragem de chegar e te perguntar na cara, vai ficar apontando quando você passa e um milhão de histórias diferentes vão se espalhar.

Limpei o rosto de novo e passei a mão na calça para secar, a essa altura eu já tinha desistido de olhar para ele e só fitava minhas próprias mãos.

—Ninguém tem nada que acrescente para dizer, mas todo mundo acha que as flores resolvem o problema e por um ano tudo o que eu ganhei foram as malditas flores. Você não imagina como eu as odeio! Eu odeio o aspecto, o cheiro, aqueles vasinhos coloridos, odeio tudo que me lembre flores. - Falei essa parte com raiva, me lembrando da quantidade de arranjos que eu tive que receber sorrindo e esperar a pessoa ir embora para jogar no lixo, sem nem abrir o cartão que certamente teria meia dúzia de palavras ensaiadas e em alguns casos nada sinceras.

—Eu morei com o Ron e ex mulher dele depois disso, não dá para dizer que foi ruim porque o Ron sempre foi o Ron, mas ela não era uma pessoa muito fácil e não achou que deveria ficar com essa responsabilidade. - Contei apontando para mim, indicando que eu era o peso que ela não quis em sua vida maravilhosa de casada. - Eu estava mais ou menos na metade da faculdade quando ela foi embora e por um tempo meu irmão ficou bem triste, mas depois percebeu que estava melhor sem ela. Eu terminei meu curso e ele me perguntou se eu gostaria de começar em algum outro lugar, não precisei nem pensar para responder que sim e a gente se mudou. Foi quando eu deixei de morar com ele e me mudei para cá, e isso foi tudo o que aconteceu.

Terminei de narrar os fatos e puxei com força o ar antes de explicar qual era a questão entre nós dois.

—Mas o problema mesmo, Harry, é que você me assusta. - Falei por fim,dando de ombros e levantando os olhos para ele pela primeira vez.

Ele me retribuiu um olhar questionador, demonstrando que não tinha entendido.

—Quando o meu pai… - Parei a frase antes de conseguir terminá-la do jeito mais doloroso e decidi reformular. - Quando isso aconteceu, ele deixou uma carta dizendo que eu e Ron ficaríamos bem porque o dinheiro era suficiente. - Soltei uma risada forçada para ilustrar como achava aquilo ridículo. - E que ele fez aquilo porque era demais ficar sem minha mãe, que ele a amava demais. Isso não é no mínimo contraditório? - Fiz uma pergunta retórica, que ele teve o bom senso de não responder. - Tudo o que eu senti por anos foi raiva, uma raiva imensa, por como ele foi fraco e não pensou em mais ninguém além dele. Pegue o seu exemplo de pessoa e o coloque na posição mais covarde e egoísta que você pode imaginar, isso foi tudo o que eu consegui sentir por anos. Nem saudade, nem tristeza, só raiva.

Ele assentiu com ar pensativo, sem indicar se concordava ou não comigo.

—Você percebe como isso não é normal? Como é absurdo, até mesmo doentio, você escolher simplesmente deixar de existir porque ama tanto alguém que não consegue viver sem aquela pessoa? - Soltei um riso de deboche que provavelmente indicava que eu também não estava muito normal nesse momento. - Mas aí você apareceu, e foi chegando, se aproximando com essa sua mania de ser fofo e feliz vinte e quatro horas por dia.

Me interrompi mais uma vez para limpar o rosto e encontrei sua expressão mais curiosa até agora.

—Eu ainda acho que é totalmente doentio o que meu pai fez e que não há justificativa nenhuma que seja suficiente, mas você me fez, me faz na verdade, entender um pouquinho como ele se sentiu sozinho quando minha mãe se foi. E você só existe para mim há sete meses, eles ficaram juntos por vinte e oito anos. - Contei essa parte fitando minhas próprias mãos e com vergonha por estar admitindo. - Mas é tempo suficiente para eu já saber que eu também me sentiria perdida se alguma coisa acontecesse com você, e a possibilidade de ser fraca também me assusta mais do que qualquer outra coisa.

Harry abriu a boca para falar, mas levantei a mão em um sinal para que ficasse quieto porque eu ainda não tinha terminado.

—Ou vice versa, porque alguma coisa poderia acontecer comigo a qualquer momento também, e quando você entregou meus presentes de aniversário disse que eu era o seu amor. - Ele não negou nem pareceu se incomodar, só continuou me olhando sem esboçar reação. - Eu não quero ter esse tipo de ponto fraco, Harry, e não quero ser um para ninguém.

Apertei mais os pernas junto ao peito quando terminei e apoiei o queixo sobre o joelho, mas me concentrei em olhar para qualquer lugar que não seus olhos. Diferente de mim, ele não parecia incomodado em me encarar.

—E por que você está me contando isso agora? - Perguntou quando teve certeza de que eu havia terminado.

—Não é você que diz que não se pode desistir enquanto sabe que tem chance? - Respondi como se fosse óbvio e o vi morder o lábio para conter um sorriso que seria mesmo inapropriado para o momento. - Você disse que desistia quando saiu daqui, eu não consegui fazer o mesmo.

—Nada vai me acontecer, Gin. - Afirmou por fim, a postura mais relaxada do que antes.

—Você não pode me prometer isso, Harry. Eu sei melhor do que todo mundo que não há como saber, vejo todos os dias coisas acontecerem com pessoas com quem nada ia acontecer.

—E se acontecer, tudo o que eu vejo em você é força. - Garantiu e levantou o suficiente para conseguir se virar e sentar do meu lado, os joelhos também dobrados contra o peito e o braço encostado no meu.

—Você não sabe disso também. - Disse com o rosto virado para cima, olhando em seus olhos. - Ninguém sabe até que aconteça.

—Você pode até estar certa sobre a questão anterior, mas disso eu tenho certeza, sim. - Teimou, ignorando minha lógica.

Embora eu não concordasse totalmente, gostei de vê-lo confiar em mim.

Antes que eu dissesse algo ele passou a mão por trás da minha cabeça e puxou o elástico que prendia meu cabelo.

—Você odeia isso também. - Comentou, puxando os fios um pouco para frente e arrumando-os como eu fazia.

—Nem reparei.

—Você estava distraída demais hoje, não? - Brincou, me arrancando o primeiro sorriso espontâneo desde que começamos a conversar.

Ficamos um tempo em silêncio até que ele perguntou:

—O que você quer, Ginny?

—Você sabe.

—Não, eu não sei. - Insistiu e eu me vi obrigada a dizer.

—Eu quero um relacionamento de verdade.

—Um relacionamento de verdade não é muito diferente do que o que a gente tinha. - Argumentou, me obrigando a ser mais específica.

—Eu quero o que a gente tinha, porque era muito legal, e mais o que faltar para ser um relacionamento de verdade. Quero ficar com você, Harry.

—Eu tenho algumas condições agora. - Falou e eu o olhei desconfiada. - E não faça essa cara, porque eu juro que se acontecer alguma coisa séria a ponto de me fazer ir embora outra vez, nem você e nem nenhuma das suas calças brancas vai me fazer voltar de novo.

Seu tom de ameaça associado à escolha das palavras nos fez rir ao final da frase.

—Diga, então. - Pedi olhando com atenção.

Antes de falar ele limpou minha bochecha ainda molhada e passou a mão na manga da camisa para secar.

—Você vai conhecer meus pais. - Determinou e eu assenti.

—Tudo bem.

—E eu quero conhecer os seus amigos decentemente.

—Colin e Luna? - Ele acenou concordando. - Ta bom. Mais alguma coisa? Se for muito é melhor eu anotar. - Comentei irônica e ele riu descontraído.

—Você vai ser minha namorada. - Determinou, me olhando com um sorriso de canto.

—Nomes são mesmo tão importantes?

—Para mim são, nesse caso.

—Então você deveria perguntar se eu quero ser sua namorada, não? - Arqueei a sobrancelha em sua direção e ele abriu aquele sorriso convencido que eu adorava.

—Você quer, eu sei. - Ele esticou a mão para mim e eu entrelacei nossos dedos. - É só isso por enquanto, se eu lembrar de mais alguma coisa vou te falando.

—Também tenho uma coisinha a dizer. - Comecei e recebi um olhar de incentivo. - O que acabei de te contar é assunto meu e eu estou confiando que você não vai dizer a ninguém. Além da Mione, para quem o Ron contou, ninguém mais sabe, nem o Colin.

—Nem precisava dizer.

—E você me deve uma viagem para a praia. - Ele abriu um sorriso de pura satisfação quando citei nossa viagem fracassada. - O que foi?

—Acabei de perceber que aquele dia você estava sendo fofa, estou até me sentindo culpado por ter ficado bravo.

—Se sinta mesmo.

—É que até sendo fofa você é meio estranha. - Brincou e nós dois rimos.

—Não abuse da sorte, moleque. - Ameacei.

—Tem mais uma coisa.

O olhei incentivando a continuar.

—Eu quero ser a pessoa para quem você corre quando tem algo errado, para quem você liga, para quem você pede ajuda se precisar. Você já era essa pessoa para mim. - Pediu, me olhando sério. - Eu acho ótimo que você tenha uma relação muito boa com seu irmão, não estou pedindo que isso acabe e muito menos que você o substitua por mim, mas em um relacionamento de verdade eu deveria estar no mesmo nível.

—Harry, para esse assunto ninguém nunca vai estar no mesmo nível que o Ron. - Optei por ser sincera, já que estávamos conversando claramente.

—Claro que não, eram os pais dele também e ninguém vai entender melhor o que você sente. – Concordou de forma sensata. - Mas sua vida não gira em torno disso, estou falando de todo o resto.

Concordei com um aceno e nos encaramos em silêncio por um momento. Como eu estava com saudade desses olhos verdes fixos em mim.

—Já podemos levantar daqui? Está meio incômodo. - Perguntou com o cenho franzido.

—Podemos.

Assim que ficou de pé, ele esticou a mão e me puxou para que eu levantasse também e fomos até a sala.

—O que é isso? - Perguntou apontando para um amontoado de papeis jogados em cima do meu sofá.

Antes que eu respondesse ele os pegou e virou de frente, dando de cara com o folheto explicativo das regras do War.

—Você leu tudo? - Perguntou achando graça.

—Quase, o brigadeiro acabou umas três páginas antes do fim e eu deixei de lado. - Sua gargalhada gostosa me fez rir também.

—Entendeu alguma coisa?

—Mais ou menos.

—Depois de explico melhor. - Prometeu quando me sentei também, o corpo virado para ele. - Eu posso fazer algumas perguntas sem você sair correndo? É que fiquei curioso sobre algumas coisas.

—Você curioso? Estou chocada. - Comentei revirando os olhos. - Eu não vou falar sobre isso com você todos os dias, então pergunte tudo o que quiser agora.

—O que aconteceu no dia em que brigamos?

—Tive que operar um cara que pulou do sexto andar de um prédio, tentativa de suicídio. Eu tento não me afetar com isso, mas nunca consigo. A equipe sabe que não gosto desses casos, mas as vezes não tem como fugir.

—Você já fez terapia? Não leve a mal, mas você era tão novinha, eu não conseguiria passar por isso sem nenhuma ajuda.

—Fiz por quatro anos e ajudou bastante, mas não resolve tudo e nem faz a gente esquecer.

—Resolveu o que?

—Os ataques de pânico, que eram horríveis.

—Faz tempo que você não tem?

—Fora o do dia em que a gente ia para a praia, fazia anos.

Ele ficou um pouco pensativo com a minha resposta, mas continuou as perguntas:

—Como foi entrar na sua casa depois disso?

—Nunca mais entrei lá, o Ron que resolveu tudo e pegou todas as minhas coisas. - Falei dando de ombros, indicando que não tinha mais o que dizer para isso.

—Você visita o cemitério as vezes?

—Nunca mais fiz isso desde o dia do enterro dele.

—E também nunca mais voltou na sua antiga cidade?

—Não, e nem vejo motivo para voltar. - Respondi olhando a tela apagada da TV à minha frente.

—Você ainda conversa com seus amigos da adolescência?

—Foi uma fase meio difícil, acabei me afastando de todo mundo e perdemos contato.

Ele apertou um pouco minhas mãos entre as dele, em sinal de conforto.

—É por causa disso que você quis ser médica?

—Não, eu sempre quis, mas depois do acidente não tive mais dúvidas. - O encarei de novo. - É horrível não poder fazer nada, espero que você nunca saiba o quanto.

—Também espero. - Concordou passando a mão no meu rosto.

—Acabou?

—Não, falta uma. O Ron era casado? - Perguntou surpreso.

—Era, com uma vaca. - Sua gargalhada ecoou de novo. - Ficaram juntos por cinco anos e ela simplesmente acordou um dia, arrumou as malas e foi embora enquanto ele estava no trabalho, deixou apenas um bilhete.

—Uma vaca mesmo. - Concordou comigo.

—A Mione é muito superior. Aliás, eles estão juntos de verdade agora. - Contei sem nenhuma empolgação.

—E por que essa cara de desânimo? - Perguntou achando graça.

—Sei lá, é estranho eles serem um casal, porque agora acho que ela vai estar nos nossos encontros.

—Eu achei que fosse meio incestuoso ter ciúmes do irmão. - Debochou usando minhas próprias palavras e eu mostrei a língua para ele.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, durante os quais ele parecia muito satisfeito em ficar apenas brincando com uma mecha do meu cabelo.

—Harry. - Chamei, me virando para ele. - Você é meu namorado agora, não é?

—Sim. - Confirmou com um sorriso.

—E quando é que a gente vai poder se beijar? Porque eu preciso confessar que estou morrendo de saudade. - Falei me inclinando sobre ele com as mãos apoiadas em suas coxas.

—Daqui a pouco. - Respondeu desafiador, se afastando para trás.

—Eu quero agora. - Teimei chegando mais perto, nossas bocas apenas a centímetros de distância.

—Continua mimada, não mudou nadinha.

—E você continua falando demais, a mesma coisa. - Terminei a frase com um selinho rápido, quase deitada em cima do peito dele.

Harry ia responder e continuar o assunto, mas eu não queria mais conversar e aproveitei o momento em que abriu a boca para beijá-lo do jeito que eu queria e ele não relutou nem um pouco em responder. Sua mão subiu pelas minhas costas e se acomodou na minha nuca, me prendendo ali, e eu me arrepiei inteira quando simultaneamente a isso ele chupou minha língua.

—Também estava morrendo de saudade, minha doutora. - Sussurrou com a voz rouca, descendo os beijos apressados pelo meu pescoço.

Antes que eu conseguisse responder, fui surpreendida por um movimento rápido que me levantou do sofá para me chocar com ele já de pé na minha frente. Em meio a um beijo muito mais urgente e com as mãos já deslizando por dentro da minha roupa fui empurrada de costas até meu quarto. Minha camiseta foi jogada no chão ao mesmo tempo em que eu era empurrada para cima da cama e ele não demorou nada em vir por cima de mim.

Era muito fácil esquecer de tudo com o Harry deitado desse jeito em cima de mim, acomodado entre minhas pernas, traçando uma trilha de beijos no meu decote e deslizando a mão com pressa pela parte de trás das minhas coxas. Meu corpo inteiro queria o que vinha depois, e com tanta vontade que eu adiei o quanto pude e precisei de muita determinação para espalmar as mãos em seu peito e o empurrar.

—O que foi? - Perguntou quando soltei uma risadinha sem graça.

—É que eu estou menstruada.

Ele fez o possível para esconder a decepção, mas não conseguiu. Soltando o peso em cima de mim, encaixou a cabeça na curva do meu pescoço e respirou fundo algumas vezes, o que não foi suficiente para diminuir a animação que eu conseguia sentir muito bem na minha virilha, graças à proximidade da posição.

—Eu deveria ter esperado mais três dias? - Tentei descontrair e consegui uma risada.

—Não, deveria ter vindo antes. - Opinou e rolou para o lado, fitando o teto.

Aceitei o convite e me acomodei no seu abraço confortável, relaxando com o carinho gostoso que ele começou nas minhas costas.

—Só para eu contar os dias, falta muito para acabar? – Perguntou, tentando soar despreocupado.

—Dois dias, vou contar com você.

—Sem chance de você ignorar isso e a gente ir ali no seu chuveiro matar a saudade rapidinho? – Propôs, me lançando uma piscadinha.

—Sem chance, Ursinho. – Notei seu sorriso com o apelido que ele dizia não gostar.

—Poxa! – Lamentou falsamente e nos virou na cama, ficando parcialmente em cima de mim de novo. – Vamos ter que namorar bastante então.  – Falou beijando meu pescoço e apertando minha cintura.

—Vamos. – Confirmei de olhos fechados, já sem a menor atenção no que ele dizia. - Bastante mesmo, porque eu estou querendo ter uma overdose de você.

Não sei ao certo quanto tempo ficamos na minha cama, apenas trocando beijos, toques carinhosos e algumas carícias mais íntimas, mas se não fosse a fome eu poderia ficar muito mais. Ri contra seu pescoço quando ele tirou minha mão de dentro da camisa aberta, quando aproximei minhas unhas de onde ele tinha cócegas.

—Eu sou sua namorada agora, você tem que deixar. – Argumentei com o dedo em riste para ele.

—Definitivamente você não entende muito desse lance de namorar, então não tente dizer as regras do nosso relacionamento. – Falou sem soltar meu pulso. – Vamos pedir alguma coisa para comer? Estou com fome.

—Achei que isso não fosse um jantar. – Comentei com os olhos estreitos para ele.

—Quem diz as regras sou eu, lembra? Estou dizendo que agora é. – Afirmou com superioridade e eu revirei os olhos.

Me virei para levantar e meus olhos passaram pelo criado mudo, me fazendo lembrar de uma coisa importante.

—Tenho uma coisa para te dar. – Falei engatinhando pelo colchão para alcançar a gaveta de onde tirei a cópia da minha chave.

—Você ficar nessa posição na minha frente me dá ideias que não posso concretizar agora.

Sem alterar em nada minha pose, virei apenas o rosto para ele e pisquei, arrancando um sorriso de canto cheio de malícia.

 – Mandei fazer isso um dia antes de você brigar comigo.

Os olhos dele quase saltaram para fora quando estendi o objeto e o sorriso que eu adorava ver em seu rosto se abriu quando estendi a chave para ele.

—Que avanço. – Elogiou, me fazendo rir também.

Ele se inclinou o suficiente para conseguir colocar a mão no bolso e tirar de lá o chaveiro que eu já conhecia.

—A sua ainda está aqui. - Falou separando uma das chaves e me mostrando. - Mas eu só devolvo se dessa vez você for usar.

—Eu vou. – Prometi enquanto ele adicionava a que acabei de entregar ao molho.

—E não vai se assustar se chegar e me encontrar aqui?

—Espero que não, mas apenas para ter certeza você pode me avisar quando vier.

—E se eu quiser fazer surpresa? – Testou as possibilidades enquanto me entregava de volta a chave da casa dele.

—Lide com uma possível agressão como consequência.

Sua gargalhada me fez rir também e no fim ele me roubou um beijo.

—Você fica o tempo todo segurando o pingente quando está tensa. – Comentou quando seus olhos desviaram para a joia repousando logo acima do meu decote. – É fofo.

—Todo mundo repara nisso, menos eu.

Ele deu de ombros e ficou brincando com minha corrente um pouco, até que me lembrei de uma coisa que eu precisaria perguntar ou não sairia da minha cabeça.

—Harry, você me acha mesmo tão egoísta assim? - Meu tom de voz soou chateado e ele desviou imediatamente os olhos para os meus.

—Não acho, desculpe ter dito aquilo. - Concordei com um aceno, me sentindo aliviada. - Mas você era muito individualista quando começamos a sair.

—Não sou mais?

—Não daquele jeito, porque você não dividia nada, agora é muito menos.

—Isso é uma reclamação? - Perguntei confusa e ele soltou uma risadinha.

—Eu gosto de você como você é, isso não é uma reclamação.

Abri um sorriso tão genuíno para essa declaração que meu maxilar protestou.

—Vou dizer isso mais vezes, porque adorei esse sorriso. - Comentou rindo e me deu um selinho. - O que você quer comer?

—Pode escolher hoje, não tenho preferência.

—Ta bom. - Concordou e me beijou de novo antes de se levantar.

Ele terminou de tirar a camisa e jogou em cima da minha cama, só depois saiu do quarto para pegar os folhetos de comida onde ele sabia que ficavam guardados. Puxei a peça para mim e aspirei o cheiro familiar do perfume dele por alguns segundos, aproveitando a sensação gostosa de tudo estar no lugar certo de novo, depois me levantei e fui atrás.

Quando cheguei na cozinha o encontrei encostado no balcão em frente a um cardápio de comida chinesa e o celular no ouvido. Abracei suas costas e fiz carinho em seu peito enquanto o esperava terminar os pedidos e encerrar a ligação. Ele deixou o telefone sobre o móvel e me puxou para a frente dele para retribuir o abraço.

—Gin… - Chamou depois de um momento, a expressão pensativa. - Você não é meu ponto fraco.

—Não? - Me afastei para conseguir olhar para ele.

—Não. - Confirmou simplesmente. - Na minha visão pessoal, você ser o meu amor não me cria fraquezas, só me deixa melhor.

Eu não soube o que responder, e ele também não me deu tempo para isso.

—E acho que eu te deixo melhor também, porque você era muito rabugenta e não fazia nada além de trabalhar. - Falou rindo e eu o olhei ameaçadora.

—Rabugenta, Harry? - Perguntei desconfiada.

—Um pouquinho. - Tentou diminuir o impacto do adjetivo. - Mas se quer saber, sempre te achei muito interessante, aquele tipo de pessoa tão fechada que a gente quer descobrir tudo o que tem dentro. Fora que você também é bonita pra caralho, o que só aumentava minha curiosidade.

—Gosto mais dessa linha de características.

—Mas voltando ao que eu estava dizendo, acho que somos pessoas melhores juntos, não o ponto fraco um do outro. Isso é uma visão muito pessimista de nós.

Ele fez uma pausa para que eu absorvesse o que tinha dito, e que era mesmo uma forma melhor de ver a situação.

—E eu estava pensando também que nós não fazemos nada juntos.

—Nada? - Falei pensativa, analisando minha rotina.

—Sexo, mas isso é uma coisa que não da pra fazer separados. - Brincou e riu da própria piada ruim.

—Até dá, mas fique sabendo que eu não vou reagir nada bem.

Ele rolou os olhos para mim, como se isso não fosse nenhuma novidade, e continuou o que estava tentando dizer.

—E eu acho legal fazer coisas sem você, ou vai me dizer que seria igualmente divertido sair com o Colin e a Luna se eu estivesse junto? - Questionou e eu neguei. - Não gostamos das mesmas coisas, não temos os mesmos amigos e nem nossos horários combinam muito.

—É verdade…

—Então quero te pedir mais uma coisa. - Falou sério, me encarando com firmeza. - Pare de nos comparar, porque eu e você não podíamos ser mais diferentes do que você me contou.

Assim que ele acabou de falar a campainha tocou, provavelmente com nosso jantar, e por um momento eu achei que estivesse livre da responsabilidade de responder e desviei o rosto para baixo, mas o Harry levantou meu queixo de novo sem sair da minha frente.

—Ta bom? - Exigiu uma resposta.

—Ta bom. - Confirmei, tentando sentir toda a segurança que ele ostentava.

Sem me soltar, ele se abaixou e encostou os lábios rapidamente nos meus, depois se virou e saiu da cozinha.

—Pega alguma coisa pra gente beber, vou buscar a comida.

Fiquei um momento esperando absorver o que ele falou, eu nunca tinha olhado as coisas por esse ângulo e fiquei feliz em ter sido apresentada a ele. Quando o ouvi agradecer e se despedir do entregador, me virei e peguei no armário atrás de mim uma garrafa de vinho e duas taças e fui até a sala encontrá-lo.

Harry estava de costas para mim, tirando as coisas da sacola, e não pude deixar de pensar que nós dois não podíamos mesmo ser mais diferentes, porque minha mãe com certeza absoluta teria preparado o jantar e jamais aceitaria a ideia de dividir entre duas pessoas uma garrafa inteira de vinho num dia qualquer no meio da semana.

—Vinho? - Perguntou sugestivo.

—Deu vontade. - Dei de ombros enquanto abria a garrafa e nos servia.

—Tem certeza que não quer mesmo tomar um banho comigo? - Perguntou como se eu estivesse desperdiçando uma grande oportunidade, pegando a taça que eu oferecia a ele e beijando meu pescoço enquanto eu tomava um pouco da minha.

—Tenho, mas a gente pode se divertir de outros jeitos.

—Grande ideia. - Falou me puxando para mais perto.

Só nos lembramos do jantar muito tempo depois, mas o vinho foi levado para o sofá com a gente, para deixar os beijos muito mais gostosos.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal!
Se minha opinião conta, esse é um dos meus capítulos preferidos de toda a história!
Agora o passado dela está totalmente claro, e estou louca para saber a opinião de vocês. Não economizem, vou adorar ler tudo o que vocês tiverem a dizer!
Beijos e até o próximo!


Crossover: Ron e Mione também estão passando por um momento ótimo, não poderia estar melhor entre eles. Não deixem de acompanhar!