Déjà vu escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 29
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!
Para quem ainda não sabe, criei um grupo no Facebook para tirar dúvidas, divulgar coisas novas, postar trechos futuros e já teve até um POV do Harry. Segue o link para quem ainda não está participando:

https://www.facebook.com/groups/1104653872914067/



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/687490/chapter/29

Podia ser só o meu humor, mas o dia seguinte amanheceu lindo.

Nem me incomodei quando o Colin irrompeu na minha sala pouco antes da hora do almoço e exigiu saber detalhes de tudo o que tinha acontecido, fazendo comentários engraçados durante toda a minha narrativa.

Devido a uma cirurgia agendada para o período da tarde, não consegui sair no meu horário habitual e deixei o hospital quando o sol já se punha. Como o Harry teria um jantar de negócios ou algo assim, e não poderíamos nos ver, fiz o caminho da casa do meu irmão para passar um tempo com ele.

Quando me aproximei do meu destino, vi que o carro da minha vizinha estava estacionado ao lado do dele. Eu já tinha visto essa cena antes e em todas as vezes fiz o retorno e fui para casa, porque eu certamente atrapalharia coisas em que evitava até pensar, mas agora eles eram um casal e isso aconteceria com tanta frequência que eu suspeito ter que deixar de ver meu irmão caso continue tomando a mesma atitude.

Deixando de lado o pensamento de que eu estaria atrapalhando, porque o Ron certamente nunca acharia ruim eu aparecer para jantar com ele, estacionei o carro atrás dos deles, rente ao meio fio, e toquei a campainha.

—Oi! - Cumprimentei meio sem graça assim que ele abriu a porta para mim.

—Oi. – Respondeu, me dando espaço.

—Estou atrapalhando? - Perguntei ainda parada do lado de fora.

—Não. - Falou com o cenho franzido, sem entender.

—Posso entrar?

Ele revirou os olhos como se não acreditasse no que estava ouvindo e me puxou para dentro.

—Entra logo, Ginny.

Dei um beijo no rosto dele ao passar do seu lado e deixei a bolsa no lugar de sempre, mas dessa vez ao lado de outra que eu já conhecia.

—Oi, Gin. - Mione me cumprimentou com um sorriso, deitada confortavelmente no sofá.

—Oi. - Me abaixei para trocarmos um beijo no rosto e me acomodei na poltrona que eu nunca usava.

—Saiu do trabalho agora? - Meu irmão perguntou, se sentando para que ela acomodasse a cabeça em seu colo e começando um carinho lento pelos cabelos cacheados da namorada.

Definitivamente era estranho vê-lo assim.

—Sim, tive uma cirurgia a tarde toda, aí pensei em vir jantar com você.

—E que cara é essa? - Minha amiga perguntou, olhando desconfiada.

—Cara de que? - Perguntei preocupara que ela pensasse que eu não gostava da ideia de vê-los juntos.

—Você está feliz.

—Ah! - Suspirei aliviada e deixei um sorriso tomar conta do meu rosto. - Voltamos.

Senti meu rosto quase protestar com o tamanho do meu sorriso, mas a minha amiga não pareceu surpresa.

—Você já sabia?

O sorriso amarelo que ela me lançou foi suficiente para eu entender e rolar os olhos em sua direção.

—O Harry me contou.

—Claro que contou, agora você tem um melhor amigo mais rápido que eu, né? – Fui propositalmente ácida e a olhei com desafio.

—Não mais rápido, ele só tem mais necessidade de compartilhar. – Defendeu o amigo, me fazendo rir.

—Necessidade de compartilhar é o que não falta nele.

—Mas ele só contou que vocês voltaram, me conta os detalhes. – Pediu empolgada, se acomodando para me ouvir.

—Coloque um filtro nisso aí, eu não quero saber de tudo. - Ron se manifestou pela primeira vez, me olhando de canto, e nós duas gargalhamos.

Sem os detalhes desnecessários, contei a eles que conversamos, estava tudo resolvido e que agora eu tinha um namorado. Para a última informação minha amiga olhou como se nada tivesse mudado, e meu irmão com descaso.

—Podemos sair os quatro para jantar qualquer dia, o que acham? - Ela sugeriu e eu gostei da ideia.

—No final de semana eu vejo com o Harry quando ele está livre e te aviso.

Ainda conversamos mais alguns minutos sobre os possíveis locais para irmos e o Ron não se manifestou nenhuma vez, só olhou de uma para a outra enquanto falávamos.

—Vamos comer? - Mudou de assunto inesperadamente e nós duas o seguimos até a cozinha.

Não demorei muito a ir embora depois que terminamos de jantar, e cheguei em casa num horário que me permitiu tomar um banho demorado e ainda ir para a cama cedo. Eu não estava com sono ainda, então fiquei mudando de posição vez ou outra enquanto o esperava chegar.

Vários minutos depois, meu celular soou anunciando uma nova mensagem, que eu tinha certeza de quem seria e sorri antes mesmo de ler.

“Meu jantar de ontem foi muito mais gostoso. Boa noite, minha linda.”

Pelo horário ele provavelmente pensou que eu já estivesse dormindo, mas se antes eu estava sem sono, enquanto digitava a resposta me sentia ainda mais desperta.

“Melhore a minha noite, me conte alguma coisa que eu ainda não sei.”

Eu fazia muito pouco essa pergunta e as respostas dele eram sempre inusitadas, como de fato foi a que recebi segundos depois:

“Nunca tive uma namorada ruiva antes ;)”

“Gosto da ideia de ser a primeira ;). Durma bem, Ursinho, beijos.” Respondi com um sorriso satisfeito e me acomodei melhor para dormir.

Tive um dos plantões mais agitados dos últimos meses, sem tempo para nada além de um lanche rápido no início da madrugada e com a emergência lotada até o início da manhã. Saí do hospital quando o sol já estava totalmente à mostra na manhã de sábado, mas apesar do dia lindo, eu só conseguia pensar em dormir.

Cruzei as ruas ainda vazias até o meu bairro e cocei os olhos enquanto aguardava o semáforo abrir para entrar na avenida principal que me levaria para casa, mas aparentemente ele não estava com a mesma pressa que eu. Bati os dedos no volante enquanto encarava a luz vermelha à minha frente e repassava mentalmente as partes mais legais da minha semana, que envolviam um par de olhos verdes que a essa hora com certeza estava dormindo sem nenhuma preocupação. Ficamos tantos dias sem nos vermos, que o tempo que passamos juntos desde que conversamos não foi nem de longe suficiente para matar a minha saudade.

Tomei minha decisão quando a luz verde se acendeu, indicando que eu poderia seguir em frente, e virei para o lado oposto ao que tinha intenção, fazendo o caminho que eu já conhecia tão bem e não trilhava a tempo demais.

Sorri satisfeita quando o portão da garagem se abriu sem demora para que eu entrasse, aparentemente minhas permissões de acesso não tinham mudado em nada. Usei pela primeira vez a minha chave e encontrei o apartamento dele em total silêncio quando passei pela porta, nada além da roupa social do dia anterior jogada no sofá indicando que o Harry estava em casa. Deixei minha bolsa, a chave e o celular em cima da mesa ao lado da mochila dele e caminhei até o quarto sem fazer barulho.

O encontrei ressonando tranquilamente, deitado de bruços e com o cobertor deixando à mostra boa parte das costas. Achei melhor não beijá-lo, como eu estava com vontade, para que não acordasse, então só puxei sua coberta para cima e entrei no banheiro para tomar um banho rápido.

Quando terminei de me enxaguar, me lembrei que não peguei uma toalha para mim, então usei a dele mesmo para me enxugar e voltei para o quarto. O barulho do chuveiro provavelmente o fez se mexer e agora ele estava deitado de lado, me aconcheguei no espaço vago e encostei em suas costas ao mesmo tempo em que lhe dava um beijo no pescoço. O contato o acordou e fez me olhar um pouco assustado, mas os olhos arregalados logo deram lugar a um sorriso satisfeito e sonolento.

—Que surpresa boa, doutora. Estou impressionado. – Harry comentou divertido, enquanto eu me inclinava para grudar minha boca na dele em um selinho demorado.

—Pensei que eu já enrolei demais para usar a minha chave. - Respondi casualmente e ele acenou concordando, ainda de olhos fechados. - Usei sua toalha de banho, esqueci de pegar uma.

—Não tem problema. - Falou colocando a mão para trás e subindo pela minha perna até a cintura, sem encontrar nenhuma barreira. - Você está pelada? - Perguntou animado, se virando de frente para mim imediatamente.

—Pois é, você devolveu as minhas roupas e eu fiquei sem opção. Aliás, nem agradeci. - Comentei sarcástica e ele riu. - Foi muito gentil da sua parte, obrigada.

—Não tem de que. - Respondeu mais preocupado em beijar o meu pescoço e passar a mão nas minhas coxas.

Por mais que a sensação fosse ótima, o sono não me deixava me concentrar totalmente nisso e eu acabei bocejando, chamando sua atenção.

—Estou morrendo de sono, não parei a noite inteira. - Me justifiquei.

Harry se virou de costas por um momento, puxou uma camiseta de cima do criado mudo e me entregou. Me sentei na cama tempo suficiente para vesti-la e ele me puxou para deitar de novo, de costas para ele dessa vez, com os braços firmemente presos ao meu redor.

—Então dorme o quanto você quiser, descansa bastante, porque eu quero te cansar muito quando você acordar. – Prometeu, distribuindo alguns beijos no meu pescoço e me deixando arrepiada.

—Esse é um cansaço do qual estou com saudade. - Falei me encostando ainda mais nele. - É bem cedo, dorme mais um pouquinho também.

Ganhei mais alguns selinhos antes que ele se acomodasse atrás de mim e em pouco tempo eu já estava dormindo profundamente.

Acordei sozinha na cama e sem ter ideia do horário, mas me sentindo completamente disposta. Esfreguei os olhos para focar o quarto escuro em volta, e dei de cara com meu robe cuidadosamente dobrado no colchão ao meu lado. Troquei a camiseta que estava usando por ele. e me demorei apenas o necessário no banheiro antes de sair do quarto.

Encontrei o Harry na sala, deitado no sofá usando apenas a cueca boxer com a qual tinha dormido e olhando com atenção para um livro. A familiaridade da cena me fez rir e isso chamou a atenção dele para mim, fazendo o objeto ser esquecido no chão ao lado. Cruzei a distância entre nós e me deitei em cima dele, aceitando o abraço que me oferecia.

—Essa é uma visão que vale a pena ter logo que acordo. - Elogiei e ele riu convencido.

—Essa também. - Comentou subindo a mão pela minha perna e infiltrando sob o tecido fino. - Dormiu bem?

—Muito bem e você?

—Acordei melhor do que fui me deitar. - Respondeu colocando meu cabelo para trás. – Descansou?

—Muito, mais relaxada impossível.

Ele me lançou um sorriso sugestivo.

—Eu estou com muita saudade de você. - Falei descendo a boca pelo maxilar dele até o pescoço e acariciando seu peito.

Antes que eu chegasse ao meu alvo, ele me empurrou e se levantou, me arrastando de volta para o quarto em meio a um abraço.

—Hoje eu vou te levar para a cama, doutora, porque eu quero espaço para fazer tudo o que eu estou com vontade.

—Eu estava com saudade das suas vontades também. - Falei em meio a um gemido quando ele subiu uma das mãos da minha cintura e acariciou meio seio. - Cadê essa cama que não chega logo?

—Adoro você com pressa. - Sussurrou no meu ouvido e finalizou com uma mordida de leve na minha orelha.

Senti o colchão macio encostar nas minhas pernas e caí sentada sobre ele, aumentando vários centímetros nossa diferença de altura. Afastei as pernas e o puxei mais para perto, aproveitando a posição para acariciar suas coxas grossas e distribuir alguns beijos e lambidas pela barriga, fazendo-o se arrepiar e respirar com mais dificuldade. Subi minha mão e o acariciei por cima da cueca, arrancando um gemido excitante.

Enrosquei os dedos no elástico da peça para puxá-la para baixo, mas ele me impediu puxando minhas mãos, olhei para cima com a sobrancelha arqueada. Quando o encarei sua expressão maliciosa já dizia que não adiantaria protestar.

—Achei que você gostasse da minha pressa.

—Eu gosto, mas não agora.

Harry abriu um sorriso cheio de promessas, soltou meus pulsos entre nós e juntou meus cabelos carinhosamente, como se fosse prendê-los em um rabo de cavalo, mas ao invés de um elástico ele os segurou no lugar, me empurrou com o corpo para o meio da cama e virou minha cabeça para ele quando se inclinou sobre mim. Antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa sua língua invadiu minha boca em um beijo urgente e faminto, a mão no meu cabelo me prendia firme ali, mas foi ela também que me puxou para trás quando ele interrompeu o contato das nossas bocas e me encarou com os olhos faiscando de desejo.

—Eu quero a sua pressa agora. - Pedi maliciosa, fazendo-o sorrir presunçoso.

—Onde você quer beijar?

—Seu pescoço. - Falei sem titubear, entrando na brincadeira, e ele o aproximou do meu rosto.

Deslizei os lábios pela pele arrepiada, sentindo o cheiro característico de quando ele não usava perfume. Mordi de leve próximo ao maxilar e lambi logo em seguida, fazendo-o gemer baixinho e me puxar para trás de novo, me impedindo de continuar.

—Agora seu peito. - Exigi antes de ouvir a pergunta.

Ele se inclinou um pouco mais para cima e deixou que eu me aproximasse o suficiente para distribuir meus beijos por onde tinha pedido, mas quando eu comecei a me empolgar a mão em torno do meu cabelo me afastou de novo.

—Sua barriga.

Esperei ele se ajoelhar na minha frente e me inclinei para conseguir lamber sua pele sensível. Demorei um pouco ali e senti o aperto no meu cabelo se suavizar quando desci um pouco mais os lábios e mordi logo abaixo do umbigo, o gemido rouco dele invadiu meus ouvidos em seguida. Aproveitando a distração, puxei com os dentes o elástico da cueca, mas ele me afastou assim que sentiu.

Arqueei a sobrancelha para ele em um pedido mudo, fazendo minha melhor cara de que planejava usar muito bem a próxima concessão, mas ele negou com um sorriso de canto mesmo assim.

—Agora é minha vez. - Determinou e soltou meus cabelos para me fazer deitar no colchão.

Eu já me preparava para fazer o mesmo e determinar quando parar, mas meus planos foram interrompidos quando ele jogou meu robe para o lado e continuou segurando a fita com a qual eu o amarro ao redor da cintura.

—Me dá as mãozinhas aqui, dá. - Pediu, mostrando a faixa e me encarando cheio de intenções que eu nem pensaria em recusar.

—Você percebe quão injusto isso é? - Falei manhosa, enquanto ele prendia meus pulsos de um jeito apenas simbólico e determinava que eu deveria deixar os braços acima da cabeça.

—Eu não, mas você com certeza percebe quão gostoso isso é. – Argumentou, se inclinando sobre mim e colando os lábios no meu seio.

Sem dúvida nenhuma eu percebia, ainda mais quando ele lambia minha pele como agora, descendo lentamente pela minha barriga até alcançar o meio das minhas pernas, me fazendo gemer alto. Ele não teve nenhuma pressa em sair dali, me fazendo contorcer embaixo dele e alisando minhas coxas com carinho, criando um contraste gostoso com o que eu sentia com o trabalho dos lábios dele em mim.

Eu preferia gozar com ele, mas o Harry não parecia ter a mesma opinião sobre isso e continuou me excitando até que eu atingisse o clímax e explodisse em um milhão de sensações que eu nunca saberia explicar e só ele me fazia sentir. Ele não parou o que estava fazendo, e quando ficou demais empurrei o rosto dele para longe, ignorando que eu supostamente deveria estar imóvel.

—Você não deveria usar as mãos. - Falou com um sorriso convencido ao me ver ofegante.

—Sou muito teimosa. - Devolvi entre as respirações entrecortadas.

Ele riu enquanto tirava a cueca e soltou minhas mãos antes de se deitar sobre mim e me dar um beijo excitante, ao mesmo tempo em que o corpo dele me invadia, me fazendo esquecer de tudo apenas para me entregar à sensação de completude que o sexo com ele proporcionava.

Quando ele acelerou os movimentos, indicando que estava chegando ao fim, o empurrei para o lado e me sentei sobre seu quadril, tomando as rédeas da situação e arrancando um olhar contrariado enquanto ele apertava forte minha bunda. Enrosquei os dedos em seus cabelos e o beijei ao mesmo tempo em que atingia o ritmo que ele gostava. A mordida mais forte no meu lábio e o corpo dele relaxando embaixo do meu indicaram quando meu objetivo foi atingido.

Esperei nossas respirações voltarem ao normal antes de sair de cima dele e me deitar relaxada ao seu lado, meu corpo ainda sentindo os arrepios decorrentes da ação.

—Eu estava pensando numa coisa. - Falei depois de um tempo, ainda encarando o teto.

—O que?

—Você teve sua comemoração de aniversário, eu ainda quero a minha.

Antes de me responder ele virou para mim e se apoiou no cotovelo para me olhar com o rosto acima do meu.

—Tudo bem, mas vai ser surpresa e quando eu quiser.

Concordei com um aceno.

—Aliás, não sei se cheguei a dizer, mas adorei a comemoração a sós do meu aniversário. - Sorriu saudoso com a memória.

—Eu queria uma coisa diferente, até pedi uma sugestão pro Colin e pra Luna, mas achei melhor planejar sozinha depois de ouvir o que tinham a dizer. - Ri ao final, fazendo uma careta que indicava que não haviam sido boas ideias.

—E o que eles sugeriram? - Perguntou curioso.

—O Colin sugeriu um ménage. Não opine! - Avisei com o dedo em riste e ele riu.

—Não pensei em falar nada.

—E a Luna sugeriu uma fantasia de enfermeira.

—Desse eu até gostei. - Falou pensativo.

—Brega demais. - Neguei a hipótese.

—A sua versão de médica safada não me pareceu nada brega.

—Só porque ela não era feia de vinil, te garanto.

Ele ficou quieto por um momento e eu fiquei olhando seu rosto pensativo se transformar em um sorriso divertido.

—Só por curiosidade, com quem seria o ménage?

O sorriso dele aumentou quando fechei a cara, pronta para dar uma má resposta, mas optei por encerrar o assunto de outro modo:

—Com o Colin, claro, foi ele que sugeriu. - Falei como se fosse óbvio e ele gargalhou.

—Prefiro a sugestão da Luna, pode comprar a fantasia de enfermeira no meu próximo aniversário.

Olhei de canto para ele, sem confirmar nem descartar a hipótese, sugerindo que iria pensar no assunto.

—Três semanas… - Ele comentou depois de um momento de silêncio, traçando de leve com o dedo o contorno dos meus seios e me deixando arrepiada outra vez. – Sem te tocar, sem ver seu corpo, sem ouvir esse seu vocabulário chulo.

Ele riu e eu acompanhei, já me sentindo animada outra vez.

—Muito tempo, não é? - Perguntei com um sorriso.

—Demais! – Confirmou, se aproximando mais um pouco e posicionando sua coxa entre as minhas. - Você já está cansada?

—Cansada? Acabei de acordar, mais disposta impossível.

—Então ainda não fiz meu trabalho direito. - Lamentou se inclinando para me beijar e descendo a mão pela minha bunda, dedicando todo seu empenho em acabar com as minhas energias.

O ajudei a levar os pratos do nosso jantar de volta para a cozinha e voltamos a nos acomodar no sofá para que eu terminasse de contar o que fiz de diferente nos dias em que não nos vimos, o que era praticamente nada.

—Ah, saí com a Lisa na semana passada. - Me lembrei de acrescentar assim que terminei o resumo de como foram minhas semanas.

—Eu sei, estava na casa dela quando ela chegou com a sacola do seu presente. - Falou enrolando uma mecha do meu cabelo. - Que aliás são lindos, ela passou vinte minutos mostrando todos os detalhes possíveis para o Mike e não economizou na encarada para mim quando disse que você mandou um beijo para ele.

A cara de insatisfação dele me fez rir e puxá-lo para um beijo.

—Eu não gosto de mandar beijos para você, prefiro te dar pessoalmente.

—Você está ficando muito boa nisso de me agradar com palavras.

Dei de ombros com o sorriso presunçoso.

—Vamos ali na sua cama? - Convidei com a mão estendida.

—Já quer dormir?

—Não, estava pensando em te cansar um pouquinho, você me parece muito disposto.

Ao invés de me responder, ele riu, aceitou o meu convite e caminhou até lá enroscado em mim, prendendo minha atenção em uma série de beijos rápidos.

—Você pode variar o ambiente e me cansar em qualquer lugar da casa, essa parede aqui, por exemplo, está morrendo de saudade de você. - Sugeriu e me encostou no corredor.

Quando seus dedos escorregaram entre minhas pernas em direção à virilha eu abri os olhos para encará-lo como eu sei que ele gosta que eu faça, mas a primeira coisa que vi, exposta na parede oposta, foi a foto dele e do Mike com mais duas meninas na praia e toda a minha vontade sumiu. Uma eu já sabia que era a Lisa, mas a outra ainda era um mistério e ela continuava ali me encarando mesmo depois de tantos meses.

—Algum problema? - Perguntou me olhando confuso quando sentiu minhas mãos descerem dos seus cabelos e repousarem casualmente sobre os ombros.

Seus olhos seguiram os meus e ele me olhou de novo após provavelmente ver apenas a parede da frente com o quadro que ele já deve ter decorado. Debati mentalmente comigo mesma se eu deveria dizer ou não o que era, mas em um segundo cheguei à conclusão de que como ele agora era meu namorado, eu poderia perguntar o que quisesse saber.

—Na verdade, tem sim. – Falei, contornando seu corpo para parar do outro lado do corredor, ele se virou e acompanhou quando apontei para a imagem em questão e pergunte de uma vez. - Quem é?

Cruzei os braços esperando sua resposta, que demorou mais do que o normal. Olhei para cima a tempo de vê-lo começar a rir.

—A Kate é o problema? - Perguntou confuso e jogou os braços em volta de mim, me prendendo em um abraço.

Olhei mais atentamente para a imagem, tentando enquadrar a mesma pessoa que vi na foto pequena do celular dele. Na imagem à minha frente ela ainda tinha os cabelos totalmente pretos, o que me fez deduzir que havia sido tirada há algum tempo. O problema é que ser irmã do melhor amigo e conhecê-lo há muitos anos não me fazia gostar mais do que eu via, e além disso ela parecia estar em todos os lugares.

—Vocês já tiveram algo?

Ele coçou a cabeça e por isso eu não precisei de nenhuma confirmação para saber, mas me respondeu mesmo assim.

—Não foi nada sério, e durou pouquinho. - Amenizou a informação. - Você nunca saiu com nenhum amigo do seu irmão?

—Harry, meu irmão é dez anos mais velho, quando sair com os amigos dele deixou de ser pedofilia já era adultério, porque todos estavam casados. - Respondi com os braços cruzados e ele riu.

—O elástico de cabelo era dela? - Quando vi já tinha perguntado.

—Que elás...? Ah, aquele no banheiro? Não, a Kate nunca dormiu aqui. - Voltei a olhar para a foto depois que ele me respondeu.

—Mas ela já veio aqui?

—Eu a conheço desde que éramos adolescentes, Gin, claro que ela já veio aqui.

—E ela já teve motivos para deixar um elástico de cabelo no seu banheiro? - Perguntei emburrada.

—Você quer mesmo falar sobre isso? Se quiser eu te conto, mas já adianto que não estou minimamente interessado em ninguém que já tenha tirado qualquer peça de roupa na sua casa ou em qualquer outro lugar com você. - Alertou, me fazendo pensar.

—Não quero, para de falar sobre isso. - Pedi me sentindo ainda mais enciumada, porque mais uma vez nem precisou me responder para eu saber o que perguntei.

—Você está com ciúmes? - Perguntou divertido, grudando um beijo na minha bochecha e me puxando de volta para a sala.

—Claro que estou! - Respondi enfática e ele riu. - Olha essa mão na cintura dela, possessivo demais na minha opinião.

—Vou trocar a foto, ta bom? – Prometeu, me puxando para sentar entre as pernas dele no sofá.

—Não precisa trocar sua foto.

—Já está ali faz muito tempo, as vezes eu troco algumas. - Deu de ombros indicando que não era nada demais. - Mas agora estou pensando, se antes quando você jurava que não tinha ciúmes de nada já era ciumenta, como é que vai ser agora?

Olhei de canto em sua direção e ele riu como se fosse a coisa mais engraçada do mundo.

—Eu ainda vou poder visitar o Michael? – Perguntou, tirando sarro.

Revirei os olhos, disposta a não responder aquela pergunta ridícula.

—Ainda vou poder encontrar os caras na sexta quando você estiver de plantão? - Continuou, não dando indícios de que pretendia parar.

—Harry, fica quieto. - Levantei e caminhei para longe dele, porque estava começando a me irritar.

Ouvi sua gargalhada e seus passos atrás de mim e me virei de bruços na cama.

—Você vai deixar eu ir para a academia? - Perguntou deitado do meu lado e falando perto do meu ouvido. - Como eu vou fazer nas reuniões com as minhas clientes? Vou ter que transmitir para você por chamada de vídeo?

Não aguentei e ri, me virando para ele.

—Harry, pare de ser ridículo. – Pedi, tentando me manter séria diante de sua expressão de quem estava se divertindo.

—Mas falando sério, eu ainda vou poder ver o Mike? - Repetiu a primeira pergunta, como se realmente esperasse minha resposta.

—Claro que você vai poder ver o Mike! Quando você quiser, a hora que você quiser, durante quanto tempo você quiser. - Falei sem paciência.

—Mas você sabe que ela é irmã dele, não sabe? - Provocou com os olhos brilhando de expectativa pela minha reação e eu fechei a cara de novo.

—Você quer que eu te jogue daqui de cima? - Ameacei e ele gargalhou de novo.

—Eu vou me quebrar inteiro.

—Então você está com sorte, porque eu saberia te consertar todinho.

Ele gargalhou e me puxou para mais perto.

—Me da um beijo, vai. - Pediu se aproximando.

—Não quero te dar um beijo, sai. - Neguei com as duas mãos no rosto.

—Quer sim. - Afirmou divertido e se ajoelhou com uma perna de cada lado da minha barriga antes de puxar meus pulsos e prender dos lados da minha cabeça.

—Não quero, não. - Insisti.

—Claro que quer, amor, pare de ser voluntariosa. - Me virei bem a tempo de fazer os lábios dele grudarem na minha bochecha.

—Pare de me bajular, você nunca me chamou de amor.

—Estou chamando agora, era pra você dizer que lindo e me chamar de amor também.

—Não quero te chamar de amor. - Teimei rindo.

—Mas já quer me dar um beijo?

—Harry, pare de ser infantil.

—Só quando você me der um beijo. - Prendeu minhas duas mãos com apenas uma e segurou meu rosto de frente para ele.

—Como você é chato. - Falei tentando soar brava.

—Sou muito chato, agora me dá um beijo. - Assumiu e eu não neguei mais.

Antes que o beijo que ele tanto insistiu se aprofundasse, Harry pareceu se lembrar de algo e se afastou de novo.

—Tenho mais uma condição.

—Lá vem. - Rolei os olhos teatralmente e esperei que ele falasse qual era.

—Eu vou te chamar de amor e você não vai achar ruim.

—Mas por que eu acharia ruim? - Perguntei sem entender, porque isso não fazia muito sentido.

—Sei lá, você não tem muito critério para o que acha ruim ou não, achei melhor confirmar. - Argumentou rindo e me fazendo rir também ao final.

—Se antes você já era todo meloso, agora vai virar um nojinho, né? - Franzi o cenho ao perguntar.

Eu adoro esse jeito dele, mas estava precisando de alguma coisa para falar.

—Com certeza, amor. - Soou como se fosse óbvio, entendendo minha brincadeira. - Amorzinho. Coração.

—Não, coração não!

—Por que coração não?

—Porque é um órgão.

—Meu Deus, quanto romantismo! A sensibilidade de um trasgo montanhês adulto. - Ironizou rindo.

—De um o que?

—Esquece, é de um livro. - Fez um gesto com a mão, indicando que era para deixar pra lá. - Estou impressionado com a sua profundidade emocional.

—Você tem profundidade emocional por nós dois, alguém tinha que ficar com a profundidade racional do relacionamento.

—Você gosta, que eu sei. - Afirmou convencido.

—Eu nunca disse que não. - Pisquei para ele e arranquei uma risada. - Você também é apaixonado pela minha sensibilidade de não sei o que da montanha adulto.

—Sou mesmo, você é um trasgo extremamente carinhoso.

Era uma afirmação estranha, mas o contexto a deixou engraçada.

—Você não vai mais me chamar da Ratinha? - Questionei, sentindo falta do apelido.

—Achei que você não gostasse. - Debochou com um sorriso de canto.

—Para falar a verdade não acho lindo, mas é o meu apelido. -Dei ênfase no pronome possessivo.

—Eu acho a sua cara. - Opinou rindo.

—Vou tentar ver isso como um elogio. - Prometi, me ajeitando embaixo dele. - Antes que eu me esqueça, o Ron e a Mione querem jantar com a gente qualquer dia.

—Por mim sem problema, marca com eles e me fala quando, só não pode ser no próximo final de semana.

—O que você vai fazer no próximo final de semana?

—Nós vamos. - Corrigiu, me deixando ainda mais curiosa. - Vou te levar para conhecer meus pais.

—Já? - Perguntei com os olhos arregalados.

—Minha mãe está animadíssima.

—Você nem perguntou se eu não tenho compromisso. - Tentei escapar de alguma forma.

—Você tem compromisso? - Quis saber, me encarando como se aquela parte do processo fosse desnecessária.

—Não. - Confessei e ele rolou os olhos.

—Então, é a ocasião ideal. - Decidiu animado. - Te busco no hospital no fim do plantão e você pode dormir um pouquinho no carro se quiser, são duas horas de viagem, quando chegarmos lá você descansa no meu quarto, eu falei pra eles que você vai direto do trabalho, e depois os conhece direito.

Pelo jeito não tinha saída, então achei melhor concordar.

—Ta bom, confirmado então.

—Você vai adorar os dois. - Falou empolgado.

—Disso não tenho dúvidas. - Fui sincera e o sorriso dele aumentou. - Só que não sei como conhecer os pais de alguém, me soa muito intimidador.

—É só ser você mesma, Ratinha, é impossível não gostar de você. - A frase me arrancou um sorriso. - E você vai se sentir em casa, já até falei pra minha mãe que seu prato preferido é brigadeiro e que você adora aquele macarrão, porque o dela é melhor que o meu.

Eu me apegava ao fato de que tinha uma semana inteira para me acostumar com a ideia de que iria conviver com pais novamente, que fazem os pratos preferidos dos filhos e seus convidados, se interessam pela rotina, não poupam carinho e se desdobram para agradá-los. Fazia tanto tempo que eu não tinha isso que era bem capaz de achar estranho, mas lá no fundo a expectativa de conhecê-los, principalmente à mãe dele, me deixava empolgada.

—Vai ser ótimo, Ursinho. - Falei antes que ele estranhasse meu silêncio. - Diga a ela que eu estou ansiosa também.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Como lidar com a fofura desses dois agora? Esse carinho todo era tudo o que o Harry queria da doutora dele.
Eles entram numa fase bem fofinha agora, espero saber o que vocês estão achando!
Não deixem de comentar.
Beijos e até o próximo!

Crossover: O Ron não interagiu muito com a Ginny contando sobre o namoro, né? Mas com a Mione ele fala sobre isso sem problemas! Fora que o relacionamento dos dois também está uma gracinha! Não deixem de acompanhar Backstage.