Quando entro no bar, me surpreendo ao ver que ele está vazio, a não ser por Sam, o barman que me deu o emprego. Ele está limpando o balcão do bar com um pano e não notou eu entrando até me aproximar do bar. Quando Sam me vê, sorri e diz:
–Achei que você não ia aparecer!
Sorrio.
–Se enganou!
–Estou vendo. - ele ri. - Mas você está com uma cara de quem chupou limão. O que aconteceu?
Suspiro e me sento na banqueta preta.
–Não é nada. - digo.
–Já sei que é algum cara. - ele sorri e continua a limpar o balcão. - Só quero dizer que sou um ótimo conselheiro amoroso. Se precisar de alguma coisa, pode falar com o Sam aqui. Sou tão ótimo que estava dando conselhos para o meu namorado e ele acabou se apaixonando por mim.
Dou risada. Pronto, agora estava mais do que provado de que ele era gay.
–Está tudo bem. - digo. - Só estou um pouco cansada.
–Como foi a aula de ballet?
–Na verdade muito boa. - falo e me levanto da banqueta. - Onde posso guardar minha bolsa?
–Lá em cima. - Sam fala apontando para a escada em espiral preta perto do grande palco.
Sorrio para ele em agradecimento e vou em direção a escada. Subo os degraus com cuidado e no andar de cima me deparo com um ambiente pouco iluminado, com vários espelhos e cadeiras giratórias, como as de um salão de cabeleireiro. Julguei que ali seria o camarim das meninas. Estava vazio, pelo menos era o que eu achava.
–Oi, você é a nova garçonete?
Virei-me para trás e vi uma menina de cabelos castanhos ondulados me olhando com uma mão na cintura. A reconheci. Era a dançarina que chamou minha atenção na sexta-feira.
–Ah sim, sou Alice. - sorrio e estendo a mão.
Ela olha para a minha mão e diz:
–É, tanto faz. - e passa por mim.
Franzo o cenho e abaixo minha mão.
–Só saiba que não gosto que mecham nas minhas coisas. Então, não mecha. Já tive problemas com a outra garçonete e não quero ter problemas com você. Já estou avisando.
Minha cara ferveu.
–Olha, eu não preciso xeretar as coisas de ninguém e não sou nenhuma ladra, mas tudo bem, o recado está dado. Agora, se você me dá licença, preciso fazer meu trabalho.
Largo a minha bolsa em um banquinho de madeira pequeno ao lado da escada e desço enquanto ouço aquela louca resmungar algo incoerente.
Quando apareço com o cenho franzido, Sam diz:
–Vejo que já conheceu a doce Violet.
–Esse é o nome dela?
–Sim. Não leva pro lado pessoal.
–É, ela é mesmo una vadia. - ouço uma voz feminina sair do meio das mesinhas amontoadas pelo bar.
Olho na direção de onde a voz está vindo e vejo uma moça que deve ter mais ou menos minha idade, talvez 20 anos, ela tem o cabelo castanho preso em um rabo de cavalo pequeno. Eu também a reconheço. É a garçonete que eu vira parambulando entre as mesinhas na sexta-feira.
–Eu sou a Debbie. - ela diz sorrindo e estende a mão para mim.
Sorrio para ela.
–Alice. - digo.
–Seja bem-vinda Alice à este trabalho ingrato. Você ainda vai ter que aguentar muitos homens querendo passar a mão na sua bunda. Mas, a bandeja que nós carregamos também serve para agredirmos pessoas.
Dou risada e ela e Sam também.
–Bom saber que elas têm utilidade.
***
Em suma, o trabalho não foi ruim. Pelo o que Sam e Debbie me disseram, durante a semana, o Dangerous Woman não recebia muitas pessoas, porque afinal, o atrativo não era a comida ou as bebidas e sim as meninas e, o show delas era apenas de sexta, sábado e domingo. Para não dizer que não houve clientes, umas seis pessoas apareceram para comer algo durante a tarde. Era um número muito pequeno. Era até estranho ver o local tão vazio já que na sexta-feira havia um turbilhão de pessoas.
Passei a tarde toda ajudando Sam a repor bebidas, receber algumas mercadorias para o bar. Aprendi também a carregar corretamente uma bandeja cheia de coisas, mas antes, deixei a bandeija cair umas três vezes, o que provocou um ataque de riso em Sam enquanto ele observava eu caminhar com uma bandeja na mão. Era mais difícil do que eu pensava. Mas, depois peguei o jeito.
Enquanto nós trabalhávamos, várias meninas apareceram para ensaiar seus números. A música alta tomava conta do lugar e algumas vezes saia alguma discussão entre o grupo de garotas sempre que Violet falava alguma coisa. Pelo jeito, ela era a única insuportável da história.
***
O dia se passou muito rapidamente, realmente não vi que já era oito e meia da noite enquanto eu voltava de uma mesa carregando uma bandeja com alguns pratos vazios e uma gorjeta bem miserável.
Quando pousei a bandeja no balcão, suspirei e passei a mão pelo cabelo preso. Eu tinha certeza de que estava um caco e descabelada. Meus pés doíam e eu queria muito um banho.
–Ei boneca, vá para casa. - Sam disse.
–O que? - olho para o relógio preto analógico acima de sua cabeça. - Não ainda não é 9:30.
–Eu sei, mas pra um primeiro dia, você trabalhou bastante. Pode ir. Eu e Debbie damos conta.
Olho para Debbie limpando uma mesa com um paninho e uma badeja debaixo só braço.
–Não, não posso deixar vocês. Seria injusto da minha parte.
–Se você não ir, juro que vou te demitir agora mesmo.
Dou risada. Sei que ele só estava brincando. Mas faço o que ele diz.
Tiro o avental e entrego para ele por cima do balcão.
–Obrigada Sam.
Sam dá uma piscadinha para mim e eu sorrio. Ele é muito bonito, sorte dos caras. E além de bonito, simpático.
Subo às escadas com pressa e paro no ultimo degrau. Pego minha bolsa que está no banquinho e coloco-a no ombro. Torno a descer os degraus pretos em espiral novamente e aceno com a mão, sorridente e muito feliz com o primeiro dia de trabalho cumprido.