Depois de jogar a chave na mesinha redonda ao lado da porta amarela do meu apartamento, sinto um alívio tomar conta do meu corpo. Acho que nunca quis tanto tomar um banho e ir para a cama.
Vou para meu quarto, arrastando os pés e acendo a luz. Vou até o closet e pego um short cinza e uma blusa de alça da mesma cor para vestir. Entro no banheiro e tiro minha roupa. Jogo-a no cesto rosa de roupa suja ao lado da pia e entro debaixo do chuveiro.
A pressão da água morna contra meus ombros é prazerosa e relaxante. Tudo o que eu queria. Sento-me no chão e deixo a água cair sobre minha cabeça. Estou exausta.
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Antes de deitar, vejo que há mensagens para serem lidas, mas estou exausta e prefiro deitar na cama e fechar logo meus olhos por conta própria, antes que eu acabe desmaiando sem ao menos perceber. A cama está confortável, macia como nunca e o lençol está gelado. Solto um gemido de alívio e logo adormeço.
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Na manhã seguinte, acordo querendo dormir mais, minhas pernas doem e tenho olheiras arroxeadas ao redor dos olhos. Luto na frente do espelho com corretivo e bastante maquiagem para tentar escondê-las. Elas ficam amenas, mas não somem.
Decido colocar uma roupa confortável, pois não terei tempo de voltar para casa e trocar de roupa. Acho que a partir de agora, terei que abrir mão de andar muito bem vestida e passar a usar calça legging e tênis; roupas confortáveis para o dia todo.
Visto uma calça legging preta, uma regata preta e meu All-Star azul escuro. Prendo o cabelo no habitual rabo de cavalo. Meus olhos estão delineados. Passo um batom rosa clarinho e pego a bolsa preta. Coloco-a no ombro. Decido passar em uma Starbucks no caminho para a escola.

Na rua, o sol está escondido entre os arranha-céus e venta um pouco, mas não está frio. Pareço desarrumada comparada as pessoas que passam por mim, de terninhos e saltos. Mas estou cansada demais para me sentir mal por estar vestindo uma calça legging.
Quando entro na Starbucks mais próxima, peço um café expresso grande. Pago e depois saio as pressas do café para ir para a escola de ballet.
Enquanto o café quente desce queimando por minha garganta, o vento forte atinge meu rosto. Depois de alguns metros, estou vendo o grande prédio com pintura descascada e letreiro preto.
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Dentro da sala cheia de espelhos, ainda não chegou todos os alunos, mas já tem varias pessoas. Sento-me no banquinho de madeira e dou mais um gole no meu café que ainda não está nem na metade do copo. Talvez eu tenha exagerado ao pedir o copo grande.
Vejo Chloé do outro lado se aproximarx sorrindo.
–Oi, como foi seu primeiro dia de trabalho? Você está com olheiras profundas. - ela diz e ri da minha expressão azeda.
Arqueio as sobrancelhas.
–Bem, passe você o dia inteiro limpando o chão, lavando louça, carregando pratos de um lado para o outro, e você também ficará com olheiras.
Chloé ri.
–Calma, estou brincando! Sei que é difícil. Kyle trabalha muito também.
Tento não fazer cara feia diante do nome de seu primo, mas desvio o olhar quando ela fala.
–Ah, afinal, vai ter una festa muito legal no sábado de noite! Você tem que vir. É logo depois do show dele e da banda dele no bar do lado do Dangerous Woman. Você vai ir comigo, não é?
Faço careta.
–Olha Chloé, acho melhor não.
–Ah, qual é Alice! - ela se senta do meu lado e bufa. - Você tem que viver um pouco mais, sabia? Até seu irmão fala isso para você! Vamos lá! Vai ser legal. Tem uma turma legal.
–Onde vai ser isso? - pergunto sem vontade nenhuma de ir.
–Então, vai ser em uma fraternidade. Vai ter muita gente da faculdade de Kyle.
Franzo o cenho.
–Ele faz faculdade?
Chloé ri.
–Claro que sim! Achou que ele fosse um qualquer? Kyle é super inteligente. Está no último de faculdade.
–O que ele cursa?
–Artes Plásticas.
Arqueio as sobrancelhas. Estou realmente surpresa.
–Bom, enfim, não sei se é uma boa ideia.
–Ah, por favor Alice, vamos! Eu não vou sair de lá e te deixar sozinha, eu juro.
Olho para ela e reviro os olhos. Ela ri e bate palmas.
–Eu não disse que vou!
–Eu sei que você vai! Vamos nos divertir, e eu não vou beber.
Duvido muito disso.
–Eu vou, mas só vou ficar um pouco e depois ir embora para casa. E além do mais, vai ter que ser depois que eu sair do Dangerous Woman.
Chloé está tão animada que me irrita.
Algo nem no fundo me fala que não é uma boa ideia. E eu sei que devo dar ouvidos a esta intuição.
Ofereço um pouco do meu café para Chloé e minha mente viaja para o dia em que conheci o garoto de cabelos vermelhos.

Nunca passou pela minha cabeça que Kyle fazia faculdade. Não que eu pensasse que ele fosse vagabundo ou algo do tipo. Ele só não parecia ser muito aplicado nos estudos. Se ele estava no último ano, quantos anos ele tinha? Tenho vontade de perguntar a Chloé a idade dele, mas me contenho. Sei que ela vai achar algo que não é verdade e só vou me aborrecer.
Afinal, não me interessa. Não o conheço direito e quero distância dele e daquele amigo escroto loiro.
Meus devaneios são interrompidos quando Nora pede para, como sempre, nos sentarmos em círculos. Eu e Chloé nos dirigimos até o círculo que está sendo formado e nos sentamos. Lucas chega nessa hora, está um pouco atrasado. Noto uma expressão de surpresa no rosto de Nora e ela desvia o olhar de Lucas. Este, também constrangido, olha para mim e finjo que não vi a vermelhidão tomar conta do seu rosto. Não faço nenhum comentário, mas sinto Chloé me cutucar com o cotovelo. Ignoro isso. Às vezes ela pode ser muito inconveniente.