"Oi,só queria te dizer,foi tão bom te conhecer

eu nem sei como explicar;

É como se eu pudesse ver,o que há dentro de você

Chegou  pra me completar..."

Talismã sem par

Jorge Vercilo

     Sarah

Entro na sala dos médicos para pegar minhas coisas a fim de ir embora. Foi um dia cansativo,repleto de emoções. Abro o armário,pegando minha bolsa. Meu celular vibra no bolso do jaleco. Pego o aparelho fazendo uma careta quando vejo a mensagem de minha mãe. Vou até um canto mais reservado da sala para ler e responde-la. Distraida,me assusto ao ouvir risos.

—Ai, você é terrivel mesmo Samantha! - reconheço a voz da doutora Grant - Mal colocou os olhos no cara e já está com segundas intenções.

—Segundas,terceiras,e muitas outras mais.- responde doutora Zanetti- Fazer o quê se além de competente ele é uma delícia?

—Como sabe se não provou?

—Ainda. - frisa Zanetti -Mas pretendo,muito em breve,fazê-lo.

—Soube que o Downey ficou impressionado com a cirurgia que vocês fizeram hoje cedo.

—Sério?? Finalmente consegui chamar a tenção daquela criatura! - comenta já se retirando junto com a outra.

Fico um tempo sentado digerindo o que acabei de escutar.  Zanetti e Rhodes juntos! Por um segundo imagino os dois se beijando,ele a envolvendo em seus braços,trocando carícias....Sinto meu rosto pegar fogo.Balanço a cabeça a fim de afastar tais pensamentos. " E daí? Os dois são livres e desempedidos.Se estiverem a fim...!',penso. Mesmo assim,a ideia não me agrada. " Culpa da Lilian.Ela e suas insinuações! Rhodes a fim de mim...Ha,pois sim".  Sem perceber bato a porta do armário com mais força do que o necessário,assustando a mim mesma. Olho ao redor para ver se tem mais alguém no local e ,vendo que estou sozinha,respiro aliviada. Meu celular vibra com mais uma mensagem de minha mãe.." Tá,tá,já vou!', bufo para o aparelho.  Pego minha bolsa e saio em direção a entrada principal da emrgência.  Ao me aproximar vejo um grupo reunido,conversando.  Penso em ir até lá mas desisto ao ver Zanetti se aproximar. Ela para junto a Rhodes,que se vira para lhe dar atenção,o que me causa um certo incômodo.  Decido tentar passar discretamente ,sem que me percebam. Quando acho que consegui,escuto a voz familiar de Rhodes me chamar. Fecho os olhos,xingando-o mentalmente,ponho um sorriso no rosto e me viro. Ele vem em minha direção e após uma breve conversa,saímos juntos.

Tenho que confessar: meu ego se inflou no momento em que ele perguntou se poderia me acompanhar. Sendo sincera,senti uma tremenda de uma vontade de estirar a língua para a Zanetti,como as crianças fazem quando ganham algo que outra criança queria,no caso a atenção dele. Criancice? Pode até ser. Mas quem liga? Eu que não! No momento só uma coisa importava: ele preferiu minha companhia a dela,ponto.

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         Connor

Do hospital até a estação de metrô mais próxima gasto,em média,uns vinte minutos ou menos,dependendo da disposição ,da vontade de chegar em casa ou,no caso de hoje,da companhia. Hoje,gostaria de gastar mais tempo.  Agi por impulso,confesso,e por isso agora caminhamos lado a lado mudos.

—Você já... - falamos ao mesmo tempo - Você..-nova tentativa e novamente falamos ao mesmo tempo,o que caba por nos fazer rir. ---- Você comeu alguma coisa antes de sair do hospital? -pergunto após um tempo.

—Não,nada - ela responde.

—Quer comer algo antes de pegarmos o trem? - sugiro -Aqui perto tem uma lanchonete legal. As vezes,quando não estou a fim de cozinhar em casa,levo algo daqui.

—É,pode ser.- concorda

Seguimos até a pequena lanchonete,um das poucas que ficava aberta até tarde,indo direto ao balcão fazer nosso pedido. Em seguida nos sentamos em uma das pequenas mesas espalhadas na calçada. Mas uma vez ficamos em silêncio até que a vejo mexer no Ipod.

—Que tipo de música tem ai? - pergunto mais para puxar assunto do que propriamente por interesse - Timberlake,Nsync,Bieber?? - provoco. Ela sorri e mais uma vez sinto a mesma sensação de antes.

—Na verdade,até tenho uma de cada,as melhores na minha opinião. - responde - Mas sou bem ecletica no que diz respeito a músicas. O importante é ter,além de melodia,uma boa letra. Não ser vazia, entende?

—Sim. - paro um minuto enquanto o atendente coloca nosso pedido na mesa - Também penso assim. Infelizmente hoje em dia as melodias,algumas,são melhores do que as letras das canções...

—Se algumas não tivessem letra seria até melhor. -completa.

—Isso! Desse jeito mesmo. -sorrio para ela que ficar com o rosto levemente corado."Então não sou o único! Bom saber.",penso sorrindo mais ainda.

—E você,o que tem aí? -me pergunta

—De tudo um pouco:jazz,rock,clássica,pop...dependendo do momento. Só não gosto de heavy pesado,muito embora algumas bandas dessa linha até tenham feito algumas músicas interessantes.

—Posso ouvir? -pede e lhe entrego meu Ipod. Ela coloca os fones e começando a escutar minha seleção de músical - Posso? - aponto o Ipod dela que concente com um aceno de cabeça,distraída.  Pego o aparelho e começo a ouvir suas músicas. Em um determinado momento vejo-a arregalar os olhos surpresa. À principio não entendo o por quê só entendendo quando ela fala:

—É você cantando?? - antes que eu responda,emenda -É sim,tenho certeza! É sua voz.Você canta bem.Muito bem. -elogia e é minha vez de ficar sem graça.- Quem tá tocando?- questiona franzindo a testa.

—Eu. - respondo - Na verdade,começei a tocar primeiro. Cantar veio depois. Ambos são apenas hobbies,portanto se contar para alguém terei que mata-la. - falo com a cara mais séria que consegui.  Reese me olha entre divertida e assustada,sem saber se dá ou não crédito a minha ameaça.- Falo sério,Reese. Não conte pra ninguém ok?

—Não,não,não quero morrer! - fala com ar de riso. - Me empresta?

—Não. - digo pegando o aparelho de volta. Ela me olha desapontada - A senhorita vai copiar minhas músicas e ai que garantia vou ter que mais ninguém vai saber?

—Não vou contar,prometo. E não deixo ninguém pegar meu Ipod sem minha permissão,juro -diz cruzando os dedos na frente da boca. O gesto involuntário chama minha tenção para essa parte de seu rosto. Me pego pensando que gosto teria seu beijo,como seria sentir o toque de seus lábios. Um arrepio de prazer percorre meu corpo. ---Posso? - pergunta novamente,me despertando do torpor em que tinha entrado.

—Ok  -  cedo - Mas se alguém mais tiver acesso....-deixo a "ameaça" no ar. --E só por garantia - falo enquanto pego o pequeno aparelho dela novamente - isto fica comigo até que o meu seja devolvido em total segurança.

—Combinado - estende sua mão para mim,que aperto,fechando nosso "acordo". 

Terminamos nosso lanche e seguimos para a estação. Descubro que ela desce apenas uma estação antes da minha por isso decido descer junto. Caminhamos até o prédio onde mora. Lá chegando,nos despedimos com um aperto de mãos(depois de ficarmos uns bons segundos indecisos,indo pra frente e pra trás!),espero que entre e só depois sigo meu caminho.

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Na manhã seguinte,para minha alegria,assim que chego ao hospital surge um atendimento,me livrando,momentaneamente da zoação de Halstead e Choi.  Um jovem com feridas profundas causadas por vergalhões acabara de chegar. Reese me acompanha no primeiro atendimento. Pouco depois,doutora Zanetti se junta a nós. Percebo,em um dado momento,que ela é grossa com Reese,o que me irrita. Chamo Reese para me ajudar pois havia aberto a lateral do jovem a fim de conter um sangramento. Após estabiliza-lo,subo para a sala de cirurgia junto com Zanetti.   Estamos em meio a operação quando a porta da sala é aberta dando passagem a doutor Downey.

—Doutor Downey,a que devemos a honra? - Zanetti pergunta.

—Estou com tempo ocioso antes da próxima cirurgia,soube do caso ...vim dar uma olhada... -diz ao meu lado - Trabalho de açougueiro.- comenta.

—Caiu sobre vergalhões de ferro - informo

—Falo disso aqui -aponta o local que eu havia aberto. Olho para Zanetti.

—Isso fui eu - digo.

—Humm... Troque as luvas para poder fechar o coração -ordena sobe o olhar irritado de Zanetti.

—Eu vou fechar o coração.Ele a parte de...-Downey a interrompe

—Ele fecha. Fez a bagunça ,vai concertar -sustenta me olhando em seguida - A menos que esteja com medo.Está? -provoca. Respiro fundo antes de me afastar para trocar as luvas.

Terminamos a operação e saímos da sala.

—Você não treme,o que é bom mesmo para um jovem. Precisa de mais delicadeza,suavidade. Mas no geral foi bem -diz e se retira nos deixando estaticos

—Isso foi um elogio. - me diz Zanetti surpresa- Você acaba de ser elogiado por David Downey!.

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Volto para a emergência. Procuro e acho Reese, que auxilia Choi em um atendimento. Observo-a enquanto caminho até a recepção onde entrego o protuário do jovem que acabara de fazer a cirurgia. Ethan sai da sala deixando Reese terminando o que me parece ser uma imobilização. Ela aparece na porta da sala olhando de um lado para o outro,buscando ajuda. Deixo a prancheta e vou até onde está.

—Precisando de ajuda?

—Sim,por favor.  Ele não está ficando quieto -entramos e vejo um garoto de cerca de treze anos  empurando a mãe,que tentava contê-lo.

—E ai amigão,vamos dar um jeito nessa prena pra você poder jogar novamente?  - falo fazendo-o parar e me encarar.- Qual sua posição? Eu era meio campista.

—Atacante - responde desconfiado.

—Então é melhor cuidarmos logo disso pra você não desfalcar o time por muito tempo né não? Afinal,lugar de craque é jogando!- ele concorda com um sorriso convencido.  Dou uma olhada para Reese que imediatamente se posiciona ao meu lado e juntos imobilizamos o garoto. Saimos da sala deixando mãe e filho aguardando Ethan vir libera-lo.

—Obrigada.- agradece

—Por nada. - respondo  - Me acompanha até a lanchonte para um suco? - pergunto oferendo meu braço para que ela o segure

—Pode ser. - diz colocando sua mão na parte interna de meu braço - Aproveito pra lhe devolver seu Ipod.

Seguimos assim até a lanchonte sob o olhar atento e risonnho de Maggie.

"...Quando vem de lá do coração,agente percebe na respiração.

Toma posse,invade que eu te dou o meu calor;

Eu nasci pra ser e sou

do seu amor..."