Para Ter Você escrita por Giovannabrigidofic


Capítulo 4
Capítulo 3 - Quem decide sou eu


Notas iniciais do capítulo

Hello, babys ♥ Mais um capítulo de Para Ter Você ;)
Boa Leitura



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O que me fez levantar de vez foi o quinto aviso insistente e automático do despertador. Eu sabia que estava mais que atrasada e não teria tempo sequer para tomar um café da manhã, uma frequente parte da minha rotina. O que eu não imaginava, era encontrar-me sozinha em plena manhã de trabalho, a mesa de jantar vazia e nenhum indício de Sienna. Não era impossível que aquilo acontecesse, eu só estava surpresa por não encontrá-la. Minha amiga estava brigada com a mãe o que consequentemente a levava a estar desempregada por tempo indeterminado. Talvez seu sumiço se devesse a isso, ela deveria estar engolindo seu orgulho e voltado para os braços da mãe e de sua recente empresa.

Abri a geladeira e peguei uma caixa de leitei, despejando-o num copo e rapidamente o engolindo. Tomei um banho e vesti-me com o uniforme que eu mesma escolhera para não ter montanhas de roupas para lavar no fim de semana ou, nas vezes em que o trabalho me consumia, deixá-las na lavanderia e implorar que Sienna acordasse cedo para ficar de olho nelas.

Procurei por um suéter - ele não me deixaria sufocada e quando eu precisasse e poderia tirá-lo sem receio de congelar, já que a temperatura nos primeiros meses do ano eram relativamente agradáveis - neutro para estar sobre a camisa social.

Ajeitei os cabelos dentro do táxi e já dentro da minha sala, comecei a organizar o que deveria ser discutido no almoço.

—- E ai?

Eric abriu a porta e enfiou a cabeça dentro da sala.

—- Você nem disse o que o Sebastian queria falar com você. Era sobre concurso deste ano?

Concordei, embora estivesse omitindo - com muitíssima razão - alguns fatos.

Eric finalmente adentrou no meu escritório e jogou-se contra a cadeira frente á minha mesa, afrouxando a gravata com uma careta.

—- O sr. Dahmen quer que continuemos no topo. A viagem será para onde?

Eric suspirou com um olhar sonhador.

—- Ano retrasado fomos para o Brasil. Ano passado, Caribe. Imagino que os organizadores não nos desapontarão novamente. Me acompanha para a reunião? - levantou e estendeu a mão. - Ou então iremos nos atrasar, meine Puppe.

Sorri minimamente quando ele soltou meu apelido com seu irresistível sotaque alemão e segurei sua mão ao  pegar minha bolsa de mão e dar a volta na mesa.

—- Claro.

Fechei a porta do escritório e levei um susto quando Freya brotou na minha frente com um sorriso brincalhão. Nem um pouco típico dela.

—- Gostou do meu presente? Foi eu quem criei a receita - ela bateu no peito, uma nítida demonstração de orgulho.

—- Não tive a bela oportunidade de experimentar sua gororoba.

Eric nos olhou confuso e indagou:

—- Do que estão falando?

—- Da bela obra culinária de sua secretária. Quem sabe um dia ela possa fazer para você - sugeri, com um sorriso brincalhão que não passou despercebido por Freya.

—- Ah!, claro! Se é de comer, eu quero - abriu um sorriso gigantesco.

Freya bateu palmas e deu pulinhos, o que me deixou surpresa - nem deveria - por ela estar equilibrando-se perfeitamente nos sapatos com saltos fantasmas. Freya era louca o suficiente para mandar bolinhos venenosos para mim, saltos altíssimos eram "papinha de neném" para ela.

—- Então vocês combinam algum dia. E chamem a Nita, ela vai adorar.

Freya simulou vomitar e Eric e eu rimos.

—- Temos de ir - chamei-o e segurei seu braço quando ele o ofereceu.

—- Cuide para que este setor não vire um caos.

Eric avisou quando estávamos perto do elevador. Freya entendeu o recado, deixou as costas eretas e colocou a mão direita na testa.

—- Sim, senhor!

Pegamos o elevador e seguimos para o estacionamento. Eric, como o cavaleiro que eu sabia que era, abriu a porta para mim e passou o trajeto inteiro até o restaurante dizendo brevemente sobre suas expectativas para a reunião, até mesmo de seu repúdio para com Estella Blankenship, a garota que amarrara um dos sócios da empresa. De acordo com fontes - e nossos olhos, ávidos por informações - Estella não era uma mulher receptiva, gentil e feliz. Era o antônimo de tudo isso e mais adjetivos do ruim. No fundo, talvez, ela fosse legal, ao seu modo.

Pensei e repensei o que poderia ser feito para a continuidade da boa fama da empresa, era meu trabalho, afinal. Minha função era revisar tudo o que meu chefe fazia e entregá-los á Freya, além de focar boa parte do meu tempo no orçamento bilionário da Reich e do quanto ela poderia crescer no mês "X".

Em pouco tempo atravessávamos o piso impecável do The Willow, um restaurante clássico e neutro, excelente para pessoas da alta sociedade que buscavam conforto e discrição. Eric e eu acompanhamos o maître até a mesa onde Sebastian e o casal Blanke aguardava-nos - Estella vidrada em seu iphone e Desmond e o presidente dialogando sobre a empresa.

—- Boa tarde, senhores.

—- Porque a formalidade, Eric? Sabemos que você não presta e sequer possui modos. Não precisa fingir.

Revirei os olhos com o tom ácido e sarcástico que a voz da esposa de Desmond trazia.

—- Estamos num restaurante, senhora Blankenship. Se deseja destilar seu veneno, há um lugar específico para cobras como você. O zoológico. Mas se preferir pode ir para o Brasil, a Ilha das Cobras* é perfeita para você.

Mordi o lábio e direcionei minha visão para qualquer outra área do restaurante que não fosse a expressão indignada de Estella, eu não queria rir. Não mesmo. Se quisesse, poderia ficar horas olhando para as cortinas em tom pastel nas janelas de vidro, as mesas forradas tão delicadamente por toalhas de linho fino com detalhes discretos em dourado e o belíssimo lustre no centro do restaurante sobre uma mesa vazia, aguardando por algum casal disposto a pagar pelo lugar privilegiado. Qualquer coisa podia ser um alvo para distração para que eu não gargalhasse.

Ouvi Estella suspirar e expirar várias vezes, apertando - exageradamente - as mãos o celular.

—- Seu, seu.... Seu...

—- Calma, calminha. Seu marido esqueceu de lhe dar anestesia, hoje? - Soltou Eric novamente.

Sebastian pigarreou e eu duvidei se o motivo era para que Eric guardasse seus comentários engraçadinhos ou para que ele próprio contivesse seu riso.

—- Já pediram? - indaguei.

—- Estávamos esperando por vocês - Sebastian me respondeu.

Dei de ombros e desviei o olhar quando o percebi me fitando por mais tempo que deveria.

—- Certo.

Com um pedido discreto Sebastian chamou o garçom. Escolhi uma salada que me manteria inteira até o final da tarde pois eu tinha certeza absoluta de que quando o almoço chegasse ao fim, o trabalho pesaria e mais planilhas inacabadas estariam sobre a mesa do meu escritório.

—- Estamos mais próximos das férias e consequentemente do Margot´s. Minha preocupação, além de continuarmos dentro da linha da maior multinacional de chocolates é mostrar que somos capazes e não daremos nosso título de número um para uma empresa de doces barata. Quero investir em algo que realmente valha a pena.

—- Então deveria ter convidado uma das chefes de cozinha ou alguém do ramo. Não são elas quem fazem as coisas, literalmente? São os testes deles que tornam nossa empresa diferente das outras.

Três pares de olhos me estudavam até o toque do meu celular se fazer presente. O tirei da bolsa e rejeitei a ligação desconhecida, pondo o aparelho sobre a mesa.

—- Não chegou a ser de fato uma ideia, mas é algo a se pensar - disse Eric.

—- Concordo - foi a vez de Desmond.

Virei para Sebastian, que sentava á minha frente e esperei que ele fizesse seu julgamento.

Meu celular vibrou e apressei-me para deixá-lo no silencioso, murmurando um pedido de desculpas. Tão logo o coloquei sobre a mesa e voltei a prestar atenção no que Sebastian dizia, o aparelho vibrou novamente e a tela se iluminou, a atenção dos quatro acionistas ainda voltadas para mim. Engoli em seco e levantei pedindo licença e tacando o celular na mão e em seguida o direcionando ao ouvido quando já estava perto do banheiro. Fechei a porta e apoiei meu corpo na pia de mármore.

—- Alô?

—- Dapne? Você está ocupada, sou eu, Mateo.

—- Trocou de número? Está como desconhecido e eu estava numa reunião. Aconteceu alguma coisa? - meu coração falhou uma batida. - È com a tia Nick?

O silêncio foi uma resposta dura para mim. Apertei o celular mais forte entre os dedos.

—- Ela está no hospital?

—- Foi internada ontem a noite e ainda estou esperando o resultado. Eu procurei algum meio de pagar a dívida mas eu não tenho nada. Abigail sumiu de novo e Isaac não está na cidade. Não temos como pagar a internação. Ela só está na cama porque veio em estado de emergência e logo vão jogá-la de lá assim que olharem a ficha na recepção.

—- Porque não disse antes? - disse, passando a mão livre sobre o cabelo e levantando a cabeça para que as lágrimas nos olhos não caíssem. - Eu... Poderia...

—- A questão, é que nenhum de nós temos como manter nossa tia num hospital. Você tem tanto dinheiro quanto eu, ou seja, quase nada. Ela vai morrer, My.

Fechei momentaneamente os olhos procurando alguma solução. 

Eu precisava fazer tudo por ela - a mulher que ocupara o lugar de mãe em meu coração quando meus pais sumiram deixando para trás os três filhos e ela, com o esposo falecido e mais uma garotinha. Minha tia, Danika Wells, estava passando por momentos difíceis desde que caíra da escada há quase um ano. Ela  passara por uma delicada cirurgia mas as melhoras não apareciam.

A mulher que batalhara tanto para que eu tivesse um emprego e vida dignos estava a beira da morte.

—- O banco não liberou outro empréstimo desde a cirurgia. Estamos entalados de dívidas até a garganta. Vou vender meu carro e pedir um aumento. Não é o suficiente, eu sei, mas a manterá ai pelo menos até que eu consiga algo.

Ouvi um suspiro do outro lado.

—- Vou resolver isso, Mateo. Deixe comigo.

—- Eu não sei mais o que fazer. Preciso ir agora, está bem? Não tente fazer tudo sozinha, Daff. Estamos nessa juntos.

Sorri tristemente.

—- Ligue quando tiver notícias.

—- Não esqueça que eu te amo, loirinha. Até mais.

(...)

Sienna não precisava ter dito nada quando atravessou a porta do nosso apartamento radiante. Ela era assim, sempre estava sorrindo independentemente da situação - fosse ela boa ou trágica. Ver o lado bom de tudo era uma de suas incontáveis qualidades. A nossa amizade se devia a sua espontaneidade e ao meu foco. As câmeras namoravam minha melhor amiga e os números e eu formavam belos pares.

Por isso, não houve a necessidade decifrar a razão de seu sorriso. Ela fizera as pazes com a mãe.

—- Ela me disse poucas e boas depois que confessei ter mandado aquele monte de comida, mas agora estamos bem. Mais do que eu poderia imaginar.

Sien deu outra garfada no prato de salada e apanhou um pedaço de queijo.

—- Fico feliz por vocês.

Ela colocou garfo na boca e me olhou com atenção.

—- Você está muito quieta, baby.

—- Apenas não estou muito bem - dei de ombros, lembrando-me da minha tia.

—- È porque vai ficar sozinha de novo quando eu mudar? - seus olhos transmitiam culpa apenas por citar que me deixaria só em pouco tempo. Ou sempre.

Outro problema.

Eu não poderia bancar o aluguel do apartamento sozinha, principalmente agora. A mudança repentina da minha melhor amiga significava descobrir outra alternativa para salvar minha tia. È frustrante almejar algo e não poder fazê-lo. 

Eu saíra da empresa direto para o banco, disposta a implorar de joelhos se fosse preciso, que eles cedessem outro empréstimo. Eu tinha uma esperança e ela foi embora assim que ouvi um não bem dado e em seguida, reclamações e cobranças.

Eu lidava com o que devia. A questão é que eu não poderia arcar com as despesas do apartamento nem da minha tia. Eu precisava escolher ou encontrar alguma solução.

Levantei da cadeira, joguei os restos da comida quase intocada no lixo e liguei a torneira para lavar prato.

—- Se for tão ruim assim, eu converso com a mamãe. Ela vai entender se eu ficar aqui - falou enternecida.

Neguei com a cabeça e ensaboei e sequei o prato com um pano.

Quando eu comprara o apartamento, o plano inicial era ocupá-lo com minha prima Abigail - que desistiu de tudo no inicio da faculdade por álcool e cigarros. Conheci Sienna então ela pôde morar comigo sem problemas, ainda mais com um aluguel para bancar porque eu não era rica e havia sido aceita numa universidade pelo meu excepcional boletim desde o ensino fundamental. Eram duas suítes - ambas em uso - um quarto de hóspedes (agora meu escritório), uma sala de estar e uma cozinha e um espaço considerado lavanderia. Nenhum dos cômodos eram grandes, e o preço era bom; meu interesse tinha sido  grande ao ver o anúncio dele. Era minha grande chance de ir para uma cidade legal, para morar num apartamento legal e conhecer  - embora nesse quesito eu não tivesse tido êxito - pessoas legais. Nada contra o povo de Chicago, mas visitar outros lugares pode ser a melhor experiência da sua vida.

—- Te proíbo permanentemente a sacrificar sua vida com Leonore para ficar comigo, Sienna - contestei.

—- Então porque está pensativa demais?

Engoli em seco e passei as mãos sobre o rosto. Não gostava de ficar relatando meus problemas á ninguém, mesmo para Sienna. Eu só não me sentia confortável o suficiente para dizê-los em voz alta. Dei uma desculpa qualquer e resolvi tomar meu banho. Sentindo a água morna cair sobre o corpo, por um breve instante minha cabeça esteve vazia de qualquer pensamento que não fosse relaxar. Então veio o choque. A água fria chocando no meu cabelo e meus pelos se erriçando, além de um grito assutado.

—- Você está bem?

Fechei o registro e me enrolei numa toalha.

—- O chuveiro queimou.

—- Sabia que isso iria acontecer! Eu avisei, Dapne! Não tomarei banho gelado, então trate de chamar alguém para arrumar esse troço - berrou. -  Não tente bancar a eletricista que não é, baby.

Revirei os olhos e abri a porta.

—- Já acabou? - com o nariz empinado ela assentiu. - Òtimo, porque eu vou tentar arrumar isso de novo. Não vamos gastar tempo e dinheiro quando eu posso consertá-lo. Preciso me arrumar, esquentadinha, me dá licença?

Empurrei-a, brincando, para fora do quarto. Vesti meu pijama e quando estava quase caindo no sono o estado crítico que minha tia estava povoou meus pensamentos. Cansada de pregar inutilmente os olhos, calcei um par de chinelos e fui até o quarto de Sienna.

Quando minha mão encostou na maçaneta, hesitei.

Não seria verídico se eu dissesse que me sentia a melhor pessoa do mundo indo afogar as lágrimas com a melhor amiga. Alguns dizem que é frescura ou orgulho e acredito ser um pouco dos dois, mas eu preferia 100% resolver meus problemas sozinha, sem precisar me sujeitar a qualquer ajuda vinda de fora.

Por isso dei as costas á porta e voltei para meu quarto como um cãozinho abandonado, um pouco arrependida porque sabia que quando Sienna descobrisse eu me sentira ainda pior. E um pouco arrependida por estar pensando seriamente na proposta de Sebastian.

*A Ilha das Cobras fica na costa brasileira, á 150 quilômetros de São Paulo. Ela é habitada por uma grandíssima variedade de cobras e serpentes mortais


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :D



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