Para Ter Você escrita por Giovannabrigidofic


Capítulo 3
Capítulo 2 - Não deixe o muffin morrer


Notas iniciais do capítulo

Oie! Fiquei um tempo sem postar, mas voltei, rs ^^
Boa Leitura



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Ainda me lembro de, aos oito anos, ter ficado tão ou mais vermelha que um pimentão. Eu estava com a minha tia Danika numa reunião de senhoras onde elas discutiam sobre família, bebês e chás. Recordo de mexer nas bonecas de porcelana enquanto as senhoras dialogavam, até minha tia parar tudo e me chamar a atenção na frente de todas elas. Não fora uma experiência agradável pois eu sentia pares e pares de olhos repreensores na minha direção, fitando-me como se fosse a menina mais imprudente da face da terra.

 Concentrando toda a minha boa vontade no que Sebastian tinha a me dizer, arrumei a postura. Ainda tentava compreender em que posição eu me encontrava naquele diálogo, a assistente do chefe de departamento financeiro ou a psicóloga não formada?

— Então, sua mãe quer que você tenha algo. Mas, você não quer, certo?

Ele pensou um pouco e disse:

— É um passo muito importante, mas eu quero.

— E o que seria? - disse, curiosa mas logo me arrependi - Não precisa dizer, se não quiser, claro.

— Não. Na verdade, isso tudo envolve você, Conley. Acho melhor sentar.

Seu tom sério e austero fizeram meu estômago embrulhar e mordi o lábio, confusa e acanhada. Arrastei minha pernas até o sofá de couro marrom no canto da sala enquanto Sebastian pedia café a Anita. A certeza de que o assunto era mais sério do que eu pensava, começava a me preocupar.

Ele sentou na poltrona na minha frente e recostou-se, fechando momentaneamente os olhos azul-escuro.

— Ela quer que eu tenha um filho.

Pendi minha cabeça para o lado e semicerrei os olhos. Desde quando a tão "pomposa" senhora Dahmen, desejava um neto? Ninguém menos que o planeta inteiro sabia que ela não gostava de estar sendo destronada como única mulher na vida de Sebastian, imagine então, outro ser roubando totalmente sua atenção?

— E qual é o problema? - indaguei, franzindo a testa.

— A questão não sou eu, posso lidar com isso. Chelsea é o problema - suspirou.

Chelsea era a namorada viajante de Sebastian. Jamais a vira pessoalmente e tinha até uma certa pena dela por ter possíveis chifres rodeando a cabeça.

Dois toques na porta e Anita entrou com uma bandeja e cara desgostosa acompanhada de cansaço e um revirar de olhos. Ela saiu rapidamente após colocá-la na mesa de centro e fechar a porta. Peguei o adoçante e despejei um pouco dele no café borbulhante e viscoso.

— Ester acredita que está na hora de aposentar os tempos de perua e aprender a tricotar. Também concordo com ela, além do que, no ponto de vista da família, eu não posso continuar nessa vida — lançou-me um olhar cúmplice.

Compreendi rapidamente o que ele queria dizer. Quem passava muito tempo com ele ou trabalhava na cede e diretamente com o presidente da ReichCandy sabia que o homem robusto e viril também gostava de um pouco de farra. Ao estilho elegante, rico e discreto. Sebastian não era de sair se envolvendo  com qualquer uma, ele sabia escolher - de acordo com o que eu ouvia nos corredores.

— Certo, mas será que você pode ir direto ao ponto?

— Está certo. O plano inicial é a inseminação artificial, entende? Além do mais não seria necessário nenhum contato. É agora que você entra - disse ele, após bebericar um pouco do seu café.

— Aonde você quer chegar? - desentrelacei minhas mãos e tomei o líquido da xícara.

— Dapne, você seria minha barriga de aluguel.

Inevitavelmente uma bigorna caiu na minha cabeça, um prego perfurou meu cérebro, e o café saltou da minha boca e manchou o branquíssimo e felpudo tapete sob meus saltos.

È assim que se sente quando ouve uma loucura? Recuperei a sanidade e tampei a boca, constrangida.

— Vou pedir para alguém vir limpar isso aqui.

Sebastian pegou guardanapos e os entendeu para que eu limpasse minhas mãos e a boca.

— Definitivamente, nunca! - levantei, jogando as folhas no lixo depois de limpar os cantos dos lábios, pegando minha coisas.

— Por que?

— Porque não e ponto. Não posso fazer isso por você, sinto muito.

Segurei a maçaneta da porta e ele segurou me braço.

— Se concordar com os termos, será lucrativo para você. Para nós dois. - explicou - Após o nascimento do bebê você cuidaria dele até a fase de amamentação e iria embora. Sem envolvimento, sem apego. Algo bom para ambos os lados. Pode escolher o preço, quanto quiser, e te darei.

— Não - balbuciei e abri a porta, caminhando apressadamente para o elevador.

Não era uma proposta absurda, era apenas incabível para mim no momento e talvez para toda a vida.  Filhos não era uma prioridade. Eu não tinha ninguém, a propósito, e embora eu carregasse o bebê por nove meses e o entregasse depois para Sebastian, eu não conseguiria. Eu acho.

Ignorei os chamados insistentes de Anita e apertei contínuas vezes nos botões até me acalmar e entrar no cubículo. Olhei-me no espelho e não contive o ímpeto de passar as mãos geladas no rosto, provavelmente checando se tudo estava em seu devido lugar.

Eu estava assustada e mesmo que a palavras dele se repetissem contínuas vezes na minha mente, era como se ainda não tivesse processado 100% a informação.

Ele queria um filho e escolhera a mim para ser sua barriga de aluguel.

Depois de sair aturdida do elevador, apertando até os dedos ficarem brancos as alças da bolsa e da maleta, voei até minha sala e com um rápido aceno de cabeça marquei minha presença á Freya. Fechei a porta, joguei minhas coisas sobre a mesa e liguei o computador. Senti o gosto amargo e de ferro na ponta da língua enquanto roía a unha. Girei-me sobre a cadeira de rodinhas e descalcei-me dos saltos.

Procurei ocupar meus pensamentos com qualquer coisa que não fosse o diálogo inédito de Sebastian.

Por fim, quando juntei minhas coisas para ir para casa no fim da tarde e fugi das perguntas de Freya ao ultrapassar as portas do térreo, nada além de uma camada espessa do absoluto nada povoava minha mente.

(...)

— Eu quero uma pizza de quatro queijos, isso moço. Cheio de orégano e transbordando de óleo. Ah! E leve também um daqueles bolos de chocolate. Tem sorvete? Pistache, isso! Anota ai, cara. U-hum. Entregue tudo no Duchess Avenue, na cobertura. Não quero cartão e tudo por minha conta. Muito obrigada.

Sienna entrou no meu escritório com um sorriso suspeito nos lábios. Eu ainda estava tentando compreender o que quer que ela estivesse fazendo, pedindo tanta comida. Não era para nós, já que ela passara o endereço errado.

Ela permaneceu me encarando bobamente até eu levantar os olhos e suspirar, colocando os papeis de lado.

— O que foi dessa vez? Por que pediu tanta comida?

Roeu a unha e murmurou:

— Um passarinho verde me contou que a querida Leonore está de dieta essa semana. Ela merece uns aperitivos para iniciar.

Ergui a sobrancelha, rindo com ela.

— Você é inacreditável.

— Estou apenas garantindo que ela fique sentida e com impressão de que é como lixo, da mesma forma que fez comigo, baby.

— A vingança nunca é plena - comecei e ela acompanhou -, mata a alma e envenena - gargalhamos e recostei meu corpo na cadeira.

— Você tem sérios problemas.

— Isso se chama fome, Sienn.

Ela levantou num pulo, deixou-me curiosa ao sair correndo do escritório e voltou pouco tempo depois com uma bandeja na mão. Um cheiro estranho invadiu minhas narinas e torci o nariz, sentindo o embrulhar do estômago em seguida.

— Falando em comida, resolvi dar um basta nas gordurinhas localizadas, misturando o útil ao agradável. Gosta de muffin?

— Gosto. Mas isso não é muffin, é?

— È sim, baby. Espero que goste de pimenta e couve acompanhado de tempero instantâneo como cobertura e um pouco de rúcula.

Sienn colocou a bandeja numa parte vazia da mesa enquanto eu analisava o projeto de comida que ela fizera.

Era um bolinho de uns dez centímetros. Gordinho mas nenhum pouco fofinho, como eram aqueles de chocolate e regados a leite, bem feitos. A obra culinária de Sienna era deprimente e decadente. Com um esforço descomunal peguei um deles e o analisei minuciosamente. Não havia espaço para a massa branquinha e dourada já que as tiras de couve ocupavam tudo. O odor forte e inconfundível de pimenta misturada com a massa seca me fez soltá-lo na bandeja e olhar com receio para Sienna.

— Parecem deliciosos.

— Então porque não experimenta?

— Quem fez deve fazer as honras, vá em frente - retruquei.

— Mas eu fiz para você - deu ênfase - comer.

Dei de ombros.

— Não quero ficar com a consciência pesada, Sienn, pode comer primeiro. Depois me diga o que achou. - pisquei e espalmei as mãos no ar.

— Não, não e não - recusou. - Sei que está com fome, então pegue logo antes que eu fique mega chateada.

Controlei o desejo de expressar minha cara de limão azedo na frente dela e voltei a pegar o muffin.

— Vai. Come logo.

Disse ela quando percebi estar com o bolinho próximo a minha boca porém com nenhuma vontade de fazê-lo atravessar as barreiras da minha garganta.

— Por favor - insistiu.

Fechei os olhos e com uma mão apertei o nariz. Suspirei e então o joguei novamente no lugar. O riso estrondoso de Sienna invadiu o ambiente e entendi todo o joguinho estúpido dela.

Vaca.

— Ai - apertou a barriga de tanto rir, remexendo-se na cadeira - eu sabia que você não conseguiria - riu mais. - A Freya estava certa, afinal.

— Essa palhaça tinha que estar envolvida! - dobrei os braços e fechei a cara. - Ainda bem que não engoli essa coisa.

— Mas seria engraçado, confessa, vai. Ver sua cara de monga seria a melhor parte do meu dia.

Sienna tampou a boca para não rir mais, inutilmente.

— Boa tentativa, colega. Tente uma próxima vez.

— Terá. Aguarde-me Branca de Neve Loira, logo será sua vez de comer a maça envenenada.

(...)

Há duas horas, as teclas do computador não paravam quietas. O tec tec insuportável persistia enquanto eu punha meus dedos nelas e tentava terminar a revisão de um dos relatórios de Eric.

Quando finalizados, coloquei-os de lado e escapuli para o banheiro, cobri o cabelo com uma touca deixei a água morna cair no corpo e fiquei parada, sentindo-a cair para que minha recente dor de cabeça passasse - precisava me lembrar de desligar o brilho do notebook e de ficar menos tempo nele.

Sienna estava em seu quinto sonho quando sai enrolada numa toalha e vesti meu pijama. Meu corpo encontrou devagar a cama e apaguei a luz do abajur, para não precisar me mexer muito.

Barriga de aluguel.

Senti uma pontada na minha cabeça quando a chacoalhei, afastando o pensamento.

Eu passara horas tentando esquecer a proposta e o momento perfeito era aquele, então coloquei o travesseiro na cabeça e fechei os olhos com força.


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Notas finais do capítulo

E então? Bombástico, né!? Até o próximo ^^



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