Until the very great end escrita por SheWantsDraco


Capítulo 9
But if we're strong enough to let it in we're strong enough to let it go


Notas iniciais do capítulo

Música: BIRDY + RHODES - Let It All Go



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/687167/chapter/9

 

O menininho observava o homem à sua frente com medo. Estavam no saguão do orfanato e ele sabia que seria deixado ali de novo e Henrique odiava-se por ter que dizer que isso era realmente verdade. Ele não queria contar para Izabelly o que estava acontecendo, mas também não podia ficar muito mais tempo em Nova Iorque.

— Vou ver você de novo? – O menino perguntou com medo de soltar a blusa do pai. Henrique queria sumir, ainda mais por ver vestígios de lágrimas em seu rosto. Henrique estava assustado, talvez, se forçasse um pouquinho.... Afinal, se o sentimento entrou, de alguma forma, ele tem que sair. Não? O menino nem seu filho era.

— Não sei – Os olhos do menino se arregalaram, o bico aumentou e Henrique logo tratou de arrumar sua frase: - Eu preciso ir para Miami, mas quando eu voltar, certamente virei te ver, pequeno príncipe.

Foi inevitável, mas o apelido simplesmente saiu. O menino que antes pensavam em chorar, agora tinha um sorriso pequeno brincando em seus lábios. Henrique se sentiu pior ainda.

Henrique estava dentro do taxi conhecido cinco minutos depois. Nem dois dias já tinham se passado de que ele veio de Miami para Nova Iorque e um inferno já tinha sido posto em seu caminho.

— Não estamos longe – O taxista falou mesmo que soubesse que palavras naquele momento poderiam ser dispensáveis. Sair do orfanato e ir para o velório da avó tinha sido uma das coisas mais difíceis que Henrique já tinha feito – logo depois de ter que comprar o caixão que enterraria o próprio filho. O baque fora tanto que Henrique ficou sem falar por dois dias.

Henrique queria que estivessem. Mas seus pedidos não foram concebidos aos céus, uma vez que logo estavam na entrada do velório.

— Depois que me deixar lá pode buscar meus pais no aeroporto? – Perguntou Henrique. – Deixá-los no mesmo lugar também.

— Claro...

E assim foi feito. O enterro foi no final da tarde. Os pais de Henrique não trocaram muitas palavras com o filho e vice-versa. Não haviam palavras para serem ditas, mas foi claro o estranhamento de não notar Izabelly ali. A mãe de Henrique fez cara feia para isso. Ela nunca achou que Izabelly fosse realmente uma boa esposa. Mas não esperaria por algo tão baixo. Nem vir ao enterro da mulher que ela tanto dizia admirar.

— Cadê a sua esposa? – Seu pai perguntou depois que só restará os dois no cemitério. A mãe de Henrique resolvera ir para o hotel descansar a mente. Os dois ficaram ali por seus entes queridos. Tinham enterrado a avó de Henrique próxima a Leo. Eles poderiam cuidar um do outro agora.

Era uma besteira, mas Henrique acreditava que caso fossem enterrados próximos, seria mais fácil para que os dois se reencontrassem em algum lugar lá no Céu. Era besteira, mas algo que ele fazia questão de garantir. Não queria seu menino desprotegido.

— Está em Miami.

— Porque? – Perguntou o seu pai, confuso. Ele se sentia péssimo também. Principalmente no final, não se sentia como se fosse um bom filho e muito menos um bom pai. Talvez fosse por isso que o clima que havia se instalado ali estava tão ruim e tão estranho.

— Ela não sabe. – Revelou.

— E sabe que sua mãe está chateada por ela não estar aqui e ela não sabe que é porque Izabelly não tem ideia.

— Não quero importuná-la com isso. – Comentou Henrique – Já estamos passando por coisa demais.

— Eu acho que você sente medo – o pai arriscou, sabendo que estava pisando em um território perigoso. – Sua mãe está odiando a nora agora e mesmo assim você não faz nada por puro medo de que Izabelly não seja boa o suficiente para aguentar a barra quando nem você mesmo está conseguindo se manter de pé.

Aquilo tinha sido realmente um soco em seu estomago. Seu pai raramente falava coisas do tipo, e jogava as verdades na cara. E se ele estava dizendo agora era porque era mesmo importante. O homem não falou mais nada. Não tinha mais nada a ser dito. E no silêncio daquele cemitério, como se fosse se quer possível, Henrique se sentiu pior ainda.

Izabelly não era o tipo de pessoa que merecia ódio gratuito. Na verdade, Izabelly não merecia ódio algum. Sua mãe precisaria urgentemente rever seus conceitos sobre a esposa do filho.

Ninguém merecia.

***

Henrique sentiu o corpo tremer enquanto a água fria batia em sua pele, fazendo contraste com o calor que emanava dela. Apesar de ainda estar frio em Nova Iorque, mesmo que fosse primavera, aquele banho não era dispensável.

Banhos frios lhe ajudavam a organizar a mente. E era o único momento em que ele se permitia chorar porque ali ele poderia enganar a si mesmo que as lágrimas era a água vinda do chuveiro. Não que ele achasse um pecado homem chorar. Longe disso. Mas ele não chorava não por essa ideia machista empregada na cabeça de vários homens ao decorrer dos anos. Mas sim porque era Henrique. Porque ele não achava justo chorar quando tinha que ser forte por outras pessoas.

Tamanho susto foi que ele tomou quando terminou de se arrumar e foi fazer alguma comida para jantar, mesmo que estivesse sem fome, ainda não se permitiria morrer de fome.

Izabelly estava ali. Tinha roupas casuais, calça jeans e uma blusinha branca, por cima de uma jaqueta de couro. Tênis e quase pouca maquiagem apenas para esconder as noites de péssimo sono.

— O que está fazendo aqui? – Henrique perguntou.

— Eu que deveria fazer essa pergunta – Izabelly contra-atacou. – Você deveria estar na empresa a essa hora ou se não num voo de volta para Miami.

— Eu tinha muito trabalho na empresa – Tentou mentir mais, Izabelly sorriu triste ao ver a tentativa. – Acabei de chegar.

Izabelly sabia que tinha algo errado e a única conclusão que ela conseguia pensar era em traição. Se Henrique ao menos admitisse, ela poderia tentar perdoá-lo. Mas parecia que o saco de boas vontades de Izabelly estava ficando cada vez mais vazio. Afinal, para tudo existe uma boa dose de limite.

Então, da bolsa que carregava no ombro, Izabelly tirou a carta que havia chegado para ela e colocou em cima do balcão da cozinha.

— O que é isso? – Henrique perguntou curioso pegando o envelope em suas mãos tremendo ao ver o logo da sua empresa ali.

— Você foi demitido, Henrique.

Henrique não conseguiu decifrar um tom de mágoa na voz de Izabelly. Apenas um carinho desnecessário e uma consideração por ele que não deveriam estar ali.

— Eu..

— Vai me dizer por onde andou esse tempo todo?

— Eu.. –

— Você?

A ideia da traição já tinha sido utilizada uma vez. Mas ele sabia que com todos os vacilos que tinha cometido desde então, era extremamente fácil continuar com aquela mentira.

— Nada.

E então, Henrique fez a coisa mais covarde que poderia ter feito.

— Olha... – Ao ver olhar decepcionado da esposa. Ele estava fazendo muito isso. Mudando o rumo das suas falas quando via que estava deixando alguém chateado ou prestes a chorar. – Combinei com Aaron de ir a um bar hoje. Era por isso que não estava indo para o aeroporto hoje. Ele não teve tempo para mim até agora.

— É? – Izabelly perguntou com a voz fraquinha. Estava cansada de lutar.

— É.

E mesmo não estando com uma roupa muito apropriada para sair, ele o fez.

Henrique arrancaria Izabelly do seu coração a força, se isso fosse implicar em menos sofrimento a pessoa que mais amava no mundo.

***

O problema de ter saído correndo foi claramente ter deixado o celular em casa. Tudo bem que Izabelly sabia que era errado vasculhar no celular do marido, mas não tinha outro jeito de obter suas respostas que não fosse aquele. As coisas estavam difíceis, Henrique não estava facilitando então ela teria que apelar para a invasão de privacidade.

Ela se sentou confortavelmente no sofá da sala, enquanto estava agarrada ao Panda de pelúcia, sentia que precisava de um pedaço de Leo naquele momento.

Tem certeza que eles estão no portão 3 mesmo? Não vejo ninguém aqui com as descrições que me passou, Henrique”. Era de um contato nomeado Walter.

Estou te esperando aqui em baixo”, essa mensagem havia sido antes de Henrique ir procurar Izabelly em Miami.

Aquelas duas conseguiram bastante afetar a curiosidade de Izabelly, mas as que mais ferraram com seu emocional foi as próximas que leu.

Augusto está melhorando da febre. Mas ainda acho melhor você vir.”

“Augusto está chamando por você. Tem tempo de vir aqui hoje?”

“Aquele menino não para de falar de você desde que foi embora e te chamou de pai. Vim para o orfanato depois que deixei você no cemitério. Achei que deveria saber” PAI?

PAI. PAI. PAI.

Pai.

Augusto. Pai. Cemitério. AUGUSTO. PAI. CEMI´TÉRIO. ORFANATO. Caralho!

Que porra era aquela?

De repente o celular tocou, assustando Izabelly. Era da mesma pessoa que tinha mandado as mensagens anteriores lidas para seu marido. Sem pensar duas vezes, ela atendeu.

— Alô...

— Henrique? – Perguntou em tom de dúvida.

— Não. A esposa dele.

— Ah, achei que estivesse em Miami. – A voz do homem estava rouca. – Poderia chama-lo para mim?

— Ele saiu. – Izabelly disse. – Foi para um bar com o melhor amigo.

— Ah, - Valter estranhou – Ele me ligou dizendo que era para eu busca-lo, mas eu cheguei aqui e ele não está. Me ligou pelo celular do melhor amigo mesmo.

Izabelly sentia seu coração acelerando. Tinha alguma coisa errada. Algo não estava certo. – Que estranho....

— Sim... – Izabelly ouviu uma movimentação do outro lado da linha estranha. Walter prendeu a respiração ao ver a movimentação da rua da frente. Merda. Mil vezes merda. Se Walter tinha uma coisa muito estranha era a memória fotográfica. Ele conhecia a placa daquele carro que estava emperrado na parede de uma das casas da rua mais a frente. Mas do mesmo jeito que era bom em guardar informações, era péssimo em passa-las para outras pessoas.  – Eu acho melhor você vir até aqui.

— O que aconteceu? – Perguntou já levantando do sofá, calçando as primeiras chinelas que havia visto pela frente. Calçar o tênis demoraria muito. Mesmo que fosse estranho e ridículo sair por aí com meias e chinelas, o que Walter disse em seguida fez com que ela parasse de pensar com coerência: - Henrique sofreu um acidente de carro. Eu até te buscaria, mas a rua parou. Não tem como sair daqui.

Correu como se sua vida dependesse disso, e de certa forma, ela dependia. Ela precisava chegar o mais rápido possível. Precisava conversar com Henrique, precisava dele vivo porque Izabelly precisava pôr para fora todo o desespero que estava sentindo. Não era mais tempo para assuntos inacabados. Seus sentimentos precisavam ser resolvidos. Fossem sentidos ou enterrados, ela apenas precisava resolver e isso não aconteceria caso...

Era melhor nem pensar naquela porra de possibilidade.  

Correu contra o tempo. Correu para se salvar dos pensamentos. Pegou o primeiro taxi que entrou, mas ao ver a demora e o trânsito logo o abandonou sem pensar em paga-lo. Ela odiou o fato de que Nova York tinha muito trânsito e pela primeira vez concordou com Henrique de ir morar em um lugar menos urbano.

Era noite. E tudo deixava ainda o clima mais melancólico. O bar não era muito longe, por isso ela logo conseguiu avistar a movimentação na qual Walter dizia.

Por um pequeno momento ela fechou os olhos antes de voltar a abri-los para lidar com a cruel realidade que a vida tinha acabado de lhe dar mais uma rasteira. Ela não teria como conseguir tirar Henrique de seu coração. Essa preocupação nunca iria passar, porque depois que o sentimento se instalará dentro do peito, diferente do que Henrique achará, era impossível tirar. Uma vez ali, para sempre ali.

Corações não são aqueles brinquedos de montar e tirar, que você pode brincar na hora que bem entender. Eles sentem, eles respiram, eles vivem amor. E se Henriques se saísse de seu coração, como ela poderia?

Ela respirava-o.

Vivia-o.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Until the very great end" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.