Until the very great end escrita por SheWantsDraco


Capítulo 10
I'm here alone inside of this broken home


Notas iniciais do capítulo

Músicas: Broken Home - 5 seconds of summer
Say Ok - Vanessa Hudgens



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Ela não queria entender ou compreender porque aquilo estava acontecendo com sua família. Uma tempestade atrás da outra. Ela só queria que alguém – Henrique – falasse baixinho em seu ouvido que tudo ficaria bem. Que tudo ficaria ok. Não precisava ser algo maravilhoso como aquela felicidade abundante que costumava sentir. Ela só queria as coisas ok. E que de preferência, fosse Henrique que confirmasse isso a ela.

Izabelly estava cansada das coisas assim. Ela queria um descanso, dos outros, dela mesma e de todos os problemas. Queria que Henrique oferecesse isso a ela. Mas quando teve que ficar esperando na sala de espera do hospital soube que ok seria a última forma de como as coisas ficariam sendo que ela estava dentro de um lar quebrado. 

— Izabelly? – Ela estava sentada quando escutou seu nome. Mas por achar que era um médico levantou-se rapidamente, tão rápido que quase pode sentir uma leve vertigem.

Se lembrará da voz com quem havia conversado pelo telefone mais cedo e das mensagens, logo reconhecendo o senhor à sua frente.

— Walter? – Perguntou em um tom cheio de dúvida e medo. Ela sabia que mais do que mensagens, aquele homem tinha a resposta para tudo o que estava acontecendo com seu marido.

— Sim – Respondeu com pesar. – Temos que conversar, acho.

— Sim. – Izabelly confirmou, e quase sentiu vontade de rir ao escutá-lo apenas dizendo que achava. Era óbvio que eles precisavam conversar.

***

Izabelly poderia definhar com as palavras que havia trocado com Walter no hospital e até ter que ser sedada – como aconteceu quando Leo faleceu, mas ela não faria isso. Precisava agir como uma adulta, como uma pessoa racional, e por isso não faltou na consulta com a terapeuta, marcando um voo de volta logo depois que a uma hora ali no consultório. Os médicos não haviam dado uma data de quando ele acordaria. Estava sob medicação, mas poderia acordar em qualquer momento. O resultado do acidente havia sido uma perna quebrada e a cabeça em observação pela batida.

— Ele mentiu para mim – Disse Izabelly com receio das próprias palavras recebendo um olhar feio da medica a sua frente – Tá, ele omitiu. Mas é tão ruim quanto. Se ao menos me tivesse falado sobre o garoto poderíamos ter conversado.

— O que você teria feito se ele tivesse contado? – Antes de começar a pensar, Izabelly olhou de relance para o seu celular. Desde que pisara em Fort Lauderdale se recusara a tirar os olhos do visor por mais de meia hora. Ela ainda sentia por ter ido embora do hospital, mesmo que tivesse em mente que não faltar na terapia não era uma coisa a certa a fazer.

Ela queria tanto reconstruir o quebra-cabeça, que achava que se faltasse, as coisas apenas piorariam.

— Eu teria entendido! – Mais uma mentira. Izabelly sabia, no fundo do coração, que sentiria que Henrique estivesse traindo Leo. Do jeito que ela sentia sobre isso no momento. Mas, como Henrique estava internado, os sentimentos ainda estavam nublados.

— Teria? – A terapeuta ergueu uma sobrancelha. Izabelly não respondeu. Sabia que não teria. Assim como não estava. – Minha sugestão é que dê uma chance de conhecer esse menino. Se você o conhecesse, talvez entenderá Henrique. Seu esposo está em coma, não tem mais nada a perder.

Era um golpe baixo falar sobre perdas, mas sabia que se não usasse as palavras certas, tinha medo de que a paciente desistisse. Ela como pessoa admirava aqueles dois. Aquela família quebrada. Aquele lar destruído pelo acaso. Eles estavam tentando. Se Henrique não tinha morrido ainda, era porque, definitivamente, eles estavam tentando. E para Deus – ou qualquer outra divindade que estava escrevendo a história dos dois por linhas tortas – era o que importava.

***

Walter atendeu a ligação de Izabelly confuso. Quando havia contado tudo o que Henrique estava fazendo, sobre o orfanato, viu a mulher ficar magoada o suficiente para nem querer mais voltar a falar sobre.

A questão é que para entender o que acontecia, precisava entender Henrique, e para entender o que o homem sentia tanto pelo menino que havia conhecido.

Mas, mais do que tudo, Izabelly ainda tinha dois sentimentos brincando de pega-pega dentro de seu coração. Ela se sentia magoada, decepcionada por Henrique não ter contado a ela sobre Augusto quando podia. Porque ele já não havia contado á ela quando fizeram a promessa? Quando prometeram tentar? Aquele seria um bom momento para um desabafo como esse.

Por outro lado, o sentimento de medo rondava seu coração, brincando com a decepção. Henrique estava tentando substituir Leo? Uma coisa era enganá-la sobre Leo estar vivo ou não, agora enganar um menino órfão era uma coisa completamente diferente.

Depois de conseguir entrar no orfanato, Walter acompanhou Izabelly até o quarto do menino. Tinham acabado de chegar na hora em que todos estavam aprontando-se para dormir. As crianças eram divididas em quartos de quatro. Duas beliches em cada quarto. Augusto dormia no beliche de baixo porque tinha medo de altura. Todos no quarto já dormiam quando Izabelly entrou com permissão. Augusto era o único acordado.

Seguindo as instruções sobre qual era a cama dele Izabelly se aproximou com cautela.

Inicialmente ficou com medo da figura desconhecida que entrará, mas rapidamente seu medo foi vacilando ao ver que a mulher estava quase tão assustada quanto ela. Augusto conhecia bem o medo. Tivera experiências com ele toda vez que mudava de casa.

— Oi...

A primeira aproximação foi difícil. Augusto apenas balançou a cabeça.

— Posso contar uma história para você dormir?

Augusto abriu um sorriso.

— Pode ser o Pequeno Príncipe?

 Sabendo que tinha dedo do marido nisso, Izabelly apenas assentiu. Não lutaria contra. Até que estava quase terminando, e Augusto ainda estava acordado. Quando a história se deu por fim, o menino ainda estava de olhos bem abertos.

— Não consigo dormir – Murmurou. Izabelly estava sentada na cama confortavelmente e o menino deixou que a mulher fizesse carinho em seus cabelos enquanto deitava sua cabeça em seu colo. Tinha sido a primeira vez que havia visto aquela mulher, mas Augusto sentia algo sobre ela que lhe lembrava do seu pai. – Sinto falta de papa.

Izabelly puxou o ar. Ele sentia falta de Henrique? Sentia o menino tanta falta do Henrique quanto ela sentia? Não. Impossível. Ninguém sentiria tanta falta de seu marido quanto ela.

— Sabe o que eu fazia quando não conseguia dormir? – Perguntou com a voz suave tentando tirar Henrique de seus pensamentos, mesmo que ainda estivesse absurdamente preocupada com o homem em coma. Não se lembrava de ser mãe desde que perderá Leo. Ela se sentia uma agora. Uma mãe inteira. Não uma pela metade. E aquilo a assustava, muito. Era apenas a primeira vez que ela o vira.

— O que? – Perguntou curioso o menininho. Talvez se sentisse dessa forma em relação a ele apenas porque sabia que o marido tinha um laço especial com a criança, mas nada no mundo a faria entender o motivo de Augusto ter dado abertura a ela assim tão fácil. Walter havia lhe dito que ele havia sido uma criança fechada por um bom tempo.

— Me agarrava a uma pelúcia. – Respondeu. – Me sentia segura.

— Não tenho pelúcia – O menino fez um bico, a princípio de um choro – Meus amiguinhos conseguiram uma, mas roubaram de mim a que eu tinha.

A mulher sentindo todo o seu coração ser tomado por aquela frase, se lembrando que crianças também poderiam ser cruéis pelo simples fato de serem seres humanos, pegou a bolsa que estava ao lado da cama.

O menino a observava curioso enquanto ela tirava o que tinha trazido o tempo todo com ela desde que saiu de casa. Augusto abriu um sorriso enorme.

— Agora você tem uma. Mas tem que me devolver depois.

— Vai me ver de novo? – Augusto perguntou com a vozinha recheada de esperança, ainda que estivessem sussurrando para não acordar os outros.

Se devolver a pelúcia em formato de Panda seria ver a mulher na sua frente novamente, Augusto devolveria, mesmo que tivesse significado que havia gostado muito dela.

E com delicadeza, como se tivesse deixando uma parte de si mesma ali, colocou a pelúcia nos braços do menino. O Panda achou um lugar confortável entre os braços do pequenino e Izabelly sorriu quando ele fechou os olhos, dando início a um sono gostoso e sem sonhos ruins lhe perturbando pelo simples fato de ter medo de nunca mais ver seu pai de novo.

Ela só havia conseguido fazer isso porque ao ver o menino, conseguiu ver claramente Henrique agindo como um pai. E se ele conseguiu agir como um pai perto daquele serzinho, ela também seria uma mulher – a mulher que sempre fora. E começaria a agir como mãe quando fosse preciso.

Mas ainda tinha uma coisa fora dos eixos mesmo a terapeuta tendo lhe ajudado a recuperar peças perdidas de seu infinito quebra cabeças.   A dor ainda estava ali.


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