Until the very great end escrita por SheWantsDraco


Capítulo 8
Am I losing hold of your love baby


Notas iniciais do capítulo

Música: Who Are You - Fifth Harmony



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Era a verdade que quando Henrique perdeu Leo ele soube que nada duraria para sempre e que finais felizes poderiam nunca ser tão felizes assim.

Pessoas poderiam morrer de uma hora para a outra e não haveria nada o que você pudesse fazer para evitar com que o destino delas se cumpra – mesmo que de maneira dolorosa.

Mas, Henrique nunca poderia estar preparado por aquilo. Por mais que você soubesse que tinha um medo terrível de perder tal pessoa e pudesse imaginar a dor, nunca seria o suficiente para te preparar emocionalmente para quando você sentisse.

E sim, Henrique já tinha pensado em milhões de vezes de como aquele dia acabaria, eventualmente, chegando, mas nunca havia imaginado que seria daquele jeito.

Henrique tinha conseguido permissão para levar Augusto ao parque. O garoto estava com a animação pulsando em suas veias apenas em uma atividade simples como alimentar os patos do Central Park.

Até que um moço vendendo Algodão doce passou e Augusto encarou-o com os olhinhos brilhando, típica animação de criança que quer muito alguma coisa.

— Posso ter um, papai? – Surpreso? Sim. Ele nunca poderia ter imaginado que o garoto tinha se apegado tanto, mesmo que tivesse ficado doente nos dias que estivera fora. O menino logo mordeu a língua. Com medo da reação do mais velho, ele abaixou a cabeça, e continuou sentado no banco que dividiam.

Augusto mantinha os olhinhos fechados para não ver o rosto de surpresa de Henrique. Ele não queria que o menino se repreendesse por ter chamado assim. E seria hipócrita da parte dele não dizer que havia gostado.

— Claro, campeão. – Augusto suspirou de alivio ao identificar a fala mansa que Henrique sempre tinha quando falava com ele. Só ficou em dúvida se poderia chama-lo assim de novo.

Henrique se deixou levar e comprou um algodão doce rosa, da cor que Augusto queria e o levou para o orfanato de volta, no horário que tinha marcado.

Foi um sacrifício deixa-lo ali sozinho, mesmo sabendo que o menino estava sendo supervisionado por adultos não era a mesma coisa de ser supervisionado e cuidado por ele.

Henrique sentia isso e se culpava – dia após dia – por estar enganando a esposa. Sua empresa provavelmente viria com a carta de demissão em breve.

***

E de fato, a carta veio para o endereço de Izabelly em Miami. Quando saiu de NYC com intenção de ficar a semana praticamente inteira em Miami, ao invés de colocar o endereço do hotel, resolveu colocar o dos sogros por achar que não teria problema nisso. E quem pegou a carta, foi a própria, antes de ir para um ensaio, Izabelly lia sem saber no que acreditar.

Havia sido enviada com facilidades pelos correios – um programa que entregava encomendas até as dez horas da manhã no dia seguinte.

Caro Sr. Sanchez.

Devido a suas faltas recorrentes no cargo administrativo da empresa, estamos aqui anunciando sua demissão. Os restos dos encargos sobre seu salário serão resolvidos via e-mail. Peço para que nos atualize sobre ele, uma vez que o Sr. Não está nos respondendo há semanas.

Afetuosamente,

Seu chefe,

Enquanto se sentia traída, Izabelly sentiu as mãos que seguravam a carta tremer. Seu celular tocou uma vez e ela derrubou a carta no chão para ver quem era. Henrique. Qual mentira será que ele contaria daquela vez? Que estava tendo muitos problemas com a empresa e que teria que ficar lá o resto da semana.

Izabelly se sentia como se estivesse perdendo o controle. Como se apenas tivesse que deixar as coisas correrem do jeito que quisessem correr para percorrer aquela estrada tortuosa que era os sentimentos dos dois.

Ele sentiu vontade de vomitar com a constatação.

A dor sempre arruma um jeito de vir.

Sempre.  E quando mais você a empurra para não sentir, mais você acaba sentindo-a quando é, finalmente, apunhalado por ela.

***

Depois de ouvir totalmente toda a história da paciente, a terapeuta mantinha um ponto de interrogação em sua mente, mas não compartilharia seu receio com a paciente. Apenas daria o primeiro pontapé na mulher para que ela não desistisse. Tinha algo a mais.

Talvez se ela não tivesse tido uma ou duas sessões com Henrique, não chegaria a esse ponto de interrogação. Mas ela teve e era claro a vontade dele de fazer com que os dois dessem certo. Ela tinha visto tanta paixão na voz do homem e força de vontade que seria quase um pecado dizer que ele não sentia vontade de reconstruir peça por peça do gigante quebra-cabeça que tinha sido desmontado quando Leo morreu. Era como se as peças houvessem se perdido e agora tentavam reencontrar uma a uma.

Então, se talvez eles não tivessem achado uma das peças ao contatar a terapeuta, teriam acabado de perder outra.

Mas a vida não poderia serem feitas de talvez. E a terapeuta sabia disso.

— Porque não tenta ir até NYC? – Perguntou com firmeza. Izabelly ergueu a sobrancelha. Achava que a psicóloga ficaria do lado dela, mas pelo visto, aquela era uma batalhadora neutra. Não haveria lados, uma vez que os dois eram seus pacientes.

— Porque eu tenho a filarmônica? – Perguntou, soou mais como uma pergunta do que como uma afirmação.

— A filarmônica não te impediu de vir para Miami, certamente não te impedirá de voltar.

— Talvez...

— Só uma coisa pode te impedir de voltar. – A terapeuta deu um sorriso simples ao ver que tinha conseguido totalmente a atenção de Izabelly. Parecia que a paciente estava totalmente avoada. Uma mosquinha era capaz de distraí-la hoje.

— O que? – Sua voz saiu receosa. Tinha medo da resposta.

— Você mesma.

***

Henrique tinha acabado de deixar o orfanato aquela noite. Olhou para seu celular e rugiu baixinho quando viu que o mesmo estava sem bateria.  Entrou no quarto do hotel e a primeira coisa que fez depois de tomar um banho gelado foi colocá-lo para carregar.

Já pronto para discar o número de Izabelly para dar boa noite a esposa, e ao menos escutar sua voz – nem que fosse para ter seus xingamentos de como ele tinha demorado para ligar – seus olhos se arregalaram. 20 ligações não atendidas da casa de repouso. Com a mão tremendo, ele – antes de retorná-los, deixou-se levar embora por alguns minutos pelas lembranças.

A senhora tirou o Pequeno Príncipe de baixo de sua vista, as palavras abandonando seu olhar quando o colocou em cima da mesa da varanda. Poucas pessoas no Rio tinham uma casa beira-mar como aquela, e vovó Sanchez ainda não era acostumada com o fato de que tinha sido lhe permitida tanta benção: morar com seu filho, e ainda poder ver seu neto crescer.

Era noite, o cheiro da praia, e os poucos turistas que passeavam por lá – deram a grande sorte de morarem em uma praia afastada do centro turístico – eram testemunhas do carinho que aquela avó tinha com o neto. E claro, não poderia houver testemunhas melhores do que essas – além, das óbvias estrelas, que como pontinhos brancos de tinta, brilhavam alto lá no céu.

— Vovó, onde está vovô? – O menino perguntou. A senhora olhou para ele quase como se olhasse para um Deus, alguém que realmente adorasse. E não era mentira. O pequeno menino era adorável.

— Vovô está com outras estrelinhas agora querido. – A senhora respondeu – Ele é uma delas agora.

O menino, extasiado com a ideia de poder ser uma estrela, perguntou:

— Eu vou poder ser uma estrela um dia, vovó!?

— Vai – A mulher não queria nem pensar nisso, mas não queria perder a resposta para aquela pergunta. Era tão inocente que ela não poderia perder aquilo.   – Mas você vai viver muito antes, porque depois que virar uma estrelinha, não vai poder mais voltar.

— Você vai ser uma estrelinha antes de mim? – O pequeno menino não soube dizer o motivo, mas a ideia da sua avó sendo uma estrelinha antes dele o deixava com um sentimento estranho. Não era como sentia quando seus amigos tinham um brinquedo que ele queria. Inveja. Era diferente. Era um sentimento que só anos depois, Henrique veio descobrir o que era: o puro e mais explicável medo de perder quem se ama.

Henrique tremia. Um grito queria escapar de sua boca. Mas ele o sufocou. O sufocou tanto que quase engasgou com a própria saliva quando recebeu a notícia.

Se antes Izabelly não tinha motivos o suficiente para ir para Miami, agora ela tinha.

Vovó Sanchez tinha morrido levando mais uma parte do quebra-cabeça.  A única coisa que agora era preciso, era de Izabelly souber do ocorrido.

O problema, era que Henrique, mais uma vez, achou que omitir fosse a solução para o seu problema quando na verdade, era exatamente ao contrário.

E foi aí, nesse exato momento em que Henrique resolveu continuar cometendo o mesmo erro duas vezes que ele perdeu o controle sobre o amor.

Ele ainda poderia tê-lo, se segurasse na pontinha da corda, poderia dar um jeito de trazer o amor de volta para superfície.

De longe do fundo do mar, de longe da pressão. Mas, Henrique não pensava muito coerente.

A única frase que conseguia formular em sua cabeça continua poucas palavras:

Vovó Sanchez tinha virado uma estrelinha.


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