Until the very great end escrita por SheWantsDraco


Capítulo 20
Vivemos esperando o dia em que seremos melhores




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A vida é engraçada. Quando você se sente triste, você tem variados sentimentos, desde o mais leve, até desejar que um caminhão atropele você ou que você não acorde no dia seguinte, uma morte que não seja dolorosa. E mesmo sabendo que tudo passa, até os dias escuros, por incrível que pareça, você sempre se pega desejando não existir quando as coisas apertam e fica difícil respirar. E o tempo passa, e você começa a perceber que os dias melhores estão chegando, com lentidão, mas estão e quando você assistia de camarote alguma pessoa sofrer no fundo do poço – do jeito que Henrique tinha visto seu primo Fernando – você se sente mais impotente do que o normal, porque não importa o quanto você fale que aquilo vai passar, como está aprendendo – de novo – que tudo passa, você sabe que a pessoa não vai ouvir. Quando estamos tristes, tendemos a escolher o que é pior para nós, porque nós não pensamos com o nosso cérebro, uma vez que o coração vai à frente, sentindo tudo o que tem para sentir.

— Ele vai ficar bem, — Belly tentou reconfortar o marido, enquanto observavam o pôr do sol da pedra do arpoador.

— Fico angustiado por ele.

— Eu sei — Belly suspirou — Queria poder te ajudar de alguma forma, mas sei que falar com Augus antes de dormir ontem aliviou a tensão, né?

Ah sim, aliviou demais. Mas a hora da despedida tinha sido horrível. Mas Walter deixou ele ficar com o computador ligado enquanto Henrique lia um capítulo de o Pequeno Príncipe para que Augus pudesse dormir tranquilo. Belly nem quis interromper o momento dos dois via Skype, por isso, apenas assistiu com uma sensação de orgulho instalada no peito.

— Sim — Henrique suspirou. Belly odiava ver seu marido assim, fora do ar.

— Hei, ele vai conseguir — Henrique desviou o olhar. Belly tinha razão. — Olha para mim — Henrique voltou os olhos para os castanhos da esposa e tudo o que ele podia encontrar ali era amor e preocupação. — Nós conseguimos, não? E agora estamos aqui sendo abençoados com esse pôr do sol maravilhoso.

— Nós conseguimos? — Henrique sorriu divertido por alguns segundos, Belly o fitou confusa. — Nós estamos conseguindo, meu amor.

Ah, sim.

Eles estavam.

E a sensação de estarem conseguindo era melhor do que qualquer uma que ela já teve a oportunidade de sentir em todos os seus anos de vida. Porque era o momento que ela estava aprendendo, que por mais horrível que possa ter sido, você sempre vai acabar aprendendo alguma coisa. E Izabelly, a Izabelly.... Ela adorava aprender, principalmente se no final, ela pudesse esperar por dias melhores. E por serem seres humanos, igualmente, melhores.

***

Quando chegou em casa acompanhado da esposa, Henrique deixou um beijo casto em seus lábios, na esperança de que ela não se preocupasse muito quando começassem a conversa que ele adiou da pedra do arpoador. Eles precisavam ter uma conversa sobre a questão financeira dos dois que estava começando a ficar mais preocupante do que Henrique gostaria que ficasse. E por isso, tudo o que pode achar quando seu pai lhe chamou para conversar naquela tarde, foi que Belly tinha ido pedir ajuda.

A conversa tinha sido razoavelmente tensa entre os dois, mas ela acabou quando Henrique viu a esposa chorar em angustia de novo. Eles precisavam de dinheiro para se manterem junto com Augus além da confirmação da mãe de Henrique e eles estavam sem nenhum nem outro. Dava para piorar? Claro que dava, mas Henrique nem se atreveu em pensar nisso. O resultado da conversa que teve com seu pai não permitiu que ele fizesse.

— Sua mãe passou por cima de muito orgulho – o senhor olhou para o filho com ternura. Ele sentia tanto que nunca poderia descrever em palavras. Ele pegou um envelope da gaveta da escrivaninha do escritório e Henrique arqueou a sobrancelha. Mas aceitou quando seu pai esticou a mão entregando-lhe o papel mesmo sem entender.

— O que é isso? — Seu pai sorriu simples. Era a hora das coisas começarem a melhorar. Já tinha passado da hora.

— Ainda bem que perguntou. Desde que nasceu eu e sua mãe depositávamos cinquenta reais por mês, era para caso acontecesse uma emergência e você precisasse se virar por conta própria. E bom, sabemos que estão com dificuldades financeiras e ainda mais agora com a chegada de Augusto as coisas podem ficar um pouco complicadas.

Henrique travou. Ele simplesmente não sabia o que dizer. Como diabos seu pai havia descoberto que eles estavam com esse tipo de problemas? Izabelly havia contado? Porra. Ele não queria se envergonhar dessa maneira. As coisas estavam se ajeitando, especialmente quando ele conseguisse o emprego.

— A Belly falou com vocês? — Henrique bufou — Nós não precisamos de ajuda — A frase tinha saído de sua boca de um jeito tão patético. É claro que ele precisava de ajuda. Todo mundo precisa de ajuda de vez em quando e naquele momento, Belly e Henrique eram quem mais precisavam de ajuda.

— Ah, cale a boca moleque — Henrique arregalou os olhos com o tom de voz do seu pai. Parecia até que ele tinha voltado a ter 15 anos e estava levando uma bronca por ter aprontado em sala de aula. Mas talvez, ele só estivesse falando assim com o filho porque o jeito que ele perguntou. “A Belly falou com vocês? ” Devia ter parecido como se ele estivesse culpando-a por ter pedido ajuda, sendo que, era tão óbvio, eles necessitavam de ajuda. — O dinheiro sempre foi seu. Pensamos em dar quando completou 18, mas sua mãe teve uma intuição que era melhor esperar. E voilá, aqui está a situação que você precisa e na sua mão, está o dinheiro.

Henrique engoliu em seco.

— Quanto tem na conta?

— R$50,00 por mês desde o ano que você nasceu. Faz as contas, não paguei tua faculdade para não saber fazer multiplicações.

Henrique não falou nada porque não havia nada para falar. Tudo o que ele pode fazer foi sair do quarto com o envelope na mão e seu pai, que aprendeu a personalidade do filho com os anos que passou ao lado dele, apenas respeitou o espaço que o filho tatuado precisava para colocar as informações alinhadas em seu sistema solar.

***

Belly estava sentada na cama arrumando as malas enquanto seu marido estava conversando com o pai, o relógio quase dizia que eram onze horas da noite e ela até tinha tomado a liberdade de comprar as passagens para o dia seguinte e ao ver duas passagens só de ida para NYC em promoção, não pensou duas vezes. Aquilo tinha que ser um sinal, por mais bobas que as coisas fossem, era imbecilidade pensar que foram coincidências.

Ela não tinha falado com Henrique, mas ele já podia imaginar que em algum momento ela já se cansaria de tentar fazer alguma coisa a respeito de mudar a opinião da mãe de Henrique. Não mudaria nada.  Ela não queria ficar sentada e esperar os dias melhores. Ela precisava ir atrás deles. E isso não aconteceria se continuassem no Rio de Janeiro. Ela precisava do seu filho. Agora.  E ela apostava seu piano favorito que Henrique se sentia da mesma forma.

Até que a porta do quarto abriu e por um segundo, Belly parou o que estava fazendo, vendo quem era o invasor.

— Onde vamos? — Henrique perguntou por mais que já soubesse a resposta quando chegou dentro do quarto depois de trancar a porta do mesmo.

— Para casa.

Henrique riu. Ele ainda não conseguia acreditar.

— Tá rindo do que? — Belly perguntou enfezada quando Henrique gargalhou.

Ele odiou o capitalismo por um instante, antes de responder a esposa, mostrando-lhe o envelope, segurando-o como se segurasse a coisa mais preciosa do mundo.

— Tenho a solução para os nossos problemas. — Belly de irritada, ficou séria ao ver que o marido estava longe de estar brincando, por mais que ele estivesse com o resquício de uma risada em forma de um sorriso estampado nos lábios.


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