Until the very great end escrita por SheWantsDraco


Capítulo 19
Tenho que ser guerreiro todo dia porque senão com o tempo a onda passa, e te leva


Notas iniciais do capítulo

Música:
Hoje o Céu Abriu - Nx Zero



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Acordar cedo no dia seguinte foi difícil por ter passado quase a noite toda acordado. Henrique não conseguiu parar de pensar em Augusto e Izabelly não estava diferente. Suas orelhas tinham orelhas. Isso não passou despercebido pela mãe de Henrique, mas ela preferiu abaixar a cabeça e fingir como se não tivesse culpa naquilo. E ela não tinha mesmo, pelo menos, até então. Mas ela podia minimizar, ah, isso ela podia. Mas não fazer nada era extremamente mais confortável. E ela nem precisava passar por cima do orgulho. Em sua cabeça, ela não poderia se sentir melhor e por isso marcou um churrasco em família. Faziam um bom tempo que não se reuniam, e ela sentia saudade do sobrinho, Fernando.

Fernando era um rapaz de 21 anos que cursava administração numa federal de outro estado. Ele sempre precisava pegar um voo de duas horas para chegar no Rio, mas não era problema, quando Henrique estava no Brasil, ele pagava caro na passagem por não ter comprado adiantada ainda com prazer de gastar o dinheiro que havia sido juntado por meses.

Quando Izabelly viu seu sogro montando a churrasqueira do lado de fora, bufou. Ela apenas queria que algum dos dois cedessem logo e ajudassem a buscar seu filho, mas aquela lerdeza estava fazendo com que seu cérebro fosse capaz de explodir a qualquer hora. A verdade, é que agora, estava aparentemente tudo bem – tirando o fato de Augusto não estar com eles – e ela tinha que ser forte todos os dias, porque bastava um dia que ela não fosse, para tudo desandar novamente. Eles já tinham chegado tão longe, não seria ela a culpada por destruir tudo o que reconstruíram desde que Leo havia ido embora.

— Você viu que seu pai tá fazendo um churrasco pro almoço? — Izabelly arranhou seu português quando entrou no antigo quarto do marido, viu ele deitado na cama, apenas olhando para cima. Henrique já não vestia mais pijamas e tinha um semblante sério, que se suavizou quando ouviu a voz da esposa que não demorou para se juntar ao lado do marido.

— Quer arriscar a gastar alguns reais e ligar para o Gus?

— Henrique — Izabelly murmurou e voltou para o inglês. — É muito caro. Não podemos gastar.

— Eu mandei uma mensagem para o Walter, ele disse que Gus está bem. Aliás, ele disse que não havia motivos para não fazermos uma ligação por Skype. Walter consegue arrumar isso para nós.

— Sério?! — Os olhos de Izabelly brilharam como se ela tivesse acabado de receber a melhor notícia do ano.

— Sim, só temos que ver um bom horário e avisá-lo. Mas por mim, já estaríamos voltando hoje mesmo.

— Sabe que sem o aval de seus pais é complicado. Andrea nos explicou a situação.

— Eu sei, e foi exatamente por isso que não preguei os olhos a noite toda. — Henrique virou-se, o suficiente para encarar os olhos castanhos da esposa que lhe encaravam de modo curioso — E se eles não quiserem?

— Então nós teremos que tentar de outro jeito — Izabelly suspirou. Ela não queria ter que pensar num plano B, mas a verdade, é que mesmo sem ela querer, a mente dela já tinha bolado um plano para as todas 24 letras do alfabeto.

— Nós daremos — Henrique beijou sua testa. Um gesto que Izabelly não trocaria por outro nesse mundo. Demonstrava o jeito que Henrique cuidava dela. O jeito que ele se doava para que os dois funcionassem. Sempre desejando para que os maus espíritos nunca chegassem perto de quem ele escolheu para passar o resto da vida junto.

***

Com Fernando chegando, sua mãe, que morava mesmo no Rio, também chegou meia hora depois, ao lado do pai do garoto. Eles não eram muitos. A mãe de Fernando era irmã do pai de Henrique e eles aprenderam a ser uma família com o tempo por terem personalidades diferentes. A tia de Henrique podia ser muito fria quando queria. Aquela mulher tinha ganhado o apelido de Rainha do Gelo na época do ensino médio e faculdade, e tendo o pai de Henrique como uma pessoa toda sentimental, eles eram totalmente opostos um do outro. E por isso, que com essa personalidade, Henrique não se surpreendeu quando a mesma não apareceu no enterro da própria mãe. Só ficou puto da vida, por sua mãe não ter brigado com a irmã do marido e sim com sua esposa. As duas tecnicamente cometeram o mesmo erro. Porque só Izabelly pagava o pato? Ele ainda não sabia essa resposta, mas era porque sua mãe ainda não conseguia suportar a ideia de que Leo ainda não estava mais entre eles.

— PRIMO! — Henrique botou as mãos na orelha, fingindo uma careta. Ele adorava Fernando. Ele tinha uma personalidade um tanto curiosa, mas nada que Henrique não soubesse lidar. A primeira coisa que fez ao vê-lo quando saiu do quarto com Izabelly foi envolver o primo em um abraço. E ele estranhou, uma vez que Fernando relaxou demais ali. Parecia que ele tinha acabado de tirar uma tonelada de peso das costas e só com aquele gesto Henrique tinha percebido tal coisa. E só assim, pelo suspiro que Fernando soltou durante o abraço, soube imediatamente que havia algo de errado.

Durante o almoço, Fernando deixou escapar algo que fez com que a mãe de Henrique se arrependesse por dois segundos de ter reunido a família. Das poucas vezes que Leo havia ido para o Rio de Janeiro, ele e o tio Fê, costumavam fazer uma competição de quem comia mais sorvete. E agora, era a primeira vez que não tinham o pequeno Panda por perto. E ele deixou escapar uma frase desnecessária – ou talvez totalmente necessária— enquanto terminava de tomar seu sorvete de chocolate.

— Tia, sabia, ia ser incrível ser outro pirralho para dividir o sorvete.

Henrique descobriu o que estava acontecendo com o primo depois do churrasco, e antes de levar sua esposa para sair como tinha combinado com ela. Que aliás, por incrível que pareça, não havia ficado perturbada pela frase de Fernando. A única pessoa que tinha ficado balanceada com aquilo havia sido sua sogra e Izabelly torcia para que isso fosse um bom sinal.

Os dois estavam no quintal, enquanto Fernando ajudava Henrique a arrumar o local depois do churrasco e fechar a churrasqueira portátil.

— Acho que a garota que tô ficando, tá com câncer. — Henrique abriu os olhos, surpreso. Achou que demoraria mais para o primo falar, mas por outro lado, não se surpreendeu. Fernando sempre falava as coisas fora de hora.

— E é só terminar com ela, não? — Henrique queria jogar verde e colher maduro. Ele sabia que o ponto fraco do primo era esse. Fernando trocava de garotas como quem troca de roupa.

— Não— Fernando mordeu os lábios com força. — Eu gosto dela. De verdade. E esse é o problema. Eu nunca gostei de alguém e se eu estragar as coisas? A gente nunca acerta nada de primeira. 

Henrique maneou a cabeça. Ele estava sentindo muito pela garota, mas não podia evitar de querer dizer “eu te avisei para parar de sair com todas, porque quando achar a pessoa, vai se sentir mais confuso do que o normal. ” Isso ele falou por experiência própria? Muito provavelmente que sim.

— Talvez você tenha sorte como principiante.

— Talvez — Fernando concordou, mas não parecia muito convencido. Se sentou num tronco que imitava um banco. E Henrique se sentou na cadeira aproveitando que o clima do Rio de Janeiro não estava tão quente assim.

Agora que o céu tinha aberto para ele, era difícil voltar com sua mente no tempo que ele sabia da dor que era estar próximo de perder alguém. De estar sentado na cadeira de espera do hospital, sentindo sua bunda ficar quadrada. A sensação de impotência que Fernando sentia, devia ser milhões de vezes maior. E agora, ele não queria se dar o direito de se sentir assim. Ele tinha medo de se sentir impotente. Ele sabia que podia fazer algo para mudar seus pais, sabia. Tinha que haver. A vida não podia ser apenas sobre esperar e ver as coisas se acertarem do jeito que preferirem se acertar. Tinha que ter mais.

E ver seu o primo daquele jeito, mexeu com seu coração. E Henrique nada pode fazer a não ser falar o que estava preso em seu peito desde quando aprendeu a conviver com a falta que Leo fazia todos os dias:

— Não é sobre quanto tempo você vive. É sobre o que você faz com o tempo que pode viver.

— O que você quer dizer com isso?

Henrique deu de ombros, ele não o pressionaria. Deixaria aquela frase na cabeça do menino mais novo e ele escolheria o que fazer com ela. Seu primo aprenderia a viver sozinho da mesma forma que ele foi obrigado a aprender. Afinal, a vida é uma escola que muitas vezes não pensa em duas vezes em nos colocar de detenção.

Fernando soltou um riso baixinho e olhou para o primo. Ele mal conseguia acreditar que aquele homem na sua frente tinha passado por tudo o que tinha passado. Devia ter sido uma barra. Quando ficou sabendo, tudo o que queria fazer era pegar um voo para o Nova Iorque e poder colocar o primo dentro do seu abraço, mas por algum motivo, ele soube que se fosse, atrapalharia mais do que seria capaz de ajudar.

E as vezes era melhor assim. Antes não ajudar, do que tentar e piorar a situação mais ainda. Henrique não sabia como poderia fazer com que o primo se sentisse melhor, mas se palavras fossem o máximo que ele conseguiria fazer para deixar o peso de Fernando menos pesado, ele faria questão de gritá-las.


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