Until the very great end escrita por SheWantsDraco


Capítulo 21
Cause I built a home for you for me


Notas iniciais do capítulo

Músicas: Turning Page - Sleeping At Last
To Build a Home - The Cinematic Orchestra



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Ao voltar para Nova Iorque, Izabelly se deu conta de uma coisa assim como Henrique. Em Nova Iorque eram onde eles se sentiam em casa, porque foi ali que eles construíram uma. Eles poderiam fazer o mesmo em qualquer lugar, que continuariam se sentindo em casa. O que resulta na mais simples conclusão: não é o lugar que faz seu lar, e sim, as pessoas que nele vivem. Isso deveria ser óbvio, mas não para todo mundo. Izabelly teve que quebrar a cara para perceber isso e se não tivesse percebido, ela nunca concordaria em se mudar da cidade grande para outro lugar que Henrique sempre havia sonhado. Um relacionamento era sobre ceder, ambos os lados precisavam ceder, e Henrique havia cedido bastante. Tinha quase cedido sua sanidade. E agora os dois estavam num estado de nervosismo que transcendia a paciência de qualquer um que estava por perto.

O festival de Nova Iorque estava batendo em suas portas, ao mesmo tempo da audiência da guarda de Augusto e tudo o que Belly e Henrique podiam fazer para relaxar era música. Eles se trancaram no quarto de instrumentos e ficavam horas, esqueciam até de comer, porque tudo o que podiam fazer até o momento, era esperar. Eles podiam estarem passando este tempo com Augus, mas Andrea tinha achado melhor esperar até a audiência acabar.

— Isso não é algo negado só para vocês, o outro casal também foi alertado para afastar. — Andrea comentou com o casal assim que eles voltaram do Rio de Janeiro e se encontraram em um café.

— Mas eles não são os pais do Augusto, tem que ficar longe de qualquer jeito! — Henrique se irritou. Izabelly tocou em seu ombro. Eles não podiam perder a cabeça agora.. Estavam tão, mas tão perto, que Belly quase conseguia sentir o gosto forte da felicidade. — Eles tem que ficar longe do menino de qualquer jeito.

— Querido, — Belly suspirou e apertou mais forte sua mão contra a pele do marido. Ela sabia que ele precisava sentí-la o mais próximo possível. — Sejamos compreensivos.

Henrique suspirou fundo.

Ele não tinha com o que se preocupar. Augusto era seu filho e ninguém seria capaz de quebrar um laços desses, ninguém.

***

Augusto estava na salinha reservada para crianças no tribunal, onde filhos de outros trabalhadores também estavam. Walter não podia se recusar de trazer a criança para lá, no entanto, não tinha avisado a nenhum dos casais interessados na criança que havia o feito. A única que sabia era Andrea. E ela apenas concordou porque estava confiante que quando tudo acabasse, Henrique e Belly já poderiam levar a criança para casa, sem mais nenhuma objeção. E se Henrique não conseguisse estar no mesmo espirito que a advogada da criança, ele realmente teria pensado em trazer a pelúcia consigo, como um amuleto da sorte.

— Em vista da situação familiar que temos aqui presente, começamos esse julgamento onde pretendemos chegar a conclusão do lar definitivo de Augusto, que está sob a guarda do senhor Walter Rodriguez e da Senhora Hilary Rodriguez. — E foi aí que Henrique realmente se arrependeu de não ter trago a porcaria da pelúcia. Ele realmente gostaria de ter algo para se agarrar com força, porque a mão de Belly já não era mais o suficiente. Ele queria abraçá-la, até se perder em seus braços. Ninguém falou nada. Todos naquela sala ficaram calados e deixaram o juíz continuar. — O estado de Washington sugere que a criança fique com uma guarda provisória na casa do casal Iglesias para uma adaptação, tendo em vista a situação econômica financeira da família Sanchez, além, de é claro, da situação emocional de ambos.

— Isso é ridículo! — Ouviu-se alguém dizer no fundo, e Henrique sentiu os pelos da nuca se arrepiarem. O que diabos seu sogro estava fazendo ali? Teria caido se não tivesse sentado ao observar que além dos pais de Izabelly, os seus também estavam presentes. Ele tinha dito a data da audiência, mas nunca imaginou que os mesmos acabariam entrando num avião para chegarem a tempo, no mínimo ligariam para pedir que eles voltassem para passar mais uma semana no Brasil, só que com Augusto, caso saíssem dali com boas notícias. — E o laço emocional que a criança desenvolveu com minha filha? Ele é meu neto, e nem sob meu cadáver que deixarei outras pessoas tomarem conta da criança.

— Pedimos silêncio — O promotor disse depois do burburinho que começou por causa da fala, Henrique suspirou e apertou sua mão na de Izabelly, que estava tão confusa quanto ele.

— O sogro do meu cliente tem um ponto, se me permite, meritíssimo.

— Permissão concedida.

— O menino se envolveu tanto, que já chama Henrique de pai e Izabelly de mãe. Arrancar isso do menino seria arrancar dele o privilégio de se sentir confortável em sua própria família.

Do outro lado da sala, o advogado da família Rodriguez comentou após um minuto de silêncio, sabendo que agora era a hora que ele poderia falar.

— Mas a situação financeira dos dois não é algo que favoreça a criança. Meus clientes podem pagar pela melhor educação, melhores atividades extracurriculares, e tudo o melhor que uma criança pode sonhar em ter. Acreditamos que o menino não reclamará em ser transferido para este lar, uma vez que aqui há uma estrutura financeira e emocional, boa o suficiente para ser a casa de uma criança.

— Nestas circunstancias, — o juiz disse, — a menos que o advogado da família Sanchez tenha algo a acrescentar para fazer com que o Estado mude de ideia referente a guarda do menino Augsuto, ela estará permanentemente dada à família Iglesias. Também daremos a palavra para a advogada da criança que se posicionará unicamente a favor do bem-estar da mesma.

— A família Sanchez vem passado por um tempo difícil. — Disse o advogado. Henrique quis socar a cara do mesmo por ter falado algo tão óbvio. Eles mal tinham tido de contratar alguém, foi tudo tão rápido e de última hora, que eles mal podiam acreditar que tinham conseguido alguém realmente bom. — E isso só prova o quão estruturado é o lar deles para a chegada de mais uma pessoa. Qualquer um teria seguido em frente com a papelada para o divórcio, mas eles apenas voltaram atrás e agora estão aqui com o apoio da família. Os pais da Senhor Sanchez demonstraram apoio aos dois, revelando uma quantia em dinheiro que deverá ser o suficiente para a formação de Augusto. Eles tem o necessário para cuidar de uma criança. Escolas é algo público e as públicas que o Estado oferece são o suficiente para o menino ter uma educação acadêmica, não sendo necessário pagar por professores particulares ou qualquer outro tipo de acompanhamento.

Era isso. Não tinha mais o que falar, a não ser Andrea. Belly apertou a mão do marido. A palavra da mulher negra poderia fazer com que tudo mudasse – fosse para pior ou para melhor.

— Augusto chora, e tem febre emocional quando Henrique e Izabelly estão muito longe. E isso não é bom para o bem-estar da criança. Óbvio. Não deveria algo a nem ser questionado a partir do momento que por vontade própria, sem ser forçado a nada, ele chamou Izabelly de mãe. E isso é o suficiente para que o Estado concorde em dar a guarda para esta família.

— Estou muito inclinado em concordar com você, Sra. Andrea. A criança tem laços emocionais fortes com a família Sanchez que descobrimos ter tanta ajuda financeira quanta emocional para cuidar da criança. Tanto da experiência que eles já adquiriram com o garoto falecido, Leonardo Sanchez. Pelo poder que me é concedido, defino que Augusto passa da guarda de Walter Rodriguez e Hilary Rodriguez, para a guarda permanente de Henrique Sanchez e Izabelly Clarke Sanchez.

Henrique nunca achou que fosse respirar de forma tão aliviada quanto naquele momento. Apesar de ter tocado na ferida ao ouvir o nome de Leo mencionado, ele mal teve tempo de raciocinar quanto Belly se jogou em seus braços. Walter também respirava com mais tranquilidade, por um momento, ele jurou que se culparia caso o menino Augusto não fosse para a casa de Henrique. Ele havia permitido a entrada do casal para visitar o menino. E falando nesse casal, os dois estavam tristes, mas não tanto quanto Henrique e Izabelly ficariam caso perdessem o caso. O juiz percebeu isso e sorriu minimamente. Tinha acertado mais uma vez. Andrea que estava mais atrás, sorriu.

Tudo estava sendo como tinha que ser e as linhas tortas da história dos dois estavam começando a fazer sentido.

 

***

Henrique havia deixado a sala de instrumentos, e era um pouco mais cedo daquele mesmo dia, antes do tribunal. Ele estava sozinho e Belly estava tomando banho para saírem. O dia tinha chegado. Ele entrou no quarto de Leo, que ainda estava devidamente arrumado, sem nada fora do lugar. Ele se sentou na cama do filho e apenas esperou. Belly não soube porque, mas não demorou nenhum segundo para encontrar o marido. Algo nela sabia que ele estaria ali, sentado em cima da cama, desejando estar com o Panda de pelúcia em suas mãos. Se pudesse, ele levaria a pelúcia para a audiência.

— Se você soubesse que viveria para isso, teria começado a viver comigo?— Henrique perguntou assim que Belly entrou no quarto, e ficou observando-o por uns minutos. Tinham tempo ainda antes de saírem e ele tinha que questionar isso, apesar de sentir medo ao fazê-lo, mas era uma pergunta que vinha batucando em sua mente fazia um tempo.

— Eu sei para o que tenho vivido.— Belly disse com firmeza.— E eu não trocaria qualquer outra família pela nossa.

— Eu também, — Izabelly não tinha perguntado, mas Henrique sabia só pelo olhar da esposa que ela precisava, desesperadamente, da confirmação da parte dela também.— Nada se pode comparar do privilégio de ser sua pessoa e apesar de nada ter me preparado para isso, eu amo, e não me lembro mais do tempo que não éramos você e eu. Eu lembro, mas é tão nublado, é tão comum, que prefiro não lembrar e fingir que não existiram. Agradeço todos os dias por ter me escolhido e continuar me escolhendo. Estamos virando mais uma página hoje, juntos, como sempre estivemos desde que nos conhecemos lá em Copacabana.

Palavras podem acalmar, e Izabelly gostava tanto delas por isso. Mas as vezes, haviam momentos que o silêncio bastava. Por isso, o aproveitou para colar os seus lábios nos do marido, apenas para selarem mais uma promessa de tantas outras. O gosto do beijo era molhado, por conta das lágrimas que escorriam, e Belly estava tão afoita, que ela mal sabia de quem eram as lágrimas e do porque chorá-las. Ela gostaria de ficar ali para sempre, naqueles braços que tanto a acalmavam. Era aquele lugar que ele havia construído uma casa, para sí mesmo e para ela. Mas, ela não tinha muita escolha.

Estava na hora de buscarem Augusto e irem para a casa.

De reconstruírem uma.

 


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