Until the very great end escrita por SheWantsDraco


Capítulo 2
I will make you feel my love


Notas iniciais do capítulo

Para esse capítulo, podem escutar I will make you feel my love da Adele e Lay me down do Sam Smith ♥



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Depois que Izabelly dormiu, Henrique resolveu as últimas coisas que faltava e disse que levaria a esposa para casa adormecida mesmo. Algumas enfermeiras lhe ajudaram leva-la para o carro e Henrique a colocou cuidadosamente no banco de trás.

Quando chegou em casa e estacionou o carro na garagem do prédio, não queria que a esposa acordasse do sono e a levou no colo estilo noiva. Ele riu e se lembrou da primeira vez que havia feito isso na lua de mel deles que tinha sido feita na Inglaterra.

Henrique deixou a esposa adormecida no quarto com a intenção de ir até a cozinha para tomar água, já que sua boca seca estava começando a lhe incomodar. No entanto, interrompeu seus passos na frente da porta do quarto de Leo.

Seu coração bateu dolorosamente dentro do peito. Sem pensar no quanto aquilo mexeria com suas emoções, Henrique entrou no quarto. Na cama com o lençol de astronauta perfeitamente esticado, em cima do travesseiro, jazia um Panda de pelúcia.

Henrique deitou na cama de Leo e deixou com que as primeiras lágrimas escorressem de seus olhos. A dor que sentia era quase física, quase que era capaz de queimar todos os seus ossos. Se deixou levar pelas memórias enquanto seu rosto era molhado por seu choro. Seus pensamentos o levaram para 15 de maio de 2010.

Henrique estava tomando cerveja com seus amigos da empresa enquanto assistia a um jogo de futebol. Aquilo não era fora do comum. Sempre acontecia uma vez ao mês. Izabelly sempre dizia que era uma boa forma de Henrique espairecer. E Izabelly fazia o mesmo com as amigas, uma vez por mês, no mesmo fim de semana que Henrique.

— Ei não! – Henrique disse ao ver a falta que o jogador de futebol tinha feito. Ele nem gostava de assistir jogo, mas sabia das regras e aquilo era uma falta óbvia. – Que merda cara.

— É mesmo – Seu amigo, Aaron, riu depois de tomar um gole de cerveja gelada.- Nunca vi você curtindo tanto futebol. Que bicho te picou hoje?

— Não sei – Henrique disse sincero – Só estou animado hoje. Algum problema?

— Nenhum – Wiliam acrescentou. Eles se conheceram porque os dois, William e Aaron, trabalhavam no mesmo setor que Henrique na empresa. Suas mesas eram próximas um das outras.

Até que o celular de Henrique tocou e ele rapidamente atendeu, dando graças a Deus que não perderia o resto do jogo que estava sendo melhor que qualquer episódio final de novela.

Para não atrapalhar o amigo, Aaron pegou o controle da TV que estava na mesa de centro que naquele momento era coberta de doces e porcarias.

— Alô? – Ele perguntou confuso. Era o número de Izabelly e ela nunca ligava no fim de semana reservado para os amigos.

— Henrique? – O coração dele bateu mais forte ao reconhecer a voz da melhor amiga de Izabelly, Mackenzie. Mackenzie conheceu Izabelly porque as duas tocaram piano juntas em um concerto. O primeiro que Izabelly realizou em Nova Iorque a dois anos atrás.

— Mack? – Perguntou confuso. – O que houve? Está tudo bem com o bebê? Com Izabelly?

— Henrique, respira, inspira. – Henrique obedeceu a Mack porque sabia que aquele seria o único jeito de fazer a pianista falar e o telefone estava alto o suficiente para que Aaron e William escutassem a conversa. – A bolsa estourou. Estamos indo para o hospital. Vem logo, seu filho vai nascer.

Seu filho vai nascer. Leo vai nascer.

Leo.

Leo.

Leo.

Leo.

Sua mente era apenas um redemoinho de Leo's. Ele não teria conseguido chegar no hospital – de tanto que tremia – se William e Aaron não tivessem lhe ajudado.

Henrique não soube a hora, mas adormeceu na cama do filho. Todo torto por causa de que a cama era apenas grande o suficiente para uma criança. Dormiu abraçado com o Panda, e só então soube porque o filho gostava tanto dele. Não sabia explicar, mas aquela pelúcia tinha alguma coisa que lhe fazia sentir calmo. Talvez fosse o cheirinho de lavanda misturado com o do Leo, mas ele não poderia soltar aquele Panda se fosse a única coisa que fizesse com que ele se sentisse mais ligado com Leo.

Ele acordou quando escutou um grito – tão assustador quanto o que ouviu no hospital – vindo do seu quarto. Mais rápido do que havia feito em toda sua vida – até mesmo quando Leo acordara gritando pelo pai e pela mãe por causa de um pesadelo – Henrique saiu correndo em direção ao quarto do casal.

O jeito que Izabelly chorava e gritava era de quebrar o coração de qualquer um. Ela segurava os lençóis com força, como se tivesse medo que se os soltasse ela pudesse cair da cama. Suas mãos vermelhas o choro que molhava a fronha sem piedade. Henrique não pensou duas vezes antes de ir até a mulher e abraça-la.

Ele seria seu abrigo. Henrique sentiu leves tapas em seu peitoral. Mas deixou que Izabelly continuasse o usando como saco de pancadas. Ele também precisava sentir alguma coisa que não fosse aquela dor que dilacerava o peito e que fazia com que ele se questionasse de seu senso de realidade.

— Dói muito. – Izabelly disse – Faz parar Rique, por favor – soluçou depois que os socos cessaram. Ela tinha se deixado cair completamente sob o marido. Que apegou e a envolveu em seu colo. Não tinham para onde fugir. A realidade lhe acertará como um tapa na cara. Na manhã seguinte ela não levaria Leo na escola, como de costume, porque não havia mais Leo para ser levado. – Rique – o murmúrio saiu mais como uma súplica.

Izabelly não tinha mais lágrima para chorar. Parecia que seu canal lacrimal havia secado. Bom, pelo menos, por hora parecia. Henrique percebeu, mas sabia que a dor não tinha passado, por isso, sem pensar em mais nada, em nada do que poderia acontecer-lhes dali para frente, com toda a força que lhe restava, ele abriu sua boca.

— Eu vou fazer parar. – Henrique chiou, as lágrimas presas em seus olhos, esperando o momento certo para se libertarem. – Vou fazer essa dor passar; vou fazer você sentir o meu amor por ti. Eu prometo.

E a sua mãe nunca havia lhe ensinado sobre não fazer promessas que não são capazes de serem cumpridas? Bom, talvez Henrique não tenha escutado a dele quando ela lhe disse isso.

***

Acordar no dia seguinte foi a coisa mais difícil que Henrique já fez desde que prometera estar ao lado de Izabelly na saúde e na doença. Os votos que fizera naquela tarde pareceram mais reais ainda quando seus olhos encontraram sua esposa frágil na cama, ainda adormecida.

Henrique não sabia, mas ele, mesmo acordado, parecia tão frágil e acabado quanto ela.

— Leo – foi um murmúrio simples, mas que trazia aos dois muita dor. Ele sabia que a esposa imaginava que Leo provavelmente, como sempre fazia, invadiria o quarto dos dois pela manhã. O pequeno Panda acordava sempre agitado, fazendo o casal murmurar e pedir por um pouco de sono, enquanto ajeitava o garotinho entre os dois.

Sem pensar, apenas tentando cuidar da esposa, Henrique agiu no automático e encheu a banheira com água morna e sais para banho. Do jeito que ele sabia que Izabelly gostava. Depois, com a maior delicadeza que podia, se ajoelhou no canto da cama e afastou uns fios de cabelo do rosto da esposa.

— Amor – Henrique chamou. – Hora de acordar.

— Leo? – Ela estava entre o sono e a realidade agora. Queria fechar os olhos e voltar para o que estava sonhando. Mas sabia que não conseguiria.

— Não, amor – o não da resposta do marido foi muito mais do que um "não, ele não está aqui agora", e sim foi algo mais para 'não, ele nunca mais vai estar aqui". – Sou eu. Henrique. Vamos tomar um banho agora.

Henrique sabendo que teria que dar mais forças para Izabelly, a tomou nos braços e a levou para o banheiro, como uma criança. Com todo o amor do mundo que conseguiu encontrar dentro de si, cuidou dela. E a pôs na cama novamente, prometendo voltar com um almoço.

Izabelly nada respondeu. Não sentia fome.

Henrique foi fazer um ovo mexido mesmo assim. Não seria bom para nenhum dos dois ficar sem comer. Não queria que a situação piorasse para alguns dos dois passando mal por conta de comida.

Com a comida quente, Henrique encheu um copo com suco de laranja natural e mordeu os lábios com força, até sentir gosto de sangue, quando se lembrou de ter repreendido Leo por ter bebido direto da garrafa. O pequeno nem sabia o que fazia, tinha visto seu tio Aaron fazendo e resolveu imitar também, apenas não imaginaria que seu papai ficaria bravo.

Colocou o prato e o copo também numa bandeja e seguiu para o quarto. Izabelly estava acordada quando o Henrique entrou no quarto. E como sabia que também não era justo ser a única fraca ali, ela se forçou a comer, mas logo que terminou, sentiu-se enjoada. Como se não tivesse que estar comendo. Seu filho estava morto e ela estava tentando se distrair com comida.

A situação não era essa. Mas ela pensava que sim. Não era como se ela tivesse parando no primeiro fast-food para afogar as magoas. Era só um ovo mexido como café da manhãalmoço.

— Quer sair comigo? – Henrique perguntou. A pergunta escapou de seus lábios áspera, mas ao mesmo tempo doce. Era como a primeira vez que estava chamando Izabelly para sair. Ele sabia que eles precisavam se distrair. Ainda teriam que enfrentar a realidade, como o enterro no dia seguinte e a vinda de seus pais, que já haviam sido avisados. Os avós estavam, naquele mesmo momento, em um avião indo para Nova Iorque.

Os pais de Izabelly chegariam primeiro, já que eram de Fort Lauderdale enquanto os pais de Henrique estavam pegando um voo do Rio de Janeiro.

— Quando? – Izabelly perguntou – Onde?

— Não sei – riu sem humor se lembrando do primeiro encontro, onde uma toalha no jardim e pizza fria junto com refrigerante gelado havia bastado.

— Agora? – Ergueu a sobrancelha.

— Não acho uma boa ideia...

Por favor.

Ele sabia que se saíssem de casa, e encontrassem a cidade iluminada lhe esperando lá fora, as coisas ficariam mais nubladas, distraídas. E ele precisava de distração. Sabia que conseguiria ela se ligasse para seus melhores amigos para irem a um bar. Mas ele não queria se distrair com William e Aaron. Ele queria, precisava, desesperadamente, de sua esposa.

Henrique segurou a mão da esposa. Como um pedido silencioso para que ela aceitasse sua proposta.

— Mais tarde, podemos dormir mais agora?

Ele sabia que esse era um jeito que ela havia encontrado de recusar. Sabendo que seria covarde da parte dele simplesmente sair, ele agarrou a mão de Izabelly com mais força.

Não doeria tanto se ele se deitasse com ela e segurasse sua mão. Porque ele ainda estava apaixonado por ela. E era essa a distração que ele precisava, a só o que o amor lhe proporcionava. E no momento, eles apenas tinham que se amar. Mais do que um dia poderiam ter imaginado ser possível. 


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