Until the very great end escrita por SheWantsDraco


Capítulo 1
Prólogo




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 Querido, você pode por favor, buscar Leo na escolinha hoje? — A voz de sua esposa saiu doce através do telefone e Henrique sorriu. Anos haviam se passado e ele não pensava que o sentimento de falar com sua esposa poderia ser algum dia, menos do que maravilhoso. Ele adorava ouvir a voz dela. 

— Posso sim - Henrique sorriu e já conseguia imaginar todas aquelas crianças da escola do seu filho vindo em direção à ele. Henrique fazia sucesso na escola do filho porque era todo tatuado, e as outras crianças adoravam tocar em suas tatuagens e fazer um monte de perguntas. E ele não podia mentir, adorava essa atenção toda. - Vai chegar tarde hoje? - Tornou a perguntar - Posso pedir uma pizza...

— Arrgh — Resmungou - Você sabe que odeio essas comidas que não fazem bem pra saúde. Tudo bem, mas se Leo passar mal, vai ser um problema seu.

— Ei, senhorita, eu ia pedir pizza de brócolis.

— Aham. - Izabelly sorriu, Henrique quase podia ver o sorriso da esposa, se conseguisse se fechasse os olhos. - Sei. De qualquer forma, não me espere antes das nove. Nós tivemos umas complicações aqui com as músicas do festival de outono. Eles não querem colaborar com as minhas sugestões e estamos sem ideias.

— Tudo bem - Henrique nem se importou que não teria a companhia dela para jantar porque sabia o quanto ela amava aquele trabalho. Era praticamente a vida da esposa ser musicista. Ele nunca havia conhecido uma pessoa que se dava tão bem com os instrumentos quanto ela e que tinha lutado tanto pra chegar aonde estava.  O outro telefone de seu escritório tocou e Henrique bufou. Ele odiava ter que parar de dar atenção para Izabelly e ter que conversar assuntos inúteis como a contabilidade de sua empresa. Tá, não era de todo inútil, mas ainda assim... - Querida, tenho que ir, nós nos falamos depois? 

— Claro — Ela disse suspirando - Cuidado com Leo, eu te amo.

— Também te amo. - Murmurou e desligou o celular. Girou a cadeira o suficiente para alcançar o telefone da empresa, e de mal gosto por sua secretária ter lhe interrompido, respondeu:

— Que é? 

— Desculpe atrapalhar Sr. Sanchez mas houve um acidente na escola do seu filho e estão ligando para que o senhor vá até o hospital imediatamente. 

Ele não teve nem tempo de raciocinar e já estava desligando o telefone com força. Pegando as chaves do carro e as segurando com força, com medo de que elas escapassem de sua mão, Henrique foi até o estacionamento da empresa. Andou, andou e andou e não achava a porra de seu carro. Isso acontecia muito quando ele ficava nervoso. 

— O Sr. está bem? - Ele olhou para cima e na calçada da rua estava um taxista lhe perguntando se estava tudo bem. Mas era óbvio que estava tudo mal. Tudo péssimo! Ele mal conseguia se lembrar da onde havia estacionado o carro. 

— Eu estou ótimo, mas preciso chegar no hospital e não estou achando meu carro no estacionamento e...

— Ei, entra no carro, te levo até lá. 

Henrique nem se quer questionou, entrou no veículo e pegou seu celular da bolsa para mandar uma mensagem a Izabelly, mas seus dedos tremiam e ele não conseguia digitar aquela porcaria de mensagem. Respire. Inspire. Pode nem ser nada grave— bom, era isso que ele queria convencer a si mesmo.

— Está tudo bem? - O taxista perguntou e Henrique odiou ter se mudado para Nova Iorque. Aquela porra de trânsito estava sendo pior que o trânsito do Rio de Janeiro. Só por aquele momento amaldiçoou o fato de que o trabalho de Izabelly fez com que eles mudassem para aquela cidade barulhenta, quando, tudo o que Henrique queria, era estar em algum lugar calmo no campo. - Estamos chegando.

— É meu filho - Henrique disse - A escola ligou dizendo que havia acontecido um acidente e.. 

O taxista não se importou. Deixou que o empresário falasse o que precisasse falar porque era óbvio que ele estava tão transtornado que desabafaria sozinho se ele não estivesse ali. E depois de ouvir toda a história, nem se quer conseguiu cobrar pela corrida.

— Vá ver seu filho - ele riu - Eu sempre fico lá na empresa. Sou taxista contratado. Quando tudo terminar quero conhecer o pequeno Leo. 

Henrique agradeceu milhões de vezes, sem se quer saber que o taxista amigável que lhe ajudará a chegar intacto no hospital, nunca conheceria seu filho. 

***

 Izabelly estava dormindo na cadeira da sala de espera do hospital, isso porque tinha tomado calmantes e os analgésicos que a mantinham acordada. Ela só tinha tomado porque Henrique prometera tomar também, mas ele apenas mentiu. Não conseguiria se forçar a dormir e se sentia horrível por enganar a esposa, mas ela não saberia.

Tinha que ficar acordado. Não podia se dar o luxo de dormir. Sua esposa precisava descansar. Ela já tinha trabalhado demais naquele dia, mais do que Henrique, que tudo o que tinha feito havia sido responder alguns e-mails. O tempo não passava. Izabelly com a cabeça deitada em seus ombros parecia bem, mas ele não. E para se perturbar ainda mais, deixou se afogar nas memórias que tinha de Leo.

Dizer que Leo estava adorável naquela fantasia de Panda seria eufemismo. A escola tinha programado uma peça sobre animais selvagens e seria hoje. Leo tinha ficado com o Panda porque desde sempre havia sido o animal favorito do pequeno menino. E ele até tinha ganhado um ursinho de pelúcia por isso que não dormia sem. E inclusive, naquele dia da peça, o bichinho ia com ele.

— Querido, porque não deixa em casa? Você pode acabar perdendo - Izabelly tinha razão. Se o pequeno perdesse aquela pelúcia não teria quem pudesse fazer alguma coisa para parar o choro.

— Mas eu quero - e o choro viria de qualquer jeito. O bico apareceu e os olhos castanhos, iguais aos de Izabelly, diferente dos olhos verdes de Henrique.

— Tudo bem ei, pequenino Panda... - Henrique se abaixou para ficar da altura do filho - Não chore - ele pegou a mão do pequeno e a segurou firme, a mesma que agarrava a pelúcia. Com uma voz engraçada, um pouco mais afinada e tentando imitar a voz desconhecida de um panda, Henrique prosseguiu: - Não quero ver meu amiguinho humano chorar, por favor. Vou chorar também.

Leo riu porque seu pai começou a fazer cócegas com a pelúcia em seu pescoço. E Izabelly suspirou aliviada que facilmente seu marido conseguira substituir as lágrimas pelas risadas. E então sorriu tanto quanto seu pequeno Panda estava sorrindo porque tinha acabado de se apaixonar pelo seu marido mais uma vez, e consequentemente se lembrando que havia sido por essa razão que havia se casado com ele.

Por algum motivo absurdo, Henrique até tinha vontade de ir até em casa e buscar o bichinho de pelúcia, para que seu pequenino dono não se sentisse sozinho quando acordasse. Leo sempre reclamava que a cama estava grande demais quando não tinha seu Panda por perto. No entanto, Henrique sabia que seria péssimo se Izabelly acordasse e não o encontrasse lá. Por isso, tratou de tentar fechar os olhos e aquietar a bunda na cadeira.

— Oi. - Izabelly perguntou baixinho assim que acordou. Apesar de ter dormido, Izabelly estava com uma aparência horrível. Graças ao remédio tinha conseguido dormir, mas não estava cansada. Parecia que ela tinha acordado com um peso maior em cima do seu ombro do que o que estava quando foi dormir.

— Oi. - Henrique disse fazendo um carinho nos cabelos pretos da esposa. - Dormiu bem?

— Mais ou menos - não era mentira. Se Izabelly tivesse tido o sono que ela tivera no hospital em sua cama, em seu quarto ao lado de seu marido, esperando Leo vir lhes chamá-los de manhã, teria realmente sido uma grande noite de sono - E você?

— Dormi bem - Era claro que era uma mentira. Izabelly sabia e Henrique sabia que ela sabia. Ele sempre havia sido um péssimo mentiroso. As mãos de Henrique costumavam ir direto para seu cabelo castanho quando isso acontecia. Ele mexia na franja como se fosse um tique nervoso. Exatamente o que ele estava fazendo naquele momento.

— O médico já veio? - Izabelly perguntou, mesmo já sabendo que a resposta seria negativa. Como esperado Henrique respondeu:

— Ainda não. Eu vou falar com uma enfermeira se quiser...

— Família Sanchez? - Henrique nem teve tempo de se levantar do banco que tinha quase deixado sua bunda quadrada de tanto tempo que ele havia esperado sentado lá que o médico chegará com notícias. Os olhos verdes se arregalaram ao ver o médico ali, depois do que parecerá uma eternidade.

— Nós mesmos - Henrique tomou a dianteira porque viu que a esposa, de repente, havia ficado sem voz. Ela apenas não encontrava palavras. Estava preocupada demais. E infelizmente a expressão do médico não fez com que a preocupação diminuísse, pelo contrário, ela aumentou consideravelmente.

— Eu sinto muito - O doutor começou dizendo e tudo o que Henrique fez foi agarrar a mão da esposa, com força. Ele sempre fazia isso quando estava com medo. - Ele não resistiu.

Izabelly não chorou. Ela apenas encarou o nada. Ela não conseguia compreender. Estava em choque.

— Mas ele vai acordar, não vai? - Perguntou depois de cinco segundos em silêncio. Henrique sentia as lágrimas em seus olhos, prontas para escorrerem por suas bochechas. Mas ele não podia chorar agora. Apertou a mão da esposa com mais força. E ela retribuiu o aperto. Aquilo tinha valido pra ele mais do que qualquer palavra que ela poderia dizer.

— Sinto muito - o médico disse com pesar em sua voz. Ele odiava dar esse tipo de notícia para seus pacientes. - Aconteceu no intervalo. Eles estavam jogando bola na quadra da escola quando o menino foi pegar a bola que jogaram pra longe. - Henrique já sabia disso. Já tinham lhe ligado e explicado enquanto a esposa dormia. Ele até tinha assinado a autorização para a cirurgia de seu filho e ele esperava que ela fosse salvá-lo, não matá-lo. - Ele não viu os sinais e saiu correndo em direção a bola. O carro não viu e passou por cima dele.

O estômago de Henrique se embrulhou. Ele não conseguia imaginar um carro passando pelo corpo pequeno de seu filho. Leonardo não era nem maior do que a altura de seus joelhos, apesar de Henrique ser um homem nos seus 28 anos e alto. Izabelly tremia. E não era de frio. Era de puro choque. Até que quando se deu conta que o seu menino não iria acordar, ela gritou.

Um grito assustador saiu pela sua garganta que deveria ter sido escutado por quase todos no hospital. O grito atravessou os tímpanos de Henrique chegando na sua alma. Era quase uma faca atravessando seu coração. Um grito de puro pavor. Foi a última coisa que Izabelly se lembra de ter feito antes de ter sido sedada pelos enfermeiros mais próximos.... 


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